Interpretação Contemporânea dos 144.000 Conduz a Novo Debate e Estudo Sobre o Tema

Irmão Jairo,

Li seu interessante artigo sobre os 144.000 e fiquei com algumas dúvidas, para as quais peço esclarecimento:

1) Há uma ligação bem fundamentada de que os 144.000 são fiéis da igreja de Filadélfia. O interessante é que cremos que esta igreja já cumpriu o seu papel e deixou de existir, sendo o nosso período o de Laodicéia. Duas perguntas então neste tópico:

a) Como demonstrar que Filadélfia permanece ainda e qual o seu relacionamento com Laodicéia, e também outras igrejas que talvez permaneçam?

b) Quem são os judeus da Sinagoga de Satanás? Por acaso os fiéis da igreja de Laodicéia?

2) Foi apresentada a literalidade do número 144.000. Não seria o argumento de que 144.000 homens é a medida do santuário celeste exatamente a prova do simbolismo do número e não a prova de sua literalidade? Afinal estamos falando de medidas (dimensões) e não de quantidade de pessoas necessárias ao seu serviço, para isso teríamos que medir os turnos dos sacerdotes do santuário estabelecido em Israel.

3) Foi feita ligação entre os 144.000 e a grande multidão como sendo o mesmo grupo. Três perguntas aqui:

a) Como entender o verso de Apo 7:9 que fala que a grande multidão não pode ser contada e relacionar com o 144.000 definido como literal?

b) Qual a relação entre os 144.000 dos filhos de Israel e a multidão de todas as tribos e nações? São israelitas espalhados pelo mundo ou gentios convertidos, ou outra explicação?

c) Como entender que Cristo é apresentado como leão mas visto como Cordeiro (Apoc. 5:5-6)? Não é o mesmo tipo de relacionamento aqui, apresenta-se 144.000, vê-se uma grande multidão?

4) Somente os que puderem ser relacionados como fazendo parte dos 144.000 estarão vivos na vinda de Cristo? Aos outros, os que não conseguirem chegar ao nível exigido dos 144.000, Deus permitirá que descansem?

Por hora, 7 perguntas são suficientes.

Fábio


Caro irmão Fábio,

Agradeço seu e-mail. Antes de responder qualquer coisa, gostaria de ressaltar que todos somos aprendizes na escola de Cristo, e como tais podemos estar errados em alguns, diversos ou mesmo quase todos os pontos. Assim, não sou o dono da verdade. Responderei dentro do que, creio, Cristo nos tem revelado. Abaixo de cada pergunta, segue a resposta.

Como demonstrar que Filadélfia permanece ainda e qual o seu relacionamento com Laodicéia, e também outras igrejas que talvez permaneçam?

Caro irmão, antes de responder a esta pergunta, gostaria apenas de colocar que precisamos diferenciar a aplicação histórica, passada, da aplicação contemporânea. Ao estudarmos a profecia das sete igrejas e dos sete selos de Apocalipse, percebemos diversas evidências de que existem fatos para se cumprir em todas elas. Especificamente sobre a igreja de Laodicéia, verificamos que há uma série de fatos não cumpridos:

1 - A sinagoga de Satanás se prostra aos pés dos santos. Pergunto: Isto aconteceu no período histórico de Filadélfia? Não. Inclusive, EGW, em Primeiros Escritos, pág. 15, afirma que isto ocorrerá no grande Dia da ira do Senhor.

2 - A hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro. EGW afirma no livro GC (conforme está no artigo) que este é o tempo de angústia, que também está no futuro.

Apenas mais um exemplo, para fundamentar a afirmação que de existem fatos a  se cumprir em todas as igrejas. Na descrição do período da igreja de Sardes, temos: "...Se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti." Apoc. 3:3

Jesus, ensinando os discípulos, compara a vinda como um ladrão com o encerramento do período de graça para o homem. Vemos então que, apesar de o termo "virei como ladrão" estar colocado na descrição do período de Sardes, sabemos que o período de graça para o homem caído não se encerrou durante esta igreja.

Resumidamente falando, entendemos que há uma aplicação contemporânea para a profecia das 7 igrejas, onde todos os acontecimentos descritos em cada igreja se cumprirão novamente.

Qual o ponto de partida para o início deste segundo período? R.: Assim como a chuva temporã (Pentecostes) deu início ao período histórico passado das 7 igrejas, a chuva serôdia dará início ao período histórico contemporâneo das 7 igrejas. Desta forma, o período contemporâneo de Filadélfia inicia-se após o encerramento do período de graça para o homem (se levantará Miguel.. Dan. 12:1), e encerra-se no grande e terrível dia do Senhor (Joel 2:1,2). Aconselho o irmão a ler o material escrito sobre Daniel 12, que traz gráficos de tempo e ajuda na compreensão dos períodos contemporâneos.

