O Arrebatamento Secreto: Fato ou Ficção? Samuele Bacchiocchi -- Ex-professor de História Eclesiástica e Teologia da Universidade Andrews, de Berrien Springs, MI, EUA.
Muitos
sinceros cristãos crêem que a Segunda Vinda de Cristo ocorrerá em duas fases
distintas. A primeira fase é conhecida como “o arrebatamento secreto” da
Igreja e pode ocorrer a qualquer momento. Nessa ocasião, Cristo desce apenas
para as proximidades da Terra para ressuscitar os santos adormecidos e para
transformar e glorificar os crentes vivos. Ambos os grupos são então
arrebatados, ou seja, levados secreta, súbita e invisivelmente, para encontrar
no ar o Senhor que desce. Esse corpo de crentes, chamado de “Igreja”, então
subirá para o céu para celebrar com Cristo por sete anos as bodas do Cordeiro,
enquanto os judeus e os gentios não-convertidos permanecerão sobre a Terra
para sofrerem os sete anos finais de tribulação.
Ao final desse período de sete anos, a segunda fase da Vinda de Cristo,
geralmente o Retorno ou Revelação, terá lugar. Cristo então vem em glória com
os santos até a Terra para destruir Seus inimigos na Batalha do Armagedom, e
para estabelecer o Seu trono em Jerusalém e iniciar seu reino milenial
terrestre.
Quanto tempo se espera que levará para o desaparecimento maciço dos
verdadeiros cristãos de todas as nações? Muitos acreditam que esse evento está
iminente porque sua principal pré-condição, ou seja, o reestabelecimento do
Estado de Israel e a posse da antiga Jerusalém, já tiveram lugar. Essa crença
é expressa em adesivos de automóveis como o que declara: “Se o motorista
desaparecer, agarre o volante”, ou “Em caso de arrebatamento este carro ficará
desgovernado”.
Segundo os cálculos iniciais de Hal Lindsey, esse arrebatamento secreto
da Igreja já passou do prazo.1 Em 1970 ele predisse que “em
quarenta anos desde 1948 [ano da formação do Estado de Israel], ou por volta
disso, todas essas coisas poderiam ter lugar.2 Lindsey calcula os
“quarenta anos” da duração bíblica de uma geração e alega, com base na
parábola da Figueira (Mat. 24:32-33) que a formação do Estado de Israel em
1948 assinala o início da última “geração” (Mat. 24:34) que verá primeiramente
o arrebatamento, daí os sete anos de tribulação, e finalmente o Retorno de
Cristo em glória. Sendo que o arrebatamento, de acordo com Lindsey e a maioria
dos dispensacionalistas, ocorre sete anos (Dan. 9:27) antes do Retorno visível
de Cristo em glória, já deveria ter ocorrido em 1981 ou 1982. O que isso
significa é que o tempo já se esgotou para essas predições sensacionais, porém
sem sentido. A Ascensão, Expansão e Declínio do Pré-Tribulacionismo
Origem do
Pré-Tribulacionismo. A crença de que a Igreja será arrebatada súbita e
secretamente antes da grande e final tribulação é conhecida como
pré-tribulacionismo. Sua origem é em geral identificada por volta dos anos da
década iniciada em 1830. John N. Darby, um pregador anglicano que se tornou
fundador dos Irmãos de Plymouth, é considerado o expositor e promotor mais
influente do arrebatamento pré-tribulacionista. Mediante suas seis visitas à
América e extensa campanha de literatura do pré-tribulacionismo dos Irmãos de
Plymouth, as idéias pré-tribulacionistas espalharam-se rapidamente.
O período de expansão máxima e predomínio do pré-tribulacionismo foi a
primeira metade do século vinte. Homens como Arno C. Gaebelein, C. I.
Scofield, James M. Gray do Instituto Bíblico Moody, Reuben A. Torrey, do
Instituto Bíblico de Los Angeles, Harry A. Ironside, da Igreja Memorial Moody,
e Lewis Sperry Chafer da Faculdade Teológica Evangélica (atual Seminário
Teológico de Dallas) desempenharam um importante papel na popularização do
arrebatamento pré-tribulacionista.3 O fator único mais importante
foi a ampla circulação da Bíblia de Scofield, publicada em 1909 e revisada em
1917, que inculcava esse ensino entre as massas como o único ponto de vista
bíblico correto.
Ressurgimento do Pós-Tribulacionismo. Desde 1950 mais e mais eruditos
evangélicos vêm abandonando o pré-tribulacionismo e retornando ao
pós-tribulacionismo histórico que sustenta que a Igreja passará pela grande
tribulação, ao final da qual Cristo virá para ressuscitar os santos
adormecidos e salvar os crentes vivos.
Crédito para o ressurgimento do pós-tribulacionismo deve ser dado
primeiro de tudo à influência de George E. Ladd, Professor de Novo Testamento
do Seminário Teológico Fuller. Alguns de seus importantes livros sobre este
assunto são Crucial Questions About the Kingdom of God [Questões
Cruciais Sobre o Reino de Deus] (1952), The Blessed Hope [A
Bem-aventurada Esperança] (1956) e The Last Things [As Últimas Coisas]
(1978). Sua respeitada erudição associada a sua dedicação aos princípios
evangélicos têm levado muitos eruditos evangélicos a repensarem suas posições
pré-tribulacionistas.
