Vaticano
Santa intimidade
As manias e os pequenos vícios dos
papas
modernos, revelados em livro
A vida pessoal dos papas sempre foi tratada com discrição pelo
Vaticano. Antes de João Paulo II, que viajou pelo mundo e recebeu da
mídia tratamento de superstar, o chefe da Igreja Católica raramente
era visto, exceto em ocasiões solenes e cerimônias oficiais. Uma
rara oportunidade de espiar através dos muros do Vaticano e conhecer
os detalhes do cotidiano desses papas do passado é o livro
Vaticanerie, Aneddoti e Curiosità di una Storia Millenaria
(Vaticanerias, Casos e Curiosidades de uma História Milenar),
lançado no início do mês na Itália. Escrito pelo jornalista
americano Nino Lo Bello, correspondente em Roma do jornal americano
Herald Tribune por mais de trinta anos e que morreu em 1997,
é a mais divertida coleção de grandes manias e pequenos vícios dos
últimos ocupantes da Cátedra de São Pedro. Por trás da austeridade
de Pio IX, papa na época do Concílio Vaticano I, que proclamou a
infalibilidade papal, se escondia um jogador de bilhar inveterado,
conta Lo Bello. Um ás com um taco na mão, ele costumava dar surras
memoráveis nos cardeais da Cúria e nos soldados da Guarda Suíça.
A graça do relato de Lo Bello está em ignorar as grandes questões
políticas ou dogmáticas e centrar fogo em curiosidades irrelevantes.
O controverso Pio XII, papa durante a II Guerra, por exemplo, é
lembrado pela aversão por moscas. Passeava pelos jardins do Vaticano
com um inseticida numa das mãos e um mata-moscas na outra. Era
também um tremendo pão-duro. Para economizar energia, antes de ir
para a cama, percorria corredores e salões apagando as luzes. João
XXIII, que entrou para a História por ter convocado o Concílio
Vaticano II, responsável pela modernização da Igreja nos anos 60,
fumava um maço de cigarros por dia e seu latim era péssimo. Tinha
como passatempo preferido subir na Torre dos Ventos, a mais alta do
Vaticano, e ficar bisbilhotando ruas e janelas romanas com um
binóculo. Seu sucessor, Paulo VI, que completou a obra de renovação
da Igreja, adorava velocidade. Primeiro pontífice a cruzar o
Atlântico de avião, ele levava sempre um cronômetro e, do banco
traseiro do carro oficial, pedia ao motorista que pisasse fundo no
acelerador.
João Paulo II, o papa do terceiro milênio, é o homem das
novidades. Foi o primeiro, em 100 anos, a ler sem óculos. Foi também
o primeiro a usar relógio de pulso. Lo Bello não era um observador
pacífico do Vaticano. Ao contrário, no livro The Vatican
Empire, de 1968, ele causou indignação ao afirmar que a ligação
da Santa Sé com a Máfia era tão forte que muita gente achava que a
Sicília não passava de um edifício do Vaticano. Desta vez, apesar de
um cardeal assinar o prefácio e de o livro ter sido editado por uma
livraria católica, a reação da Igreja não foi menos enfurecida. O
principal motivo de irritação é o temor de que as curiosidades sobre
a vida pessoal afetem a imagem de santidade de João XXIII e Paulo
VI, ambos com processo de beatificação em andamento. Como ninguém
contestou o que o livro afirma, talvez seja melhor se acostumar com
a idéia de que também os santos foram seres humanos.
Ilustrações
Attílio
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Pio XII
Papa durante a II Guerra, ele detestava moscas. Era
visto nos jardins do Vaticano munido de inseticida e
mata-moscas, à caça dos insetos. Também ficou conhecido
pelo pão-durismo |
João XXIII
Um dos papas mais populares da História recente, era
um fumante inveterado. Tinha como passatempo subir numa
torre e ficar bisbilhotando as ruas e janelas de Roma
com um binóculo |
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Paulo VI
Primeiro papa a cruzar o Atlântico de avião, adorava
velocidade. Levava um cronômetro para checar a
velocidade do carro oficial e perdia a paciência se o
motorista estivesse dirigindo muito devagar
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