A Identidade dos Misteriosos 144.000

"O fato de não haver controvérsias ou agitações entre o povo de Deus, não devia ser olhado como prova concludente de que eles estão mantendo com firmeza a sã doutrina. Há razão para temer que não estejam discernindo claramente entre a verdade e o erro. Quando não surgem novas questões em resultado de investigação das Escrituras, quando não aparecem divergências de opinião que instiguem os homens a examinar a Bíblia por si mesmos, para se certificarem de que possuem a verdade, haverá muitos agora, como antigamente, que se apegarão às tradições, cultuando nem sabem o quê." Testemunhos Seletos, Vol. 2, págs. 311 e 312.

Como adventista há mais de 30 anos, há uma questão que sempre me intrigou e para a qual nunca encontrei uma explicação satisfatória entre meus irmãos da comunidade adventista do sétimo dia: a identidade dos 144.000!

Se a gente ler atentamente O Conflito dos Séculos, parece bastante óbvio que nos tempos finais, somente 144.000 defrontarão a perseguição, o "tempo de angústia" as pragas finais, etc. Sendo que a membresia da igreja atualmente supera os 10 milhões de membros, surge a pergunta: onde estarão todos os demais milhões de membros que superem esse número limitado de 144.000 a passar por tudo isso?

A Igreja ASD da Reforma e outros grupos dissidentes declaram que tal número representa o montante total dos que se salvarão e cada um deles se apresenta como os possíveis componentes desse número total dos salvos, pois em geral contam com bem poucos membros em suas fileiras e crescem muito lentamente. Desse modo, contam com a complementação desse número de 144.000 entre eles para que Cristo retorne. Obviamente tais explicações são insustentáveis.

Desconfio que a verdade é bem outra. Entre as muitas especulações sobre o fim dos tempos, houve a idéia do "número dos que haveriam de salvar-se" a ser completado, e tal número provavelmente seria o mencionado no Apocalipse. Ao passar o tempo, o número de 144.000 membros foi literalmente completado, mas Jesus não voltou. Teria sido esse outro dos "desapontamentos" adventistas? Por que na edição resumida, O Grande Conflito, foi excluída toda referência a esses 144 mil, tão destacados no volume original? Também toda referência aos albigenses foi suprimida das edições condensadas posteriores, por quê?

Agora a igreja tende a ensinar que 144.000 vem a ser um número simbólico, mas teria sido esse o entendimento original? Em O Conflito dos Séculos tudo nos eventos finais realmente gira em torno desses misteriosos 144.000. Alguém me referiu uma declaração de Ellen G. White a respeito desse tema dos 144.000, de que sobre isso "o silêncio é eloqüência". E a falta de silêncio, seria o quê? Embaraço? Contudo, confesso que não consegui localizar tal declaração. Alguém sabe se realmente isso existe?

Creio ser esse um assunto que merece análise mais profunda. Para tanto, sendo que "perguntar não ofende", indaguei a respeito a um investigador incansável de nossas doutrinas e história e obtive a seguinte resposta:

Caro irmão:

O número 144.000 representa um problema. Em vários de seus primeiros escritos (Testimonies, vol. 1, p. 59, Primeiros Escritos, p. 14, "Palavra ao Pequeno Rebanho", p. 14, etc.) a Sra. White indica que haveria literalmente 144.000 santos. Ela declara que seriam "144.000 em número". Quando se imprimiu o livro que antecedeu O Conflito dos Séculos, que foi o Spiritual Gifts, a frase foi omitida. A frase não aparece em nenhuma das últimas versões de O Conflito dos Séculos [denominada O Grande Conflito]. Aparentemente os irmãos julgaram que poderiam causar um "grande conflito" dizer que somente 144.000 seriam salvos quando há muito mais desse número na igreja.

Que Deus o abençoe!

