Final Feliz para 1999

Por Francini Ledur

 O final do ano é época de avaliar as realizações. Entender e encontrar meios de lidar com a frustração é uma boa alternativa para não se deixar abater pela tristeza e participar, sem medo, das festividades

As festas de fim de ano estão aí. É época em que não só o comércio prepara seus balanços, mas também as pessoas param para avaliar o ano que passou. Por conta dessas análises, muita gente acaba não comungando da alegria propagandeada pela sociedade. São pessoas que, mesmo não sofrendo de depressão, padecem com a tristeza de fim de ano. Alheias ao clima natalino e do Réveillon, elas se sentem sós e inseguras.

O sentimento em geral é passageiro, mas seguir dicas de especialistas pode ajudar a recuperar o espírito festivo. As brigas familiares, os apertos financeiros e as dificuldades profissionais, afinal, fazem parte da vida de todo mundo.

Para os especialistas, "depressão" não é a palavra adequada para esse sentimento. Afinal, a verdadeira depressão é uma doença caracterizada por um conjunto de sintomas, que não estão presentes nas pessoas que ficam tristes apenas nesta época.

Segundo o psicólogo Fabio Sager, pessoas com história de depressão podem ter os sentimentos de tristeza e perda aumentados. Por isso, devem ser acompanhadas neste período mais de perto por pessoas da família ou por profissionais de saúde. Como a tristeza não traz sintomas mais graves, não há pesquisas sobre o assunto. A análise dos especialistas se dá na observação clínica.

A causa principal para o surgimento da tristeza neste período é a contradição existente entre a euforia externa e o sentimento interior das pessoas. Enquanto os meios de comunicação falam de comemorações fantásticas, presentes caros, encontros familiares baseados no amor e no respeito, muitas pessoas estarão participando de celebrações simples, terão dinheiro apenas para pequenos presentes e verão familiares com quem as relações estão desgastadas ou mesmo celebrarão sem a presença de alguém querido que se foi.

- O que mais incomoda as pessoas é ter de deparar com a felicidade dos outros enquanto interiormente elas estão mobilizadas por tristezas - explica a psicóloga Renata Güenter.

A principal causa da melancolia é a contradição entre a euforia externa e o sentimento interior. Mas sempre é possível encontrar um jeitinho de driblar o problema. Na família do comerciante Donaldo Oriola, 64 anos, a perda de um irmão há quatro anos no mês de novembro alterou as comemorações natalinas. Ele e a mulher, Maria Alice, 58, contam que desde então, quando chega esta época do ano, sentem-se mais abatidos por causa da lembrança. Mas não deixam de celebrar e inventaram uma forma de contornar a situação.

- Nesta época, sentimos mais saudade. Na noite de Natal, quando toda a família está reunida, fazemos uma oração especial para reavivar a lembrança dele. Como temos certeza de que ele gostaria de estar comemorando conosco, fazemos a festa como sempre fazíamos - disse Donaldo.

O estresse do final de ano também colabora com esse sentimento. Shoppings lotados, pessoas impacientes, trânsito enlouquecido, necessidade de programar as férias, tudo parece conspirar para a irritação e o mau humor. O estresse pode levar a estados depressivos, assim como estados depressivos acentuam o estresse.

Para quem deixou as compras para a última hora - de novo - e não pode evitar as filas, manter-se calmo e controlado evita estresse desnecessário e até colabora para o verdadeiro "espírito de Natal".

Se ainda assim a tristeza surgir, entender o motivo é o primeiro passo para lidar com ela de uma forma saudável e tomar atitudes capazes de alterar o rumo da situação. Como é impossível passar incólume pelas festas, adotar posturas adequadas pode ajudar.

Para o psiquiatra Nélio Tombini, chefe do Serviço de Doenças Afetivas da Santa Casa de Porto Alegre e responsável pela Clínica Psicobreve, a melhor coisa que uma pessoa pode fazer para evitar sentimentos negativos durante o final do ano é não se forçar a fazer coisas de que não gosta por simples pressão social.

- Ela acaba se sentindo muito pior do que as outras pessoas, porque não consegue se alegrar. A pessoa que passa melhor o fim do ano é aquela que tem vínculos afetivos verdadeiros, quando ela sabe que não estará sozinha - afirmou Tombini.

Depressão X tristeza

Entenda a diferença entre os termos:

Depressão

  • É uma doença causada pelo desequilíbrio dos neurotransmissores cerebrais (serotonina, dopamina, noradrenalina), encarregados de fazer a transmissão das mensagens entre os neurônios e responsáveis pelas respostas adequadas do organismo a estímulos.
  • O desequilíbrio desencadeia sintomas físicos e psíquicos, que duram no mínimo duas semanas, mas podem permanecer por até dois anos ou mais.
  • É mais comum entre mulheres, devido aos hormônios, que colaboram com as alterações.
  • Pode ser desencadeada por perda do emprego, morte de algum familiar, incapacidade física causada por acidente, separação, divórcio, abandono, traumas de infância e amor não-correspondido.
  • Os principais sintomas são irritabilidade, perda do interesse e da motivação nas atividades diárias, desânimo, cansaço, indecisão, sentimento de medo e insegurança, idéia desproporcional de culpa, baixa auto-estima, dificuldade de concentração, baixa produtividade, diminuição da libido, alterações do apetite (come demais ou muito pouco), distúrbios do sono (dorme demais ou sofre de insônia), problemas de convivência familiar, crises de choro repentinas e sem motivo, dores e sintomas físicos (gastrintestinais, dor de cabeça, dores no corpo, pressão no peito) sem causas físicas e idéia de suicídio.
  • Uma vez diagnosticada, a depressão é tratada com medicamentos.

Tristeza

  • Não é doença, mas um sentimento.
  • Não é desencadeada por fator orgânico, mas pode ser gerada pelos mesmos motivos causadores da depressão.
  • É um sentimento temporário, diferentemente da depressão. Passado o período crítico, durante o qual o problema está sendo solucionado ou assimilado, a pessoa volta ao seu estado normal de humor.
  • É sazonal e geralmente está relacionado a certos períodos do ano, como as festas de fim de ano e os aniversários,
  • Há pequena influência sobre as atividades diárias.
  • O sentimento pode ser superado sem o auxílio de medicamentos.

Dados: psiquiatra Nelio Tombini

(Copyright 1999 Agência RBS)

Fonte: CNN Brasil

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