A influência de Ladd pode ser vista nos seguintes significativos estudos
produzidos por eruditos que acataram o pós-tribulacionismo e têm escrito em
sua defesa: The Greatness of the Kingdom [A Grandeza do Reino] (1959),
de Alva J. McClain, presidente do Seminário Teológico da Graça, em Winona
Lake, Indiana; The Imminent Appearing of Christ [O Iminente
Aparecimento de Cristo] (1962), de J. Barton Payne, Professor de Velho
Testamento na Faculdade Evangélica Trinity; e The Church and the
Tribulation [A Igreja da Tribulação] (1973), de Robert H. Gundry,
Professor de Estudos Religiosos na Faculdade Westmont, California.4
Tais estudos têm influenciado numerosos eruditos dentro de instituições
tradicionalmente pré-tribulacionistas a retornarem ao pós-tribulacionismo
histórico. A Igreja Evangélica Livre da América, por exemplo, que no passado
era defensora do arrebatamento pré-tribulacionista, permitiu que professores
da Escola Evangélica de Divindade Trinity desafiassem o pré-tribulacionismo em
sua conferência ministerial anual em janeiro de 1981. Os desafios e respostas,
publicadas em 1984 como um simpósio intitulado “O Arrebatamento: Pré- Mid- ou
Pós-Tribulacionistas” oferece um debate bastante erudito sobre as questões
relativas ao Arrebatamento. Um
Pressuposto Equivocado. Mesmo uma leitura superficial da literatura
pré-tribulacionista é suficiente para deixar uma pessoa ciente do fato de que
a crença no arrebatamento secreto repousa muito mais sobre pressuposições
subjetivas do que no ensinamento bíblico. O pressuposto principal é o de que
Deus tem um plano diferente para a Igreja em relação com Israel.
Conseqüentemente, presume-se que a Igreja deve ser removida da Terra antes que
Deus possa tratar com os judeus levando-os à conversão em larga escala
mediante a experiência da grande tribulação.
John F. Walvoord, destacado campeão do arrebatamento secreto, reconhece
explicitamente a importância desse pressuposto ao escrever: “A questão do
arrebatamento é determinado mais por eclesiologia do que por escatologia”. Em
outras palavras, mais pelo entendimento que se tem sobre a relação entre a
Igreja e Israel do que por ensinos bíblicos concernentes ao fim.5
C. C. Ryrie, outro pré-tribulacionista destacado, expressa a mesma convicção,
declarando: “A distinção entre Israel e a Igreja leva à crença de que a Igreja
será tomada da Terra antes do início da tribulação (o que, num sentido mais
amplo, diz respeito a Israel)”.6
Hal Lindsey vai ao ponto de tornar a distinção entre Israel e a Igreja
sua “principal razão” para crer que “o Arrebatamento ocorre antes da
Tribulação”.7 Ele argumenta que “se o Arrebatamento tivesse lugar
ao mesmo tempo da segunda vinda, não haveria mortais deixados que fossem
crentes; portanto, não haveria ninguém para ir para o reino e repovoar a
Terra”.8 Ou seja, uma vez que Lindsey presume que o Reino
messiânico predito pelos profetas do Velho Testamento será estabelecido por
Cristo por ocasião de Seu Segundo Advento como um reino terrestre que consiste
predominantemente de judeus mortais e crentes, então a necessidade do
arrebatamento da Igreja deve ocorrer antes. Como pode Cristo vir estabelecer
um Reino milenial judaico sobre a Terra se todos os crentes estão arrebatados
desta Terra por ocasião de Sua Vinda? O Segundo
Advento Dividido em Duas Fases. Para solucionar este dilema, os
dispensacionalistas dividem o Segundo Advento em duas fases: Primeiro uma
vinda invisível para arrebatar secretamente a Igreja, e, segundo, uma vinda
visível sete anos mais tarde para destruir os ímpios e estabelecer o Reino
Judaico milenial. O raciocínio por detrás desse arranjo pode parecer correto,
mas está errado em vista de fundamentar-se sobre o incorreto pressuposto de
que há uma distinção radical entre o plano de Deus para Israel e para a
Igreja.
Não há respaldo bíblico para uma distinção radical entre Israel e a
Igreja. O futuro de Israel não é visto no Novo Testamento como um reino
político milenial separado na Palestina, mas como um de bênçãos duradouras
compartilhado juntamente com todos os remidos de todas as era numa nova Terra
restaurada.
Desafortunadamente, é esse pressuposto equivocado que determina a
interpretação de textos bíblicos aduzidos em apoio ao arrebatamento.
Argumenta-se, por exemplo, que um certo texto não pode referir-se à Igreja
porque descreve a grande tribulação, que se supõe aplicar-se apenas a Israel.
