Histórias que Ninguém Contou nos Encontros J.A.
Mártires do Século XX - 3

Heróis na Romênia

Quando surgiram as hostilidades na Europa, os líderes da União Romena da Igreja ASD estimularam seus membros a tomar parte na guerra. Uma declaração publicada em 4 de agosto de 1914 por P. P. Paulini e G. Danila, respectivamente presidente e secretário da União, dizia:

"Os membros que foram convocados para prestar serviço militar não devem perder de vista o fato de que, em tempo de guerra, todos devem cumprir plenamente seus deveres. Em Josué 6, vemos que os filhos de Deus pegavam em armas e cumpriam seus deveres militares mesmo no dia de Sábado. ... Portanto, em reunião especial com nossos líderes, à qual compareceu grande número de crentes convocados para portar armas, chegamos à conclusão de que todos os membros devem cooperar com essa disposição."

A seguinte decisão foi posteriormente publicada num periódico denominacional da Romênia:

"Nós, a Conferência dos Adventistas do Sétimo Dia na Romênia, tornamos público o ponto de vista bíblico de que o serviço militar e o chamado para pegar em armas é um dever imposto pelo Estado, a quem Deus deu legítima autoridade, de acordo com 1 Pedro 2:13 e 14 e Romanos 13:4 e 5.

"A Comissão da Conferência Geral adotou essa mesma posição durante sua reunião de novembro de 1915. Portanto, os diversos países do mundo têm plena liberdade nessa questão para, a seu próprio modo, continuarem a enfrentar esses requisitos legais conforme têm feito até agora." —Curierul Misionar, 1916, nº 3, pág. 35.


Heróis da fé na Romênia: Impiedosamente perseguidos, injustamente condenados e cruelmente torturados na prisão e campos de trabalho forçado por causa de suas convicções religiosas, estes irmãos mantiveram sua consciência livre perante Deus e os homens.

A posição de combatência adotada pela liderança adventista causou muita confusão também na Romênia, onde os poucos fiéis que permaneceram em defesa da Lei de Deus foram muito maltratados pelos líderes, sofrendo não apenas crítica e difamação, mas também exclusão e perseguição. Delatados às autoridades, eles foram separados uns dos outros, aprisionados e torturados (só Deus sabe quantos morreram em tais circunstâncias), ao passo que os membros regulares, que seguiam as recomendações dos líderes da igreja, não enfrentaram problemas, porque estavam dispostos a fazer o que todos faziam. Os líderes explicaram a posição oficial da igreja nos seguintes termos:

"Houve casos em que os irmãos da Alemanha perguntaram: ‘Que devemos fazer durante a guerra?’ A resposta foi: ‘Permanecei fiéis a Deus, mas fazei o que todos estão fazendo.’ E o que aconteceu? Nos lugares onde os soldados conseguiam permissão para repousar no domingo e santificá-lo, nossos soldados se dirigiam a seus comandantes com a petição: ‘Solicitamos que nos dêem os Sábados livres.’ ... Mas onde nem se podia pensar em dias santos, teria sido uma atitude estranha da parte de nossos irmãos pedir permissão para guardar o Sábado." —Curierul Misionar, 1916, nº 3, pág. 37.

O que aconteceu em outros países europeus também ocorreu na Romênia. Alguns não-combatentes distinguiram-se como heróis. Gheorghe Panaitescu relata as seguintes experiências:

"Quando a Romênia entrou na guerra em 1916, três fiéis adventistas de um único regimento foram condenados a ser executados por um pelotão de fuzilamento porque se recusaram a servir como combatentes. Um deles foi chamado e ordenou-se-lhe que cavasse sua própria sepultura. Depois, estando ele à borda da cova, o comandante fez-lhe o seguinte apelo:

" ‘Soldado, por causa de sua posição como objetor de consciência, você foi condenado ao fuzilamento. Antes, porém, de morrer, você terá uns breves momentos para meditar sobre o que vai fazer. Pense em sua família. Se você quiser escapar ao fuzilamento, tome sua arma e vá para a frente de batalha. Nem todos os soldados morrerão em combate. Muitos voltarão para seus lares e para o seio de sua família. Considere essas coisas rapidamente.’

"Aquele irmão respondeu que havia muito tempo já pensara sobre isso e que estava decidido a permanecer firme em sua posição, pois não podia agir contrariamente à sua consciência. Quando o comandante percebeu a que aquele irmão estava realmente decidido, disse-lhe:

" ‘Siga-me!’ E o conduziu para outro local.

"Ouviu-se um tiro disparado no ar, a cova foi enchida com terra e derramou-se um pouco de sangue de animal nos arredores.

