EM DEBATE
Perfeccionistas X Liberalistas

Por problemas técnicos que, mais uma vez, danificaram nosso sistema e correio eletrônico, este artigo que era para já ter sido publicado no final de agosto, acabou incluído entre arquivos sob suspeita de vírus e somente agora o estamos divulgando. Trata-se de uma opinião complementar ao debate sobre a natureza humana de Jesus Cristo, iniciado aqui no www.adventistas.com pelos irmãos Azenilto Brito e Jaime Bezerra, do www.adventistas-aconselho.com.

Entrando na discussão entre os irmãos Azenilto e Jaime acerca da natureza de Cristo, embora apenas arranhando tão precioso tema, é preciso ter em mente que o modo como encaramos a natureza de Jesus Cristo influencia nosso entendimento acerca da justificação pela fé. Aconteceu com os pioneiros, mesmo com a srª. Ellen White, e assim acontece conosco (Ver em Cristologia, de Raul Dederen, o sermão de Willian C. Prescott, pág. 153). 

Se aceitarmos a natureza pré-pecado, de Cristo, de acordo com o pêndulo teológico da justificação pela fé (ver O Movimento Adventista e a Justificação pela Fé, de  Alberto R. Timm, pág. 34), tendemos a ser partidários do liberalismo (como pejorativamente se fala); se a aceitarmos como sendo pós-pecado, tendemos a ser igualmente partidários do legalismo: daí não há fugir, do fato, ou seja, da tendência! Nesse aspecto, pelo menos, vejo coerência no irmão Azenilto e nos outros irmãos que denominam o irmão Bezerra de perfeccionista, embora não concorde com eles. 

Observemos o caso do Dr. Desmond Ford, que atacou abertamente a doutrina do Santuário (Ver A Mão de Deus ao Leme, de Enoch de Oliveira, pág. 134). A despeito de que a Bíblia diga que "Sem santificação ninguém poderá ver a Deus", (Heb 12:14), o mesmo afirma que tal assertiva, nesta vida, é uma quimera. E por que afirma isso? Ora, simplesmente porque pensa que Jesus teria sido um super-homem, não servindo de exemplo para nós, pois usava seus poderes divinais. E, nós, ora, nós seríamos incapazes de se comportar como Ele, pelo fato de sermos de natureza diferente. 

A introdução de falsas doutrinas sobre a justificação pela fé e a natureza de Cristo, foi, é e será uma das causas da sacudidura entre nosso povo (Ver A Sacudidura e os 144.000 Selados, de Brizolar Jardim, pág. 35), que foi uma vez iniciada em 1886/88, com a mensagem enviada por Deus, através de E. Waggoner e A. Jones, na CG/Minneapolis (MM), e sustada, a seguir, devido à rejeição da mesma, e ao alfa das heresias letais do evangelho, na virada do século XIX para o XX, com a entrada e estabelecimento do Panteísmo e, conseqüentemente, o desvio lento, gradual e sutil dos marcos doutrinários da IASD (Ver todo o livro Omega, de Lewis R. Walton).

Na discussão, pela internet, parece-me que a linguagem do irmão Bezerra é mais amorosa e respeitosa, enquanto que a do irmão Azenilto é mais cheia de pejorativos, o que não é bom, tratando-se de discussão entre irmãos. A palavra dura suscita a ira...a mansa desvia o furor(Pv. 16:1). Se o segundo acusa o primeiro de ser perfeccionista, deve se preparar para ser acusado, também, de ser liberalista, permissivista, antinominista, neo-pentecostalista, etc, pois é de meridiana clareza que o pêndulo teológico adventista, acerca da justificação pela fé, oscila entre esses dois extremos, sendo que, corporativamente, ainda não atingimos o ponto de equilíbrio, ao contrário, tendemos para o antinomianismo, como de resto toda a cristandade.