Dirk Anderson

Bem. Não sei de nenhuma explicação melhor. Alguém a teria? E por que mais essa história de "omissão"? Volta e meia defrontamos "omissões" de declarações "complicadas" em edições posteriores desses livros, como na questão da "porta fechada", no "amálgama de homem e besta", na menção aos albigenses, por quê?

Estou à procura dos fatos e sei de muitos outros com a mesma preocupação. Ficaria grato que pesquisassem a respeito e trouxessem uma resposta adequada. Ou esta acima é indisputável? Quem se dispõe a analisar em profundidade a questão?

Azenilto G. Brito é ex-redator da Casa Publicadora Brasileira. Desenvolve um ministério de formação e informação através da Internet, divulgando em português, artigos que contam aspectos ainda inéditos da história recente do adventismo .


Quem São os 144.000?

  • Grupo especial a ser selado a fim de não ser atingido pela tempestade final, Apoc. 7:1-8
  • Parece indicar o número exato dos que serão salvos quando Jesus voltar.
  • Para os pioneiros do movimento adventista o número deve ter parecido impossivelmente grande.
  • Para a igreja atual com mais de 10 milhões, parece impossivelmente pequeno.
  • Quer seja impossivelmente pequeno ou impossivelmente grande, há chance de fazermos parte dele?

Devemos entender o assunto, aplicando uma regra básica de interpretação profética: Se o contexto é simbólico e profético, interpreta-se simbolicamente. Se não é simbólico, interpreta-se literalmente. Se interpreta-se alguma informação literalmente, todas as outras informações dentro do contexto devem ser interpretadas literalmente também. Se interpreta uma informação simbolicamente, todas as outras informações do contexto devem ser também simbolicamente.

Mas, lembre-se... UM TEXTO FORA DO CONTEXTO GERA UM PRETEXTO!

Registros bíblicos:

Apoc. 7 – um selamento de 144.000 – 12.000 de cada uma das doze tribos de Israel. Imediatamente nota-se que o número é arbitrário e não natural.

  • Como compreender a palavra Israel?
  • Sendo que todas as tribos excepto Judá e Benjamim perderam sua identidade quando se misturaram com as nações por ocasião do cativeiro assírio, como entenderemos estas tribos inexistentes?

Apoc. 14:4 – Descobrimos que este grupo é composto de Castos, ou Virgens – portanto...

  • Todas as pessoas casadas devem ser excluídas?
  • João ainda declara que – Não se contaminaram com mulheres, portanto devemos entender que são todos homens?

Obviamente, temos problemas se compreendermos a descrição como sendo literal. Se entendermos os 144.000 de maneira simbólica, emergem os verdadeiros significados. Israel não é mais segundo a carne, mas o Israel espiritual.

MENSAGEM EM CÓDIGO

As tribos inexistentes nos alertam para o fato de que esta é uma mensagem em código.

  • Os castos e os que não se contaminaram com mulheres – São um povo puro que não seguiu a meretriz Babilônia – Religião apóstata e todas as suas ramificações.

E a própria arbitrariedade dos número nos diz: Não os tome literalmente!

  • 144.000 – É um número composto de 12 X 12 X 1.000.
  • Doze é o número representativo do povo de Deus e do seu reino.
  • 12 tribos de Israel
  • 12 Apóstolos de Jesus ( Apoc. 21:12,14). Porque Cristo fez questão de escolher 12 apóstolos? Não podia ser mais ou menos? Porque com a traição de Judas os discípulos não ficaram em número de 11, mas fizeram questão de substituí-lo para permanecer o número de 12?
  • A cidade Santa, que devia representar o povo de Deus do Velho Testamento e do Novo Testamento, tem dimensões de 12:
  • 12 000 estádios de largura
  • 144 côvados de altura, o que dá 12 côvados para cada fundamento que são 12
  • 12 fundamentos, cada um de uma pedra preciosa
  • 12 portais de Pérolas ( versos 12, 14, 16, 17)
  • Acomoda os 144.000 com cada tribo entrando pelo seu próprio portão.
  • O quadrado do número indica perfeição, enquanto que o múltiplo de mil significa imensidade.