Tenho estudos sobre as 7 igrejas e os 7 selos com aplicação contemporânea, mas não estão digitados. Quero fazer isto assim que tiver tempo e pretendo enviar para os irmãos, mas por ora penso que o que coloquei sobre este assunto serve ao menos em parte para responder sua pergunta. Se algo não ficar bem compreendido, por gentileza me informe e tento explicar melhor para não ficar confuso.

 

Quem são os judeus da Sinagoga de Satanás? Por acaso os fiéis da igreja de Laodicéia?

Estes "judeus", segundo o texto bíblico (Apoc. 3:9) são pessoas que se declaram judeus mas não o são de fato. Os judeus do tempo de João,consideravam-se o povo de Deus, e de fato o haviam sido no passado, mas já não eram. Quem representa o povo de Israel na atualidade? A IASD. EGW afirma que, ao passo que Cristo conduz o trigo para as fileiras de Sua igreja, Satanás leva para lá o joio. Quando a profecia aponta então de pessoas que se declaram judeus, mas não o são ela está de fato mencionando pessoas que se declaram ASD e não o são. E vai além: diz que eles vêm da sinagoga de Satanás.

Quem seriam estes senão os próprios jesuítas-maçons infiltrados atualmente em nosso meio, com livre acesso ao púlpito sagrado para pregar sua profecias acesas na tocha infernal de Satanás, e que freqüentam as lojas maçônicas (Sinagogas de Satanás)?

 

Não seria o argumento de que 144.000 homens é a medida do santuário celeste exatamente a prova do simbolismo do número e não a prova de sua literalidade? Afinal estamos falando de medidas (dimensões) e não de quantidade de pessoas necessárias ao seu serviço, para isso teríamos que medir os turnos dos sacerdotes do santuário estabelecido em Israel.

Em verdade, não precisaríamos sequer estudar o santuário para provar a literalidade dos 144.000. Bastaria-nos entender de maneira bem clara o seguinte: EGW se auto-entitulou de portadora de luz menor, quando usada por Deus, para conduzir os homens à luz maior (Bíblia). Isto está em Mensagens Escolhidas, Vol. 3, pág. 30.

Entendemos então que o objetivo do ministério profético de Ellen G. White não era trazer símbolos adicionais à Bíblia. Pelo contrário, pelos escritos do espírito de profecia temos as verdades e símbolos bíblicos explicados.

Uma vez que os escritos de EGW não trazem símbolos, devemos entendê-los de forma literal. E EGW afirma o seguinte em PE pág. 15.: "os santos vivos, em número de 144.000, ouviram a voz...". Assim, se EGW afirma que os santos vivos eram em número de 144.000, devemos entender isto de forma literal.

Quanto a questão do santuário, veja-se que não eram medidas quaisquer. As medidas são em côvados. Cada côvado, biblicamente falando, representa a medida de um homem, tomando-se da ponta do dedo médio até o cotovelo (ver Ezequiel 40:1-6). Como o côvado representa a medida de 1 homem, 144 côvados representam a medida de 144 homens, e 144.000 côvados representam a de 144.000 homens. No caso do templo de Ezequiel, este era o côvado real, que se consistia da medida citada outrora adicionada da medida de quatro dedos.

Pedro, em sua epístola afirma que somos SACERDÓCIO REAL, nação eleita, povo santo. Por que sacerdócio real? Não comporão o sacerdócio real aqueles que serão colunas do santuário de Deus e assistirão a Ele, segundo descrito em Apocalipse 3? As paredes do templo eram de pedra, amparadas sobre a pedra angular, que representava Cristo (a pedra angular do templo era uma história real passada através da tradição oral pelos judeus e conhecida de Jesus, quando este Se entitulou de pedra angular). Em I Pedro 2:4-10, Pedro afirma serem os homens casa espiritual, devendo ser erguidos sobre a pedra angular, que é Cristo. Assim, vemos a relação das pedras do santuário com os homens.

Se não ficou muito clara a resposta, por gentileza me escreva e tento esmiuçar um pouco mais. Coloquei algumas coisas resumidas e penso que esteja dando para entender.

 

Como entender o verso de Apo 7:9 que fala que a grande multidão não pode ser contada e relacionar com o 144.000 definido como literal?

Primeiro, no contexto histórico da passagem, temos que concordar que João não poderia contar 144.000 pessoas. Quando João viu uma multidão inumerável, naturalmente ela não o era para Deus, e, sim, para João. 144.000 pessoas representa mais do que um estádio de futebol como o Mineirão - BH lotado. Não há como um homem contar.

