Jovem Ancião de Igreja Protesta Contra Show do Novo Tom no IAP

Queridos amigos,

Gostaria de informar a decepção a que fui submetido ao visitar o IAP no dia do seu aniversário, sábado, 27/10. A programação foi boa, e muito espiritual, tudo mais ou menos normal. O problema aconteceu mais tarde.

Fomos informados que haveria uma apresentação de um grupo, até certo ponto conhecido na música sacra adventista, chamado Novo Tom. Acompanhando-os estaria a cantora Regina Mota.

Estranhamos quando soubemos que a apresentação seria no anfiteatro e não na igreja, anfiteatro este que nada mais é do que a capela masculina que foi reformada para conter 700 pessoas confortavelmente, num local muito bonito por sinal.

E fomos animados para a apresentação, esperando ouvir músicas bonitas, cristocêntricas e que elevassem nossa alma para mais perto de Deus, pois são um grupo e uma solista sacros.

A decepção começou logo na entrada, quando sentamos e olhamos para o palco, havia uma bateria. É, uma bateria, destas que se usam nos shows de rock, foi o primeiro choque da noite. 

O que aconteceu quando eles entraram e cantaram foi muito pior. Músicas com ritmos frenéticos com vozes gritadas, com solos de guitarra, com volume altíssimo que para conversar com minha namorada eu precisava gritar no seu ouvido.

Pouco se entendia a letra, que provavelmente falava de Deus. Mas não importava, pois com aquele acompanhamento o que se desejava era levantar e dançar, era gritar junto.

Todos se envolveram no frenesi que se formou. As pessoas assobiavam e gritavam, e ao final de cada música aplausos calorosos e ensurdecedores a engrandecer o ego dos participantes que de pronto abriam um sorriso de aceitação à idolatria.

Para se ter uma idéia, os instrumentos de acompanhamento eram uma guitarra, um baixo, um teclado, uma bateria e dois saxofones. Típicos de qualquer banda de rock, como o Nirvana, ou popular. Depois de algumas músicas da Regina Mota, voltou o grupo Novo Tom e continuou o show.

Parecia que quanto mais o tempo passava, mais audaciosos ficavam. As músicas começavam com o baterista falando e batendo as baquetas uma na outra e dizendo: "Um, dois, três, quatro..." e o que se seguia era o mais puro ritmo que se vê em shows de música ao vivo e boates.

Para não dizer que não era uma programação sacra, no final o Lineu Soares fez uma oração muito bonita pedindo ao seu deus que nós saíssemos diferentes do que entramos e dizendo que sentiram a sua presença em nosso meio.

Eu fiquei de olho aberto na oração, pois não tinha sentido a presença do meu Deus na programação e não queria ter parte nessa "bênção" final.

Disseram-me que o CD é mais calmo e que na igreja eles se comportam. Mas eu pergunto: Se algum grupo de rock cantasse música sacra, você os convidariam para cantar na sua igreja? Eu não!

Gostaria de expressar minha revolta contra a minha própria igreja, que permitiu que esses tipo de música tivesse parte num programa tão bonito que foi o aniversário do IAP. Seria bom se eles não misturem letras sacras com músicas populares, não combina! Isso pode confundir as pessoas.

Com esse acompanhamento é melhor ter uma banda de rock que uma "banda" para músicas dedicadas a Deus. Eles chamam os músicos de "Banda Novo Tom". Por favor, façam o que puderem para que isso não se torne regra na nossa igreja! Vocês podem mudar isso.

Estou desde que nasci nesta igreja e nunca vi tamanha manifestação popular na música sacra adventista. Sempre achei minha igreja conservadora na música e sempre gostei muito disso. Sou ancião responsável pela área de música na igreja de ......................., e fiquei imensamente escandalizado pelo que vi no nosso internato paranaense.

Sempre acompanho apresentações dos mais variados grupos e cantores da Igreja Adventista, etc. Mas nada se compara ao que foi visto no último dia 27.

Já passei este e-mail para muitas pessoas, abaixo está a resposta do Lineu Soares ao meu primeiro e-mail e minha réplica.

Um abraço e que Deus abençoe a todos!

...................


Resposta do Lineu Soares

Prezado ................,

Agradeço a sua mensagem. Normalmente tenho dificuldade de responder todos os emails que recebemos, mas me senti no dever de tentar esclarecer o teor do trabalho que realizamos.