Se aquele irmão diz que os perfeccionistas são sinceros, mas equivocados, também deve estar preparado para o caso de ser exatamente o contrário, pois não podemos esquecer que "A verdade anda perto do caminho da presunção" (Ver a "Carta a Baker", em Cristologia, de Raul Dederen, pág. 136). Portanto, de plano, seria bom que o mesmo considerasse, séria e humildemente, essa hipótese.

Também, observando artigos dele e de outros irmãos indicados por ele na internet, parece-me que aquele irmão e os outros têm pouco respeito pela Srª. Ellen Gould White, e desconfiam que a mesma não seja digna de total confiança. Nutrem estranhos pensamentos a seu respeito, muito embora, quando querem dar apoio às suas próprias interpretações, façam menção dos escritos dela, ou, pelo menos, porções bem estudadas, por exemplo, quando aquele irmão utilizou trechos da carta a Baker, e desprezou outros tantos textos dela, citados pelo irmão Bezerra.

A Carta a Baker, conforme estudo do livro Cristologia, de Raul Dederen, estranhamente esquecida pelos teólogos por 60 anos (1895-1955), e não totalmente liberada, até 1975, e quem sabe não esteja até hoje, supostamente, apóia a natureza de Cristo pré-pecado e somente veio à tona no período 1950-1980, em que surgiram as figuras de L. R. From e D. Ford (este último, como disse atacou abertamente a doutrina do santuário), no qual se alterou o pensamento original da IASD, que era o de seus pioneiros, e apoiava a natureza pós-pecado. 

Contra isso se levantou  M. L. Andreesen, todavia sendo este vencido, como se vê até aos dias de hoje. Por isso é que o irmão Azenilto diz que as idéias perfeccionistas ultrapassadas foram varridas de nosso arraial, pois, na tentativa de eliminar a pecha de "seita" que a IASD carregava, o Pr. From acabou por influenciar toda a teologia adventista, hoje bem diferente da dos pioneiros, bastando observar as pregações de ministros expoentes, tais como M. Venden, M. Finley, G. Vandeman e A. Bullón, dentre outros.

Em primeiro lugar, a Carta a Baker apóia a natureza de Cristo pós-pecado e, muito provavelmente, ao contrário do que se pensa, a repreensão da Srª. White não deve ter sido porque aquele pastor defendesse tal teoria, mas, justamente o contrário: É provável que ele estivesse a defender uma natureza tão humana, que considerasse o caso de Jesus haver pecado ou tido propensão a isso. Além disso, se fosse o caso, por que não existe uma carta a W. W. Prescott, que defendia aberta e firmemente o ponto de vista pelo qual Baker supostamente foi repreendido?

Em segundo lugar, o irmão Azenilto parece não conhecer a história do adventismo, pois os movimentos Carne Santa e Perfeccionismo são precisamente o inverso do que ele denomina perfeccionismo hoje: Aqueles se consideravam perfeitos, sem sê-los; este, o de nossos dias, busca a perfeição, considerando-a possível, mas não se declara como tal (Ver A Mão de Deus ao Leme, de Enoch de Oliveira, pág. 122).

Ao que parece, o citado irmão permitiu que sua inteligência suplantasse a fé nos Testemunhos, e está fazendo parte daqueles que atacam, veladamente, o Espírito de Profecia. Eis aqui o ponto sensível da questão: ataques ao Espírito de Profecia, ao santuário, ao juízo de investigação, à natureza de Cristo e à justificação pela fé - O alfa e o ômega, das heresias letais. Invocar a sola scriptura, para discussões entre adventistas, é inconcebível, embora não tenhamos nenhum receio em aceitar o repto; no entanto, qual é o seu receio de se invocar o testemunho de Jesus, que nos foi dado através do ministério da irmã White? Acaso poderíamos imaginar a IASD, de hoje, sem tal ministério?

