Teoria e Prática nas Questões Relacionadas à Política e ao Voto Texto: Pr. Uesley Peyerl,
agosto de 2000, antes de ser presidente da ASM. O dia 1º de outubro está chegando, e com ele a preocupação de escolher líderes do povo para governar sobre a sociedade. E não podia ser diferente. Homens e mulheres devem ser escolhidos para representar pessoas e ajudá-las. Por sua vez, enquanto, o Senhor Jesus Cristo não retorna, os cristãos devem estar empenhados em fazer deste Planeta um lugar em que se possa habitar com segurança e em família. O salmista pedia: "Orai pela paz de Jerusalém!" (Sl 122:6). Através de Jeremias o Senhor aconselhou: "Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao SENHOR; porque na sua paz vós tereis paz" (Jr 29:7). A pergunta é: Será a política o instrumento que os cristãos devem usar para melhorar o mundo? Parece que "a corrupção política está destruindo o amor à justiça e a consideração para com a verdade". Além do mais, "vivemos em meio de uma epidemia de crime, diante da qual ficam estupefatos os homens pensantes e tementes a Deus em toda parte. A corrupção que predomina está além da descrição da pena humana. Cada dia traz novas revelações de conflitos políticos, de subornos e fraudes". As sentenças acima expressam a condição de um mundo deteriorado pelo pecado onde as pessoas estão preocupadas consigo mesmas mais do que com a coletividade. Isso, porém, não deve ser assim. Onde houver cristãos aí, também, existirá ordem e consideração pelo próximo. A Bíblia, os escritos de Ellen G. White e a Igreja Adventista do Sétimo Dia reconhecem a importância dos governos terrestres. Nas palavras do apóstolo Paulo aos cristãos que viviam em Roma, encontra-se o reconhecimento das autoridades como constituídas por Deus, "visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem" (Rm 13:4). O apóstolo Pedro, em sua primeira carta deu parecer semelhante: "Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele" (1Pe 2:13-14). Essas declarações são suficientes para certificar o valor das autoridades e a submissão dos cristãos as mesmas. Mas o que fazer para melhorar o mundo? O que pode ser feito pelas pessoas? A resposta é simples, mas divina: evangelizar o Planeta. Só há um poder capaz de mudar o coração humano – o Espírito Santo. Mesmo que isso não seja científico, existe a evidência de milhões de vidas transformadas por Deus. O apóstolo Paulo a escreveu: "Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1:16). Num raciocínio semelhante Ellen White afirmou:
Haveria como harmonizar o evangelho e a política já que ambos são necessárias? Como a Igreja Adventista do Sétimo Dia deveria lidar com esse assunto? Primeiramente, não são encontrados textos, nem na Bíblia, nem escritos de Ellen G. White, encorajando pessoas a se tornarem políticos. Em segundo lugar, diversas recomendações sobre a Igreja Adventista do Sétimo Dia e seu relacionamento com a política foram feitas por Ellen G. White, das quais foram destacadas as seguintes: O dízimo e a política A aplicação do dízimo sempre foi feita para uso religioso. Abrão devolveu os dízimos a Melquisedeque, sacerdote e rei de Salém (Gn 14:20). Posteriormente, durante o Êxodo, Deus normatizou a devolução dos dízimos exclusivamente aos levitas "pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congregação" (Nm 18:21). No Novo Testamento, o procedimento quanto ao uso do dízimo, mesmo com a abolição da Lei Cerimonial, continuou na sua aplicação exclusiva aos pregadores do evangelho: "Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho" (1Co 9:14). Em Fundamentos da educação cristã, após várias recomendações aos professores, mestres, pastores e obreiros, Ellen G. White declarou: "O dízimo não deve ser empregado para pagar ninguém para discursar sobre questões políticas". Desta forma, o dízimo deverá ser empregado com exclusividade para obra evangélica. Os pastores, professores e outros obreiros e a política Por vezes, alguns argumentam em favor de pastores adventistas com popularidade assumindo cargos políticos. Imaginam esses, que as vantagens seriam muitas. Essa idéia, parece boa, mas, não é bíblica. As palavras de Jesus Cristo ao apóstolo Pedro: "Apascenta os meus cordeiros" (Jo 21:15), e a exortação de Hebreus: "Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas" (13:17), explicam a extensão do ministério evangélico, pois, "importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo" (1Co 4:1). Desta forma, os "pastores evangélicos devem conservar o seu cargo livre de todas as interferências seculares ou políticas, empregando todo o seu tempo e talentos em ramos de esforço cristão", e caso alguns pastores desejarem "ser políticos, devem perder suas credenciais; pois essa obra Deus não deu a elevados nem a humildes dentre Seu povo." As recomendações do Espírito de Profecia aos professores e mestres que se destacam pelo "zelo na política", é que "devem ser destituídos de seu trabalho e responsabilidades". Especificamente, aos que ensinam Bíblia, quer na igreja ou escola, "não se acham na liberdade de se unir aos que manifestam seus preconceitos a favor ou contra homens e medidas políticos, pois assim fazendo, incitam o espírito dos outros, levando cada um a defender suas idéias favoritas." O cuidado se estende até mesmo sobre o "desejo de ventilar" opiniões sobre questões políticas, pois, o resultado seria nocivo, e explica porque: "se introduzirá na igreja a divisão." Aqueles que aceitaram o chamado de Deus para se dedicarem a pregação do evangelho, ou, trabalhar em sua causa, não "devem gastar seu tempo a falar de política e agir em favor dela; pois assim fazendo, dão oportunidade ao inimigo de penetrar e causar desinteligências e discórdias." "Sua influência deve ser a de um coobreiro de Deus no conquistar almas para Cristo" (FEC, 477).
