Vaticano apóia ofensiva dos EUA contra terrorismo
Roma -
As declarações do porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls -
"direito à autodefesa mesmo com meios agressivos" - e do
presidente da Conferência Episcopal Italiana cardeal Camillo Ruini -
"os Estados Unidos têm o direito e o dever de responder aos
ataques" -, não deixam mais dúvidas quanto à posição da Santa Sé
nessa crise.
A Igreja Católica dá seu apoio aos EUA
na guerra ao terrorismo. Mas pede que o diálogo continue e os ataques não
sejam indiscriminados para que não haja vítimas inocentes.
Segundo a imprensa italiana, as negociações
entre o governo de George W. Bush e a Secretaria de Estado do Vaticano
foram intensas.
O cardeal Angelo Sodano não acompanhou
o papa na visita ao Casaquistão e à Armênia. Ele ficou no Vaticano para
acompanhar os eventos.
O
presidente dos Estados Unidos teria se comprometido a evitar o ataque
enquanto João Paulo II estivesse na região - ele volta a Roma nesta
quarta-feira. Em troca, ficaria grato por uma posição não hostil do
Vaticano à operação militar que está para começar e já recebeu o
aval dos bispos católicos norte-americanos.
A Conferência Episcopal dos EUA
declarou sua solidariedade ao esforço bélico do país e de seus aliados
para punir os responsáveis pelos atentados. Mas alertou que a resposta
deve buscar proteger a população civil, conceito que foi repetido por
Navarro-Valls, no Casaquistão, e pelo cardeal Ruini, em Roma.
O
porta-voz do papa, os bispos norte-americanos e o cardeal romano
recuperaram o conceito do direito à autodefesa ou de "guerra
justa", usado por Santo Agostinho e pelo papa Pio XII na 2ª Guerra
Mundial.
Na tomada de posição vaticana, segundo
analistas italianos, pesou também a linha de parte da hierarquia católica,
que nem sempre externa suas opiniões quando se trata do delicado
relacionamento com o mundo islâmico.
É o que afirma, num artigo de grande
repercussão publicado pelo diário Corriere della Sera, Vittorio
Messori, intelectual católico muito ligado ao papa.
Messori
escreve que muitos religiosos são obrigados a manter duas posições.
Defendem a paz e o diálogo em público, mas em particular constatam, com
base em estudos e experiência própria, que com o mundo islâmico a
estratégia do diálogo é impraticável.
Uma estratégia que não melhora a situação,
mas tem efeito contrário porque é vista como uma fraqueza pelo mundo islâmico.
"A Igreja Católica e seus fiéis
espalhados em alguns países muçulmanos sobrevivem a séculos de perseguições
e são continuamente ameaçados", recorda Messori.
Ele diz que hoje, mais do que nunca, a
Igreja tenta não agravar os riscos. "Cada palavra católica que saia
dos limites da reverência se traduz em eco naqueles países onde, como
quer o Alcorão, Deus e César são a mesma coisa", analisa.
O
papa, pouco antes de deixar o Casaquistão, afirmou que "o terrorismo
profana o nome de Deus". "As controvérsias devem ser
resolvidas por meio do diálogo e não com armas", dissera dias
antes.
O papa já visitou 23 países de maioria
muçulmana e foi até contestado dentro da própria Igreja por
encontrar-se com quem persegue católicos, pois visitou países que
aplicam a sharia, a lei islâmica.
Fonte: http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2001/set/25/302.htm
Leia
mais sobre as implicações proféticas dos atentados terroristas.
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