Em primeiro lugar precisamos tentar definir de alguma forma sacro e popular, ou melhor sacro e profano. Popular deveria estar em oposição a erudito. Popular em relação a cultura do povo e erudito, manifestação de uma elite. Sacro - manifestação religiosa, sagrada, separada, em louvor a Deus, profano - secular, de caráter mundano.

Entendo que na música profana ou secular o mais importante talvez não seja a letra e sim o som. Já na música sacra o elemento muito mais importante é a letra pois se propõe a comunicar verdades, mensagens da palavra de Deus. Isto é o que realmente importa.

E pra Deus muito mais ainda a sinceridade do coração daqueles que louvam atraves da música. Entendo que a música é tão somente um elemento estético.

É a vestimenta da mensagem a ser comunicada. É o embrulho do presente.

Não pode receber o mesmo valor. A palavra de Deus atraves de suas mensagens não muda, porque Deus não muda. A maneira como é comunicada muda porque vivemos no mundo, somos influenciados por uma cultura, que sofre degradação, não podemos negar.

Concluo assim que o elemento estético música não é questão de princípio. Como Deus poderia julgar a música que fazemos em comparação com a música sacra de outras culturas, como a africana por exemplo. Pra Ele penso que não importa o som, mesmo porque Ele possui anjos perfeitos produzindo música perfeita.

Ou seja nosso som por mais perfeito que seja é extremamente desafinado pra Deus. O que realmente importa é louvor vindo de um coração sincero.

Desde de que existe música sacra ela sofre influência do mundo. O Hinário Adventista, por exemplo, está repleto de músicas que tem influência em ritmos considerados populares.

Lutero usava música do povo com letra sacra para atrair pessoas pra Jesus. E hoje cantamos Castelo Forte na igreja. Em nossos dias não é diferente. A música sacra de hoje, na minha opinião, é produzida por pessoas que consagram sua vida a Deus, utilizando o dom que Deus lhes deu com espírito de gratidão. Neste grupo eu me incluo e não abro mão.

Digo isso porque talvez 80% da músicas cantadas no IAP são de minha autoria e praticamente 100% dos arranjos tem a minha participação. Se você encontrar erro teológico nas letras temos que discutir, agora a música, não temos parâmetros para chegar a conclusões sobre este ou aquele estilo musical.

Deus não nos revelou pois quer usemos o livre arbítrio. Ele disse através do Espírito de Profecia que a música deveria enlevar, deveria aproximar de Deus, e nisso eu creio. Podemos escolher o estilo de música que nos eleva a Deus, mas respeitar e não julgar se não for o mesmo estilo que eleva aquele que está ao meu lado. O louvor verdadeiro significa transformação da vida, significa estar aos pés do Salvador ouvindo Dele como Maria. 

Você citou alguns grupos dos quais você é fã. Não conheço todos, mas acredito que a música do Novo Tom seja um pouco diferente de Nirvana e outros sons do gênero. Mesmo que fosse semelhante não poderia julgar. Isto pertence a Deus. 

O que sei dizer é que a cada dia procuro me colocar nas Suas mãos pra ser um instrumento eficiente na Sua causa. No meu caso o ministério é a música, ou melhor o louvor através da música. Não sou perfeito, mas estou buscando ser semelhante a Ele. Entendo também que existem casos e casos. 

A música cantada no culto divino muitas vezes é diferente da música do JA ou da reunião evangelística.

No caso em questão, estávamos num sábado à noite depois de um dia de atividades na igreja. Nosso objetivo era fazer um programa ressaltando a alegria de pertencer ao povo de Deus. Nossa principal mensagem naquela noite era a de que não importa o lugar onde estivermos, se Deus estiver ali, estaremos no melhor lugar do mundo.

Como você disse foi um show. Nisto eu concordo, um show exaltando o nome do Criador do Universo, não a mim nem ao Novo Tom.

Peço perdão se não atingimos este objetivo na sua vida. Recebi vários testemunhos de que na vida de outras pessoas foi positivo.

É lógico que existe sempre o perigo da exaltação própria e sempre pedimos a Deus que nos livre disso. Finalizando, o dia em que você ver o Novo Tom cantando música popular pode ter certeza que eu não estarei lá.

