Lessa, o Homem que Odeia o Barquinho e Pensa que é Jesus

No editorial da Revista Adventista deste mês de novembro, o editor, “valendo-se das limitadas e frágeis palavras humanas”, “tenta imaginar” quais seriam as palavras de Jesus para alguns segmentos da Igreja.

Ora, a maioria dos leitores da Revista Adventista não são teólogos. Também não são antropólogos, filósofos ou advogados. São pessoas humildes, crédulas, inocentes, que  recebem a revista e a lêem com a certeza de que os artigos são feitos sob a orientação Divina. Os teólogos sabem que nem sempre são. Os advogados sabem porque a Revista é apresentada como “Órgão Geral da IASD no Brasil”, e  não como “Órgão Oficial”.

Mas a maioria dos leitores, ao ler o editorial, não manterá em mente as palavras iniciais do pastor Lessa, sua advertência de que o que se segue é mera imaginação, raciocínio limitado e frágil. A partir daí, suas considerações serão tomadas como plenamente verdadeiras.

Como bom jornalista, precavendo-se, ele disse aos teólogos e advogados que faria a seguir um mero exercício imaginativo, reconhecendo assim que os editores, apesar do grande poder de influenciar as mentes, ainda permanecem humanos. (Para tentar ser divino, precisaria no mínimo ser tesoureiro de União!)

E os membros da Igreja Adventista no Brasil, confiantes que Jesus está no comando do grande barco, — que é só a nossa igreja, não as outras — crêem que os líderes são escolhidos por Ele, e conseqüentemente, os artigos e as revistas oficiais são a transcrição exata da Palavra de Deus. 

 

Lessa psicografa mensagem do Filho de Deus

A grande maioria vai achar que Jesus faria mesmo as exortações à igreja psicografadas pelo editor da RA! Mas, para falar em nome de Jesus, o pastor Lessa teria dois caminhos válidos.

O primeiro, seria receber diretamente dEle as instruções. Uma visão, uma revelação, como as concedidas à irmã White. O segundo caminho seria basear-se nos ensinamentos de Jesus. Supõe-se que um cristão, após muito estudar a vida e os ensinamentos de Jesus, possa saber o que ele provavelmente diria em situações específicas de nossa época.

Se ele disser que teve uma revelação direta, seria o caso de pedir para que  voltasse a se comunicar com o suposto Jesus e perguntar porque Ele mudou tanto seus conceitos desde que foram escritos os evangelhos. Caso opte pela segunda opção, é válida a mesma pergunta. Pois o Jesus que vemos nos evangelhos e o “Jesus” do editorial da RA são muito distintos.

Se Jesus tivesse um encontro pessoal com os segmentos da igreja, o que Ele diria? – pergunta o pastor Lessa. Para começar, ele (o Lessa) é que escolhe os segmentos que terão a entrevista com Jesus.

Para o homem que decide o que os membros no Brasil devem ler ou não, a igreja está dividida entre Legalistas, Liberais, Acusadores, Mornos, Fiéis, Líderes e Músicos.

Será que nosso Salvador também vê a igreja dividida nestes segmentos?

O pastor Lessa, falando em nome do Filho de Deus, faz então sérias advertências aos legalistas e aos liberais. Ambos estão errados. Esta é uma discussão teológica que dura séculos –  legalistas e liberais estão em lados opostos, e sempre se matando uns aos outros (em geral os legalistas é que matam os liberais). Mas o editor não se compromete, usa os argumentos dos liberais para acusar os legalistas e usa os argumentos dos legalistas para criticar os liberais. Depois, acusa os acusadores.

Em seguida, critica os mornos. Finalmente, fala aos fiéis. “apesar de rodeados por legalistas, liberais, mornos e acusadores, vocês permanecem fiéis a mim”. A Igreja, para o pastor Lessa, é dividida assim:

1 - Maus: legalistas, liberais, acusadores e mornos.

2 – Bons: os fiéis.

Mas, logo após, aparecem mais duas categorias. A primeira, aqueles que estão acima dos bons e dos maus, além do bem e do mal: os líderes. E por último, os músicos.

