Ellen White e o Dízimo
(Transcrito da revista Ministério,
edição de Setembro/Outubro de 1999)
ALBERTO R. TIMM
Ph.D., diretor do Centro de Pesquisas Ellen G. White e
professor de Teologia no Seminário Adventista Latino-americano de Teologia,
Engenheiro Coelho, SP
Embora o sistema de entrega do dízimo, na Igreja
Adventista do Sétimo Dia, já estivesse em vigência no final do século 19,
recentemente têm surgido controvérsias sobre sua aplicação prática. Membros
que perdem a confiança na administração da Igreja desviam, às vezes, o dízimo
para grupos e ministérios independentes. Tal procedimento é justificado através
de algumas citações de Ellen G. White, que descrevem suas práticas pessoais
de dizimar.
Muitas dessas críticas são adequadamente discutidas
em The History and Use of the Tithe, documento do Ellen G. White Estate; Ellen
G. White: The Early Elmshaven Years, de Arthur L. White;1 e Dízimo: Conselho e
Prática de Ellen G. White, de Roger Coon (série de quatro artigos publicados
pela Revista Adventista, nos meses de agosto, setembro, novembro e dezembro de
1992). Parece, entretanto, que seria conveniente uma análise direta de quatro
declarações específicas de Ellen G. White. Será considerado, ao longo deste
artigo, que onde ela discute o seu uso do dízimo, geralmente está se referindo
aos primeiros 10% de seus lucros.
LUGARES HUMILDES DE ADORAÇÃO
A primeira declaração é de 1897. As igrejas de
Oakland, Califórnia, e de Battle Creek, Michigan, estavam enfrentando sérios
problemas em face de suas "volumosas" despesas.2 Sendo que algumas
congregações estavam utilizando o dízimo para cobrir despesas operacionais,3
membros dessas duas igrejas escreveram a Ellen White, que se achava na Austrália,
perguntando se era próprio desviar parte do dízimo para resolver sua situação.
Em 14 de março de 1897, ela respondeu:
"Daquilo que me tem sido mostrado, o dízimo não
deve ser retirado da tesouraria. Cada centavo deste dinheiro pertence ao tesouro
sagrado do Senhor, a fim de ser empregado em uma finalidade especial.
"Houve um tempo em que era feito muito pouco
trabalho missionário, e o dízimo estava se acumulando. Em alguns casos, o dízimo
foi usado para finalidades semelhantes às que são propostas. Quando o povo do
Senhor sentiu-se despertado para fazer trabalho missionário na Pátria e nas
missões estrangeiras, e enviar missionários a todas as partes do mundo,
aqueles que lidavam com interesses sagrados deveriam ter tido discernimento
claro e santificado para compreender como os meios deveriam ser utilizados...
"A luz que o Senhor me tem dado sobre este
assunto é os meios da tesouraria para o sustento dos ministros nos diferentes
campos não devem ser usados para nenhum outro propósito."4
Mas no dia seguinte, ela acrescentou: "Há casos
excepcionais, onde a pobreza é tão extrema que a fim de assegurar o mais
humilde lugar de adoração, pode ser necessário utilizar o dízimo. Mas esse
lugar não é Battle Creek ou Oakland."5
A primeira declaração mostra claramente que embora o
dízimo houvesse sido usado anteriormente para despesas locais, tal uso, porém,
deveria cessar devido aos grandes desafios missionários e também por causa da
crescente luz concernente ao dízimo. Mas a segunda afirmação fala de
"casos excepcionais" à regra, envolvendo lugares de adoração muito
pobres.
Uma análise cuidadosa sugere que Ellen White está se
referindo a uma genuína situação missionária, em que o edifício da igreja
é descrito como "o mais humilde lugar de adoração". O problema não
é a construção, renovação, melhoria, ou manutenção de uma igreja em uma
área bem estabelecida (o que ela desaprova energicamente, no mesmo contexto),6
mas o perigo de perder o próprio "lugar de adoração", prejudicando
assim a missão da igreja naquele lugar atingido pela pobreza.