Esse tipo de raciocínio circular, com base num pressuposto gratuito, não é o
método correto de interpretar textos bíblicos. As conclusões devem ser
extraídas de exegese cuidadosa, não de pressupostos preconcebidos. Quatro Razões Para Rejeitar o Arrebatamento Secreto Um cuidadoso estudo de textos bíblicos relevantes quanto ao Retorno de Cristo sugere pelo menos quatro razões principais para rejeitar o ponto de vista de uma Segunda Vinda de Cristo em dois estágios. O
Vocabulário do Segundo Advento. A primeira razão para rejeitar um
arrebatamento secreto que antecede à tribulação é o fato de que o vocabulário
do Segundo Advento não oferece respaldo para tal ponto de vista. Nenhuma das
três palavras gregas usadas no Novo Testamento para descrever o Retorno de
Cristo, ou seja, parousia-vinda, apokalypsis-revelação, e
epiphaneia-aparecimento, sugere um arrebatamento secreto pré-tribulacional
como objeto da esperança cristã no Advento.
Os pré-tribulacionistas alegam que a palavra parousia-vinda é usada por
Paulo em 1 Tessalonicenses 4:15 para descrever o arrebatamento secreto. Mas em
1 Tessalonicenses 3:13 Paulo emprega a mesma palavra para descrever “a vinda
de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os Seus santos”-uma descrição, segundo
os pré-tribulacionistas, da segunda fase do Retorno de Cristo. Novamente, em 2
Tessalonicenses 2:8, Paulo emprega o termo parousia-vinda em referência
à Vinda de Cristo que causará a destruição do anticristo-um evento que, de
acordo com os pré-tribulacionistas, supostamente ocorrerá na segunda fase da
Vinda de Cristo.
Semelhantemente, as palavras apokalypsis-revelação e
epiphaneia-aparecimento, são utilizadas para descrever tanto o que os
pré-tribulacionistas chamam de arrebatamento (1 Cor 1:7; 1 Tim 6:14) e o que
chamam de Retorno, ou segunda fase da Vinda de Cristo (2 Tess 1:7-8, 2:8).
Destarte, o vocabulário da Bendita Esperança não propicia base alguma para uma
distinção do Retorno de Cristo em duas fases, uma vez que seus termos
originais são empregados intercambiavelmente para descrever o mesmo evento.
Mais importante ainda é o fato de que cada um desses três termos é claramente
empregado para descrever o Retorno de Cristo pós-tribulacional, o que é visto
como objeto da esperança do crente.
A parousia, por exemplo, é indisputavelmente pós-tribulacional em Mateus
24:27, 38, 39 e em 2 Tessalonicenses 2:8. O mesmo é verdade de
apokalypsis-revelação, em 2 Tessalonicenses 1:7 e de epiphaneia-aparecimento
em 2 Tessalonicenses 2:8. Portanto, o vocabulário da Bendita Esperança exclui
a possibilidade de uma Vinda Secreta de Cristo para arrebatar a Igreja,
seguida de uma tribulação de sete anos e da Vinda gloriosa, visível para
estabelecer o Reino Judaico milenial. Os termos usados claramente apontam a um
Advento de Cristo único, indivisível, pós-tribulacional para trazer salvação
aos crentes e retribuição aos descrentes. Nenhum
Arrebatamento da Igreja. Uma segunda razão para rejeitar um arrebatamento
pré-tribulacional secreto da Igreja é o fato de que não há qualquer indício no
Novo Testamento de um arrebatamento instantâneo da Igreja. A descrição mais
notória do Segundo Advento encontrada em 1 Tessalonicenses 4:15-17, sugere
exatamente o oposto quando fala que o Senhor desce do céu “dada a Sua palavra
de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus” . . . “os
mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os que
ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o
encontro do Senhor nos ares”.
O clamor, a trombeta e o grande ajuntamento dos vivos e santos
ressurretos dificilmente sugeriria um evento secreto, instantâneo e invisível.
Pelo contrário, como freqüentemente se tem assinalado, esta talvez seja a
passagem mais barulhenta da Bíblia. A referência a um ressoar “da trombeta” e
paralelamente ao texto de Mateus 24:31 e 1 Coríntios 15:52, que falam de
fortes sons de trombeta, corroboram a visibilidade e natureza pública do
Segundo Advento. Nenhum traço de um arrebatamento secreto pode ser encontrado
em qualquer destas passagens. Nenhuma
Remoção da Igreja da Grande Tribulação. Uma terceira razão para rejeitar a
noção de um arrebatamento secreto pré-tribulacional da Igreja é o fato de que
tal noção não tem apoio das passagens que tratam da tribulação. Por exemplo,
em seu discurso no Monte das Oliveiras, Jesus fala da “grande tribulação” que
imediatamente precederá a Sua vinda e promete que “por causa dos escolhidos
tais dias serão abreviados” (Mat. 24:21-22, 29). Alegar que “os eleitos” são
apenas os crentes judeus, e não membros da Igreja, representa ignorar que
Cristo está se dirigindo a Seus apóstolos que representam não só o Israel
nacional, mas a Igreja em escala ampla. Isto é confirmado pelo fato de que
tanto Marcos quanto Lucas fazem referência ao mesmo discurso para a Igreja
gentílica (Marcos 13; Lucas 21).
