Redator-Chefe da CPB Diz que Dinheiro da Igreja é Mal Canalizado

Quem se espanta mensalmente com o tom depressivo, lamentoso e amargo dos últimos editoriais da Revista Adventista, pode agora perceber que, talvez, haja palavras não-ditas e situações conflitivas, de ordem pessoal e institucional, que terminam por impedir a livre expressão das reais opiniões do Editor. Na entrevista abaixo (publicada pela Agência de Notícias da Unasp), porém, você vai descobrir um outro pastor Rubens Lessa, com opiniões próprias e muito firmes sobre vários aspectos do trabalho jornalístico denominacional.

Por desempenhar um importante papel dentro da Comunicação da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Rubens Lessa, redator-chefe da Casa Publicadora Brasileira, é a pessoa indicada para opinar em relação ao curso de Comunicação Social do Unasp. Em entrevista concedida a Unaspress, o pastor e jornalista discursa sobre a resistência oferecida pela Igreja em relação ao Jornalismo e aponta formas de acabar com essa opressão. ...

Chamado no início de 1973, para trabalhar como editor associado da Revista Adventista, na Casa Publicadora Brasileira, Lessa deu início a sua carreira jornalística, graduando-se em Jornalismo pela Fundação Cásper Líbero, em São Paulo, e apenas dois após o término do curso, foi nomeado redator-chefe, cargo que ocupa até os dias de hoje. 

Fernando Torres

Unaspress - A Igreja sempre manteve uma resistência e também uma certa demora em investir na comunicação. Quais são as causas dessa resistência?

Lessa - Eu creio que todos os movimentos religiosos viam o jornalismo como uma expressão de contestação, de rebeldia, de condenação dos fatos, enfim, uma análise nua e crua. Em certo aspecto, esse ponto de vista está correto. Os jornais e as revistas trabalham muito em cima do sensacionalismo, pois ele faz leitores. Por outro lado, existe o jornalismo que, bem feito e objetivo, mostra a realidade dos fatos, a fim de que políticos e até mesmo religiosos se controlem e vejam que a sociedade espera grandes realizações.  

Pelo ponto de vista político, o jornalismo tem uma função social importantíssima. Se não houvesse a mídia, o mundo seria ainda pior do que já é. O mundo é ruim, porque a mídia deturpa muitos fatos e alimenta coisas ruins. Mas seria pior se o jornalismo não detectasse problemas.

Se pararmos para analisar, o jornalismo dentro da Igreja tem seus limites. A nossa grande notícia é o Evangelho de Jesus Cristo. Essas são as boas-novas: anunciar que Cristo veio ao mundo. Todos sabem que ele veio, mas não sabem na verdade para que Ele veio. Essa notícia de dois mil anos não envelheceu. Ela é nova para quem aceita a Cristo, para quem vê a maravilha que representa essa grande notícia. Nós, como cristãos, temos que anunciar isto. Mas existem muitas coisas que caminham paralelamente com a notícia da salvação: o bem-estar das pessoas através do trabalho da Adra, o trabalho de assistência social da Igreja, a educação, a medicina, o trabalho de alfabetização voluntária. São coisas que o jornalismo interno da Igreja deve fazer conhecidas ao mundo interno e também ao mundo exterior. Podemos perceber que hoje, o jornalismo representa não apenas uma atualização dos fatos, mas também mostra a metodologia de trabalho da Igreja. 

Nossos líderes estão percebendo que os jornalistas prestam um serviço relevante à Igreja. A imagem que as pessoas terão da nossa organização depende da repercussão através da mídia adventista. Por isso que eles estão menos resistentes.

Pessoalmente, eu acho que a comunicação deveria se expandir ainda mais. Tenho fé que a faculdade de Comunicação no Unasp abrirá muitas portas, não só no sentido de podermos ter mais profissionais bem preparados, mas também servindo em jornais e rádios seculares procurando fazer a diferença. Se a comunicação estiver ligada ao Evangelho, ela estará cumprindo a sua parte.

Unaspress - Como você definiria a comunicação em TV na Igreja atualmente? Como resolveria os problemas existentes?

Lessa - Aspiro o dia em que a Igreja Adventista no Brasil possa ter um canal de televisão aberto, com a nossa mentalidade. Tantas outras denominações o têm, pregando apenas meias verdades em espaço nobre, enquanto nós nos restringimos à fraqueza. O nosso canal de televisão adventista já faz boas coisas, mas ele é muito pobre, tem muitas dificuldades, pois a visão de nossos líderes é ainda a de um pastor atrás do púlpito.