AJUDA A OBREIROS NECESSITADOS
Um segundo comentário de Ellen White concernente ao dízimo
é uma declaração verbal, sem data, que ela fez ao seu filho W. C. White:
"O Senhor tem-me mostrado que a experiência de
pobreza e privação pela qual seu pai [Tiago White] e eu passamos nos primeiros
dias de nossa obra, me tem dado uma clara apreciação e simpatia por outros que
estão passando por experiências semelhantes de carência e sofrimento. E onde
vejo obreiros desta causa que têm sido fiéis e leais à obra, que são
deixados a sofrer, é meu dever falar em seu favor. Se isto não comove os irmãos
a ajudá-los, então eu devo ajudá-los, mesmo que para isto eu seja obrigada a
usar uma parte do meu dízimo."7
Embora a data específica dessa afirmação não seja
conhecida, W. C. White explica que "essas experiências se relacionam
principalmente com os anos em que nós [ele e sua mãe] estávamos na Europa
[1885-1887] e Austrália [1891-1900], e com os anos de 1900 a 1906, em favor da
obra nos estados do Sul".8 Se analisarmos a realidade da obra adventista na
Europa, Austrália e nos estados do Sul, durante esses respectivos períodos,
veremos que cada um desses lugares era naquele tempo um campo missionário sem
adequada provisão financeira. Os membros dos campos estabelecidos não estavam
suficientemente preocupados em ajudar as missões.
Na assembléia da Associação Geral de 1901, Ellen
White enfrentou o problema: "Eu disse ao Senhor que quando chegasse a
Battle Creek desta vez, vos inquiriria porque retivestes os meios da obra na
Austrália."9 Somente com a reorganização da Associação Geral em 1901,
veio "uma solução" para melhor sustento das missões.10 Sendo que às
vezes a própria Organização não provia meios adequados para seus missionários,
Ellen White sentia ter um dever especial para com os obreiros que, conquanto
"fiéis e leais à obra", eram deixados a enfrentar privações e
sofrimento. Sempre que encontrava obreiros em tais circunstâncias, primeiro
tentava resolver o problema falando "em seu favor" aos administradores
locais. Se isso "não comovia os irmãos a ajudá-los", então ela
considerava que era seu próprio dever ajudá-los, mesmo que isso significasse
usar uma parte do seu dízimo.
W. C. White, comentando sobre a declaração a ele
feita por Ellen White, faz uma clara distinção entre seus procedimentos normal
e esporádico. Explica que, embora "um dízimo integral" fosse
"devolvido sobre o seu salário [ao] tesoureiro da igreja ou da Associação",
usos ocasionais do dízimo dos "direitos autorais" iam para satisfazer
as necessidades desses obreiros que estavam sofrendo. Ele argumenta que
conquanto sua mãe pudesse fazer tais usos especiais do dízimo devido à
"iluminação especial" que ela recebia do Senhor como parte de sua
autoridade profética, nem "os membros da igreja", nem
"ministros" estão autorizados a agir semelhantemente.11
É significativo que ela anunciou sua declaração com
a expressão "o Senhor me mostrou". Para Ron Graybill, tal expressão
significa "que o que foi escrito foi escrito sob a inspiração do Espírito
de Deus".12 Assim, ao declarar que o Senhor lhe havia mostrado que fizesse
tais aplicações especiais do seu dízimo, Ellen White está devidamente
enfatizando sua singular autoridade profética para agir de tal modo.
Portanto, Ellen White reconheceu claramente, nessa
segunda declaração, 1) que fez alguns usos especiais de seu próprio dízimo;
2) que tais aplicações eram feitas apenas em relação a problemas
negligenciados pela Organização; e 3) que ela fazia isso com base em seu
discernimento profético.
APOIO AO SUL NEGLIGENCIADO
Uma declaração mais detalhada sobre a utilização
especial do dízimo encontra-se numa carta escrita por Ellen White em
22/01/1905, a G. F. Watson, presidente da Associação do Colorado. Ao reprovar
a atitude crítica de Watson contra o envio do dízimo para sustentar a obra no
Sul, disse ela:
"Tem-me sido apresentado, durante anos, que meu dízimo
deveria ser utilizado por mim mesma para auxiliar pastores brancos e negros, que
foram negligenciados e não receberam o suficiente para sustentar suas famílias.
