Segunda-feira, 9 de outubro de 2000 
Marianismo Conquista Mais Espaço na Igreja
ASSIMINA VLAHOU

Especial para o Estado

ROMA - A cerimonia realizada ontem no Vaticano confirma a total veneração à Virgem Maria que tem marcado a vida e o pontificado de João Paulo II. Profundamente místico, ele herdou essa ligação mariana da família e das tradições religiosas do povo polonês. Ao ser eleito papa, em 16 de outubro de 1978, Karol Wojtyla escolheu como lema do brasão de seu pontificado a expressão Totus tuus, que significa entrega total a Maria. Sua primeira viagem, 13 dias após a eleição, foi a um santuário mariano, nas proximidades de Roma. Em dezembro do mesmo ano, na Basílica de Santa Maria Maior, confiou a ela a Igreja Católica.

Santuários marianos sempre fazem parte dos roteiros das viagens de Karol Wojtyla. Ele têm uma profunda convicção de que foi a Virgem quem o protegeu da morte em 1981, no atentado que sofreu na Praça São Pedro. Os dois disparos do turco Ali Agca ocorreram exatamente no dia 13 de maio, data da primeira aparição da virgem aos três pequenos camponeses em Fátima.

Mais tarde, ao visitar o santuário português para agradecer pelo "milagre", o papa depositou uma das balas que o atingiram no altar. Ela seria depois incrustada entre os diamantes da coroa de ouro da estátua. O cinto perfurado pela bala, ainda manchado de sangue, foi levado ao santuário da Madona Negra, a Polônia.

Em junho deste ano, a Contregação para a Doutrina da Fé anunciou que o atentado foi a confirmação do terceiro segredo de Fátima, confiados os três pela Virgem aos pastores em 1917. Os outros dois já haviam sido confirmados: a reconversão da Rússia ao cristianismo, após um período sob o comunismo; e a Segunda Guerra Mundial.

Fonte: http://www.estado.com.br/jornal/00/10/09/news239.html 


Amostra de Reações Adventistas:

Gente, isso é sério. Para quem é adventista de berço fica difícil pra caramba aceitar o culto à Maria, e mesmo para alguns católicos ou ex-católicos a coisa não tem muita lógica, mas a verdade é que este dogma tem uma força incrível. Experiência própria na minha família...

Lu


Olá Lu,

Você está coberta de razão ao dizer que para nós, os adventistas de berço, é difícil de aceitar esta veneração. O pai de uma ex-namorada minha que foi MUITO católico, me diz certa vez que ela tinha sido incluída na trindade, Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, e Maria, pela ICAR. Eu nunca consegui verificar esta afirmação, mas ela me impressionou muito. Para mim é muita ousadia. Você ou alguém teria algum texto mostrando a justificativa da ICAR para tal veneração? Eu gostaria de saber as bases para isto, visto que na minha Bíblia, eu nunca achei nada a respeito...

Um abraço, Daniel.


Daniel, 

não há nada na Biblia que endosse a veneração de Maria. Na verdade, quando da grande evangelizacao dos povos pagaos da Europa, os cristaos encontraram grande resistencia porque todos eles eram adoradores da Deusa, a entidade responsavel pela fertilidade dos campos e justificadora de grandes orgias no dia do Deus Sol. Ora, o Deus cristao era um homem, judeu, coisa dura de engolir pra eles, entao o papel de Maria comecou a ser enfatizado.

Da mesma forma que os primeiros presépios foram montados com finalidades didaticas, para o povo analfabeto que não podia ler a Biblia, e terminou em adoracao de imagens pura e simples, a adoração a Maria foi uma questão de tempo, já que aqueles povos estavam acostumados a adorar imagens e a deusa. 

Essas origens se confundem com a do Natal e de outras tantas tradições pagãs que temos por aí até hoje.

Márcio


Olá Márcio,

a sua explicação é bem plausível, mas eu gostaria de conhecer a história "oficial" disto. Creio que como existem tradições para explicar quase todas as práticas da ICAR, deve existir uma que explique este ponto específico. Esta é uma curiosidade que eu tenho há algum tempo, pois como já disse não encontrei nada na minha Bíblia a respeito...

Um abraço, Daniel.


Oi Daniel,

Vou encaminhar sua mensagem pro Biano e te garanto que ele vai responder prontamente. Mas se tem uma coisa que percebi quando era católica, e que o Antônio confirmou na mensagem dele, é que os católicos encaram esse dogma, cada uma de uma maneira diferente. Assim como nós enxergamos o papel de Ellen White de maneira diversa dentro da IASD (alguns mais místicos outros mais racionais, outros mais históricos, outros não aceitam), com Maria tb há essa diversidade de opiniões e cada um tem seu próprio motivo para santificá-la. 

