Como os Judeus Poderão Guardar o Domingo?

Caro Robson!

Parabéns por sua dedicação e transparência.

Há tempos  navego por esse site acompanhando os relatos dos fatos ocorridos em nossa querida igreja bem como as opiniões diversas dos irmãos internautas.

É impressionante como não há uma visão clara da “música para o povo Adventista”,  e o que é mais impressionante é a posição das missões, associações, uniões ou divisão... Ninguém se pronuncia. Formalmente,  não se toma posição.

Se nenhum órgão oficial toma iniciativa, graças a Deus há um não oficial, onde as pessoas podem expressar suas opiniões.

A seguir, transcrevi um artigo escrito pelo Dr. Pastor e professor de Antropologia e Filosofia Rodrigo P. Silva do UNASP-C2, sobre a santificação do Oitavo Dia.

Tenho lido neste site algumas matérias sobre a “santificação do Domingo”, pois bem, eis minha contribuição para que nossos irmãos tirem as devidas conclusões, com a orientação de Deus.

Elson


Santificando o Oitavo Dia

Freqüentemente as profecias reveladas por Deus encontram barreiras históricas que desafiam seu cumprimento. São ocorrências e contextos que aparentemente negam a viabilidade de acontecer exatamente aquilo que o senhor disse por meio de seus profetas. No período do cativeiro por exemplo, parecia impossível supor que Babilônia, Tiro e Sidom cairiam conforme as predições de Ezequiel e Jeremias. Bastou porém um tempo e viu-se confirmada a Palavra de Deus com a destruição dessas poderosa metrópoles.

Hoje, também presenciamos alguns desafios históricos que parecem igualmente atentar conta certos pronunciamentos proféticos de Ellen G. White. Um dos mais clássicos, senão o maior , é aquele que questiona a obrigatoriedade  mundial da guarda do Domingo, num mundo marcado pela pluralidade filosófica e religiosa.

Ela diz: “O primeiro dia da semana, um dia comum de trabalho que não possui santidade alguma, será estabelecido como foi a estátua de Babilônia. A todas as nações, línguas e povos se ordenará que venerem esse Sábado espúrio. ... O decreto impondo a veneração desse dia se estenderá a todo o mundo”(7BC,976[1897]).

Nesse artigo, não pretendo esgotar o assunto, mas apenas compartilhar uma experiência que demonstra como será possível cumprimento desse oráculo entre o povo judeu que, por tradição, guarda o sábado, assim como os adventistas do sétimo dia. Tal abordagem, é claro, deverá ser tomada na conta de hipótese teológica uma vez que não temos revelados todos os detalhes de com será o cumprimento dessa profecia escatológica. Do mesmo modo, é importante esclarecer que a palavra “judeu” jamais deve possuir qualquer conotação anti-semita, nem mesmo classificar o povo como um todo.  A questão que se procura responder é : “como os judeus, principalmente ortodoxos, aceitarão a imposição de um outro dia de guarda sugerido por autoridades cristãs?

Em 1998, eu estava me preparando para deixar o Kibuz de Shar há  Golan depois de um período de escavações no Norte de Israel. Era Sexta feita e, alguns de nós, sempre voltávamos para passar o sábado em Jerusalém. Nosso professor, Dr. Josef Garfinkel, se despediu com ares de brincadeira, dizendo: “Shabbat Shalom (Feliz Sábado), isto é, enquanto Israel continuar guardando o Sábado”.

Eu não havia entendido bem o sentido da charada, até que um colega me explicou: “ele estava se referindo à idéia do oitavo dia messiânico. Ou seja, o Sábado deverá ser guardado, enquanto o Messias não vem. Quando porém ele vier quer seja um personagem real ou uma Nova era, então passaremos a guardar o sábado eterno que é o primeiro dia após o sétimo”- no nosso calendário, o Domingo.

Confesso que estranhei bastante aquela explicação. De fato, eu já conhecia uma alegórica “teologia dominical”, articulada por alguns pais da Igreja como Barnabé e Justino, que apontavam o Domingo como sendo o oitavo dia em substituição ao sábado judeu. Para eles, o sete era um número paradoxalmente perfeito, porém, incompleto que necessita da adição do oitavo. Tal compreensão, é claro, pressupunha um espirito anti-semita que procurava eliminar da teologia cristã qualquer ligação com o judaísmo tradicional e por isso diminuía a importância do sábado exaltando o significado do Domingo.

É verdade que houve tentativas de ligação entre a “teologia do oitavo dia”  e a “semana cósmica” proposta na literatura apocalíptica tardia. Do mesmo modo, procurou-se identificar o Domingo papal com o shemini atzeret ou oitavo dia comemorado ao final dos sukkot (Festa dos Tabernáculos) e mencionado em Lev. 23:39 e Num. 29:35. Tudo isso, porém eram tentativas teológico-cristãs sem qualquer endosso nos documentos rabínicos tradicionais.

Que o Sábado já está totalmente secularizado em muitos setores do judaísmo é um fato inegável. Porém, a admissão de uma teologia que põe fim à guarda do sétimo dia era algo que eu nunca esperava ouvir em Israel. Foi , no mínimo, inovador saber de judeus que também entendiam o, oitavo dia como substituto eterno do shabbat após a manifestação do Messias no mundo (embora eles não sejam uniformes na identificação do Messias). Coincidentemente, dois meses mais tarde, Roma publicou a Carta Apostólica Dies Domini que também fala do Domingo como sendo o oitavo dia que marca a vinda da era messiânica.

Em 2000, ano do Jubileu, o Papa João Paulo II fez uma peregrinação histórica a Israel. Homenageando a presença papal na terra Santa, foi realizado no 21 de março daquele ano uma conferência intelectual sobre o “desenvolvimento das tradições religiosas em face a uma nova era”. Vários palestrantes discursaram representando os segmentos judeu, cristão e muçulmano.

O rabino Dr. Alon Goshen Gottstein, da Elijah Jewish School, publicou o discurso do Grande Rabino René Samuel Sirat que viera da França para representar o pensamento judeu. Sirat fora também escolhido meses antes para discursar na UNESCO em favor da união ecumênica entre judeus, cristãos e muçulmanos.  Ao falar da liberdade de pensamento e necessária união entre os povos, o erudito mencionou a questão sabática dizendo: “O sétimo dia representa uma porta de entrada para o oitavo dia, símbolo maior da era messiânica. É, de igual modo, a entrada para uma Nova Era.” (grifos acrescentados).

Estou cônscio de que este não é um pensamento comum em todos os setores do judaísmo. Mas é um começo. Em sua visões, Ellen White deu-nos as diretrizes desse novo contexto ao dizer que “Satanás fará parecer que Cristo veio”. Quando isso ocorrer, o mundo inteiro acreditará estar sob a nova era do reino messiânico. Logo, muitos, inclusive judeus, se convencerão de que o Messias chegou à Terra e, por sua própria ordem, guardarão semanalmente o shemini atzeret (ou oitavo dia) abolindo de vez o sábado que então perdera seu significado em favor do Domingo romano.

Será realmente um tempo de tremendo engano, a não ser, é claro, para aqueles que firmarem na Palavra Revelada de Deus.

Autor: Dr. Pastor Rodrigo P. Silva, professor de antropologia e Filosofia do UNASP – C2 . Engenheiro Coelho –SP. Extraído da revista SEMINARISTA, Ano 1, nº 1 .

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