Portanto não espere por isso. Continue curtindo Nirvana.

Um abraço e que Deus o abençoe trazendo as respostas que eu não pude dar.

Lineu Soares


Réplica de ...................

Prezado Lineu Soares,

Eu conheço o seu trabalho, e sei que é um compositor famoso na igreja pelas músicas que faz e arranja. Parabéns pelo seu trabalho e dedicação ao trabalho do Senhor!

Primeiramente gostaria de dizer que o sentido de popular é amado, apreciado, aceito, comumente encontrado. Ou melhor, que o povo gosta, que as multidões aplaudem. Isso é que quer dizer popular. Não é isso que o grupo Novo Tom junto com a "banda" Novo Tom é e querem ser? Qual é o ritmo mais encontrado atualmente?

Gostaria de ressaltar algumas frases ditas por você: "Sacro - manifestação religiosa, sagrada, separada, em louvor a Deus." Concordo plenamente. Santo, quer dizer separado, então uma música santa, consagrada a Deus, deve ser separada da música popular, da música das massas, dos shows.

"Profano - secular, de caráter mundano." Ou melhor, que todos gostam, comumente encontrada, tocada em todas as rádios.

"Já na música sacra o elemento muito mais importante é a letra, pois se propõe a comunicar verdades, mensagens da palavra de Deus." É verdade! Mas a única letra do grupo que eu consegui lembrar depois de interpretada pelo grupo é aquela O Melhor Lugar do Mundo, de todas as outras nem eu nem minha namorada lembramos. 

Mas se o mais importante é a letra, por que colocar tanto acompanhamento, tanto ritmo, tanto barulho escondendo a mensagem?

Bastaria o acompanhamento do teclado, tocado de maneira simples, e a letra se tornaria o mais importante.

"E pra Deus muito mais ainda a sinceridade do coração daqueles que louvam através da música." Sim, se o mais importante fosse ficar grato a Deus depois da música, e não em engrandecer os intérpretes com assobios e aplausos.

"Entendo que a música é tão somente um elemento estético. É a vestimenta da mensagem a ser comunicada. É o embrulho do presente. Não pode receber o mesmo valor." Ponha um bom produto em uma embalagem mal feita e suja e mesmo que o seu interior seja perfeitamente limpo poucos, ou nenhum, irão comprá-lo. Mas se o mais importante é a letra, vamos colocar letra sacra nas músicas do Sepultura, pois é só o invólucro, não deve ser dada importância a ele.

Existe uma música de rock que se chama "Sympathy for the devil". Vamos mudar a letra para "Sympathy for Jesus" e Deus vai gostar do nosso louvor?

Quais anjos vão cantar junto a nossa música? Você sabe e eu sei. É claro que eu estou exagerando, suas músicas não são tão pesadas quanto aquela. Mas existem músicas que eu gosto, que escutei muito quando era estudante no IAP, nos anos de 1992 e 1993, que eu evito escutar por saberem que não são boas, mas que são mais calmas que as músicas do Novo Tom.

Quer exemplos? Under the Bridge do Red Hot Chilli Peppers, Knocking on heaven's door do Guns'n Roses, e muitas outras. Podemos mudar as letras dessas músicas para letras sacras e elas serão mais conservadoras que as do Novo Tom.

"Pra Ele penso que não importa o som, mesmo porque Ele possui anjos perfeitos produzindo música perfeita." Discordo intensamente, substancialmente, veementemente e completamente. Existem ritmos e sons que foram criados por um ser caído do céu, Satanás, que desde a sua criação foram feitos para afrontar o criador e para ironizar a música celeste. E existem músicas feitas para adoração ao Deus do céu que nos criou.

Imagine o seguinte: alguém criou um veneno, e como de praxe, colocou um rótulo com letras dizendo que aquilo é um veneno. Parabéns pela sua autenticidade!

Mas imagine que alguém goste do veneno, e só queira mudar os dizeres externos à embalagem para tentar mostrar que aquilo faz bem! Muito maior mal fará o veneno disfarçado do que aquele com o rótulo correto. O que eu quero é que vocês não dêem o nome de remédio (Rótulo sacro) a algo de imensa periculosidade que é a música mundana.