Quando me foi chamada a atenção para os ministros idosos, brancos ou negros,
era minha obrigação especial investigar sobre suas necessidades e supri-las.
Essa era minha obra especial e tenho feito isso em vários casos. Ninguém
deveria dar notoriedade ao fato de que em casos especiais o dízimo é usado
desse modo.
"Quanto à obra entre os negros do Sul, aquele
campo tem sido e ainda está sendo despojado [em 1905] dos meios que deveriam ir
para os obreiros daquele campo. Se tem havido casos em que nossas irmãs têm
utilizado o seu dízimo para o sustento dos ministros que trabalham pelos negros
do Sul, que cada homem, se for sábio, fique calado.
"Eu mesma tenho utilizado meu dízimo para os
casos de maior necessidade trazidos ao meu conhecimento. Tenho sido instruída a
fazer isso; e como o dinheiro não é retirado do tesouro do Senhor, não é um
assunto sobre o qual se deva comentar, pois seria necessário que eu tornasse
conhecidos estes assuntos, o que não desejo fazer, por não ser o melhor.
"Alguns casos têm sido colocados diante de mim
por anos, e tenho suprido suas necessidades do dízimo, conforme Deus me tem
instruído a fazer. E se qualquer pessoa me disser; 'irmã White, a senhora
utilizaria o meu dízimo para empregá-lo onde é mais necessário?', eu direi:
'sim, o farei'; e tenho feito isso. Louvo a essas irmãs que têm destinado seu
dízimo aos locais mais carentes para ajudar a fazer uma obra que está sendo
negligenciada, e se for dada publicidade a este assunto, criar-se-á uma prática
que seria melhor que se evitasse. Não me preocupo em dar publicidade a esta
obra que o Senhor me indicou, bem como a outros, a fazer.
"Estou tratando deste assunto para que você não
cometa um erro. As circunstâncias alteram os casos. Eu não aconselharia ninguém
a tornar um hábito juntar o dinheiro do dízimo e não devolvê-lo aos cofres
da igreja. Mas durante anos tem havido de vez em quando pessoas que perderam a
confiança na utilização do dízimo e o têm colocado em minhas mãos,
afirmando que se eu não aceitasse, elas mesmas o utilizariam para as famílias
dos ministros mais necessitados que pudessem encontrar. Eu tenho levado o
dinheiro, dando-lhes um recibo, e tenho dito a essas pessoas como o dinheiro foi
aplicado."13
A reorganização da estrutura da Igreja Adventista,
em 1901, com algumas revisões em 1903, abriu novas fronteiras ao
desenvolvimento das missões em uma dimensão mundial. Todavia, o campo do Sul
ainda continuava sendo "o campo mais necessitado e mais desanimador do
mundo".14 Além disso, somente a partir de 1910, a igreja ofereceu amparo
sistemático "para o sustento dos obreiros enfermos e idosos e das viúvas
e filhos dos obreiros falecidos".15
Em tal contexto, Ellen White explica que "durante
anos" o Senhor tinha colocado sobre os seus ombros a "responsabilidade
especial" de investigar as necessidades dos "ministros brancos e
negros que eram negligenciados e não recebiam o suficiente para sustentar suas
famílias". "Ministros idosos, brancos ou negros" mereciam
especial atenção. E novamente ela apela para a sua autoridade profética,
declarando que Deus a "instruiu" a suprir "suas necessidades com
o dinheiro do dízimo".
Conquanto haja uma estreita ligação entre o conteúdo
da carta a Watson e a anterior declaração verbal feita a W. C. White, essa
carta vai muito além da declaração anterior. Ela explica que não somente 1)
utilizou o seu próprio dízimo para a maioria dos casos de necessidade, mas
também 2) aceitou dízimo de outros para distribuí-lo a seu critério, e também
3) que, em alguns casos, os membros, em vez de devolver o dízimo às suas próprias
Associações, enviavam-no para os ministros que evangelizavam o necessitado
campo do Sul. Ela não via nenhum motivo para reprová-los, porque "o campo
do Sul tem sido e ainda está sendo despojado dos meios que deveriam ir para os
obreiros daquele campo".
