Transformou Jesus a Água em Suco ou em Vinho?

Muito já se pregou e ensinou sobre o milagre realizado na festa de casamento em Caná da Galiléia. Mesmo assim, muitas pessoas ainda vivem na dúvida, não do ato poderoso realizado pelo Messias; mas, quanto ao produto obtido: vinho ou suco de uva. Por isso, talvez, muitas sejam as aplicações feitas em sermões sobre esse casamento. Aqui, não irei fazer mais uma abordagem a casamento, muito menos farei uma aplicação, comparando talhas a talentos ou aos dias da semana, como já fizeram. Portanto, o objetivo é analisar o milagre feito: vinho ou suco de uva.

Algumas considerações: quando for utilizada a palavra “vinho”, refere-se ao vinho fermentado (o vinho envelhecido); quando for utilizada a expressão “vinho novo”, é o vinho ainda não fermentado, mas em processo de fermentação.

Àquelas pessoas que gostam de um bom vinho: branco ou tinto, certamente, devem estar confiantes que o milagre, realmente, foi vinho. Àquelas que não utilizam bebidas alcoólicas de espécie alguma, também, estão confiantes que o milagre realizado foi suco de uva. Infelizmente, outras pessoas não imaginam nada, para estas, tanto faz ser vinho ou suco de uva. No entanto, o nosso dever é conhecer a verdade sobre a Escritura Sagrada, por isso, mais cedo ou mais tarde, todos terão que optar pelo vinho ou pelo suco de uva.

No Novo Testamento (NT), a palavra grega traduzida por vinho (veremos se é ou não fermentado), em João 2:1-11, é: οîνος - oînos. Essa palavra, juntamente com os seus derivados, é amplamente utilizada. Porém, não faremos comentários sobre as muitas ocorrências da palavra oînos e seus derivados; mas estudaremos as utilizações desta palavra pelo Messias, em Marcos 2:22 e Lucas 5:37-39, relacionando-a, no que for possível, ao milagre realizado, na festa de casamento, em Caná. Já a palavra Γλεύκους – gleúkous (lit. vinho novo) ocorre apenas uma vez, em Atos 2:13.

Abaixo, transcreverei alguns detalhes do Registro Sagrado, no Evangelho Segundo João:

E, tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm vinho”. (verso 3 - AVR).

Nesse verso, a palavra grega traduzida por vinho, ocorre duas vezes: οίνου – oínou e οîνον – oînon.

Por essas duas ocorrências, podemos entender que, literalmente, havia acabado o vinho fermentado. Aqui, como foi dito acima, não foi usada a palavra gleúkous, que é traduzida por “mosto” pelas Versões: Almeida Versão Revisada (AVR); Almeida Revista e Corrigida (ARC). O Diccionario Conciso Griego – Españhol del Nuevo Testamento, também, traduz a palavra gleúkous, por “mosto”.1

O Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, que traduz duas palavras hebraicas, por “mosto”. Em um comentário sobre uma delas, nos é dito que um dos significados atribuídos à palavra ‘āsîs, traduzida por vinho, “parece sugerir o suco fresco recém-espremido. ... talvez a palavra se refira a sucos fermentados em geral, tanto de uvas quanto de outras frutas. ...”.2

Até aqui, neste Dicionário, não foi afirmado se a palavra hebraica está referindo-se a suco fresco; embora tenha sido dito: “parece sugerir”.

Na mesma citação, mais abaixo os autores escreveram:

 “... Hoje em dia vinho ‘doce’ é aquele cuja fermentação foi interrompida e que recebeu algum açúcar não-fermentado. Parece que o vinho ‘doce’ da antigüidade designava um vinho de teor alcoólico mais elevado (cf. o grego gleukas, At 2.13). Talvez indique um vinho mais forte por ser feito de suco mais doce”.3

No entanto, como podemos perceber, também não se afirmou que a palavra signifique “vinho”. As expressões utilizadas são: “parece que” e “talvez indique”.

O Dicionário Aurélio, tem o seguinte significado para palavra “mosto”: “Suco de uva antes de terminada a fermentação”.

