Leitora Discorda de Avaliação Pessimista do Congresso com Cobrança de Ingresso

Em primeiro lugar, acredito que a página deveria ter dado um destaque maior às coisas "positivas" do Congresso. Pequenas em número, mas grandes em qualidade. Desaprovo o termo "apenas" na frase: "De positivo, apenas o testemunho de um rapaz que deixou as drogas para reconsagrar-se a Cristo e o belo sermão do Pastor Valdecir Lima." Para mim, esses dois momentos significaram tudo.

O testemunho de um rapaz que, pela graça de Deus, conseguiu forças para não viver uma religião de aparências. O testemunho de alguém que até poderia continuar indo a igreja, sem abandonar o mundo das drogas, mas que pelo poder da oração, pelo poder de Deus, está conseguindo viver, na prática, o que prega. O testemunho de um rapaz, que não teve vergonha de contar toda a sua história, que assumiu todos os seus erros, que não teve medo de preconceitos. Um rapaz que sabe das suas imperfeições, mas luta para continuar no caminho certo. Alguém que sabe que terá problemas, mas que tem a certeza de que Deus não o abandonará. O testemunho de um jovem que se lembrou de agradecer a Deus pelas bênçãos. Que se lembrou de agradecer as orações feitas pela mãe, pelos amigos, pelos irmãos da igreja e se comprometeu a orar pelos amigos, para que o amor deles por Cristo possa só crescer.

O belo sermão do Pastor Valdecir Lima foi um "puxão de orelha" para todos aqueles que se dizem Adventistas do Sétimo Dia. Aliás, me coloco entre esses que a carapuça serviu. O sermão falava de testemunho. Mas do verdadeiro testemunho. Aquele, testado e aprovado por Deus. Não aquele "testemunho-manequim", que quer manter as aparências e por isso não fuma, não bebe, não usa drogas, não faz um monte de coisas, nem o que deveria ser feito. Não aquele "testemunho-robô", que até faz algumas coisas boas, mas não com um coração sincero e contrito a Deus. O belo sermão do Pastor Valdecir deu uma refrescada na memória daqueles que haviam se esquecido de que é nosso trabalho testemunhar. Nossa missão. Mas como iremos testemunhar de uma coisa, que nem nós mesmos queremos de fato. Por isso a história da menina que aproveitou  a ausência do pai, que estava viajando, para comprar um ratinho de estimação. Ela tinha medo de que o pai voltasse logo e a obrigasse a se livrar do bichinho. Enquanto a menina amar mais o rato do que o pai, jamais irá querer que seu pai retorne. Lição inesquecível! Gostamos dos ratos deste mundo e não temos o desejo que o nosso Pai volte, por isso não testemunhamos como deveríamos. Como se isso impedisse a volta de Jesus. Cristo logo vem, quer estejamos prontos ou não!

Além disso, gostaria de dar os parabéns ao pastor Valdecir, pela palestra da tarde. Palestra que mostrava a nossa fragilidade frente a uma arma super-poderosa do inimigo: a televisão. Pena que, além do número reduzido de ouvintes, poucos pareciam estar prestando atenção nas frases do pastor. Mas, pela graça de Deus, vi um líder de jovens da igreja Batista Peniel indo conversar com o pastor Valdecir, porque havia apreciado muito a palestra e chegou até a expressar o desejo de "pegar emprestado" todos os pensamentos da cabeça do pastor, para que pudesse alertar a juventude da sua igreja quanto aos perigos da televisão.

O Congresso

"Uma idéia, compartilhada com um pequeno grupo que se transformou em realidade. Fazer um evento direcionado para os jovens e feito por jovens, abordando temas onde possamos refletir o verdadeiro caminho a seguir e a volta de Jesus, que está muito próxima a acontecer". Estes eram os objetivos que sustentavam a realização do Congresso. Jovens que acreditam estar fazendo o seu melhor, porque não encontraram quem lhes dissesse o contrário, não encontraram quem lhes apontasse os erros e lhes apresentasse soluções. Jovens que pelo menos estão fazendo alguma coisa.

Cobrança do ingresso

Alguns distritos mais humildes conseguem fazer grandes congressos, com a participação de cantores de fora, sem cobrar nada. Por que? A resposta é simples. A união e o empenho dos membros dessas regiões é muito maior e ninguém se incomoda em passar um pouco de calor e sentar em cadeiras pouco confortáveis. Coisa que não é fácil de fazer com os membros de igrejas maiores. Na sua grande maioria acostumados com o conforto das suas casas, com o conforto da igreja, bancos almofadados, ar condicionado, grandes grupos musicais cantando em sua igreja sempre, não vêem lógica em se desgastar, passar calor, e sair com dores na coluna por causa de cinco reais. É natural que prefiram pagar, mas estar em um teatro fresquinho. 