"Lutero usava música do povo com letra sacra para atrair pessoas pra Jesus." Você deve ser fã do Padre Marcelo, não? Vamos fazer um carnaval para Jesus, pois é popular, e com esse ritmo, é muito fácil dançar. Mas se quiserem usar música popular, então escolham as melhores, MPB, clássica, ópera, ou outra qualquer. Não vá logo no rock!

"...Ele disse através do Espírito de Profecia que a música deveria enlevar, deveria aproximar de Deus, e nisso eu creio." Tudo bem, concordo plenamente. Mas na hora que você pediu para todos se levantarem após a última música, um jovem que eu não conheço, que estava do meu lado falou o seguinte: "Cantam esse monte de rock e depois querem fazer oração." Não fui nem eu quem disse isso, e a frase dele foi mais um incentivo para que eu lhe escrevesse, pois isso precisa mudar.

"Nossa principal mensagem naquela noite era a de que não importa o lugar onde estivermos, se Deus estiver ali, estaremos no melhor lugar do mundo." É, mas minha namorada disse que, naquele momento, o melhor lugar do mundo seria a casa dela. Eu concordei.

"...Um show exaltando o nome do Criador do Universo, não a mim nem ao Novo Tom." Foi nisso que o público pensou, não é? Na hora dos aplausos e dos assobios, na hora dos gritos, etc. E pelo seus frutos os conhecereis...

Gostaria de informar também quem eu sou, já que você também o fez. Tenho 24 anos e nasci num lar adventista. O meu nome foi dado em homenagem a Malton Braff, cantor do quarteto da Voz da Profecia. Atualmente faço mestrado na .......................... 

Meus pais trabalham na .............., sendo que meu pai é pastor e faz mestrado no novo ... e é o responsável pela tradução das lições de ........................... Sou ancião responsável pela área de música da Igreja Adventista de .............., em .............., e luto para conciliar a preferência dos jovens, mais liberal, com a dos adultos, mais conservadora.

Mas nem uma nem outra, nem de longe, se aproximam do que foi visto por espanto por mim e pelos que estavam comigo no anfiteatro do IAP no último dia 27.

Eu tenho muitos CDs, e conheço um pouco de música (em relação ao seu conhecimento tenho certeza que é muito pouco). Evito ir no aniversário do IASP por não achar que vou encontrar a Deus ali, mas achei que no IAP isso seria diferente. 

Tenho muitos CDs sacros e alguns profanos, dos tempos que eu estudava no IAP. Mas se eu tivesse um CD do Novo Tom, gravado ao vivo no anfiteatro, com certeza iria classificá-lo como profano. Disseram-me que o CD do Novo Tom é mais conservador que a apresentação, mas é claro que eu não me arriscaria a comprá-lo.

Eu sei da sua fama como músico, talvez por isso poucos têm coragem de lhe dizer que discordam das suas preferências musicais.

Todos somos responsáveis pelos nossos atos, mas um dia vamos ter que prestar contas perante Deus. Espero que não sejamos achados em falta no último dia...

Se você tiver resposta à minha carta, gostaria de tê-la. Se não tiver...

Fraternalmente,

..........................


Apelo Final

Pergunto-lhes, como é que eu como ancião responsável pela música na minha igreja poderei pedir para que os jovens sejam mais conservadores nas músicas se eles assistissem a apresentação da "Banda" Novo Tom? Como é que poderíamos dizer não para baterias na nossa igreja se os conjuntos usam? Como é que aplicaremos as mensagens de Ellen White relacionadas à música quando nos nossos colégios internos o exemplo de música que ouvimos é essa?

A música está mudando, e mudando para pior, muito pior. Infelizmente. Se vocês concordam ou discordam da minha opinião, manifestem-se, por favor! Talvez eu é que esteja errado nessa história toda. 

Talvez a modernização seja algo inevitável e que deve ser aceito inquestionavelmente.

Desde já agradeço! E que Deus abençoe a todos!

...........................

(Textos divulgados em uma lista de discussões por e-mail da Internet. Não foram enviados diretamente ao Adventistas.Com. O nome do autor foi retirado, porque, depois que as discussões tomaram vulto, ele quis retirar tudo o que disse, chegando a a ameaçar-nos com ação judicial.)

Para opinar sobre o assunto, envie-nos um e-mail.


Retornar

Para entrar em contato conosco, utilize este e-mail: adventistas@adventistas.com