A igreja e a política Quem sabe, já que pessoas relacionadas diretamente com a pregação do evangelho não devam dedicar-se a política, que talvez a igreja o possa. Se houvesse uma frente unida em torno de ideais políticos os problemas da igreja seriam resolvidos prontamente. Analisar-se-á, resumidamente, o relacionamento político-religioso dos judeus no início da Era Cristã. Na época do ministério de Jesus Cristo, entre os próprios judeus, o judaísmo havia se fragmentado em seitas, algumas das quais funcionavam como partidos políticos. Interferiam no serviço do templo, e também, procuravam interferir na vida e obra de Jesus, Finalmente, até buscaram consenso para planejar Sua morte. Um exemplo é o partido dos fariseus, pois, quando Levi Mateus aceitou o chamado de Jesus e O convidou para uma grande festa, isso, desagradou o povo e escandalizou os fariseus, porém, nenhuma "questão política... podia influenciar-Lhe os movimentos". Esse dilema não ficou só por essa vez: "Por mais de uma vez Cristo foi solicitado a decidir questões políticas e jurídicas; mas recusava-Se a interferir em assuntos temporais." A interferência política nos dias de Jesus nos serviços do templo e influência sobre o povo não foram benéficas nem para os judeus, nem para os cristãos. Além de, rejeitarem a Cristo e o crucificarem, perseguiram o cristianismo. Verifica-se, portanto, que a presença da política na igreja não foi benéfica no passado. Ellen G. White ao tratar desse assunto vinte séculos depois, perguntou:
Ela esclarece o motivo de reservar o púlpito para sermões cristocêntricos: "Quando o orador, de maneira descuidada se intromete em qualquer parte, tomado pela fantasia, quando fala de política ao povo, está misturando fogo comum com o sagrado." "Não devemos, como um povo, envolver-nos em questões políticas... Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos em luta política, nem vos vinculeis a eles em suas ligações." Não resta, portanto, nenhuma atividade para a igreja desenvolver junto com a política. O cristão e política Agora resta saber como o indivíduo deve relacionar-se com a política. Quais são os direitos do cidadão cristão frente a política? O pensamento judeu acerca do Messias era político. Prova disso é o pedido da mãe de Tiago e João: "Manda que, no teu reino, estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita, e o outro à tua esquerda" (Mt 20:21). Jesus teve que chamá-los para maiores esclarecimentos: "Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós" (vv. 25-26). Pouco tempo depois, diante de Pôncio Pilatos, declarou: "O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui" (Jo 18:36). O exemplo de Jesus oferece segurança na postura de dicotomia entre o reino de Deus e governos terrestres. Ellen G. White comentando sobre a participação de cristãos na política afirmou: "Quanto ao mundo, dirão os cristãos: Não nos intrometeremos na política", e acrescentou: "Os filhos de Deus têm de separar-se da política, de toda união com os incrédulos... Não tomeis parte em lutas políticas." Portanto, nem pessoalmente é alguém encorajado a interessar-se por questões políticas. O cristão e o voto O voto nem sempre teve parecer unânime entre os adventistas do sétimo dia. Já nos dias de Tiago White, houve uma reunião onde foi tratada a questão de votar. Falaram demoradamente sobre o assunto. A favor do voto posicionaram-se Tiago White, J. N. Andrews, D. Hewitt, J. Hart e J. P. Kellogg, enquanto, H. Lyon se opôs. Dos escritos de Ellen G. White podem ser tiradas algumas conclusões sobre o voto no tocante a aprovação de leis que favoreçam a saúde e na escolha de políticos abstêmios para governar. O voto é secreto Em muitos de seus conselhos, Ellen G. White foi clara ao afirmar que o voto é secreto: "Mantende secreto o vosso voto. Não acheis ser vosso dever insistir com todo o mundo para fazer como fazeis". O povo adventista não tem qualquer responsabilidade de "publicar suas preferências políticas em nossas publicações, ou de sobre elas falar na congregação, quando o povo se reúne para ouvir a Palavra