É também digna de nota a grande semelhança entre a descrição que Cristo
faz do arrebatamento da Igreja em Mateus 24:30, 31 e a de Paulo em 1
Tessalonicenses 4:16, 17. Ambos os textos mencionam a descida do Senhor, a
trombeta que soa, os anjos acompanhantes e a reunião do povo de Deus. Tais
semelhanças sugerem que ambas as passagens descrevem o mesmo evento. Contudo,
em Mateus o arrebatamento de Cristo é explicitamente situado “após a
tribulação” (Mat. 24:29), ao tempo da Vinda de Cristo “com poder e grande
glória” (vs. 29, 30). O paralelismo entre as duas passagens indica claramente
que o arrebatamento da Igreja não precede, mas, pelo contrário, segue-se à
grande tribulação.
Cristo nunca prometeu a Sua Igreja um arrebatamento pré-tribulação deste
mundo. Antes, prometeu proteção em meio à tribulação. Em Sua petição ao Pai,
Ele disse: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (João
17:15). Semelhantemente à Igreja de Filadélfia, Cristo promete: “Eu te
guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para
experimentar os que habitam sobre a Terra” (Apoc. 3:10). Se a Igreja
estivesse ausente desta Terra durante a hora de prova, não haveria necessidade
de proteção divina. Nenhum
Arrebatamento Pré-Tibulação nas Escrituras. Por último, a noção de um
arrebatamento secreto pré-tribulacional é negada por Paulo e pelo livro de
Apocalipse. Em suas admoestações aos tessalonicenses, Paulo explica que os
crentes terão “alívio” da tribulação desta era presente “quando do céu se
manifestar o Senhor Jesus Cristo com os anjos do Seu poder, em chama de fogo,
tomando vingança contra os que não conhecem a Deus. . .” (2 Tess 1:7-8). Em
outras palavras, os crentes experimentarão libertação dos sofrimentos desta
era, não mediante um arrebatamento secreto, mas por ocasião da revelação
pós-tribulacional de Cristo.
No segundo capítulo Paulo refuta as concepções errôneas que prevaleciam
entre os tessalonicenses de que o dia do Senhor havia vindo. Para refutar esse
equívoco ele cita dois eventos principais que deveriam dar-se antes da Vinda
do Senhor, ou seja, a rebelião e o aparecimento do “homem da iniqüidade” (2
Tess 2:3) que perseguiria o povo de Deus.
O que é crucial nesta passagem é que Paulo não faz menção de um
arrebatamento pré-tribulacional como um precedente necessário para a Vinda do
Senhor. Contudo, este seria o argumento mais forte que Paulo poderia
apresentar para provar aos tessalonicenses que o dia do Senhor não poderia
possivelmente ter vindo, uma vez que o seu arrebatamento para fora deste mundo
ainda não tivera lugar. A omissão de Paulo desse argumento vital sugere
fortemente que Paulo não cria num arrebatamento pré-tribulacional da Igreja.
Esta conclusão também é apoiada pela menção por Paulo do aparecimento do
anticristo-um evento indicutivelmente tribulacional que os crentes verão antes
da vinda do Senhor. Se Paulo esperasse que a Igreja fosse arrebatada deste
mundo antes da tribulação causada pelo aparecimento do anticristo, ele
dificilmente teria ensinado que os crentes veriam tal evento antes da vinda do
Senhor. Que interesse os tessalonicenses teriam no aparecimento do anticristo,
juntamente com a tribulação que o acompanharia, se devessem ser arrebatados
para longe desta Terra antes de esses eventos terem lugar? Assim, tanto por
sua omissão quanto por sua afirmação, Paulo nega o ponto de vista de um
arrebatamento pré-tribulacional da Igreja. Nenhum
Arrebatamento Pré-Tribulacional no Apocalipse. O livro de Apocalipse trata
em maiores detalhes do que qualquer outro livro do Novo Testamento dos eventos
associados com a grande tribulação, tais como o soar das sete trombetas, o
aparecimento da besta que inflige uma terrível perseguição sobre os santos de
Deus, e o derramamento das sete últimas pragas (Apoc. 8 a 16). Conquanto João
descreva em grande detalhe os eventos tribulacionais, ele nunca menciona ou
sugere um Advento de Cristo secreto e pré-tribulacional para levar embora a
Igreja. Isto surpreende muito, em vista de que o expresso propósito de João é
instruir as Igrejas com respeito aos eventos finais.
João explicitamente menciona uma incontável multidão de crentes que
passarão pela grande tribulação. “São estes os que vêm da grande tribulação,
lavaram suas vestiduras, e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Apoc. 7:14).
Os pré-tribulacionistas argumentam que esses crentes são somente da raça
judaica, supostamente em vista de que a Igreja em Apocalipse 4 a 19 não mais
está sobre a Terra, mas no céu. Tal raciocínio perde o seu crédito,
primeiramente pelo fato de que em parte alguma João diferencia entre os santos
na tribulação que sejam judeus ou gentios.
João explicitamente declara que os crentes vitoriosos da tribulação vêm de
“toda nação, tribo, língua e povo” (Apoc. 7:9). Esta frase ocorre
repetidamente no Apocalipse para designar não exclusivamente os judeus, mas
inclusivamente todo membro da família humana (Apoc. 5:9; 10:11; 13:7; 14:6).