O seu ex-sogro acreditava que ela fosse parte da trindade (? trindade de 4?), mas embora creia que a ICAR não sustente essa tese, tb não acho que devemos rir da fé dele, porque temos que levar em conta a sinceridade e o amor que poderiam estar envolvidos nessa crença. 

Minha mãe, por exemplo, crê em muitas doutrinas adventistas, inclusive no sábado, mas continua sendo católica principalmente pelo dogma da assunção de Maria aos Céus, que, isto é confirmadíssimo pela ICAR, não teria passado pela morte, mas como Elias e outros, levada aos Céus e lá coroada como Rainha e Mãe de Deus. 

Eu dizia pra minha mãe que, se isso tivesse ocorrido, um evento de tamanha raridade e importância não poderia deixar de ser relatada na Bíblia, mas ela rebatia dizendo que uma mulher de tamanha raridade e importância como Maria não poderia ser abandonada na Terra pelo seu próprio Filho. E mais. 

Certo dia, depois de uma espécie de meditação em clausura promovida por um grupo simpático de freiras, minha mãe chegou a conclusão que a obra de Maria foi tão importante quanto a de Jesus. 

Absurdo? Pois olhe o argumento. Ela teria vivido todas as agruras e sofrimentos do Mestre, pois acompanhou seu filho em todos os passos, pregou com ele, e por fim, penou toda a angústia da cruz. Ela olhou pra mim e perguntou: "vc acha que a dor de Maria ao ver seu Filho crucificado foi menor que do próprio Jesus? Pois quando vc for mãe vai entender que a dor dela foi ainda maior." E quando lhe falei que a dor de Jesus tinha o fim específico de salvar a humanidade, enquanto a de Maria era especificamente dirigida a perda humana de seu filho, ela discordou dizendo que Maria era muito temente a Deus, o suficiente para partilhar com Jesus do desejo da salvação da humanidade. 

E além desse argumento pessoal, ela crê em Maria por uma série de subjetivismos ligados à figura materna, e é pra isso que a ICAR tem mais apelado ultimamente. Maria deixa cada vez mais a figura de Rainha dos Céus,e Mãe de Deus, para apresentar-se como Mãe dos Homens e Advogada dos Aflitos. A figura de mãe é explorada de uma maneira simples mais tocante, expressa muito bem numa frase que já foi muito divulgada: "pede à Mãe que o Filho dá". (Essa era do meu tempo de católica!), ou seja, Maria estaria mais próxima dos homens por ser mais "humana" que Cristo (que pra todos os efeitos é Deus) e "mãe" (figura que poucos não associam a uma proteção e carinho enormes, daquele que perdoa tudo, em contrapartida a sentimento de medo que geralmente se dirige ao Deus-castigador). 

Mas justamente por misturar tanto de subjetivismos, cultura popular, paganismo, etc, esse dogma fica cada vez mais difícil de ser identificado puro como a ICAR o concebe... Vamos aguardar o que o Fabiano nos diz: pelo que conheço dele eu sei que vai se dar ao trabalho de fazer uma pesquisa decente, na fonte, ao invés de escrever abobrinhas que não dizem nada, e só têm o fim de levantar contenda. 

Lu


Olá Lu,

Obrigado pelo seu texto e ele já ajudou-me a formar uma imagem desta reverência, ao menos no nível dos leigos. Agora espero pela resposta do Fabiano para ter uma idéia oficial da igreja.     Embora não concorde, ao menos agora eu posso entender a forma de pensar e assim entender o porque. Os argumentos que a sua mãe citou, são muito fortes, no sentido de um relacionamento materno e eu tenho uma pálida idéia de como isto pode ser forte para uma mãe. Mas para mim, o que mais me chama a atenção, é a necessidade de termos mais um intermediário entre nós e Deus. 

É como se o sacrifício de Cristo, de ter deixado os céus e ter vindo a este mundo, ter sofrido tudo o que sofreu, ter se identificado completamente conosco, mas sem pecar, ainda não fosse suficiente para nos aproximar dEle e ainda fosse necessário mais um intermediário entre nós e Deus.

Obrigado, você já me ajudou muito...     

Um abraço, Daniel.

(Transcrito de uma lista adventistade discussões por e-mail.)


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