No acontecimento, no dia de Pentecostes, o apóstolo Pedro não negou que os judeus bebiam “gleúkous”; mas afirmou: “Pois estes homens não estão embriagados, como vós pensais, visto que é apenas a terceira hora do dia”. (Atos 2:15 – AVR).

Por esse verso, entendemos que era possível haver embriaguez, por ocasião das festas relacionadas às colheitas (Deut. 16:9-10 e 16; 14:26 – aqui, “vinho e bebida forte são: yayin e shekar” – cf. 22-26); contudo, o que não era comum, conforme Atos 13:15, era o horário para ocorrer à embriaguez. Por outro lado, encontramos, também, em Deut. 14:23, a palavra tîrosh, que também significa “mosto”.

BDB define tîrosh como ‘mosto’, ‘vinho novo’, ‘vinho fresco’. O vocábulo é usado 38 vezes, 20 delas junto com ‘trigo’ e/ou ‘azeite’, para designar o fruto fresco do campo. Pode ser achado ‘num cacho’ (Is 65.8); os tonéis ou lagares transbordantes dele (Prov. 3.10; Jl 2.24). Em Miquéias 6.15 se afirma que yayin, ‘vinho’ (q.v), é produzido a partir do tîrosh. A palavra nunca é associada à embriaguez, com a possível exceção de Oséias 4.11, em que yayin também é mencionado. É natural supor que se deva fazer distinção entre, de um lado, essa palavra, que designa um produto freqüentemente associado à frutuosidade, à produtividade e à bênção, e, de outro, yayin e shēkār (q.v.), que claramente são embriagantes e muitas vezes são mencionados juntos”.4

O relato, em Oséias 4:11, é: “A incontinência, e o vinho, e o mosto tiram o entendimento”. AVR).

Portanto, para um estudo comparativo com a palavra grega - gleúkousmosto (Atos 2:13), as duas únicas palavras hebraicas que podem ser perfeitamente utilizadas são: ‘āsîs e tîrosh, que, também, são traduzidas por mosto.

Voltando, então, para a festa de casamento, em Caná da Galiléia, encontramos a palavra: οîνος – oînos. Esta palavra, cuja tradução é vinho, deve ser bem compreendida. Ela pode referir-se a vinho envelhecido (fermentado) ou a vinho novo (vinho fresco e em processo de fermentação); mas, no que diz respeito a vinho novo, é diferente de gleúkousmosto.

Continuando o relato, o apóstolo João escreveu:

Ora, estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam duas ou três metretas”. (verso 6 – AVR). (Uma metreta corresponde à cerca de 40 litros).

No verso seis, encontramos “seis talhas de pedra”. Essas talhas de pedra serviam para colocar água, para que as pessoas pudessem lavar as mãos, os pés, etc., por isso, é dito: “para as purificações dos judeus”.

Os detalhes mais importantes estão no verso seguinte, em conexão com o verso três.

Ordenou-lhe Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram- nas até em cima. Então lhes disse: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E eles o fizeram”. (versos 7-8 – AVR).

De acordo com o verso três, o vinho havia acabado. Logo, os odres estavam vazios. Pelo visto, as talhas de pedra não possuíam mais água. Então, a pergunta é: por que o Messias mandou colocar água nas talhas de pedra e não nos odres? Para essa pergunta, somente duas respostas são possíveis.

 

A PRIMEIRA RESPOSTA

Para entendermos a primeira resposta, temos que saber o que é um odre. Segundo o Dicionário Aurélio, odre é: “Saco feito de pele, para transportar líquidos”.

Alguém poderia dizer: então o Messias mandou colocar água nas talhas, porque não iriam transportar o “vinho novo”. Mas não é suficiente, pois o verso seis, nos afirma que as “seis talhas de pedra” eram para colocar água “para as purificações dos judeus”. Portanto, as talhas não eram o local apropriado para o “vinho novo” ou envelhecido.