Para um pesquisador norueguês que porventura leia o editorial, vai ser difícil entender porque os músicos lá no último parágrafo. Por que não os professores, colportores,  médicos obreiros, os pastores distritais, ou outra das tantas categorias que compõem a igreja? Bom, vá lá, que sejam os músicos.

Mas é na exortação que faz aos fiéis  que está a parte mais importante. Para o leitor, que acabou de abrir a revista, e ainda está com a imagem da capa flutuando na memória, Lessa chega então ao ponto que justificou todo o artigo escrito em nome do Filho de Deus:

“Alguns, aliás, já estão fora da peneira da Igreja, imaginando que constituem o Meu remanescente. Como, porém, seriam meus remanescentes se o que fazem é só criticar e criticar, ao mesmo tempo que abrigam no íntimo tanto orgulho e presunção?”

 

Desonestidade teológica, com terrível credibilidade

O editorial faz um corpo comum com a capa da revista e o artigo “Um Novo Remanescente?”, do pastor Amin Rodor.

O pastor Lessa é um grande jornalista. Sabe que o membro, que veio acreditando que é Jesus mesmo que está falando à Igreja, nesta hora não oferecerá resistência a este absurdo.

Primeiro, a capa da revista. Agora, o pastor Lessa, acusador dos irmãos, explica que no barquinho que se desgarrou do navio com a mão de Deus ao leme, estão pessoas iludidas, que só sabem criticar, criticar, e são orgulhosas e presunçosas.

Ao virar a terceira folha, o leitor vai encontrar novamente a mesma figura da capa. É o artigo de capa! Para não deixar dúvidas, lá está a gravura da capa novamente: uma página inteira da revista com o grande barco com Jesus ao leme e o barquinho dos insensatos, orgulhosos e presunçosos, indo em direção à tempestade. E então o pastor Rodor, relembrando o sucesso de seu primeiro artigo, retorna com o mesmo tema de “O remanescente e os dissidentes”.

Aquele abominável artigo saiu logo em seguida ao pai de todos os artigos pró-administração: “A Sinagoga de Satanás”, do doutor José Carlos Ramos. Depois destes, vieram outros, mas sem o mesmo sabor.

Ao ler “A Sinagoga de Satanás”, mesmo sem ter conhecido ainda o “adventistas.com”, sofri uma das maiores decepções de toda a minha vida de adventista. Vi que os teólogos também podem usar sua inteligência e sua cultura para falar mentiras e ajudar na desgraça dos outros.

Quando li o primeiro artigo do pastor Amin Rodor, já não foi tão doloroso, principalmente por sua argumentação ser claramente facciosa. Na revista Ministério, eles publicam a foto do autor, e confesso que fiquei muito mais impressionado com seus bigodes que com os argumentos.

Seu novo artigo, um ataque direto ao movimento leigo, continua com pouca argumentação consistente, mas, compensando a falta da imagem dos bigodes, há duas capas de revista.

É preciso reconhecer a habilidade do Sr. Andrei Vieira, autor da capa. Soube sintetizar com beleza e criatividade a idéia do artigo. Soube dar à desonestidade teológica uma terrível credibilidade. Sim, se Jesus está neste barco, e só neste barco, os que estão fora vão se danar na tempestade...

 

Arca de Noé adventista

Já que questionei a honestidade e a veracidade do editor e do artigo, preciso provar que eles estão errados. Só que eles são teólogos, eu não. Eles têm uma enorme estrutura por trás de si, para lhes dar credibilidade, e escrevem na revista oficial (oops, geral) da igreja.

E agora, amigos? Preciso enfrentar os professores da lei, e no terreno deles. Não estou aqui para dizer que só não gostei do artigo e do editorial, estou aqui para provar que eles estão equivocados. Que estão teologicamente e eticamente errados. Mas não é prudente discutir com especialistas um assunto no qual não somos autoridade!

E agora?