O uso de expressões tais como "isto me tem sido
apresentado durante anos"; "minha atenção foi chamada";
"tenho sido instruída a fazer isto"; "alguns casos têm sido
colocados diante de mim por anos"; e "conforme Deus me tem instruído
a fazer" parece confirmar a singular autoridade profética de Ellen White,
conforme a declaração verbal a W. C. White sobre o mesmo assunto. Mas a frase
"esta obra que o Senhor me tem indicado a fazer, bem como a outros para
fazer" não é tão clara como as anteriores. Surge, naturalmente, a
pergunta: O Senhor revelou a esses outros a responsabilidade de ajudar os
obreiros pobres do mesmo modo que o fez a Ellen White?
Respondendo a essa pergunta, devemos nos lembrar,
primeiro, de que Ellen White mencionou que ela louvava "essas irmãs"
que aplicavam seus dízimos dessa maneira. Embora não tenhamos nenhuma base
para afirmar que todo o dízimo particular enviado para o Sul provinha do
conselho direto de Ellen White, ela obviamente preferia aceitar o dízimo, dar
um recibo, e enviá-lo para onde achava que era mais necessário, em vez de
permitir que indivíduos o aplicassem de acordo o seu critério pessoal.
Embora Ellen White afirmasse que pessoalmente aceitava
o dízimo de membros que queriam "ajudar a fazer a obra que necessitava ser
feita", também advertia contra a prática de "juntar e reter o
dinheiro do dízimo". Sendo que recebia o dízimo e aplicava-o somente em
casos especiais e sempre em harmonia com instruções recebidas diretamente de
Deus, isto não podia ser considerado como uma retenção do dízimo "do
tesouro do Senhor". Mas também reconhecia que embora estivesse fazendo uma
"obra especial", alguns membros certamente compreenderiam mal. De
sorte que acrescentou ao mesmo tempo que isto não era "um assunto sobre o
qual se devesse comentar" e "ninguém deveria dar notoriedade" a
isto, porque "se fosse dada publicidade a esse assunto, isso criaria uma prática
que seria melhor ser deixada como está".
Então, finalmente, um dos principais sonhos de Ellen
White tornou-se realidade por meio do estabelecimento do plano de assistência,
que se tornou efetivo em 1911. Como resultado, em 7 de março daquele ano, ela
escreveu a E. R. Palmer, secretário da Comissão do Fundo de Assistência:
"Tenho falado muitas vezes no passado sobre o
nosso dever de sustentar os necessitados entre os obreiros do Senhor que, por
causa da idade, ou por motivo de fraqueza causada por abandono ou trabalho árduo
na obra do Senhor, não podem mais suportar os fardos que uma vez carregaram...
Meus irmãos, é correto que sejam lançados planos seguros para o sustento de
nossos obreiros idosos, ou dos obreiros mais jovens que estejam sofrendo por
causa do excesso de trabalho. É justo que seja criado um fundo para amparar a
esses fiéis soldados que ainda anseiam dispor de todas as suas energias físicas
e intelectuais para dar a última advertência ao mundo."16
Pode-se afirmar que uma vez que tais inadequadas
circunstâncias financeiras tenham sido remediadas, Ellen White cessou sua
aplicação especial do dízimo.
PARA AS ESPOSAS
Um quarto exemplo em que Ellen White fala sobre uma
utilização especial do dízimo encontra-se em uma carta a G. A. Irwin, I. H.
Evans, U. Smith e A. T. Jones, de 21/04/1898. Nessa carta ela discute o assunto
de algumas esposas de pastores que trabalhavam em período integral, sem salário.17
Esse problema não era novo. Em 22/03/1898, enquanto tratava da situação das
mulheres como obreiras na causa de Deus, ela explicou que havia recebido
"luz sobre esse assunto", mesmo antes da sua ida para a Austrália em
1891:
"Alguns assuntos têm sido apresentados a mim com
respeito aos obreiros que estão procurando fazer tudo o que está em seu poder
a fim de ganhar almas para Jesus Cristo... Os ministros são pagos pelo seu
trabalho, e isso está certo. E se o Senhor dá à esposa bem como ao esposo a
responsabilidade do trabalho, e ela dedica seu tempo e suas energias para fazer
visitas de família em família, abrindo-lhes as Escrituras, apesar das mãos da
ordenação não terem sido postas sobre ela, está realizando uma obra que está
no ramo do ministério. Acaso devem seus labores ser considerados como nada, e o
salário do seu esposo não ser nada mais do que o de um servo de Deus cuja
esposa não se dedica à obra, mas fica em casa para cuidar de sua família?
