INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Cientistas criam robô que se reproduz

Kenneth Chang

Pela primeira vez na história, os cientistas da computação criaram um robô que projeta e constrói outros robôs, quase que inteiramente sem ajuda ou conhecimento humanos.

Em curto prazo, esse avanço poderia levar a uma nova indústria de robôs baratos, feitos sob medida para tarefas específicas. No longo prazo -no mínimo algumas décadas- os robôs poderão, um dia, serem verdadeiramente vistos como "vida artificial", capazes de se reproduzirem e evoluírem, construindo versões melhoradas de si mesmos.

Tais robôs duráveis e adaptáveis, algum dia, poderiam ser mandados para o espaço, para explorarem a galáxia em busca de outras formas de vida, sugeriram os astrônomos.

Mas a tentativa de se criar vida artificial também faz renascer preocupações de que os cientistas, eventualmente, poderiam criar uma espécie robótica que suplantasse a vida biológica, inclusive a humana.

"Da mesma forma que podemos matar as coisas com DDT, mas não devíamos, não devíamos fazer algumas das coisas que podemos ser capazes", disse Bill Joy, cientista chefe da Sun Microsystems, que recentemente escreveu um artigo advertindo sobre o poder de tecnologias emergentes.

Atualmente, o sistema de produção robótica -um computador ligado a uma máquina que constrói modelos plásticos- do laboratório de Jordan B. Pollack e Hod Lipson da Universidade Brandeis em Waltham, Massachussets, não é capaz de criar nada nem de longe tão complexo quanto eles mesmos. Produz dispositivos de 20cm de barras de plástico e juntas esféricas.

Quando se adicionam a esses dispositivos um motor e um processador, eles têm uma, e apenas uma habilidade: engatinhar lentamente. Os mais rápidos conseguem correr alguns centímetros por segundo.

"Eles parecem brinquedos", disse Pollack, professor de ciência da computação. Mas, acrescentou, "não foram projetados nem construídos por humanos".

Pollack e Lipson, que é pesquisador, estão publicando seus resultados na quinta-feira (31) na revista Nature. "Este é o primeiro exemplo de evolução quase 100% automatizada de uma máquina", disse Philip Husbands, professor de inteligência artificial da Universidade de Sussex na Inglaterra. "É um exemplo bastante primitivo, mas é o primeiro passo para algo que poderá ser bastante significativo".

No futuro, a técnica poderia ser utilizada para se desenhar robôs que possam montar partes em fábricas, limpar derramamentos químicos ou passar aspirador em casas.

Como os computadores custam muito menos do que engenheiros humanos, "este avanço lança, pela primeira vez, uma abordagem mais econômica da robótica", disse Pollack. "Agora podemos projetar essencialmente de graça e construir por poucos milhares de dólares".

Os custos para se projetar um robô hoje, normalmente vão de centenas de milhares de dólares a milhões de dólares, disse Pollack.

O computador do sistema de Brandeis não fazia a menor idéia de qual seria o formato de um desenho bem sucedido. Pelo contrário, só lhe foi dada uma lista das possíveis partes com que poderia trabalhar, as leis físicas de gravidade e fricção, o objetivo do produto -que fosse capaz de se mover em uma superfície horizontal- e um conjunto de 200 projetos, feitos ao acaso, que não funcionavam.

Copiando a evolução biológica, o computador adicionou, subtraiu e mudou peças dos projetos. Ao mesmo tempo, o computador igualmente modificou as instruções de programação para o controle dos movimentos do robô a ser construído. Depois de cada passo, o computador fazia simulações para testar os projetos, mantendo os que se moviam bem e descartando os fracassados.

Depois de 300 a 600 gerações de evolução e aperfeiçoamento, o computador enviou o desenho a uma máquina de fazer protótipos rapidamente, utilizada pelos fabricantes para construir modelos dos desenhos dos produtos. O próximo passo foi o que necessitou de ajuda humana, onde os pesquisadores instalaram um motor e um chip no robô protótipo produzido, e baixaram as ins truções de programação do robô.

Ao se modificar a configuração inicial das possíveis partes do robô, obtinha-se um desenho diferente e uma abordagem diferente à locomoção. Um deles se empurra. "Como um acordeão", disse Pollack.

Outro "caminha como um caranguejo", disse Lipson. "Parece estar se arrastando no chão. É bastante surpreendente a diversidade de soluções que temos".

Em trabalhos anteriores, outros pesquisadores utilizaram algoritmos similares, inspirados na evolução, para desenvolver criaturas imaginárias que existiam apenas em mundos virtuais de computadores, ou para projetar instruções de programação.

A evolução dos robôs hoje é uma rua sem saída, já que o computador que desenha nunca sabe como seus protótipos estão se saindo no mundo real. Os robôs simples também não têm a habilidade de melhorar seu desempenho. De acordo com os pesquisadores, os robôs agora têm o poder cerebral de uma bactéria. "Esperamos chegar ao nível de inseto, dentro de uns dois anos", disse Pollack. "Não há nenhuma chance do Comandante Data sair andando de nosso fabricante tão cedo", disse, referindo-se ao personagem andróide de "Star Trek".

Em experiências futuras, os pesquisadores de Brandeis pretendem acrescentar sensores aos robôs e aprimorarem seus programas de projetos. É possível também que os futuros robôs sejam capazes de trocarem informações entre si e aprenderem com a experiência do outro.

Na medida em que os chips de computador ficam mais velozes e as máquinas de fabricação mais sofisticadas, os projetistas robôs produzirão robôs mais complexos. Algumas pessoas se perguntam o que acontecerá quando um robô puder desenhar e construir algo tão complexo quanto ele.

Seth Shostak, por exemplo, astrônomo do Instituto Seti em Mountain View, Califórnia, sugeriu que os pesquisadores que procuram sinais de rádio de civilizações alienígenas têm maior chance de primeiro encontrarem máquinas inteligentes criadas por alienígenas.

Em um artigo publicado na edição de abril da revista Wired, Joy, da Sun Microsystems, argumentou que os cientistas talvez devessem propositalmente evitar a pesquisa que possibilitasse a produção de robôs capazes de se replicarem, autônomos e que evoluam. Prudentemente, disse, os cientistas de computação deveriam ser capazes de explorar a maioria das vantagens das novas tecnologias ao mesmo tempo em que evitam os perigos.

"Este robô de Brandeis não tem todos os componentes necessários para ser perigoso", disse. Mas, acrescentou, "estamos a chegando a um ponto que implicará em grandes questões".

Outros que trabalham na área não estão tão preocupados, mesmo que os avanços tecnológicos possibilitem tais engenhocas. Ralph C. Merkle da firma de nanotecnologia Zyvex, e conselheiro do Instituto Foresight, disse que os altos custos provavelmente prevenirão o projeto de robôs perigosos. Ao invés disso, os robôs continuarão a ser desenhados para tarefas específicas, com nenhuma, ou pouca, habilidade de evoluírem e se adaptarem.

"Já parece difícil ter um mecanismo que funcione", disse Merkle. "Não há nenhum desejo em se adicionar complexidade. Esses sistemas não parecem perigosos".

Os pesquisadores de Brandeis acham que a especulação é prematura. "Realmente, o projeto está tão longe de ser algo perigoso", disse Lipson sobre seu trabalho. "Existem muitas outras coisas com que se preocupar antes disso".

Tradução: Deborah Weinberg

Fonte: http://www.uol.com.br/times/nytimes/ny0109200002.htm 

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