Nada de pânico. Vamos conversar em alto nível teológico. Por favor, pastor Lessa e pastor Rodor, venham, vamos discutir o assunto só de Ph.D.  e Th.D. para cima. Não comigo – já disse, não sou teólogo. Mas com todos, todos os outros teólogos das outras denominações cristãs.

Vejam, eles também possuem revistas com belas capas. Eles também representam milhões de membros, movimentam milhões de dólares, usam ternos bonitos, dão aulas em grandes universidades... Nada do que vocês têm para impressionar os leigos, eles também não deixam de ter, e muito mais.

Sabem usar estas palavras bonitas – salvífico, hipóstases, metafísica triádica neoplatônica – falam latim, grego, hebraico e aramaico. E mais, vocês os respeitam bastante, foi possível observar isto acompanhando o debate sobre a Trindade.

Mas agora, meus bons pastores, vejam que eles estão chegando de cara feia. Não parecem nada felizes com o desenho da capa da R.A. Sabem por quê? Porque esta doutrina da grande barca, de que só nós é que seremos salvos, só nós somos os santos, todos os outros são do diabo, não está em alta entre os teólogos sérios.

Será que foi  isso que Jesus ensinou? E no desenho fica claro, os que estão no nosso barco é que serão salvos. Os rebeldes, os dissidentes de Poá, ainda têm um frágil barquinho. Mas e os outros cristãos? E os Batistas, os Presbiterianos, a Assembléia de Deus? Não há nenhum outro barco no oceano!

Bilhões de seres humanos irão se afogar! Só os adventistas, e destes, só uns poucos irão se salvar. Das sete categorias lessianas, apenas três – os líderes, os fiéis e os músicos irão para o porto seguro. Os que reclamam dos abusos da administração, os que não concordam com a falta de respeito na hora da oração, estes estão fora.

Só os que obedecem à administração é que serão salvos. Jesus é nosso, Jesus é propriedade exclusiva da Igreja Adventista – e lembrando, não é para todos os adventistas, só para os fiéis, os líderes e os músicos...

 

Por que os músicos?

Ótimo. Agora, enquanto os pastores Lessa e Rodor vão ficar um bom tempo discutindo teologuês com os outros teólogos, nós, que não somos especialistas, podemos nos preocupar com o que há de realmente importante.

Só há dois barcos. O grandão, com “Jesus” ao leme, e a canoinha dos rebeldes. O barcão é a igreja adventista. O barquinho é o movimento leigo.

E, na argumentação do sábio editor e do sábio Rodor, foram os bobos do barquinho que abandonaram o barco seguro dirigido por Cristo.

Pois é. O Editor e o Rodor, dois homens sérios e importantes. (Lá estão eles discutindo com os outros teólogos, há um de turbante, que também chama Amin, gritando alto o nome de Allah, e nossos dois amigos parecem assustados.) E nossos representantes, o Editor e o Rodor, cumprindo sua obrigação de atacar o movimento leigo, retomam a prática dos que destroçaram o grupo de fiéis adventistas de Poá. Mentem. Fazem uso da informação falsa, do falso testemunho. Mentira. Mentira. Mentira.

Quando o pastor Lessa e o pastor Rodor terminarem lá a discussão teológica deles, (se saírem vivos, porque o outro Amin, muçulmano xiita, está muito alterado), vamos lembrá-los que no barquinho pequeno, talvez chamado “Poá I”, não estão os que resolveram sair do barco. Não! Estão os que foram colocados para fora! À força! Foram expulsos do grande barco!

Eles apenas queriam, na hora do culto, poder ajoelhar para adorar a Deus. Mas foram trucidados por “gente orgulhosa, presunçosa, que só sabe criticar, criticar”. Ao invés de elogios, por sua postura corajosa, só receberam acusações, críticas e mais críticas, como esta agora, capa de revista!

Vocês foram lá, com seus advogados e seus tratores, e destruíram a Igreja de Poá! Mentiram – suas mentiras estão bem registradas – para justificar aos outros membros da igreja, semi-informados, o massacre, o leigocídio.

Agora, com a maior cara de pau, vem dizer que foram eles que saíram?!

