Fonte: http://www2.uol.com.br/veja/280600/p_060.html 
Edição 1 655 -28/6/2000

 

Vaticano

Santa intimidade

As manias e os pequenos vícios dos
papas modernos, revelados em livro

A vida pessoal dos papas sempre foi tratada com discrição pelo Vaticano. Antes de João Paulo II, que viajou pelo mundo e recebeu da mídia tratamento de superstar, o chefe da Igreja Católica raramente era visto, exceto em ocasiões solenes e cerimônias oficiais. Uma rara oportunidade de espiar através dos muros do Vaticano e conhecer os detalhes do cotidiano desses papas do passado é o livro Vaticanerie, Aneddoti e Curiosità di una Storia Millenaria (Vaticanerias, Casos e Curiosidades de uma História Milenar), lançado no início do mês na Itália. Escrito pelo jornalista americano Nino Lo Bello, correspondente em Roma do jornal americano Herald Tribune por mais de trinta anos e que morreu em 1997, é a mais divertida coleção de grandes manias e pequenos vícios dos últimos ocupantes da Cátedra de São Pedro. Por trás da austeridade de Pio IX, papa na época do Concílio Vaticano I, que proclamou a infalibilidade papal, se escondia um jogador de bilhar inveterado, conta Lo Bello. Um ás com um taco na mão, ele costumava dar surras memoráveis nos cardeais da Cúria e nos soldados da Guarda Suíça.

A graça do relato de Lo Bello está em ignorar as grandes questões políticas ou dogmáticas e centrar fogo em curiosidades irrelevantes. O controverso Pio XII, papa durante a II Guerra, por exemplo, é lembrado pela aversão por moscas. Passeava pelos jardins do Vaticano com um inseticida numa das mãos e um mata-moscas na outra. Era também um tremendo pão-duro. Para economizar energia, antes de ir para a cama, percorria corredores e salões apagando as luzes. João XXIII, que entrou para a História por ter convocado o Concílio Vaticano II, responsável pela modernização da Igreja nos anos 60, fumava um maço de cigarros por dia e seu latim era péssimo. Tinha como passatempo preferido subir na Torre dos Ventos, a mais alta do Vaticano, e ficar bisbilhotando ruas e janelas romanas com um binóculo. Seu sucessor, Paulo VI, que completou a obra de renovação da Igreja, adorava velocidade. Primeiro pontífice a cruzar o Atlântico de avião, ele levava sempre um cronômetro e, do banco traseiro do carro oficial, pedia ao motorista que pisasse fundo no acelerador.

João Paulo II, o papa do terceiro milênio, é o homem das novidades. Foi o primeiro, em 100 anos, a ler sem óculos. Foi também o primeiro a usar relógio de pulso. Lo Bello não era um observador pacífico do Vaticano. Ao contrário, no livro The Vatican Empire, de 1968, ele causou indignação ao afirmar que a ligação da Santa Sé com a Máfia era tão forte que muita gente achava que a Sicília não passava de um edifício do Vaticano. Desta vez, apesar de um cardeal assinar o prefácio e de o livro ter sido editado por uma livraria católica, a reação da Igreja não foi menos enfurecida. O principal motivo de irritação é o temor de que as curiosidades sobre a vida pessoal afetem a imagem de santidade de João XXIII e Paulo VI, ambos com processo de beatificação em andamento. Como ninguém contestou o que o livro afirma, talvez seja melhor se acostumar com a idéia de que também os santos foram seres humanos.

 
Ilustrações Attílio

Pio XII

Papa durante a II Guerra, ele detestava moscas. Era visto nos jardins do Vaticano munido de inseticida e mata-moscas, à caça dos insetos. Também ficou conhecido pelo pão-durismo

João XXIII

Um dos papas mais populares da História recente, era um fumante inveterado. Tinha como passatempo subir numa torre e ficar bisbilhotando as ruas e janelas de Roma com um binóculo

Paulo VI

Primeiro papa a cruzar o Atlântico de avião, adorava velocidade. Levava um cronômetro para checar a velocidade do carro oficial e perdia a paciência se o motorista estivesse dirigindo muito devagar

 
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