Cuidado, Senhores!

Alô, amigos:

Tenho acompanhado essa eterna discussão (se não pararmos será eterna mesmo) sobre arianismo versus trinitarianismo, natureza de Cristo, origem de Cristo, natureza de Deus, natureza do Espírito Santo, mistérios que são da Divindade. Tenho lido acusações de heresias, nominando doutrinas ditas espúrias, exercícios com pretensões de didática doutrinária, e verdadeiras ginásticas de exegese bíblica.

Aliás, pelos textos e exposições montadas, e dependendo da desenvoltura e do vernaculismo de quem apresenta, é literalmente possível crer em qualquer das correntes de pensamento aqui mostradas em relação a esses assuntos.

Pegar textos estanques aqui e ali e montar uma teoria que se possa degustar, não requer muita erudição, apenas esperteza. Estou pasmo! Quanta pretensão! Nenhum de nós, nenhum iluminado professor ou doutor, nenhum monástico religioso ou erudito, será capaz de sequer arranhar a superfície desses mistérios de Deus. Além disso, as verdades claras e límpidas de que necessitamos, sempre nos chegaram depois de muito estudo, oração e jejum, e não com beligerantes discussões.

O menor dos anjos (se é que há menor), em seu estado de santidade, é tão infinitamente superior à nossa humanidade de milênios de degenerescência, que torna toda essa argumentação realmente inútil. E vocês acham que eles, os anjos, tem capacidade de compreender todos os mistérios de Deus? Será que eles lá no céu gastam seu preciosíssimo tempo em polêmicas que tais?

O nosso doce Davi é quem estava certo quando cantou essas duas pérolas: "Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado é, não o posso atingir." Salmos 139:6. "Pois ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó." Salmo 103:14.

Como pode uma partícula ínfima de pó, algo que é descrito por Isaías como tendo "desde a planta dos pés até a cabeça... apenas feridas, inchaços e chagas podres", querer compreender o que Paulo chamou de "profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus!"? E ele completa dizendo: "Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor? ou quem se fez seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém." Romanos 11:33-36.

Curvemo-nos todos diante dessas inspiradíssimas palavras! Com reverência dobremos não apenas os nossos joelhos, mas a nossa língua, para refletir sobre assuntos sobre os quais Deus não nos deu toda a luz. Ora, vejam só!

Somos incapazes de nutrir em nós mesmos qualquer sentimento nobre por nosso próximo, somos incapazes de perdoar, somos incapazes de pronunciar o nome de Jesus sem a ajuda dos céus, e queremos compreender as coisas escondidas do Eterno Deus.

Como será que Deus Se sente acima, vendo essas deblaterações em torno de Sua natureza, Sua pessoa, Sua intimidade? Será que é essa intimidade que Ele quer manter conosco? Quando nos convida a conhecê-Lo, será que é quanto a esses aspectos? Quando pede que sejamos perfeitos como Ele é perfeito, será que é isso que estamos fazendo que Ele realmente deseja? Não corremos o risco de sermos enxeridos demais em assuntos dessa ordem? Cuidado, senhores! Talvez estejamos indo muito longe. Corremos o risco de dizer muita bobagem teológica sobre o que não conhecemos.

Os assuntos que são indispensáveis à nossa salvação, não são muitos, e sobre eles temos toda a luz que precisamos. Quais são eles? Contemplemos a vida de Jesus, e detenhamo-nos sobre Suas ações, Seu exemplo. Jesus mostrou na prática tudo que precisamos saber e fazer. Jesus veio aqui buscar relacionamentos, nisso Ele gastou Seu divino tempo, e nisso devemos gastar o nosso. Se Ele quisesse que nos detivéssemos em examinar a Sua origem e a de outros entes celestes, com certeza, como amigo e Salvador, teria nos dado essa tarefa como dever de casa. Mas o dever de casa que nos deu, pessoalmente e através de Seus apóstolos, foi muito diferente: "Perdoai... Não julgueis... Amai-vos uns aos outros... Andai a segunda milha... A ninguém devais coisa alguma a não ser o amor recíproco... Sêde um... Ide e pregai... ".

Caros amigos, vocês já pensaram se fôssemos alunos aplicados e seguíssemos ao pé da letra essas recomendações? De há muito a humanidade poderia estar na glória, e então poderia estar aprendendo dessas belezas de Deus.

Cavar fundo as gemas da verdade não significa nos imiscuirmos nos segredos de Deus. Os doutores em divindade foram os que inventaram a cristologia e a soteriologia, como se a assimilação da natureza de Cristo em nós, o sermos semelhantes a Ele, e a beleza do plano da salvação precisassem ser ciências para serem melhor entendidas.

Sinceramente, ficar aqui numa discussão infinda, qual um enlouquecido Bolero de Ravel de discussões que não elucidam rigorosamente nada, muito pelo contrário, confundem e abalam aos que não conseguem subir às "alturas" do pensamento aqui exarado, me parece, para dizer pouco, uma judiação. Estamos lidando com assuntos de profundidade incomensurável, assuntos que serão matéria de estudo para mentes glorificadas por toda uma eternidade, e nos portamos como se estivéssemos falando da cor dos olhos da vizinha.

Não creio que Deus espere que compreendamos isso, não pede isso de nós. Ele conhece a nossa estrutura. Sabe o pouco até onde podemos ir, e, maravilha das maravilhas, respeita a nossa limitação, a nossa incapacidade de compreender e mesmo aceitar certas verdades. É pura paranóia pensar que seremos cobrados por isso. Não agiu Ele assim com Agostinho, com Lutero, com Calvino, com William Miller, e tantos outros ícones do cristianismo, que deixaram de entender, e mesmo recusaram muitas das verdades que a nós hoje, parecem tão simples? Ou vocês acham que Moody, Ellen White, Billy Graham ou Albert Schweitzer de tudo souberam, a tudo elucidaram?

O próprio Jesus, compreendendo a limitação dos Seus discípulos, deixou de lhes dizer muitas coisas, porque eles não seriam capazes de compreender, assimilar e aceitar. João 16:12. Ou não temos um Deus misericordioso? Amigos, escutem aqui: usemos nossas asas imaginárias, cubramos nossos rostos e nossos pés, e repitamos como lição de casa: "Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a Terra está cheia da Sua glória." Isaias 6:3.

Um grande abraço. -- O observador atento de sempre.

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