"Fui instruída de que há assuntos que devem ser
considerados. Tem-se feito injustiça às mulheres que trabalham tão
devotadamente como seus esposos e que são reconhecidas por Deus como sendo tão
necessárias à obra do ministério como seus maridos. O método de pagar aos
homens que trabalham e não às suas esposas é um plano que não está de
acordo com a ordem do Senhor. Faz-se assim injustiça. Comete-se um erro. O
Senhor não favorece este plano. Este arranjo, se levado a cabo em nossas
Associações, é capaz de desanimar nossas irmãs de se qualificarem para a
obra na qual deveriam se empenhar."18
Um mês depois, em 21/04/1898, enquanto tratava do
mesmo problema, ela foi mais longe, mencionando alguns nomes específicos:
"Há esposas de ministros, as irmãs Starr,
Haskell, Wilson e Robinson, que têm sido obreiras consagradas, diligentes e
sinceras, dando estudos bíblicos e orando com as famílias, ajudando com seus
esforços pessoais tão bem-sucedidos como os de seus esposos. Essas mulheres
dedicam todo o seu tempo, e lhes é dito que não recebem nada por seus labores
porque seus esposos recebem salário. Digo-lhes que continuem e que todas essas
decisões serão revistas. Diz a Palavra: 'Digno é o trabalhador do seu salário'
(Luc. 10:7). Quando for tomada qualquer decisão como esta, protestarei em nome
do Senhor. Sentirei ser meu dever criar um fundo do dinheiro do meu dízimo para
amparar a essas mulheres que estão realizando uma obra tão essencial como a
dos ministros, e reservarei esse dízimo para a obra do mesmo ramo que a dos
ministros, que são caçadores e pescadores de almas."19
Ao analisar tais declarações, lembremo-nos de que
Ellen White está escrevendo especificamente sobre esposas de ministros que
assumiram "o fardo do trabalho", dedicando todo o seu tempo e energias
a "dar estudos bíblicos e orar com as famílias" e a
"educar" os novos crentes. Embora aquelas mulheres incorressem em
despesas pessoais ao se dedicarem em tempo integral ao ministério, permaneciam
sem salário. Ellen White considerava isso um "erro" e uma
"injustiça" que "o Senhor não favorece". Porque
"digno é o trabalhador do seu salário", e aqueles que "pregam o
evangelho que vivam do evangelho" (I Cor. 9:14).
Ela considera ser seu "dever criar um fundo"
do dízimo "para pagar a essas mulheres." Noutro lugar ela diz:
"Deus é um Deus de justiça, e se os ministros recebem pagamento por seu
labor, as esposas, que se consagram à obra com igual desprendimento, devem ser
pagas além do ordenado que os maridos recebem, mesmo que elas não o
solicitem."20
Talvez para retificar a situação, em 1900, a Comissão
da Associação Geral estabeleceu uma Comissão Sobre o Trabalho da Mulher. A
Sra. Haskell era um de seus membros.
A interrogação que agora permanece é se essas
declarações de Ellen White acerca do pagamento de salário às esposas de
ministros se referem apenas aos exemplos específicos aqui mencionados, ou se
elas também provêm um critério para solver casos injustos de hoje. É
oportuno lembrar que ela não está defendendo aqui qualquer posição pró ou
contra a ordenação de mulheres. Sua preocupação era a injustiça financeira
para com as esposas de ministros, que trabalhavam em regime de tempo integral
sem remuneração.
Alguém poderia encontrar algum tipo de endosso para
uma aplicação especial do dízimo na solução de situações de extrema
injustiça financeira para com aqueles que trabalham "no ramo do ministério".
Mas o problema é definir o que é verdadeiramente uma situação de injustiça.
