"O Mundo e a Igreja" -- Excelente Artigo Publicado pela Revista Adventista!
Publicado na Revista
Adventista, em Janeiro de 1964, págs. 3 e 4.
Faz anos li, em forma de poesia, numa revista além-mar, uma interessantíssima alegoria objetiva, na qual Cristo e Sua igreja são exibidos como um par feliz de noivos e o mundo como namorado que consegue seduzir e furtar a noiva. Como a parábola apresentada é sumamente empolgante e extremamente útil à igreja da atualidade, passo a reproduzir aqui, adaptada e resumidamente, a tragédia da história. Andavam em tempos idos a igreja e o mundo bem distantes e separados um do outro. Em certa altura do tempo, o mundo cantava uma canção divertida e alegre ao passo que a igreja cantava um hino religioso sacrossanto. Não tardou que o mundo, traiçoeiro e sedutor, se fosse aproximando da imaculada igreja com lisonja e sorrisos, dizendo: - “Igrejinha, vem, anda comigo dá-me a tua mão”! Entretanto, a santa virgem de Cristo solenemente respondeu: - “Não! Nunca to darei a mão de comunhão e jamais andarei contigo; tua estrada é o caminho da perdição e tuas obras são todas falsas e enganadoras”. - “Deixa teu fanatismo, igrejinha vem e anda comigo, pelo menos um pouquinho só, disse o mundo, com ar de aparente sinceridade. A estrada na qual eu ando é espaçosa, larga e divertida. Tua estrada é estreita espinhosa e solitária. Tua sorte é triste, andas sozinha, e desamparada estás de todos. Eu vivo alegre, cercado de prazeres e muita gente. Vem, bela igrejinha, anda comigo, sê camarada e sociável. Em minha estrada há espaço para mim e para ti. Achega-te e andaremos juntos, passo a passo, ombro a ombro, de mãos dadas”. Meio tímida, com remorso, a igreja se aproximou do mundo, cabisbaixa, e lhe deu, relutante, a mão gélida. O mundo agarrou-lha e caminhavam ambos juntos. Não demorou e o mundo cochichou, baixinho, aos ouvidos da igreja: - “Teu vestido é simples demais, fora da moda e sem encanto. Quem anda comigo deve andar como eu ando. Agradar-me-ias muito mais se usasses ouro, prata, pérolas, um pouco de pintura e vestidos mais justos e mais curtos. Teu cabelo comprido e desgracioso deves cortar e encrespar, e usar a elegante calça comprida. Sê alegre teus dias de luto passaram. Ninguém mais te perseguirá. De mais a mais, teus filhos necessitam de diversões, de festas, de passeios, de piqueniques e dos encantadores banhos em conjunto, nas praias.” Diante desta sugestão a igreja olhava para sua roupa simples e branca e olhava também para o mundo em seus trajes deslumbrantes, e corou de vergonha ao notar que os do mundo se riam de sua simplicidade. - “Pois bem,” disse a igreja:” Trocarei minha roupa branca e comprida por vestidos de seda, decotados, justos e curtos como o senhor gosta.” A roupa branca e simples da igreja começou a desaparecer e o mundo lhe deu jóias e luxuosos vestidos da última moda. Quando um piedoso cristão lhe chamava atenção ao seu exagero no adorno exterior, respondia com a máxima displicência: - “Que é que tem? Todos fazem o mesmo”. Cessou então a perseguição que a igreja antes sofrera, e foi convidada a festas, a políticas. Cessou o choro e o luto da igreja, porque ficara rica, querida e amada do mundo. - Tua casa é simples demais, disse o mundo à igreja. Eu te farei uma vivenda bela como a minha – com cozinha para festas e salões para diversões! Assim fez o mundo à igreja uma luxuosa moradia com tapetes, geladeira, rádio, televisão, revistas e novelas. Seus filhos e filhas, em dias de festas sociais, música e passeios substituíam, pouco a pouco, a oração e o jejum, e senhorinhas de rara beleza com seus encantos deslumbrantes como as sereias da antiguidade, inventaram os mais atrativos divertimentos. Nesse tempo o anjo da graça, voando por cima da igreja amante do mundo, disse: - “Eu conheço as