Visto que, os noivos possuíam muitos convidados. Percebe-se pelo fato de já haver acabado tanto a água das talhas quanto o vinho dos odres. Pode-se entender uma resposta simples. Os noivos estavam oferecendo “vinho” (vinho fermentado). E a fermentação, do “vinho” que havia sido servido, estava impregnada nos odres. Então, caso a água fosse colocada nos odres, iria ocorrer uma e/ou duas coisas: primeira - o “vinho novo” iria fermentar e estragar. Segunda: o “vinho novo”, além de fermentação, causaria o rompimento dos odres, e ambos seriam desperdiçados.

Para compreendermos perfeitamente isso, devemos analisar as palavras do Messias:

E ninguém deita vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo romperá os odres, e perder-se-á o vinho e também os odres; mas deita-se vinho novo em odres novos”. (Mar. 2:22 – AVR).

Portanto, a primeira resposta é: o Messias sabia que não se deve misturar “vinho novo” com “vinho envelhecido”, nem mesmo utilizar-se de um odre velho para colocar “vinho novo”. Porque “vinho novo”, coloca-se em odres “novos”. Então, isso nos mostra que o Messias tinha conhecimentos técnicos sobre produção e armazenamento de vinhos.

 

A SEGUNDA RESPOSTA

Na Língua Grega, existem duas palavras que designam algo novo: νέος – néos e καινός - kainós. A primeira significa: “novo, fresco, recente; jovem; ...”; a segunda: “novo; recém feito; sem estrear; ...”.5

Portanto, a palavra néos, em relação à palavra kainós, diz respeito a um novo mais recente, última novidade.

Em Marcos 2:22, o Messias utilizou-se dessas duas palavras.

Ninguém põe vinho [οîνον – oînon]  novo [νέον – néov] em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres; Mas põe-se vinho [οîνον – oînon]  novo [νέον – néov] em odres novos [καινούς - kainoús]”. (Mar. 2:22 – ARA).

De acordo com o verso, não se põe oînon néov em odres velhos, para que não se perca nem o vinho e nem os odres. Também, é verdade que não se põe oînon néov em odres néov, para que não fique impregnado com o cheiro da pele do animal, do qual foi feito o odre.

O mesmo ensinamento está relatado em Luc. 5:37-39. No entanto, destacaremos os versos 38 e 39:

“Pelo contrário, vinho [οîνον – oînon] novo [νέον – néov] deve ser posto em odres novos (καινούς – kainoús) [e ambos se conservam]”. (ARA). “E ninguém, tendo bebido o velho, quer o novo; porque diz:” (AVR) “O velho é excelente”. (ARA).

De acordo com as palavras do Messias, percebe-se que Ele estava preocupado com a qualidade do “vinho novo”. Entende-se, também, que o conhecimento que Ele tinha de vinho, está demonstrado nesses comentários apresentados em Mar. 2:22 e em Luc. 5:37-39.

Portanto, em função da primeira e da segunda resposta, pode-se saber perfeitamente que tipo de “vinho” os noivos haviam oferecido; bem como, que tipo de “vinho novo”, o Messias providenciou, ao realizar o milagre.

 

DUAS DECLARAÇÕES SOBRE O MILAGRE

Pela Escritura Sagrada, não dá para negar que era vinho; mas, qual tipo de vinho os noivos estavam servindo? Quem afirmou que o Messias transformou água em vinho? E que tipo de vinho o Messias providenciou?

Quando o mestre-sala provou a água tornada em vinho [οîνον – oînon], não sabendo donde era, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água, chamou o mestre-sala ao noivo e lhe disse: Todo homem põe primeiro o vinho [οîνον – oînon] bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho [οîνον – oînon]”. (versos 9-10 – AVR).

No verso nove, encontramos a declaração do apóstolo João, dizendo que foi transformado: “água” em “vinho”. No verso dez, é o mestre-sala quem declara que, o bom “vinho” foi servido por último. Percebe-se, então, que em nenhum momento o Messias deu uma declaração, dizendo ser: suco ou vinho (versos 7 e 8). Mas pelo visto, não há o que contestar quanto ao milagre que foi realizado ter sido vinho. No entanto, o que devemos saber, é que tipo de vinho foi realizado no milagre, na festa de casamento, em Caná da Galiléia.