Em Apoc. 7:4 é mencionado que João "ouviu" o número dos que foram selados - 144.000 de todas as tribos de Israel. Depois, no verso 7, João "vê" aquela multidão da qual tinha ouvido o número. No verso 14, o anjo diz para João que esta multidão são os que vêm da grande tribulação. A grande tribulação, como sabemos, é o tempo de angústia. Somente os 144.000 passarão vivos pelo tempo de angústia. E no verso 15, o anjo complementa dizendo que aqueles servem a Deus de diz e de noite no seu santuário. Quem serão as colunas do santuário de Deus e de lá jamais sairão, segundo Apocalipse 3? Os 144.000.

 

Qual a relação entre os 144.000 dos filhos de Israel e a multidão de todas as tribos e nações? São israelitas espalhados pelo mundo ou gentios convertidos ou outra explicação?

Quando vemos o termo Israel aplicado à profecia contemporânea, temos que entender como sendo Israel espiritual. Ellen G. White repetidas vezes relaciona o povo adventista do sétimo dia com os judeus do tempo antigo.

Ora, o povo adventista não está ligado por descendência física e, sim, espiritual - são "enxertos" na árvore abraâmica (descendentes de Abraão pela fé - ver Romanos cap. 4 e Gálatas 3). Neste contexto final, o termo Israel representa os remidos provenientes de todas as nações e credos, que atenderão às mensagens do terceiro e do quarto anjo.

Para embasar esta afirmação, temos que comparar a divisão de Israel antigo em reinos do Norte e do Sul, na época de Roboão, com a divisão na Igreja Cristã ocorrida em 321 D.C, após o decreto de Constantino, que promulgou a primeira "lei dominical".

Após esta data, a igreja dividiu-se em dois grupos:

1 - O "fio de ouro" divino, composto por aqueles que prezavam a verdade divina e a guarda do sábado - a linhagem de Davi ou reino do sul;

2 - O "reino do norte", composto da grande maioria que aceitou a união do paganismo com o cristianismo apostólico, e que mais tarde organizou-se sobre a direção da Igreja Católica Apostólica Romana.

Assim, no período final da história terrestre, quando os fiéis servos de Deus forem chamados de todas as denominações caídas para advogar a verdade, o povo de "Israel" será novamente unido, cumprindo-se novamente a profecia de Oséias cap. 1 (ver dois últimos versos).

A explicação acima é extremamente sucinta, uma vez que destina-se apenas a responder seu questionamento. Pode ser bem embasada. Tenho estudos sobre isto, mas não há nada digitado. Assim que tiver tempo, digito e envio.

 

Como entender que Cristo é apresentado como leão mas visto como Cordeiro (Apoc. 5:5-6)? Não é o mesmo tipo de relacionamento aqui, apresenta-se 144.000, vê-se uma grande multidão?

Os nomes de Cristo usados na Bíblia estão intimamente relacionados com o assunto do qual o contexto trata. "Cordeiro" é mencionado quando em se tratando do sacrifício efetuado no plano da salvação; "Emanuel" quando se trata do tema Justificação pela Fé; "Leão de Judá" quando refere-se a Cristo como o defensor, ajudador e vingador de Seu povo; etc. Assim, não vejo como fazer uma comparação equitativa das diferentes aplicações do nome de Cristo com o tema dos 144.000, uma vez que estes últimos, sempre que são apresentados, o são como sendo o grupo dos que estarão vivos durante o tempo de angústia e vindicarão o caráter de Deus. Não são apresentados em se tratando de diferentes temas, como no caso do nome de Cristo.

 

Somente os que puderem ser relacionados como fazendo parte dos 144.000 estarão vivos na vinda de Cristo? Aos outros, os que não conseguirem chegar ao nível exigido dos 144.000, Deus permitirá que descansem?

Não. O espírito de profecia coloca claramente que os 144.000 serão os únicos santos que passarão vivos pelo tempo de angústia. Ao final do tempo de angústia, os que morreram na fé da mensagem do terceiro anjo ressuscitarão na ressurreição especial (Daniel 12:3; Eventos Finais, pág. 234 - ver também material sobre Daniel 12), e ouvirão o concerto de paz estabelecido por Deus com seu povo (Eventos Finais, pág. 235).

Estes dois grupos permanecem juntos até a segunda vinda de Cristo, quando os mortos em Cristo "ressuscitarão primeiro" (I Tessalonicenses 4). Quanto ao restante que, a suposição feita em sua pergunta está correta, a exceção de um termo: "conseguirem". Eu trocaria ela por "permitirem que Cristo os faça atingir a perfeição cristã," cumprindo a promessa bíblica: "Sede vós perfeitos...".

Que Deus o abençoe. -- Jairo Carvalho

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