EUA não atacam enquanto durar viagem do papa 

João Paulo II fica seis dias no Casaquistão e na Armênia, países próximos do Afeganistão

CIDADE DO VATICANO - Os Estados Unidos asseguraram ao Vaticano que não realizarão nenhuma operação de retaliação contra o Afeganistão durante a visita de seis dias de João Paulo II a dois países da Ásia Central, Casaquistão e Armênia, iniciada ontem, informou uma fonte da chancelaria vaticana, citada pela BBC. Esses países ficam muito próximos das fronteiras do teatro das eventuais operações militares americanas.

Ao condenar com vigor na semana passada os atentados terroristas e pedir moderação e clemência aos EUA em sua reação, para evitar "infligir sofrimentos a civis inocentes", o papa havia deixado claro que não adiaria nem alteraria em nenhuma hipótese seu programa de viagem àquela região.

Antes desembarcar em Astana, capital do Casaquistão, ele dirigiu um apelo ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, que "colabore com a paz e a Justiça no mundo". O pedido de João Paulo II a Putin, feito enquanto seu avião sobrevoava o espaço aéreo russo, coincidiu com o décimo aniversário da queda do comunismo e da derrocada da antiga União Soviética - da qual o Casaquistão e a Armênia faziam parte.

No dia anterior, o presidente russo havia reiterado a solidariedade da Rússia aos Estados Unidos no combate ao terrorismo internacional e renovado a oferta de colaboração (não no âmbito militar). Putin tinha dito também não temer uma guerra em larga escala em conseqüência de uma operação retaliatória americana. "Os líderes mundiais não deixarão que isso aconteça", explicou. Mas a Rússia não esconde sua preocupação com o que classifica de "possível desestabilização da Ásia Central" no caso de um ataque ao Afeganistão (que abriga Osama bin Laden, apontado pelos EUA como mentor dos ataques do dia 11).

A grande maioria dos países da região professa a religião muçulmana. O islamismo predomina esmagadoramente também no Casaquistão, onde o papa ficará quatro dias. Ali, o papa, líder espiritual de um bilhão de cristãos católicos, deseja fazer um apelo em favor da "tolerância étnica e religiosa".

O antigo ditador soviético Josef Stalin havia confinado centenas de milhares de poloneses, alemães, russos, chechenos e ucranianos no Casaquistão - uma remota e árida região de onde não havia como escapar. O papa foi recebido no aeroporto de Astana pelo presidente Nursultan Nazarbayev, de quem recebeu convite para visitar o país. Ao agradecer a acolhida, o papa deixou cair algumas folhas de seu discurso que foram recolhidas por Nazarbayev. Em seguida, o pontífice foi orar junto ao memorial erguido em homenagem a essas pessoas, muitas delas mortas nos chamados gulags soviéticos.

A população católica do Casaquistão é muito pequena e, portanto, a maior parte da multidão que ouvirá neste domingo a homilia é constituída de muçulmanos.

A visita de João Paulo II à região provocou indignação nos patriarcas da Igreja Ortodoxa russa, que o consideram um "invasor" de áreas sob sua jurisdição religiosa. A tensão entre as duas igrejas aumentou consideravelmente depois que o papa visitou a Georgia em 1998 e a Ucrânia este ano. (Reuters, Associated Press, EFE, France Presse, Ansa e DPA)

Fonte: http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2001/09/23/int015.html 

Retornar

Para entrar em contato conosco, utilize este e-mail: adventistas@adventistas.com