OPINIÃO
Vaticano Dá as Cartas
Certa ocasião, o líder indiano Mohamdas "Mahatma" Gandhi respondeu
que jamais se tornaria um cristão por culpa dos cristãos. Segunda-feira, dia
4, a Igreja Católica se definiu como a única e verdadeira igreja cristã.
Assim, o Vaticano assumiria a culpa da não-conversão de Gandhi devido a seu
mau exemplo ou a não refletir o caráter do nome arrogadamente representado?
Logicamente Gandhi se referia aos ingleses, cuja maioria anglicana também nunca
se preocupou com os valores e princípios exarados nos Evangelhos,
principalmente quando estavam em jogo interesses políticos e econômicos. Que o
diga o Brasil, espoliado durante mais de um século pelos britânicos, pretensos
seguidores de Cristo.
As declarações do Vaticano desagradaram o Concílio Mundial das Igrejas. Há
quatro anos denunciamos o crescimento católico e seu iminente retorno como
poder político e religioso. Azar dos que assinaram acordos, acreditando na união
das igrejas, falácia ignorada pelos espúrios líderes protestantes enrustidos
em pequenos impérios às custas de iletrados. A Igreja Católica não muda.
Quem tem de sacrificar princípios e dogmas são os outros.
Quem condenou os críticos dos erros e absurdos cometidos pela Igreja no
passado, agora se arrepende. Os cardeais voltam suas baterias contra os favoráveis
à liberdade de consciência. Isso se evidencia na origem dos últimos
documentos: a Congregação para a Doutrina da Fé, denominação moderna para o
amedrontador e famigerado Tribunal do Santo Ofício ou, simplesmente, da Inquisição,
instituição criminosa das Idades Média, Moderna e Contemporânea, a serviço
da Igreja, em nome da religião, do cristianismo deturpado.
O bispo norte-americano O'Connor destacou que a "liberdade religiosa é
meramente suportada até que o contrário possa ser levado a efeito sem perigo
para o mundo católico". Pio IX definiu a liberdade como doutrina ou
extravagância absurda e errônea, "erro dos mais perniciosos - uma peste
que, dentre todas as outras, mais deve ser temida no Estado".
Esses enlaces realizados entre católicos e protestantes se estreitaram tanto e
se encaminharam tão distantes do ponto inicial que não há mais perspectivas
de retorno. Por culpa única e exclusiva dos protestantes, a liberdade de consciência
corre sério risco de desaparecer. Avizinham-se inflamadas discussões em torno
do direito de opção religiosa.
Enquanto no Vaticano João Paulo II afirma serem verdadeiros cristãos aqueles
que reverenciam o dia de domingo, mesmo sem qualquer fundamentação bíblica,
mas respaldado pela irrefutável tradição histórica, um senador maluco debate
no Congresso dos Estados Unidos o shabat.
Trata-se do senador Joseph Liebermann, candidato a vice-presidente na chapa de
Al Gore, um judeu ortodoxo que tenta aprovação de lei favorecendo os
"guardadores do sábado". O sujeito não é doido por causa de sua
crença, mas porque deliberadamente infringe a Primeira Emenda da Constituição.
De agora em diante, o Vaticano dará as cartas. Àqueles cujos atos impensados
geraram essa delicada situação, resta apenas a oportunidade de protesto como
indivíduos, não mais como instituição.
Ao unir novamente Estado e igreja, as nações correm o perigo de permitir a
invasão da privacidade de seus cidadãos.
E-mail: rdholdorf@bol.com.br
Fonte: http://agencia.iaec2.br/editorias/editorial.htm
[Retornar]
|