Apoc. 7 vem em duas seções :

  1. Os versos 1-8 – Descrevem os 144.000.
  2. Os versos 9-17 – Descrevem a grande multidão.

A relação entre as duas secções dá a chave para entender este assunto. 

1. "ouvi" – vers. 4 1. "vi" – vers. 9
2. "o número" – vers. 4 2. "ninguém podia enumerar" – vers. 9
3. "144.000" – vers. 4 3. "uma grande multidão" – vers. 9
4. "dos filhos de Israel" 4. "de todas as nações" – vers. 9
5. "de toda tribo" - vers. 4 5. "de todas as tribos..." – vers. 9
6. "selados" – vers. 4 6. "vestidos de branco" – vers. 9
7. "quatro ventos para fazerdano à terra e ao mar" -  vers. 1,2  7. "grande tribulação" – vers. 14

Os adventistas tem se inclinado a pensar nos 144.000 como aqueles que passam pela grande tribulação, enquanto que a grande multidão constitui os salvos de todas as eras. Isto contudo não é fiel ao texto uma vez que a Grande Multidão passa pela tribulação (Versos 9, 13, 14).

A primeira vista parece que as duas listas contrastam uma com a outra.:

  • Israel X todas as nações
  • 144.000
  • 12 tribos X todas as tribos
  • Mas ao refletirmos que Israel hoje não é o Israel literal mas os fiéis de todas as nações (Gál. 3:29 ; Rom. 2:28,29), torna-se evidente que as duas descrições são paralelas.

OUVIR E VER

João ouviu sobre os 144.000, mas quando olhou, viu a grande multidão.

Em várias ocasiões o que João ouve e o que ele vê, são a mesma coisa, embora descritos de forma contraditória. Ex:

Apoc. 1:10 – Ele ouve uma voz como de trombeta, mas ele vê o Filho do homem.(vs. 12,13)

Apoc. 5:5 Ele ouve o ancião descrever um leão, mas quando olha, vê um cordeiro(v.6). Os símbolos contraditórios representam a mesma pessoa.

Se este raciocínio é correto, podemos colocar um sinal de igual entre todos os itens da lista acima:

  • Israel são os fieis de todas as nações.

  • As tribos de Israel são todas as tribos ,línguas, povos e nações.

  • 12 000 de cada tribo são um completo número de redimidos de cada grupo étnico.

  • Os quatro ventos são a grande tribulação(Apoc. 7:14).

Sendo assim, os 144.000 formam uma multidão inumerável da família da fé, tirada de todos os povos e nações, que mostram sua lealdade a Cristo recusando-se comprometer-se com os enganos da falsa religião durante a grande perseguição final.

Mesmo que os 144.000 não sejam a grande multidão, os textos declaram claramente que uma multidão INUMERÁVEL passará pela grande tribulação (vs. 9, 10, 13, 14).

EGW os descreve em O Grande Conflito, págs.648,649: "Eles saem da grande tribulação e lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro (Apoc. 7:14 – já no contexto da grande multidão); já não sentem fome nem sede, porque o Cordeiro os guia às fontes de água viva" (vs. 16,17 – no contexto da grande multidão).

  • Assim, ela deixa implícito que os 144.000 são o mesmo que a grande multidão.
  • Desse trecho, ainda tiramos mais algumas informações:
  • Ninguém teve experiência semelhante.
  • São os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá.
  • São os trasladados entre os vivos.
  • São os que vieram de grande tribulação.
  • Passaram pelo tempo de angústia, tal como nunca houve.
  • Suportaram a angústia de Jacó.
  • Permaneceram sem intercessor durante os juízos de Deus.