do Senhor." Não votar em partido Atualmente, as regras políticas do Brasil tem favorecido as tais legendas partidárias, porém, o conselho é não votar em partidos políticos, "pois não sabemos em quem votamos. Não podemos, com segurança, tomar parte em nenhum plano político." O melhor que se tem a fazer é guardar silêncio sobre questões políticas, pois, o " Senhor quer que Seu povo enterre as questões políticas. Sobre esses assuntos, o silêncio é eloqüência." Votar a favor das leis de temperança A questão de votar a favor das leis de saúde sempre foi estimulada pelos pioneiros da igreja, sobretudo, por Ellen G. White. Ela ressaltou o fato de cada indivíduo exercer sua influência na sociedade como um eleitor. Escreveu: "Todo indivíduo exerce uma influência na sociedade. Em nossa terra favorecida, todo eleitor tem de certo modo voz em decidir que espécie de leis hão de reger a nação. Não deviam sua influência e voto ser postos do lado da temperança e da virtude?" Embora, não apoiasse nenhuma forma de aliança política defendia, "é contudo nosso privilégio tomar decididamente posição em todas as questões relativas à reforma de temperança". Para ela, os defensores da temperança deixariam de cumprir o dever se não exercessem sua influência "pela palavra e pelo exemplo - palavra, pena e voto." O voto foi considerado de uma importância tal que, pelo uso passivo, o eleitor seria considerado responsável pelos agravos que um bêbado poderia realizar: "E aqueles que, mediante seu voto, sancionam o comércio das bebidas alcoólicas, serão considerados responsáveis pela perversidade praticada pelos que se encontram sob a influência da bebida forte."
A preocupação dos pioneiros foi a de eleger homens temperantes para cargos oficiais. Descrevendo essa preocupação, Mensagens escolhidas vol. 2 relata: "Eles [os pioneiros] acham que é direito votar em favor dos homens defensores da temperança governarem em nossa cidade, em vez de, por seu silêncio, correr o risco de serem eleitos homens intemperantes." Em outra oportunidade Ellen G. White aconselhou: "Homens intemperantes não devem ser colocados em posições de confiança pelo voto do povo." Caso, o povo de Deus votasse em tais homens, seriam "participantes nos pecados que eles cometem enquanto investidos desses cargos." Surge aí a responsabilidade de buscar dados suficientes para se fazer um escolha adequada no dia da eleição. Vários exemplos Três exemplos cronologicamente distantes e em sistemas de governos diferentes, propiciarão um embasamento para as conclusões necessárias. Primeiramente, Salomão, o terceiro rei de Israel. Sobre ele está escrito:
Em segundo lugar, o testemunho dos Reformistas da Idade Média:
Finalmente, o exemplo de Jesus: "Nenhuma questão de política, entretanto, podia influenciar-Lhe os movimentos. Para Ele, as distinções exteriores não tinham nenhum valor," e ainda: "Por mais de uma vez Cristo foi solicitado a decidir questões políticas e jurídicas; mas recusava-Se a interferir em assuntos temporais." Conclusões: 1. Em lugar algum encontrar-se-á aconselhamento para que alguém se candidate a algum cargo político. Como foi visto anteriormente, a quantidade de recomendações para que os adventistas se mantenham longe da política é considerável, entretanto, se alguém o faz, não peca. "Lembrem", porém, "os que são tentados a tomar parte na política, que todo passo que eles dão tem sua influência sobre outros." 2. Por não participar da política não é obra dos adventistas do sétimo dia "fazer inimigos no mundo político." 3. O voto é secreto e um dever de cada cidadão, sobretudo, um dever cristão. Escolham-se pessoas temperantes e de boa reputação. 4. Não está no plano de Deus usar a política para influenciar pessoas.
5. Quando perguntados – Qual a sua preferência política? O desejo de Deus é o silêncio. "O Senhor quer que Seu povo enterre as questões políticas. Sobre esses assuntos, o silêncio é eloqüência." 6. Qual deve ser o procedimento da igreja em relação ao Estado?
Texto: Pr. Uesley Peyerl,
agosto de 2000, antes de ser presidente da ASM. Referências:
|
|