ENTREVISTA:
Goleiro Roa Dá Belo Testemunho em Entrevista a Jornal Argentino

A entrevista a seguir foi publicada na íntegra dia 03/09/00 no jornal "La NaciOn Line" de Buenos Aires. Carlos Roa, que já foi goleiro da seleção Argentina de futebol, hoje joga em um time espanhol e é membro da Igreja Adventista Central da Ilha Palma de Mallorca, Espanha.


Carlos Roa agarra o pênalti do inglês Batty, e garante a classificação da Argentina para as quartas de final do Mundial da França em 1998

Foto: Gerard Cerces/AFP

La NaciOn Line (03.09.00) Revista  DEPORTES - O goleiro argentino, conhecido como um ótimo defensor de pênaltis e contratado pelo "Real Club Desportivo Mallorca", voltou ao futebol profissional um ano depois de haver anunciado sua saída por motivos religiosos. Depois de catorze meses de ausência, tendo vivido em sua fazenda nas serras de Córdoba, Roa voltou atrás na decisão que acreditava ter tomado pra sempre. O Mallorca, o clube espanhol onde ele estreou na Europa e onde jogou durante duas temporadas, o recebeu de braços abertos. Não teve nenhum problema em tirar do baú o contrato, que termina no dia 30 de junho de 2002, e mais do que isso, aceitou a condição que o jogador impôs de não jogar desde a hora do pôr-do-sol de sexta-feira até a hora do pôr-do-sol de sábado. Nem mesmo numa final.

Repórter: Duas razões concretas por que você voltou pro futebol.

Roa: A primeira e principal foi porque, conversando com o pessoal do Mallorca, eles aceitaram respeitar-me quanto ao sábado.

Repórter: Eles continuam chamando você pelo seu apelido, Lechuga (alface)?

Roa: Sim. Aqui todos me conhecem mais como Lechuga que pelo meu verdadeiro nome.

Repórter: Você é totalmente vegetariano?

Roa: Sim. Por motivos de princípios religiosos e também de saúde.

Repórter: Você sempre foi adventista?

Roa: Não. Faz treze anos que sou adventista, talvez mais.

Repórter: Como foi que você conheceu essa religião?

Roa: Por meio de meus pais. É claro que conheceram alguém, e essa pessoa lhes falou sobre essa religião e praticamente aceitamos tudo sem nenhum tipo de problema.

Repórter: Em que se baseia?

Roa: Nossa crença, minha e de minha família, se baseia no que diz a Palavra de Deus, a Bíblia. Depois, os fundamentos em si consistem em guardar o sábado, o sétimo dia, para o repouso. Que vai desde o pôr-do-sol de sexta-feira ao pôr-do-sol de sábado. O quarto mandamento da Lei de Deus assim o diz. Depois existem outras coisas, as quais teríamos muito para conversar.

Repórter: Como você passa o sábado?

Roa: É um dia muito feliz. Eu me levanto cedo, com a família, e me reúno com as pessoas da minha fé. Estudamos a Bíblia, cantamos, desfrutamos do lugar onde vivemos, vamos às montanhas, à natureza, compartilhamos um dia muito agradável, muito lindo, com tranqüilidade, em família.

Repórter: Que diferença há com a religião católica?

Roa: Nós nos baseamos na Palavra de Deus escrita, não no que diz um ser humano como nós mesmos. Nós não seguimos a nenhuma pessoa. Essa é uma diferença. Existem muitas.

Repórter: Antes de você se afastar, eles se opunham a que você guardasse o sábado?

Roa: Sim, era difícil, mas eu não havia mencionado. Eu sentia que não era o momento. Então deixei tudo.


Carlos e Silvia Roa em Palma de Mallorca, junto a suas filhas Ayelén (11), Sofía (7) e seu cachorro "Lechuga"

Repórter: Você gostaria de ter um cargo político?

Roa: (Sorri) Não tenho a menor idéia. Nunca pensei nisso. Até que não aconteça, não saberia te responder. O que eu mais gostaria é de tornar a Palavra de Deus conhecida.  Nesse tempo que eu estive fora, eu percebi que não é fácil e que é preciso estar preparado. Isso eu gostaria. Precisa-se ter muita fé, que é uma preparação é importante. É algo que eu tenho pendente, tentar falar mais das coisas de Deus e menos de futebol, o que é difícil para mim.

Repórter: Por quê?

Roa: Porque no ambiente em que estou é difícil que as pessoas ouçam. As pessoas de hoje, não se interessam tanto pelas coisas de Deus, espirituais, e quando você fala de Deus, de Jesus, ou de certos assuntos, elas põem uma barreira.

Repórter: Como se você estivesse falando de alguma coisa estranha?

Roa: Sim. Mas, acho que em algum momento eu vou ter que falar mais e comunicar a Palavra de Deus. Isso me agradaria muito.

Repórter: Se você tem que defender um pênalti importante como o da Inglaterra, você pede ajuda a Deus?


Roa tem suas manias: não gostam que tirem fotos dele dentro do gol.
Sergio Llamera

Roa: Sim, é claro, não vou dizer que não. O que você acha!? Eu nunca tinha defendido um pênalti em minha vida. Na Argentina eu joguei no Racing e no Lanús. Eu devo ter defendido dois pênaltis em dez anos de primeira divisão. E de repente eu vim pra cá e depois de Barcelona, comecei a defender pênaltis. Como pode ser? Entende? Bom, tenho que aproveitar o momento. Tudo correu bem e hoje me chamam de o defensor de pênaltis.

Repórter: É compatível uma vida religiosa, ou dedicada ao espiritual, com o fato de trabalhar em um mundo onde se movem cifras milionárias?

Roa: Creio que se você se manter firme nos princípios de Deus e pedir a Ele sabedoria para que possa depender primeiro dEle, e depois ser uma pessoa boa ao seu próximo, você poderá ser a pessoa mais rica do mundo. Mas as grandes quantias em dinheiro são movimentadas por poucos. Se tivéssemos um bom coração, não haveria tanta pobreza. O que acontece é que estamos sempre cuidando de nossos bolsos. 

Repórter: Você também? 

Roa: Às vezes sim, por que não? Eu sou como qualquer outro. Não sou um santo. Não sou melhor que ninguém. Talvez o pior de todos. A batalha do cristão, na vida que ele tem que levar, não é fácil. Isso não quer dizer que você pense igual a mim, mas pelo menos me respeita, assim como eu vou respeitar a sua opinião, ou a de qualquer outra pessoa. Eu não diria: "Ui que chato!" ou "Que loucos que são!", porque existem pessoas desse tipo. Quando alguém faz parte de uma minoria, em seguida o apontam com o dedo. Eu creio que é necessário sempre pensar, investigar, antes de falar de alguém, de mim e de você. Quem somos nós para julgar alguém, se não temos a possibilidade de conhecer essa pessoa e que ela realmente te diga como é.

Repórter: Já te feriram com coisas que te disseram?

Roa: Sim. Existem muitas coisas que me disseram durante este tempo que fiquei fora do futebol. Eu as esqueço... tenho tentado sempre manter a tranqüilidade e não responder a ninguém. O que disseram, foi dito, e eu deixo assim. Sobre minha vida não tenho que dar explicações a ninguém, somente a Deus, minha esposa e meus filhos. Entretanto existem pessoas que gostam de mim, existem pessoas que não gostam de mim... e eu... os respeito a todos por igual. 

(Tradução: Dioni Cruz e Déa Pereira)

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