A teoria de que 0s 144.000 são também aqueles que viveram e pregaram as três mensagens angélicas desde 1844 para cá, baseia-se numa declaração de EGW em ‘Mensagens Escolhidas’ vol.2, p. 263, cujo contexto refere-se ao consolo que ela dá à família de uma irmã que havia falecido e de que estava selada para o tempo do fim, onde ela diz:

  • "Vi que ela (Sra. Hastings) estava selada, e à voz de Deus ressurgiria e se ergueria sobre a terra, e estaria com os 144.000. Vi que não precisamos chorar sobre ela; ela repousaria durante o tempo de angústia."
  • Ajuntando as declarações feitas por ela mais acima, chegamos a conclusão de que ela não trata desse assunto de uma forma didáctica, mas da informações esparsas, sendo assim, os 144.000 não só são aqueles que passarão pela angústia, mas aqueles que descansarão antes que Jesus venha, mas que viveram e pregaram as três mensagens angélicas de 1844 para cá, e que ressuscitarão na ressurreição especial antes da grande ressurreição da multidão dos salvos de todas as épocas.

Outras informações da Pena Inspirada:

  • Enquanto em Primeiros Escritos os 144.000 se encontram em quadrado perfeito sobre o mar de vidro(p. 16), 0 Grande Conflito os retrata como uma "hoste inumerável dos resgatados" com as fileiras "dispostas em forma de um quadrado aberto." (págs.646,645)
  • Aparentemente, EGW viu os 144.000 como idênticos à grande multidão, que ninguém podia enumerar.
  • Mas depois de tudo, temos uma recomendação inspirada sobre o tratar desse assunto:

"Não é da Sua vontade que eles se metam em discussões acerca de questões que os não ajudem espiritualmente, tais como: Que pessoas vão constituir os 144.000 ? Isto é, aqueles que forem os eleitos de Deus, hão de sem dúvida saber em breve." Mensagens Escolhidas, Vol. 1, pág. 147.

Que diferença faz se os 144.000 são equivalente ou não a grande multidão?

  • Significa que Deus não é restrito no número de pessoas que ele vai salvar.

  • Ele não está obrigado a levar à sepultura a maioria dos santos para que apenas 144.000 estejam vivos quando ele voltar. Na verdade, Ele deseja salvar um número tão grande como o pó da terra ou as estrelas do céu.

  • E se assim é, há bastante espaço para você e eu estarmos nesse grupo.

Isto não são boas novas?

Colaboração enviada por Sandra Elisa Zillo Martins , de Portugal.


Opinião

Nossa irmã, autora do comentário sobre os 144 mil, Sandra Elisa Martins, realizou um grande trabalho de pesquisa. Quero parabenizá-la pela sua profundidade e empenho exegético. É raro hoje em dia, nesta época de mero "sloganeering" [repetição de slogans] e subjetivismo religioso, encontrar quem se disponha a tratar objetivamente, numa análise hermenêutica profunda, dessas questões bíblicas polêmicas ou desafiadoras. Deve ser uma mulher admirável...

Contudo, não me parece que a nossa erudita irmã lusitana realmente levou em conta todos os dados do problema, pois se ao longo de O Conflito dos Séculos a autora se dispõe o tempo todo a tratar do sentido dos símbolos apocalípticos (como nas exposições sobre o sentido das "duas testemunhas vestidas de saco na praça da cidade" ou das bestas marítima e terrestre) torna-se claro que ao se referir aos 144 mil ela não considera isto como um elemento simbólico.

O próprio contexto todo parece revelar a intenção de referir-se a um número literal. Pareceria estranho que após pôr-se a decodificar o sentido da simbologia apocalíptica, ela deixasse esse elemento como um símbolo não decifrado...

Ademais, fica ainda sem resposta a indagação perturbadora: por que não se faz qualquer referência aos famigerados 144 mil nas novas edições de O Conflito dos Séculos? Que teria levado os editores de nossas publicadoras a decidir pela omissão de tal referência?

Portanto, permaneço ainda seriamente desconfiado de que a explicação de Dirk Anderson, conquanto assaz inconveniente, seja a correta.

Azenilto G. Brito, Belo Horizonte, MG.

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