O Cordeiro, por exemplo, é louvado pelos 24 anciãos por ter resgatado homens
“de toda tribo e língua e povo e nação” (Apoc. 5:9). Obviamente, Cristo não
resgatou somente judeus, mas pessoas de todas as raças. Êxtase de
João, Não Arrebatamento da Igreja. O argumento de que a Igreja em
Apocalipse 4 a 19 está no céu baseia-se num falso pressuposto de que a ordem a
João, “Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas
cousas” (Apoc. 4:1) refere-se supostamente ao arrebatamento da Igreja no céu.
Esta é uma interpretação sem fundamento, porque o texto não fala do
arrebatamento da Igreja, mas da experiência visionária extática de João. Até
mesmo John F. Walvoord, destacado pré-tribulacionista, reconhece abertamente
que “não há autoridade para ligar o arrebatamento com esta expressão”.9
As semelhanças entre as admoestações dadas nas cartas às sete Igrejas e
as que são dadas aos santos que enfrentam a tribulação sugerem que os dois são
essencialmente o mesmo povo. Por exemplo, quatro vezes nas sete cartas a
necessidade para “suportar” é realçada (Apoc. 2:2, 3, 19; 3:10), e se espera a
mesma qualidade dos santos que passam pela tribulação (Apoc. 13:10; 14:12).
Semelhantemente, a necessidade de “vencer”, expressa sete vezes nas cartas às
Igrejas (Apoc. 2:7, 11, 17, 26; 3:5, 12, 21), é o próprio atributo dos santos
na tribulação “que venceram a besta e sua imagem” (Apoc. 15:2). Dificilmente
se conceberia que João tencionava atribuir as mesmas características a dois
grupos diferentes de pessoas. A Igreja
Sofre a Tribulação, Mas Não a Ira Divina. Em Apocalipse 22:16 Jesus
reivindica ter enviado o Seu anjo a João “para testificar estas cousas à
Igreja”. É difícil ver como as mensagens dadas pelo anjo a João poderiam ser
um testemunho para as Igrejas, se a Igreja não está diretamente envolvida na
maior parte dos eventos descritos no livro (Apoc. 4 a 19).
O ponto básico da questão é que a Igreja em Apocalipse sofrerá
perseguição por poderes satânicos durante a tribulação final, mas não sofrerá
a ira divina. A ira divina, que é retratada pelas sete pragas apocalípticas,
não é derramada indiscriminadamente sobre todos, mas seletivamente sobre
aqueles que são “portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem”
(Apoc. 16:2; cf. 14:9-10).
Tal como os antigos israelitas desfrutaram da proteção de Deus durante
as dez pragas (Êxo. 11:7), assim o povo de Deus será protegido quando Sua ira
divina cair sobre os ímpios. Essa divina proteção é representada em Apocalipse
por um anjo que sela os servos de Deus em suas testas (Apoc. 7:3) de modo a
que sejam poupados quando a ira de Deus sobrevir sobre os impenitentes (Apoc.
9:4). Por fim, o povo de Deus será resgatado pelo glorioso Retorno de Cristo
(Apoc. 16:15; 19:11-21). Destarte, a Revelação não retrata um arrebatamento
pré-tribulacional da Igreja, mas um Retorno pós-tribulacional de Cristo.
Conclusão. À luz das razões acima discutidas, concluímos que o ensino popular de uma Vinda Secreta de Cristo para arrebatar a Igreja antes da tribulação final é um sinal errado do Tempo do fim destituído de qualquer respaldo bíblico. Tal crença torna a Deus culpado de chocante discriminação, por dar tratamento preferencial à Igreja que é removida da Terra antes da tribulação final reservada aos judeus. As Escrituras ensinam que a Segunda Vinda de Cristo é um evento único que ocorre após a grande tribulação e será experimentada pelos crentes de todas as eras e de todas as raças. Esta é a Bendita Esperança que une “toda nação, e tribo, e língua e povo” (Apoc. 14:6). Adendo: O Papel de Israel nas Profecias O material abaixo foi extraído de outro artigo do Dr. Bacchiocchi mais completo e profundo sobre a campanha do livro e filme intitulados “Left Behind” (Deixados para Trás). O material trata em maior detalhe sobre um importante aspecto nessa discussão--o papel de Israel nas profecias.
Avaliação do Ponto de Vista dos “Dois Povos”. É o conceito de uma
distinção radical entre o plano de Deus para Israel e para a igreja um ensino
bíblico válido ou um pressuposto infundado? Acaso o ponto de vista
neotestamentário para a igreja é o de um povo diferente e separado do povo do
“Israel natural”? A resposta é abundantemente clara. O Novo Testamento
considera a igreja, não como uma “intercalação” temporária, mas como
continuação do verdadeiro Israel de Deus. Para verificar esta última posição,
breve alusão será feita a algumas sigificativas declarações de Cristo, Pedro e
Paulo.
