De onde sai o Espírito que “procede” do Pai? (Resposta ao artigo da Revista Adventista – Edição Fevereiro/2006)

Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos.” Mateus 11:25

 

No mês de fevereiro, foi publicado um artigo na revista adventista, de autoria do doutor em teologia, José Carlos Ramos, buscando explicar o sentido da palavra “procede”, contida na passagem de João 15:26:

Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dEle procede, esse dará testemunho de Mim” João 15:26

A palavra “procede”, do verso acima, é a tradução do original grego “ekporeuomai”. O doutor utiliza uma série de argumentos baseados em gramática grega, buscando defender a interpretação da igreja adventista sobre o texto, e levar o leitor a crer na doutrina da “trindade”. Quer que creiamos que o Consolador não “procede” de dentro do Pai, como sugere o entendimento natural do texto em português.

Todavia, a esmagadora maioria dos leitores não conhece a língua grega. Serão eles obrigados a confiar na sabedoria do teólogo e aceitar a sua interpretação da Escritura? Damos graças ao Deus que revela as Suas coisas aos pequeninos, e nos mostra que a Escritura, e não as opiniões de homens instruídos, interpreta a si mesma. A questão em discussão quanto ao entendimento deste verso, é se “ekporeuomai”, traduzido como “procede”, significaria (1) sair de dentro de Deus, como uma emanação do Pai, ou (2) sair do lado do Pai, como uma outra pessoa que estivesse ao Seu lado. Como quem não entende grego pode entender esta questão? Deixe a Bíblia interpretar a si mesma, como Deus nos recomenda em Isaías 28:10 “porque é preceito sobre preceito...regra sobre regra...um pouco aqui e um pouco ali”.

No texto em questão, Jesus afirma que este Consolador, que “procede” do Pai, dará testemunho dEle:

o Consolador... esse dará testemunho de Mim” João 15:26

Temos duas formas de entender o texto acima:

1 - Se o Consolador “procede” de dentro do Pai, então quem dá testemunho de Jesus é o próprio Pai, e o Consolador só pode ser uma emanação que sai de dentro dEle;

2 – Se o Consolador “procede” do lado do Pai, quem dá testemunho de Jesus é uma outra pessoa, que não o Pai.

Para sabermos qual é a verdade, deixemos que a Bíblia seja seu próprio intérprete. Quem é o que dá testemunho de Jesus? Ele mesmo diz:

Outro é o que testifica a Meu respeito, e sei que é verdadeiro o testemunho que Ele dá de Mim.” João 5:31, 32

Que é este “outro” ao qual Jesus se refere?

O Pai, que me enviou, esse mesmo é que tem dado testemunho de Mim. Jamais tendes ouvido a sua voz, nem visto a sua forma.” João 5:37

Como é o Pai quem dá testemunho, o Consolador, que dá testemunho de Jesus, só pode proceder do Pai mesmo. Não é outra pessoa, como sugere o doutor no seu artigo. * O testemunho  confirma esta verdade:

Cristo vive dentro de Seus agentes humanos, e trabalha através de Suas faculdades...Jesus está buscando impressionar neles o pensamento de que, dando o Seu Espírito Santo, Ele está dando a eles a glória que o Pai Lhe deu, para que Ele e o Seu povo possam ser um em Deus.” The Signs of the times, 10 de Março de 1893

“o testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos simples” Salmo 19:7

O Espírito Santo Consolador, de João 15:26, é a glória de Deus que emana do Pai, procede de dentro dEle, e é dada ao Filho para que Ele o derrame sobre os homens. É algo impessoal, não se trata de uma pessoa. É por isso que o apóstolo Pedro diz que o Espírito foi “derramado” (pode-se derramar uma pessoa divina sobre os homens?) e o chama de “isto”:

A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis.” Atos 2:32, 33**

Que Deus o abençoe,

Jairo Carvalho

* Nota: Alguém poderia ainda alegar que os textos acima referem-se a ações no tempo passado e presente (“testemunho que Ele de Mim”, e “tem dado testemunho do Mim”), enquanto o texto de João 15:26 refere-se ao tempo futuro (“dará testemunho de Mim’). Todavia, lemos na Escritura que Deus é aquele que nunca muda: “Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago 1:18). Ele é aquele “que é, que era e que há de vir” (Apoc. 1:4). Então, se era Ele quem dava testemunho no passado e no presente, era Ele que continuaria a dar testemunho de Jesus no futuro, através do Espírito que sai de dentro dEle.

** Nota: Este Espírito também é chamado de Espírito de Cristo, porque é Ele que o envia a nós:

“E porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de Seu Filho” Gal. 4:6

Este Espírito, esta emanação que procede do Pai e é enviada por Seu Filho, Jesus Cristo, é para nós Cristo mesmo, uma vez que Ela nos supre a falta da pessoa de Jesus. Por isso foi que Jesus disse: “Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador...o Espírito da verdade...não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” João 14:16-18. A “volta” de Jesus referida no texto, não se trata de segunda vinda, e sim da volta como “Consolador”, ao enviar para nós o Espírito que receberia do Pai. Isto se prova pelo próximo verso, no qual Jesus diz que seria visto, não pelo mundo, mas apenas pelos discípulos crentes: “Ainda por um pouco, e o mundo não me verá mais; vós, porém, Me vereis; porque Eu vivo, vós também vivereis.” João 14:19. Quanto a segunda vinda de Cristo, está escrito que “todo o olho o verá” (Apoc. 1:7). Leia também João 14:22.

A vinda predita por Jesus aos discípulos era a Sua própria vinda para habitar no coração deles como Consolador, como explica no próximo verso: “Naquele dia, vós conhecereis que Eu estou no Pai, e vós em Mim, e Eu em vós” João 14:20.

Como o Espírito Consolador, embora para nós representasse Cristo habitando em nós, era a glória que saiu de dentro do Pai; ao recebermos este Espírito, teríamos, não somente Cristo, mas também o Pai morando em nós. Por isso, logo em seguida, Jesus disse que ambos, Ele e o Pai, morariam em nosso coração: “Respondeu Jesus: Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra; e Meu Pai o amará, e viremos para Ele e faremos nEle morada.” João 14:23

Assim, quando o crente recebe o Espírito, o Pai e o Filho habitam nEle, têm comunhão com Ele. A comunhão do Espírito (II Cor. 13:13), é, portanto, a comunhão com o Pai e com o Filho (I João 1:3).

Jesus foi para o céu com um corpo humano (Lucas 24:36-43), e não poderia estar em todos os lugares ao mesmo tempo, para confortar e animar Seu povo. Foi por isso que o Pai deu do Espírito que procede de dentro dEle para Jesus, para que Ele derramasse este Espírito Santo sobre os discípulos. Assim, Jesus, mesmo não podendo estar de corpo presente com todos os crentes ao mesmo tempo, estaria acessível a todos. Para os crentes, o Espírito seria Ele mesmo, despojado da personalidade humana, e dela independente (fora do Seu corpo humano), como Deus inspirou Sua serva Ellen G. White a escrever.

Retornar

Para entrar em contato conosco, utilize este e-mail: adventistas@adventistas.com