O dinheiro da Igreja é muito utilizado para sustentar a nossa estrutura, que é necessária, mas eu acho que poderíamos ser mais objetivos. Não tenho medo de fazer essas observações a respeito da necessidade da Igreja ser mais objetiva no manejo do dinheiro. 

Não estou me referindo à desonestidade, mas eu acho que lidar com as almas cara a cara é o trabalho que todo adventista do sétimo dia deveria aspirar. Não devem ser escolhidos apenas lugares grandes para pregar, nem responder apenas as cartas de pessoas ilustres aos olhos dos homens. O nosso trabalho de lidar com pessoas é muito importante. Se olhássemos mais nessa direção, estaríamos canalizando o dinheiro do tesouro do Senhor com coisas mais objetivas.

Unaspress - A Casa incentiva os funcionários que demonstram potencial em jornalismo a fazerem o curso?

Lessa - Não só a Casa, mas toda a Obra deveria estimular até mesmo pastores a fazerem o curso de Jornalismo, para que eles possam ser objetivos ao escrever.  

Muitos pastores têm uma mensagem para dar, mas eles não têm a capacidade de colocar isso no papel. 

Eles não entendem o que é o gancho jornalístico, o que é realmente interessante. Se o pastor tiver conhecimento básico de jornalismo, logicamente avançará mais. A orientação de um bom editor, um bom jornalista, vale muito, no sentido de abrir a mente. Portanto, eu estimulo que o Unasp ande nessa direção. 

Unaspress - Em contrapartida, jornalistas que não têm o curso de Teologia seriam incentivados a cursá-lo?

Lessa - Logo que possível, eles estarão fazendo. Por mim, alguns já estariam, mas eles preferem aguardar um pouco mais para ter um pouco mais de experiência. Isso iria facilitar a editoração de um livro ou revista, podendo ter uma formação teológica doutrinária mínima, necessária para analisar e escrever um texto. Às vezes, o jornalista escreve bem, mas lhe falta o conhecimento doutrinário e teológico, ocasionando erros. Se uma pessoa é leiga em Bíblia, ela pode facilmente naufragar, porque não tem uma base estrutural. ...

Unaspress - Em sua opinião, qual o perfil ideal de um jornalista formado pelo Unasp, seja para trabalhar na obra ou na imprensa secular?

Lessa - O cristão tem uma certa dificuldade para trabalhar na imprensa secular, e para vencer essa barreira, ele tem que ser bom. Aos poucos, está se extinguindo o elemento protegido. O que o mundo precisa hoje é de pessoas competentes. Um bom curso é imprescindível, além de uma mundivisão do universo à luz da Bíblia, para que ele possa exercer a sua influência cristã em meios seculares, e acima de tudo sensibilidade para viver e testemunhar de Cristo. Essas mesmas características são importantes para o trabalho na obra divina. Como já afirmei, a tendência está sendo selecionar o melhor dentre os melhores. Mas o ponto principal nem sempre será o alto grau de profissionalismo, mas também o alto grau de ética cristã, visão dos fatos e engajamento nas coisas de Deus. O escritor e jornalista devem ser pessoas de bastante mobilidade, pessoas ecléticas. Precisam ler muito, familiarizar-se com várias culturas, com várias correntes ideológicas para que assim possa alcançar as necessidades humanas.

Unaspress - O que você acha da presença de professores não-adventistas lecionando em nossa faculdade? 

Lessa - Admito como uma coisa possível por algum tempo, enquanto o quadro de professores ainda não é completo. Essas pessoas deverão ser bem selecionadas, não monitoradas, mas observadas. Havendo um bom relacionamento com eles, os próprios professores serão profissionais sem tentar mudar a concepção ideológica cristã dos alunos. Vale lembrar que estamos no mundo e não podemos fugir dele, mas temos que impedir que o mundo entre em nós. Assim como jovens adventistas estudam em universidades seculares, eu creio que alguns professores seculares podem estar em nossas faculdades. Mas, seria bom que a Igreja dispusesse de seus próprios profissionais na área de Jornalismo, devido à natureza do curso.

Fonte: http://agencia.iaec2.br/editorias/perfil/entrevista/set3.htm. (Reproduzido da internet, com omissão de trechos referentes apenas à Unasp.) 

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