Pena que nem todos se lembrem que algumas pessoas podem ficar do lado de fora por não ter dinheiro para pagar o ingresso, ou talvez porque nem sabiam que era necessária a compra. Problema que não seria tão difícil de resolver: quem pode, paga o convite de quem não pode. Mas nessa hora muitos acham que não podem e entram naquela de cada um por si e Deus por todos. (Deus é por todos, mas conta com a nossa colaboração.) Maldade? Talvez não. Provavelmente, para não perder a simpatia dos mais afortunados, ninguém teve coragem de dizer a verdadeira razão que faz com que os adventistas do sétimo dia não usem jóias por exemplo (ao menos não deveriam). O que eu entendo disso é que as jóias seriam uma das coisas supérfluas, dinheiro gasto a toa, dinheiro que poderia ajudar no avanço do Evangelho, dinheiro que poderia dar de comer a quem passa fome, dinheiro que poderia pagar o ingresso de alguém. O resumo da lei de Deus: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.

Linguagem de Sinais

A intenção do coral não era proporcionar uma parte exclusiva para os surdos. A apresentação era para todos. Os ouvintes podiam ouvir os hinos e o grupo reduzido de surdos via cerca de 200 mãos interpretando. "Nenhuma programação da igreja pode ter cunho discriminatório ou exclusivista." Não existe uma igreja de ouvintes e outra de surdos. A coreografia misturada a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) é de grande agrado para aqueles que possuem deficiência auditiva. Não estou dizendo que em todos os momentos se deve fazer coreografias, mas na interpretação de músicas é recomendável que se faça. Quanto à leitura labial, fui informada de que nem todos os deficientes auditivos aprovam essa prática. Outras críticas poderiam ser feitas ao Coro Jovem, mas não em relação a Libras.

Clima de Show

"Música adventista" e "comportamento adventista" durante as apresentações. Esse é outro problema que vai além da consciência dos jovens adventistas. Digo isso porque muitos nem tem consciência de nada. Não vêem que estão cometendo erros porque nunca disseram que era errado. As vezes até falam, falam, mas na conclusão dizem mais ou menos assim: "vai da consciência de cada um, você deve refletir e concluir o que é melhor". Respostas vagas à perguntas concretas: Devo ou não? E daí aparece um talvez. Nossa juventude despreparada, espera uma posição da liderança, com argumentos fortes baseados na Bíblia e no Espírito de Profecia e nada. Conheço um adolescente que se batizou, sem saber que não era apropriado assistir televisão e jogar vídeo game durante o sábado. Recebeu poucos conselhos e um deles foi: "Não siga o exemplo de nenhum adventista". Triste. Desesperador. Não sei se disseram o básico: que ele deveria seguir o exemplo de Cristo, porque agora era um cristão. Me entristeço mais ainda porque acabo de lembrar que eu também não dei esse conselho. 

Voltando ao Congresso, se teve show ou não, respondo que sim. Uma tendência presente em todas as igrejas cristãs, inclusive na igreja adventista. Aliás, na edição de outubro da Revista Adventista tivemos uma nota, com pouco destaque, que falava sobre isso (pág.37). Escrito por Vanderlei Dorneles, o texto intitulado "Astros e Platéias" fazia uma reflexão sobre o grande fenômeno das igrejas cristãs: os shows religiosos, com direito a astros, cantores aplaudidos e ovacionados por platéias de crentes. Isso acontece, segundo o sociólogo Antônio Flávio Pierucci, porque vivemos numa sociedade em que a procura por sensações é generalizada, mesmo na religião. Nesse mercado, vence quem oferece mais excitação. A religião aparece como mais um produto a venda. E, como em tantos outros eventos da igreja, puderam ser percebidas as sensações, aplausos, assobios, reações exageradas da "platéia", que refletiam os ritmos de algumas músicas e o comportamento de alguns cantores.

Mas, apesar de tudo tive certeza de que o Espírito de Deus ainda age. Vi jovens inconformados com o "clima de show". Ouvi discussões preocupadas em resgatar o verdadeiro culto de adoração. Vi pessoas que se comprometeram em fazer o possível para mudar de vida. O Congresso de Jovem para Jovem pode ser melhor, só depende da gente colocar tudo nas mãos de Deus e abrir o coração para ouvir o que Ele tem a dizer. Que Deus nos abençoe!

Ellen


Nota do Editor: Tem razão. Enquanto a menina amar mais o rato do que o pai, jamais irá querer que seu pai retorne. Lição inesquecível!

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