CONCLUSÃO
Analisando as quatro principais declarações de Ellen
White quanto ao uso especial do dízimo, vemos que cada uma lida com um problema
financeiro específico. Embora a primeira permita a utilização do dízimo para
evitar a perda do "mais humilde lugar de adoração" em um contexto
missionário, não endossa o emprego do dízimo para construção, reforma,
melhoria, ou manutenção de uma igreja em uma área já estabelecida. Ela
desaprova veementemente essa atitude, no mesmo contexto.
As outras três declarações tratam de encargos
financeiros singulares de obreiros sofredores negligenciados pela Organização
e de algumas esposas de pastores que trabalhavam como instrutoras bíblicas sem
receber salário. Ao passo que nas três primeiras declarações, tanto o lugar
de adoração quanto os obreiros são vistos em um claro contexto missionário,
a quarta não se refere necessariamente a tais circunstâncias.
Esses quatro usos especiais do dízimo mostram um
paralelismo perfeito entre a existência de um problema financeiro e uma
correspondente solução. Em parte alguma Ellen White advoga a pressão
financeira para forçar uma mudança das normas denominacionais. Embora essas
declarações provejam alguns princípios para uma distribuição correta do dízimo,
elas não devem ser enfatizadas além do seu intento original. Ainda que
aprovasse a atitude de algumas pessoas enviarem o seu dízimo para campos
extremamente necessitados, em algumas situações especiais, Ellen White não
recomenda isso como uma prática regular. Ao contrário, ela escreveu em 1907:
"Que ninguém se sinta em liberdade de reter o
seu dízimo para usar segundo o seu próprio discernimento. Não devem usá-lo
para si mesmos em uma emergência, nem aplicá-lo como acham conveniente, mesmo
no que possam considerar como sendo a obra do Senhor... Que a obra não seja
mais obstruída por causa do dízimo que tem sido desviado para vários outros
canais que não aquele para o qual o Senhor disse que deveria ir. Deve ser feita
provisão para estes outros ramos da obra. Devem ser sustentados, mas não do dízimo.
Deus não mudou; o dízimo ainda deve ser usado para o sustento do ministério."21
Referências:
1 Arthur White,
Ellen G. White: The Early Elmshaven Years, Washington D.C; Review and Herald
Publishing Association, 1981; págs. 389-397.
2 Ellen G. White,
Manuscript Releases, Washington D.C; E. G. White Estate, 1981, vol 1, pág. 182.
3 Ibidem, pág.
191.
4 Ellen G. White,
Special Testimonies for Ministers and Workers, Battle Creek MI; 197, vol. 10, págs.
16-18.
5 Idem,
Manuscript Releases, vol 1, pág. 189.
6 Idem, Special
Testimonies for Ministers and Workers, vol. 10, págs. 16-18.
7 Idem, in Arthur
White, Op. Cit., pág. 393.
8 W. C. White,
Idem, idem.
9 Ellen G. White,
"In the Religions Beytond", General Conference Bulletin, 1901, pág.
84.
10 Arthur W.
Spalding, Origin and History of Seventh-day Adventists, Washington D.C; Review
and Herald, 1962, vol. 3, pág. 44.
11 W. C. White,
"Regardin the use of the tithe".
12 Ron Graybill,
"The 'I saw' Parallels in Ellen G. White Writings", Adventist Review,
29/07/1982.
13 Ellen G. White,
in Arthur White, Op. Cit., págs. 396 e 396.
14 Ibidem, págs.
394 e 395.
15 W. A. Spicer,
"General Conference Commitee Council", Review and Herald, 11/12/1910,
págs. 13 e 15; A. G. Daniells, "The Sustentation Fund", Washington
D.C; Associação Geral da IASD, 1910, págs. 14 e 15.
16 Ellen G. White,
Manuscripts Releases, Silver Spring, MD; E. G. White Estate, 1990, vol. 3, pág.
272.
17 Ibidem, vol.
12, págs. 160 e 161.
18 Ibidem, vol.
5, pág. 323.
19 Ibidem, vol.
12, págs. 160 e 161.
20 Ellen G. White,
Obreiros Evangélicos, 5ª edição, Tatuí, SP; Casa Publicadora Brasileira,
1993, pág. 453.
21 Idem,
Testimonies for the Church, Mountain View, CA; Pacific Press, 1948, vol. 9, págs.
247-250.
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