 

CONCLUSÃO

De acordo com o que foi apresentado acima, podemos afirmar que o Messias providenciou aos noivos e convidados da festa, “vinho novo”, ou seja, vinho em processo de fermentação. Portanto, não fermentado. Como já foi dito, duas são as bases que estão fundamentadas essa afirmação: primeira - a não colocação da água nos odres, local apropriado para colocação do “vinho novo”, por conter resto do “vinho envelhecido” (vinho fermentado). Segunda: a utilização das talhas de pedra, para realização do milagre, nos sugere dois motivos: o “vinho novo”, ainda iria entrar em processo de fermentação; por outro lado, também, nos diz que, ele iria ser consumido logo. Por esses dois motivos, entende-se perfeitamente que o “vinho novo” não sofreu fermentação. Então, o “vinho novo” equivale a um bom “suco de uva”, forte, sem água, sem açúcar, totalmente puro. – josielteli@hotmail.com (Ver referências no rodapé da página.)


O que dizer das bebidas "sem álcool" adventistas?

Jesus disse: "Guardai-vos do fermento dos fariseus." A alusão de nosso Mestre era primeiramente ao pecado (fermento)...  Porém, como tudo que nosso Mestre dizia tem uma aplicação muito mais profunda que normalmente podemos captar, devemos entender que tudo o que "fermenta" não é bom para a saúde. Assim, a preocupação não é apenas com o álcool, mas também com a fermentação de qualquer fruta. Prova disso é que Ele nos diz para não nos embriagarmos com os "cuidados da vida" e, entre esses cuidados, está a alimentação.

No vídeo "Os animais também são seres humanos", um documentário sobre os animais, pode-se ver vários deles alimentando-se de uma determinada fruta, que cai ao chão fermentada. Poucos minutos após a ingestão, os mesmos saem completamente grogues, cambaleantes pelo efeito dessa fruta fermentada. Vemos então que o mal não é feito apenas pelo álcool contido na bebida, mas também pela fermentação das mesmas.

Assim, todas as bebidas adventistas, se feitas por processo de fermentação (cidra sem álcool, cerveja sem álcool, são também condenadas pela palavra de Deus...

Devemos nos lembrar ainda que Jesus ofereceu o seu sangue na cruz, sangue completamente livre de (pecado) fermento. Aquele que nos pediu para abster-nos do fermento, Ele próprio deu o exemplo jamais colocando qualquer coisa fermentada na boca.

Pouco antes de sua morte, foi-Lhe oferecida uma bebida analgésica, que buscava diminuir a dor, esta mistura era feita de vinagre e fel. No entanto, Cristo, Nosso Exemplo recusou-se a bebê-la. Nosso Mestre ofereceu, repetimos Seu sangue na cruz, sangue puro, isento de qualquer pecado. Ao comparar o "vinho" com Seu sangue, podemos ter certeza absoluta de que Ele jamais compararia Seu precioso sangue, totalmente isento do fermento (simbólico ou literal), com uma bebida "forte", fermentada e que tanto mal tem causado à humanidade.

Insistir no contrário é acariciar o pecado e totalmente inútil, pois Deus terá, a despeito de toda nossa rebeldia, um povo PURO, totalmente incontaminado inclusive das bebidas babilônicas, seja de que forma for.

Deus seja contigo, RB.

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Referências:

1TAMEZ, Elsa L., FOULKES, Irene W. De., Diccionario Conciso Griego - Español del Nuevo Testamento. Sociedades Bíblicas Unidas. 1978. Printed in Germany by Biblia-Druck, Stuttgart (The Greek New Testament -  Introducción en Castellano - com Dicionário.). p. 37.

2 HARRIS, R. Laird, ARCHER, G. L. Jr. WALKER, B. K.. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.1ª ed. São Paulo – SP, Edições Vida Nova. 1998. p. 1150).

3Ibidem.

4Ibidem. p. 1639.

5TAMEZ, Elsa L., FOULKES, Irene W. De., Diccionario Conciso Griego - Español del Nuevo Testamento. Sociedades Bíblicas Unidas. 1978. Printed in Germany by Biblia-Druck, Stuttgart (The Greek New Testament - Introducción en Castellano - com Dicionário.). p. 119 e 90.

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