O ajuntamento do Verdadeiro Israel por Cristo. Ao chamar e ordenar
doze discípulos como Seus apóstolos, Cristo manifestou Sua intenção de reunir
o remanescente messiânico das doze tribos de Israel num novo organismo,
chamado a Igreja (Mat. 16:18-19). Este não é um organismo independente
designado a repor Israel temporariamente mas um rebanho que reúne tanto as
“ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mat. 10:6; cf. 15:24; Atos 1:8) como as
ovelhas perdidas do mundo gentílico.
Referindo-se à profecia de Isaías com respeito à reunião dos gentios,
Cristo anunciou: “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a Mim Me
convém conduzi-las; elas ouvirão a Minha voz; então haverá um rebanho e um
pastor” (João 10:16; cf. Isa. 56:6-8). Como pastor messiânico, Cristo veio
reunir o remanescente de Israel e gentios, não em dois rebanhos separados, mas
num só rebanho.
Quando elogiando a fé do centurião, Jesus disse: “Digo-vos que muitos
virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e
Jacó no reino dos céus. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para
fora, nas trevas”. (Mat. 8:11-12). É digno de nota que Cristo não promete o
Reino de Deus a uma futura geração de judeus, como alguns dispensacionalistas
mantêm, mas a crentes de todas as nações, “do Oriente e do Ocidente”.
Uma Realidade Presente. O reino messiânico prometido no Velho
Testamento é visto por Cristo não como um evento futuro envolvendo a
restauração territorial e política de Israel, mas como uma realidade presente
que raiou mediante Seu ministério vitorioso sobre o pecado, Satanás e a morte.
“Se, porém, Eu expulso demônios, pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o
reino de Deus sobre vós” (Mat. 12:28). O reino de Cristo é composto, não por
dois povos separados, Israel e a Igreja, mas por um povo, o “Novo Israel”,
consistindo de judeus e gentios crentes.
A Seus discípulos Jesus declarou: “Não temais, ó pequenino rebanho;
porque vosso Pai Se agradou em dar-vos o Seu reino” (Lucas 12:32). Notem que o
prometido Reino messiânico é dado não a uma futura geração de judeus (Mat.
11:29; 13:38; 8:11-12). F. F. Bruce comenta adequadamente: “O chamado de Jesus
por discípulos para estarem junto a Si a fim de formarem o ‘pequenino rebanho’
que haveria de receber o Reino (Lucas 12:32; cf. Dan 7:22, 27) O assinala com
o fundador do Novo Israel”.
Os profetas falam de Israel como rebanho ou ovelha de Deus (Isa. 40:11;
Jer. 31:10; Eze. 34:12-14). Ao chamar Seus discípulos de “pequenino rebanho”
ao qual Deus estava dando o Reino, está inegavelmente identificando Seus
discípulos quanto ao verdadeiro remanescente de Israel. Ademais, ao
comissionar Seus apóstolos para “fazer discípulos de todas as nações” (Mat.
28:19), Cristo revelou que a missão profética do Israel nacional (Isa. 49:6;
60:3) estava sendo cumprida por Seu rebanho messiânico, a Igreja, que consiste
de discípulos procedentes de todas as nações. Israel prossegue existindo, não
à parte da Igreja, mas como parte dela.
A Descrição do Novo Israel por Pedro. Pedro, à semelhança de
Cristo, via a Igreja como cumprimento das promessas feitas ao antigo Israel.
No dia de Pentecoste, Pedro declarou que a profecia de Joel concernente à
restauração messiânica de Israel (Joel 2:28-32) se estava cumprindo através do
derramamento do Espírito Santo sobre a Igreja (Atos 2:16-21).
Para Pedro, a Igreja não é uma entidade não-predita no Velho Testamento,
nem uma interrupção temporária do plano divino para Israel; antes, é o
cumprimento do remanescente escatológico de Israel. Se o início da Igreja é
visto por Pedro como cumprimento de uma profecia concernente a Israel, temos
razões em crer que os eventos finais da Igreja devem também representar o
cumprimento de certas profecias do Velho Testamento relativas a Israel.
A Igreja é o Novo Israel. É digno de nota que Pedro aplica à
Igreja aqueles títulos do Velho Testamento que designam a Israel: “Vós, porém,
sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva
de Deus, a fim de proclamardes as virtudes Daquele que vos chamou das trevas
para a sua maravilhosa luz, vós, sim, que antes não éreis povo, mas agora sois
povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes
misericórdia” (1 Ped. 2:9-10).
Esta descrição da Igreja é uma combinação de três passagens
veterotestamentárias (Êxo. 19:6; Isa. 43:20-21; Osé. 1:6, 9; 2:1) que
caracterizam o povo de Deus. Pedro reúne a visão de Israel do Velho Testamento
e proclama seu cumprimento na Igreja. Em palavras bastante claras, Pedro
demonstra que a “raça escolhida” não é mais exclusivamente os judeus étnicos,
mas tanto crentes judeus quanto gentios. A Igreja é o novo Israel que cumpre
as promessas feitas ao Israel do Velho Testamento.
A Visão de Paulo do “Israel de Deus”. À semelhança de Cristo e
Pedro, Paulo também via a Igreja como o verdadeiro Israel. Falando aos judeus
reunidos na signagora em Antioquia da Pisídia, Paulo afirmou: “Nós vos
anunciamos o evangelho da promessa feita a nossos pais, como Deus a cumpriu
plenamente a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus” (Atos 13:32-33).
