Eu Também Fui Barrado na Escola Adventista...

Olá, Irmão Robson.

Li a reportagem sobre o garoto barrado na escola por conta do corte de cabelo, e resolvi lhe escrever para dizer que também tive meus dias de barrado e que os regulamentos são tão idiotas olhados 30 anos depois, e o que era mais importante não me lembro, mas o regulamento tenho comigo introjetado na memória até hoje.

Aos 14 anos de idade, revoltei-me contra as normas do Colégio Adventista onde eu estudava.

Achavam que um bom aluno deveria, independente de ser adventista ou não, ter cabelo cortado, barba raspada, usar sapatos pretos, meias pretas, calça azul marinho, camisa branca e gravata azul. Pelo descrever do uniforme, dá para se perceber que estamos em 1970, no IAP, que ainda era em Curitiba...

Eu odiava aquela gravatinha sem vergonha, desprovida de qualquer finalidade educacional, estética ou qualquer outro valor que justificasse portá-la. Um dia, perdi minha cinta, e tive a inteligente idéia de colocar a gravata na cintura, deixando um belo laço do lado direito do meu corpo. (Certamente mais ridículo que a gravata no lugar certo!)

Alertado de que não me deixariam entrar, muni-me de forte argumentação e com o manual do colégio, onde se dizia claramente que deveríamos usar gravata, mas não dizia onde, fui a aula. Na portaria, depois de muito argumentar de que estava sendo vítima de arbitrariedade, e de que eu estava correto perante o regulamento, etc. E principalmente por ser filho de boa gente, o secretário me permitiu entrar.

Dia seguinte, éramos uns dez ou doze garotos trajando as mais variadas novidades em termos de uso do tão famigerado trapo. Na portaria, nosso grupo foi barrado, todos nós apresentamos o regulamento e o secretário apresentou o seu também, onde acrescentou à mão o devido lugar onde se deveria portar a gravata. E disse: o regulamento que vale aqui é o meu! E realmente foi o que valeu.

Hoje moro na Europa, e nos fundos de meu prédio está localizado um grande colégio, onde vejo diariamente as crianças vestidas com o que querem, segundo a orientação de seus pais e o ensino, principal causa da existência de um colégio, não se altera por causa disto. Aliás, o ensino desse país tem sido modelo para o mundo. Vi que alunos com ou sem uniforme, com ou sem brincos, com cabelos ao seu próprio gosto podem perfeitamente aprender os segredos de uma educação integral, (mesmo que não se fale em eternidade por aqui).

É com imenso pesar que percebo que passados trinta anos, ainda não acordamos para a realidade de que a escola não é quartel nem presídio; ainda não aprendemos a respeitar o indivíduo, deixando-o livre para expressar o seu modo de ser no seu trajar, ainda estamos determinando aquilo que a consciência e as famílias deveriam determinar.

Hoje uso gravata, sem constrangimento algum, mas sou eu quem as escolhe.

Oxalá esse menino um dia possa compreender as verdades eternas e aceite esta ocasião como uma passagem engraçada de sua vida e que trinta anos depois possa, como eu, olhar para trás e dar muitas risadas e principalmente que ele possa ter retido em sua mente mais das aulas de religião pregados no quadro negro que as lições de amor pregadas pelo quadro docente da nossa instituição, que está a formar para a eternidade...

Um grande abraço

Seu amigo, .............................

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