Quer dizer, vocês perseguem, humilham, dissolvem a igreja, expulsam os membros, e depois vem dizer que foram eles que saíram por serem orgulhosos?

Eles, para ter paz, resolvem se congregar em outro lugar e continuar a trabalhar pregando o que Cristo determinou. Não estão atacando. Não li nenhum artigo do irmão Aparecido atacando vocês. No entanto, como a fé, a determinação, a sinceridade humilde deles incomoda, e como os outros membros passam a olhá-los com simpatia, vocês preparam uma revista para acusar e menosprezar os “dissidentes”.

Preparam uma linda gravura mostrando a canoinha dos “orgulhosos” saindo do barco dos “fiéis”. Para que os membros semi-esclarecidos acreditem que os que saíram o fizeram por livre vontade, e não após terem sido humilhados, enganados, trucidados por vocês!

É preciso entender quanto de teologia para saber que Cristo não gosta de mentirosos? Quantos títulos de doutorado são necessários para saber que Cristo não é propriedade particular de nenhum grupo religioso?

Não foi o pastor Rodor que pintou a capa. Isto foi um trabalho de equipe a capa, o editorial, o artigo. Pois é, o pintor, o editor e o Rodor, (que horror), devem se considerar dentro do grande e seguro barco. O grande navio insubmergível. Junto com eles, estão os “fiéis”, os líderes, e os músicos.

Vejam, amigos leitores do adventistas.com, o pastor Lessa coloca  todos os “bons” dentro do grande navio, e os “maus”, vão no barquinho. Só que, no navio, estão os líderes que mentem, que desviam verbas, que perseguem, que desempregam pessoas competentes para dar emprego aos parentes. Que somem com 300.000,00 de um colégio e dizem que foi para dar comida aos filhos dos professores. Estes, estão seguros dentro do grande e insubmergível navio. E, até agora, ninguém atinou ainda no porquê  do nosso editor fazer questão de levar também os músicos. Pensem. Um grande navio, “que nem Deus pode afundar”, atravessando o gélido atlântico norte, cheio de gente importante... para que os músicos?

O pastor Lessa pensou bem. Pois, na hora da verdade, quando aparecerem os icebergs, os que confiaram sua salvação no grande barco, vão ouvir a  orquestra tocando “Mais Perto Quero Estar”...

 

Diagnóstico psiquiátrico, qual o remédio?

Explicada a presença dos músicos, vamos sair do ramo da teologia e entrar um pouco no terreno da saúde, onde me sinto mais à vontade.

Pastor Lessa, um homem que por muitos anos decide o que os outros devem ou não ler; que dá preferência a determinados assuntos e omite outros; que facilita a publicação de artigos de alguns, e de outros não; que dá preferência a notícias de alguns lugares e a outros não; que ataca insistentemente os que odeia, mas faz pose de inocente, criticando os críticos; este homem, com o passar do tempo, tendo todos a adulá-lo devido a seu grande poder, pode começar a se achar muito importante. Afinal, pensará ele, sou eu que decido o que os outros devem ler e acreditar. Sou eu quem decide o rumo que a igreja deve tomar...

Este homem pode começar a achar que fala em nome de Deus. Pode começar a escrever em nome de Deus, embora, em sua fase ainda racional, admita estar usando “frágeis e limitadas palavras humanas”.

Isto é perigoso, pastor Lessa. Talvez fosse bom o senhor trocar umas idéias com o doutor César Vasconcelos, que já escreveu alguns (ótimos) artigos para sua revista. Pergunte a ele se é normal a pessoa achar que é Jesus Cristo.

Tudo costuma ter cura no seu início. Agora, se a pessoa não procura ajuda, pode acontecer de, em fase já adiantada, ocorrer o seguinte diálogo no divã do psicanalista:

Então, meu amigo, o sr. foi editor por muitos anos. Mas, e esta idéia de falar como Jesus, quando começou? Diga-me, como foi no princípio?

Bem responde o paciente No princípio, eu criei os céus e a terra... -- Tales Fonseca.

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