Neste discurso Paulo explica que as promessas de Deus aos pais foram
cumpridas na ressurreição de Cristo. O cumprimento não resulta no
estabelecimento de um reino judaico durante o milênio, mas no “perdão dos
pecados” concedido mediante Cristo a “todo o que crer” (Atos 13:38-39). As
promessas feitas a Israel são, portanto, cumpridas na Igreja do Novo
Testamento, não mediante uma restauração política dos judeus étnicos, mas
através de uma redenção espiritual de todos os crentes.
Em sua epístola aos gálatas Paulo emprega a frase “o Israel de Deus”
inclusive tanto de judeus quanto de gentios: “Nem a circuncisão é cousa
alguma, nem a incircucisão, mas o ser nova criatura. E a todos quantos andarem
de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o
Israel de Deus” (Gal. 6:15-16). Alguns dispensacionalistas mantêm que a frase
“o Israel de Deus” refere-se exclusivamente aos judeus crentes. Eles traduzem
a palavra grega kai como “e”, significando “adicionalmente a”. Destarte, “o
Israel de Deus” refere-se exclusivamente aos cristãos judeus que Paulo
supostamente distingue da igreja como um todo, porque deixaram o legalismo
para seguirem a regra de Cristo.
Unidade de Judeus e Gentios. Esta interpretação, contudo, ignora
tanto o contexto imediato de Gálatas e a ênfase teológica mais ampla. O
contexto imediato fala de “quantos andarem de conformidade com esta regra”.
Isso deve incluir os crentes judeus e gentios, uma vez que é dito que tanto a
circuncisão quanto a incircuncisão nada representam. Assim, o “Israel de Deus”
é uma descrição adicional de ambos os grupos que andam “de conformidade com
esta regra”. O contexto mais amplo realça a unidade que ambos os grupos
compartilham em Cristo: “Não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem
liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se
sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a
promessa” (Gál. 3:28-29).
À luz do contexto imediato e mais amplo, o “Israel de Deus” não pode
ser um grupo distinto de judeus crentes, à parte dos gentios crentes. Alegar
assim representa destruir a própria unidade que Paulo se empenha em
estabelecer. Antes, a frase “Israel de Deus” foi empregada por Paulo como uma
maneira explicatória para qualificar adicionalmente “quantos andarem em
conformidade com esta regra”. Ou seja, pessoas crentes judeus e gentios.
A Integração dos Gentios no Israel, por Paulo. Paulo ensina
repetidamente a integração de gentios em Israel como herdeiros das promessas
de Deus. Em Efésios Paulo claramente explica que os gentios que noutro tempo
estavam “sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às
alianças da promessa” (Efé. 2:12), não mais são “estranhos às alianças da
promessa . . . mas . . . não mais estrangeiros e peregrinos, mesmo concidadãos
dos santos”, como membros da “família de Deus” (Efé. 2:19).
Essa integração de gentios à “comunidade de Israel” e “às alianças da
promessa” tiveram lugar mediante Jesus Cristo que uniu tanto os judeus quanto
os gentios “para que dos dois criasse em si mesmo um novo homem, fazendo a
paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz,
destruindo por ela a inimizade” (Efé. 2:15-16).
O pensamento de um propósito separado para crentes judeus na presente era
ou num futuro milênio é aqui totalmente excluído por Paulo. De fato, tal
pensamento destruiria a própria unidade de judeus e gentios que Cristo
realizou. Paulo explica aos efésios que foi pela revelação de Deus que se
tornou conhecida a ele este “mistério” de como “os gentios são co-herdeiros,
membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio
do evangelho” (Efé. 3:5-6). Três vezes Paulo ressalta aqui que os gentios
compartilham com Israel a promessa da aliança. Qualquer sistema teológico que
divida o que Deus ajuntou está operando contra o propósito divino.
A Imagem Paulina da Oliveira. Em Romanos 9-11 Paulo descreve a
integração de gentios em Israel utilizando a imagem efetiva do enxerto de
ramos bravos de oliveira (gentios) à única oliveira do Israel de Deus (Rom.
11:17-24). Observem que para Paulo a salvação dos gentios não resulta no
brotar de uma nova oliveira, mas em enxertar os gentios na mesma oliveira.
A árvore de Israel não é arrancada por causa de descrença, mas é podada,
ou seja, reestruturada mediante o enxerto de ramos gentios. A Igreja vive da
raiz e tronco do Israel do Velho Testamento (Rom. 11:17-18). Por meio dessa
expressiva imagem, Paulo descreve a unidade e continuidade que existe no plano
redentor de Deus para Israel e a Igreja.
Interrelação Entre Israel e a Igreja. Os dispensacionalistas apelam a Romanos
11:25-26 para argumentar em favor de uma futura conversão da nação de Israel,
independentemente da Igreja. A passagem assim reza: “Porque não quero, irmãos,
que ignoreis este mistério, para que não sejais presumidos em vós mesmos, que
veio endurecimento em parte a Israel até que haja entrado a plenitude dos
gentios. E assim todo o Israel será salvo” (Rom. 11:25-26). Os
dispensacionalistas explicam esta passagem como ensinando uma conversão em
larga escala da nação de Israel após a reunião da plenitude dos gentios estar
completa, pouco antes do tempo do Retorno de Cristo.