tuas obras e a tua apostasia”. Com esta declaração a igreja ficou triste e, aflita, exclamou: - “Onde ficaram meus filhos?” Anelava agora salvá-los, ao ser informada de que eles haviam abandonado a religião e se achavam no baile, no cinema, nos clubes e na política. Outros estavam tão absortos na leitura de novelas, em programas de rádio e TV, que não mais tinham tempo, ou vontade, de assistirem aos cultos da igreja. Percebendo a situação aflitiva da igreja para salvar seus filhos, disse-lhe o mundo, em tom consolador: - ”Teus filhos não estão em perigo; eles apenas se divertem um pouco em esportes inocentes”. Consolada, a igreja se apoiava sobre o forte braço do mundo e continuavam na viagem da estrada larga. - “Vossos pregadores, de cabelos brancos são velhos e antiquados demais, disse, sorridente, o mundo à igreja. Eles assustam meus filhos com histórias horríveis. Falam do fim do mundo, do julgamento final, de sete pragas, de arrependimento, enfim, de assuntos impopulares. Eu mandar-vos-ei oradores modernos, jovens brilhantes, eloqüentes, divertidos, diplomados nas universidades, doutores e reverendíssimos, de fama mundial, que pregam que todos se salvam contanto que tenham fé em Deus. O Pai é misericordioso e bom. Pensas tu que Ele levaria um filho Seu ao Céu enquanto mandasse outro para o inferno?” Diante deste conselho a igreja chamou pregadores de fama mundial, dotados de capacidade rara, com meia dúzia de diplomas cada, e os velhos pegadores, encanecidos, que pregam a cruz, o arrependimento, a Lei de Deus, a oração e o jejum, foram despedidos dos púlpitos. O luxo e mamon entraram e sustentaram a igreja modernizada. - “Vós tendes dado demais para as missões e os pobres, continuou o mundo. Toma teu dinheiro e compra para ti mais alguns vestidos do último modelo. Meus filhos gostam destas coisas e se quiseres agradar deves andar como eles andam e vestir-te como eles se vestem”. Obediente aos reclamos do mundo a igreja apertou a argola da bolsa e, abaixando graciosamente a cabeça, disse: - “È verdade, tenho dado muito para a obra; agora vou cuidar também um pouco do meu próprio conforto”. Assim, fechou-se a porta ao clamor dos pobres a fim de não mais ouvir o choro dos flagelados e o lamento dos órfãos, e quando as viúvas passavam em pranto perto da janela, ela as despedia vazias com um: - “Deus os favoreça”. Deste modo os da igreja e os do mundo viajavam, juntos na estrada da vida e ninguém senão o divino Mestre que lê os corações podia distinguir entre o povo do mundo e os membros da igreja. Nesta altura dos séculos a rica igreja se assentou à vontade e murmurou de si para si: - “Rica sou e de nada tenho falta”. O mundo astuto, ouvindo-a assim falar, disse de si para si: - “É caída, é caída a igreja. Abandonou seu primeiro amor e fêz-se amante do mundo”. Nesse tempo o anjo da graça dobrou as asas para partir da igreja e nunca mais voltar, e uma voz da corte celestial, dAquele que está assentado sobre o grande trono branco, proferiu estas palavras: - ”Eu conheço as tuas obras e o que tens dito, mas não sabes que és pobre, cega, nua e miserável. Aconselho-te que te arrependas e voltes ao teu primeiro amor. Embriagada de orgulho e jactância, a imaculada virgem do Cordeiro tornou-se companheira do mundo. Sai dela, povo meu”. Caros irmãos e irmãs Adventistas do Sétimo Dia: Não é esta espetacular descrição alegórica da experiência da igreja apostólica, uma tremenda advertência para nós também? A história se repete. A igreja israelita se corrompeu com os gentios que deixaria ficar na terra santa. A igreja apostólica uniu-se, em matrimônio místico, com o mundo. Qual é, ultimamente, a tendência dos nossos jovens, e em geral, da nossa igreja? Importa ler Isaías 3:16-26 e Joel 2:12-17. |
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