Mulher também é culpada por ser estuprada, diz bispo mexicano
17/08/2000 19h34

da Reuters
na Cidade do México (México)

As mulheres também têm responsabilidade por abusos sexuais que sofrem, por causa da sua forma provocativa de se vestir. A afirmação foi feita pelo bispo de Guadalajara, Juan Sandoval Iniguez, nesta quinta-feira (17).

A declaração inflama ainda mais o debate sobre aborto depois de estupro no México.

Conforme relatou o jornal "Milênio", na opinião do bispo os ataques sexuais no México são resultado do fato de a sociedade estar sendo bombardeada por mensagens de sexo e violência.

"As mulheres devem assumir sua parte porque se vestem de forma provocante. Devem ser mais decentes e não encorajar a violência", declarou o bispo.

Os comentários do bispo da segunda maior cidade do México alimentaram a controvérsia sobre aborto que se apresenta ao presidente eleito Fox como um desafio político mesmo antes de sua posse, em 1o de dezembro.

O debate explodiu depois que parlamentares conservadores no Estado natal de Fox, Guanajuato, criaram uma lei que pode levar à cadeia vítimas de estupro que fizerem aborto.

O assunto dominou as manchetes de jornais e a discussão pública se generalizou depois que o governo de esquerda da Cidade do México propôs nesta semana tornar mais fácil para as mulheres fazer um aborto em circunstâncias especiais.

A lei federal mexicana proíbe o aborto, mas permite que ele ocorra em casos de estupro, sérios problemas médicos e defeitos congênitos potenciais. Apesar disso, o governo federal não tem sido capaz de forçar os Estados a cumpri-la.

Pesquisas têm mostrado que a maioria da população mexicana aceita o aborto em casos de estupro, apesar de 90% serem católicos. Muitas mulheres grávidas recorrem a arriscadas operações de aborto ilegal no México.

O assunto aborto tem aumentado a especulação sobre se o partido de Fox, o católico conservador PAN (Partido de Ação Nacional), vai procurar atenuar a estrita separação entre Igreja e Estado, que existe desde meados do século XIX.

Fox tem evitado se envolver, dizendo que não tem nada a fazer com a proposta do PAN em Guanajuato. Ele se tornou o primeiro presidente de oposição em 2 de julho, quando derrotou o PRI (Partido Revolucionário Institucional) que esteve no poder por 71 anos.

A controvérsia tem aberto uma profunda divisão nas atitudes entre o coração político do México, a capital, e o conservador interior. O México é uma nação de muitos países. O diário da Cidade do México, "Reforma", informou que uma pesquisa verificou que apenas 19% dos residentes na Cidade do México concordam com a punição ou proibição do aborto, enquanto no resto do país 34% responderam que aborto, não importa a razão, deveria ser proibido ou punido.

Fonte: Folha Online

 

Para entrar em contato conosco, utilize este e-mail: adventistas@adventistas.com