A tendência moderna de se esquivar do Espírito de Profecia em nosso meio é um plano calculado do inimigo de nossas almas, e devemos rejeitá-lo veementemente, se é que somos, verdadeiramente, adventistas do sétimo dia. Assim, entendo que o irmão Bezerra está em plena vantagem na discussão, pois o mesmo examina a luz maior, sem desprezar a menor, de modo que concordo com este, em gênero, número e grau.  Porém, não podemos desprezar, nós, supostamente perfeccionistas, que uma vantagem que o irmão Azenilto tem é que com ele está a esmagadora maioria de nosso povo, incluindo ministros e teólogos. Contudo, pergunto: Desde quando a verdade esteve com a maioria? A história da igreja apostólica, dos valdenses, dos albigenses, dos huguenotes, etc, responde! (Ver O Grande Conflito, de Ellen White, 1ª parte).

Voltando ao perfeccionismo, pergunto: Onde está o poder de Deus, vindo de fora de Jesus, o qual Ele obtinha fruto de Sua comunhão plena e constante com o Pai? Porque razão nos ordena Deus tantas vezes ser perfeitos, se tal não fosse possível? Respondo: O cristianismo de hoje não tem esse poder, por isso não é perfeito (Jud. 14). Parabéns, irmão Bezerra! A questão, com efeito, não é, mesmo, se é possível ser perfeito, ou se Jesus tinha a mesma natureza pecaminosa que nós; a questão é, e permanece sendo, se estamos dispostos a entreter plena, constante, irrestrita e cabal comunhão com Deus, e, ainda, se estamos disponíveis para aceitar o plano d'Ele, tal como foi concebido: O HOMEM QUER; LANÇA MÃO DO PODER DE DEUS; ANDA COM ELE; E TORNA-SE, EFETIVAMENTE, PERFEITO!

Neste primeiro contato, não desejo entrar fundo na questão, e outras afins, como a do santuário e a do juízo de investigação, mas gostaria que os irmãos soubessem que somos poucos, mas que existem mais perfeccionistas por aí, e que soubessem que Deus terá um povo perfeito nessa vida, antes da volta de Cristo, e, ainda,  que meditassem no seguinte: É verdade que não provocamos, nem mesmo uma garoa serôdia. Mas, não é estranho que a IASD, nesses 156 anos também não o tenha feito? Por que será? Não há algo de errado em nosso arraial? Se a maioria está com a verdade, por que Jesus não vem? 

E mais, o povo evangélico, tradicional ou pentecostal, pensa da mesma forma que os liberalistas adventistas, e, juntos, são a esmagadora maioria. Não devia a IASD se distinguir deles como um povo que possui uma mensagem totalmente diferente, como foi nos tempos anteriores a 1950, a ponto de suscitar ferrenha oposição? Ou devemos nos manter em paz com eles, falando a mesma língua? 

Para finalizar, havendo citado o ALFA das heresias letais do evangelho, capitaneado pelo panteísmo de Kellog, cito agora o ÔMEGA: A doutrina da justificação pela fé, teórica, intelectual, inoperante e forense, que grassa em nosso meio, sob os auspícios do anjo de Laodicéia, a qual nos nivelam ao povo co-irmão de babilônia e suas filhas. Num futuro bem próximo, quiçá agora em curso, nosso povo vai ser sacudido, todavia, até lá, o estrago que nele está sendo feito, pelas novas teorias adventistas, só poderá ser aquilatado na eternidade.

Não obstante, para se ter uma idéia desse estrago, é só observar as últimas Lições da Escola Sabatina, nas quais se embala nosso povo numa pseudocerteza de salvação e em reinterpretações suaves e agradáveis do juízo investigativo no santuário celestial. Veja, por exemplo, as lições do 1º e 2º semestres, de Hanz La Rondelle, diga-se de passagem, seriamente influenciado pelos escritos do Dr. Desmond Ford. Destarte, a verdade é que: "Quando o caráter de Cristo se reproduzir PERFEITAMENTE no Seu povo, (olha o perfeccionismo aí), Ele virá reclamá-los como Seus". (Ver Eventos Finais,  compilação de escritos de EGW, pág.  35).

Fernando Pretti - atrombeta@zipmail.com.br

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