"A seguir o comandante convocou o segundo irmão e lhe fez o mesmo apelo, acrescido desta advertência:

" ‘Veja, seu irmão está morto e enterrado nesta primeira cova em virtude de sua obstinação. Esta segunda cova está reservada para você, caso continue a mostrar a mesma atitude inflexível.’

"O segundo homem respondeu:

" ‘Se meu irmão permaneceu fiel a Cristo até a morte, eu também permanecerei fiel Àquele que nos ensinou a amar uns aos outros, porque não quero perder a coroa da vida.’

"Repetiu-se o mesmo procedimento. Outra vez disparou-se um tiro no ar, a cova foi coberta e algumas gotas de sangue derramadas no solo.

"Quando o terceiro irmão foi chamado, o comandante apontou-lhe as duas covas e lhe disse:

" ‘Eis onde jazem os corpos de seus dois irmãos. Eles perderam a vida por causa de sua obstinação. Mas você ainda tem uma chance para salvar sua vida. É fácil. Apanhe sua arma e cumpra seus deveres militares para não ser fuzilado. Depois que a guerra acabar, você poderá viver em paz e seguir, contente, a sua religião.’

"O terceiro homem começou a pensar. Durante algum tempo ficou hesitante. Finalmente declarou-se pronto a portar armas, ir para a frente de batalha e fazer tudo quanto os outros combatentes faziam. Então o comandante lhe disse:

"Devemos fuzilá-lo, porque você não é fiel a seu Deus como foram seus outros dois irmãos. Você é um hipócrita e um covarde. Se não serve a seu Deus, não podemos confiar em que servirá a nosso governo. Há de atirar no ar e, quando em perigo, dará vantagem ao inimigo. Seus dois irmãos, que mantiveram seu propósito de permanecer fiéis a Deus, sobreviveram; mas você será executado!

"Então ordenou que o pelotão de fuzilamento atirasse.

"Os dois sobreviventes, que não negaram sua fé, foram forçados a trabalhar nos campos e, ao fim da guerra, voltaram para seus lares. Foi então que a história toda se tornou conhecida entre os irmãos na Romênia."


Heróis da fé na Romênia: Impiedosamente perseguidos, injustamente condenados e cruelmente torturados na prisão e campos de trabalho forçado por causa de suas convicções religiosas, estes irmãos mantiveram sua consciência livre perante Deus e os homens.

Eis outro caso interessante, relatado pelo irmão Panaitescu. Por causa de suas convicções religiosas, que não lhe permitiam ser combatente, um fiel irmão adventista foi condenado à morte pela corte marcial. Virando-se de costas para sua sepultura, pediu permissão para fazer sua última oração nesta Terra. Ajoelhando-se, orou em voz alta implorando a Deus que fosse misericordioso para com seus algozes e perdoasse a todos quantos fossem responsáveis pela pena de morte que ia ser aplicada. Antes que ele concluísse sua oração, aconteceu que um oficial de alta patente passava por ali e perguntou o que estava acontecendo:

"Quem deu ordens para atirar nesse homem? E por que motivo?"

Em poucas palavras, os soldados explicaram o problema: O homem seria executado porque, sendo objetor de consciência, afirmava não poder quebrar a Lei de Deus; portanto, não podia portar armas ou fazer qualquer trabalho secular aos Sábados.

"Este homem não deve morrer", replicou o oficial. "Ele irá comigo para a corte marcial e eu o defenderei."

Em essência, o apelo que o oficial fez na corte, em defesa desse crente fiel, foi o seguinte:

"Temos aqui um homem diante de nós. Um homem que é consciencioso no cumprimento de seus deveres religiosos e que prefere morrer a quebrar os mandamentos de Deus, é um grande homem. Este é o tipo de homens de que a Romênia precisa, e nós não temos máquinas para fabricá-los em um só dia. Nem todos os homens competentes vão à frente de batalha. Muitas coisas precisam ser feitas em todo o país, longe da linha de fogo. Há homens que não nasceram para matar — homens que possuem convicções religiosas — homens que podem ser uma bênção para a humanidade em muitas outras ocupações. É para o melhor interesse do país que não eliminemos tais homens, mas lhes preservemos a vida."

Em alguns casos, Deus foi honrado em livrar Seus servos fiéis de maneira miraculosa; em outros casos Deus foi honrado em dar a Seus servos fiéis força e resignação para sofrer o martírio. Qualquer que tenha sido o caminho escolhido por Deus, Ele sabia o que estava fazendo. Que Seu nome seja honrado e glorificado!

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Série Completa:

Conheça a História dos Heróis Adventistas Modernos

Fonte: http://www.asd-mr.org.br/biblioteca/reforma/cap05.htm

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