Essa interpretação ignora quatro importantes observações. Primeiro, a
frase “todo Israel será salvo” dificilmente se refere apenas à última geração
de judeus, uma vez que esta seria apenas uma fração de todos os judeus que
viveram. Em segundo lugar, o texto não está discutindo a sucessão temporal,
mas a maneira pela qual Israel será salvo. O texto não diz “e então [após a
reunião dos gentios] todo Israel será salvo”. Antes, declara: “E assim [desse
modo, pelo fato de os israelitas serem movidos por ciúmes pela salvação dos
gentios] todo Israel será salvo”. Em terceiro lugar, os judeus estão sendo
salvos por serem reenxertados na mesma oliveira em que os gentios também
estão. Assim, a salvação dos judeus não ocorre independentemente da dos
gentios, mas concomitantemente a isso.
Por fim, se a reunião de um número pleno de gentios tem lugar ao longo
da história, há razão para duvidar que o mesmo também seja verdadeiro quanto à
reunião dos judeus. De fato, no vs. 31 Paulo especificamente declara que os
judeus “agora foram desobedientes, para que igualmente eles alcancem
misericórdia, à vista da que vos foi concedida”. Essas observações claramente
indicam que Paulo aqui não está apresentando uma ordem de dispensações
sucessivas, mas uma promessa de interrelação dinâmica entre a salvação de
Israel e a da Igreja.
O equivocado pressuposto de dois povos com dois destinos em grande
medida deriva de uma teologia de desprezo para com os judeus, antes que do
ensino bíblico de um rebanho, um pastor, e um destino. O Novo Testamento
freqüentemente fala dos judeus em cotejo com os gentios, nunca ensina ou deixa
implícito que Deus tenha em mente um futuro separado para Israel distinto
daquele planejado para os gentios. Há uma unidade existente entre Israel e a
igreja. Na Nova Jerusalém estão inscritos tanto os nomes das doze tribos de
Israel quanto os nomes dos doze apóstolos, os primeiros nas doze portas e os
últimos nos doze fundamentos (Apo. 21:12, 14). A Igreja e Israel assim
compartilham não só da mesma salvação presente, mas também da mesma
glorificação e restauração finais. O futuro de Israel é visto no Novo
Testamento, não em termos de um reino milenial político na Palestina, mas em
termos de bênção eterna compartilhada com os remidos de todas as eras numa
nova terra restaurada.
Conclusão. À luz das considerações anteriores concluímos que o
ensino popular promovido por “Left Behind” [deixado para trás, um popular
filme religioso e série de livros de ficção escatológica] de um
desaparecimento súbito de milhões de cristãos, deixando para trás uma massa de
judeus descrentes e pessoas não convertidas, é uma ficção enganosa e não uma
verdade bíblica. A popularidade desse engano pode ser atribuído à falsa
premissa de que os crentes serão poupados de sofrer a tribulação final.
Numa época em que as pessoas engolem toda sorte de analgésicos para
evitar ou aliviar a dor, não surpresa que muitos estejam dispostos a engolir
também o engano de uma Arrebatamento pré-tribulacional-um ensino que promete
às pessoas isenção do sofrimento da tribulação final. Tal ensino atraente,
contudo, não carece apenas de suporte bíblico, mas é também incriminatório do
caráter de Deus. Retrata a Deus como um Ser discriminador que dá tratamento
preferencial à Igreja removendo-a de sobre a Terra, antes de despejar a
tribulação final sobre os que são deixados para trás.
“Left Behind” [deixado para trás] posiciona a conversão de muitos
descrente durante a tribulação-um ensino alheio à Bíblia. Repetidamente o
Apocalipse afirma que aqueles que experimentam as pragas finais “não se
arrependeram de sua obras” (Apo. 16:11; 16:9). Ademais, destrói a unidade e
finalidade da Vinda de Cristo, apresentada nas Escrituras como um evento único
que ocorre após a Grande Tribulação. Nessa ocasião os santos adormecidos serão
ressuscitados, os santos vivos serão transformados, os crentes de todas as
eras se reunirão com o Senhor, e aqueles que são deixados para trás “sofrerão
penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor” (2 Tess 1:9).
Não haverá uma segunda chance para os que são deixados para trás por
ocasião da vinda de Cristo, porque o fogo purificador de Sua presença
consumirá todos os pecadores e todo o vestígio do pecado: “Virá, entretanto,
como ladrão o dia do Senhor, no qual os céus passarão com grande estrondo e os
elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem
serão atingidas” (2 Ped. 3:10). Nossa bendita esperança repousa não sobre a
ficção de desaparecer subitamente no espaço, mas na promessa do retorno de
Cristo para criar “novos céus e uma nova terra nos quais habita a justiça” (2
Ped. 3:13).
Leia mais: Referências:
Fonte: http://www.azenilto.com/59aARREBATA.html Leia mais: |
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