Revista Adventista Denuncia "Esquema" e "Armação" na Eleição e Reeleição de Líderes da IASD
Não é na edição de dezembro de 2002 da Revista Adventista. Já faz algum tempo. Foi em fevereiro de 1998 e nesse número tem também um pequeno artigo escrito por minha filha do meio, a Evellyn, que na época tinha 14 anos. O artigo-denúncia a que me refiro - Traído Pelos "Amigos" - foi escrito pelo Pastor Rubem M. Scheffel, com quem tive o prazer de trabalhar na redação da Casa Publicadora Brasileira, na década de 80. Imagino que, como a edição de fevereiro costuma ser "fechada" (concluída, na Redação) em dezembro, quando há outros trabalhos acumulados, uma vez que parte dos redatores também tira férias no começo do ano, o redator-chefe Rubens Lessa deve ter deixado escapar esse atestado público de politicagem na IASD. Pode ser também que o texto passou despercebido porque naquele tempo ainda não havia tanta preocupação da chefia em não fornecer "munição" para os sites de oposição. De qualquer modo, o texto saiu, denunciando a armação de esquemas para eleição ou reeleição de líderes nos, assim chamados, "nossos arraiais". Um texto-bomba, que oficializou aquilo que sempre se comentou à boca pequena sobre os bastidores da política denominacional. É mais um documento que o Adventistas.Com resgata para você, com um duplo objetivo: (1) Positivo - Demonstrar que nem todos os redatores da Casa Publicadora Brasileira são coniventes com o esquema de promoção e divinização da liderança e, conseqüente, demonização daqueles que dela discordam. Há os assessores de imprensa sacros, que atuam como garotos de recado da chefia de redação e da Organização superior. Em alguns momentos, eu mesmo me senti um deles quando estive lá na central de propaganda e ufanismo da IASD. Mas há homens sérios e, embora humanos, que não se deixam dobrar definitivamente e, ainda que pisando em ovos, sempre que podem, encontram um jeito de dizer o que precisa ser dito. Cito três que conheci pessoalmente, Rubem Scheffel, Márcio Guarda e Ivacy Furtado, mas podem existir outros. (2) Negativo - Confirmar através de um texto de uma publicação oficial que existem, de fato, esquemas para eleição e reeleição de líderes da IASD. Não é verdade que o Espírito de Deus se faça presente e dirija o resultado de todas essas reuniões, porque os políticos denominacionais O entristecem com suas práticas desonestas e O obrigam a retirar-se do recinto. O artigo fala especificamente da revolta de candidatos que se sentem traídos por "amigos" que prometeram votar neles nessas ocasiões, mas, ainda que não haja reclamação de "traição" pelos perdedores, nenhuma garantia temos de que decisões aparentemente unânimes e obtidas em ambientes e programações teatralmente montados para reforçar a ilusão de que vivemos numa teocracia, recebam o sinete da aprovação divina. No recente caso da Associação do Espírito Santo, por exemplo, já havíamos publicado o provável resultado com alguns dias de antecedência. -- Robson Ramos. Traído Pelos "Amigos" Rubem M. Scheffel No final de 1984 a Aliança de Renovação Nacional (Arena) realizou a sua convenção para indicar o candidato do partido à presidência da República. Mário Andreazza, então Ministro do Interior, após contabilizar as promessas de votos dos amigos, ficou certo de que seria o indicado. Mas as coisas não saíram como ele esperava, e Paulo Maluf conquistou a maioria dos votos dos convencionais. Andreazza visivelmente emocionado e decepcionado, levou a mão ao peito, que doía, e queixou-se amargamente de ter sido "traído" por seus amigos. Em nossa história denominacional temos também ouvido falar de alguns casos de "traição", tanto nas extintas Bienais e Quadrienais, como nas atuais Trienais e Qüinqüenais. Quase invariavelmente quando o postulante a um cargo administrativo não é eleito ou reeleito, queixa-se de traição. O problema nunca está com ele. Está sempre com os "outros", que "são falsos, não têm hombridade, e não honram a palavra". Tivemos o caso notório de um administrador que permaneceu no cargo por muitos anos, e quando finalmente foi substituído em vez de aceitar com humildade a decisão da Mesa, queixou-se de "traição". Ora, procuremos analisar sem paixão, e com a cabeça fresca, essa postura. Em primeiro lugar, quando um candidato derrotado declara ter sido "traído", está também deixando claro que, por trás dos bastidores, havia um esquema que não funcionou. É óbvio. Pediu o apoio de um e outro, contou nos dedos os votos prometidos, e cantou vitória. Depois, o coração que agüente. Mas é bom lembrar que temos normas que condenam essa prática, e que infelizmente nem sempre são seguidas. Creio que faria bem ler de novo essa recomendação saudável: "Cada delegado deve ser suscetível à direção do Espírito Santo, e dar seu voto em harmonia com suas convicções pessoais. Qualquer oficial de igreja ou de Associação/Missão, ou dirigente, que tentasse arregimentar os votos de um grupo de delegados ficaria desqualificado para o exercício do cargo." -Manual da Igreja (1996), pág. 133. A observância dessa orientação, além de ser um bom exemplo, certamente contribuiria para prevenir futuros problemas cardíacos. Em segundo lugar, o candidato "traído" parece não se dar conta de que não é confiável arrancar promessas de seus subordinados. Chega a ser ridículo imaginar o seguinte diálogo: ― Pastor, estou contando com o seu apoio na próxima trienal - diz o candidato a um de seus obreiros. ― Pois não conte, meu irmão. Meu voto irá para outro! Alguém já viu isto acontecer? Seria pretender franqueza demais de um delegado! O mais comum é o pretendente ouvir, com um sorriso nos lábios, a seguinte resposta: ― Estou com o senhor e não abro. Depois vota contra. É que prometeu sob pressão. É quase o mesmo que fazer uma confissão sob tortura - não é confiável. Por isso, os "traídos" não têm do que se queixar. Se houve "traição" é porque também houve armação. Armaram um esquema, induziram os seus subordinados a fazerem falsas promessas, e agora colheram o que semearam. É tiro e queda. Temos um ótimo sistema parlamentar que procura aliar teocracia com democracia, em que Deus deveria dirigir a Sua igreja através da livre atuação dos seres humanos. O problema é que muitas vezes não damos liberdade, nem para a atuação divina nem para a humana. Queremos impor nossa vontade e ainda assim dar a impressão de que estamos sendo democráticos. Eleger um dirigente, na Obra de Deus, tem lá as suas semelhanças com a eleição de prefeitos, governadores e presidentes. Alguns eleitores votam egoisticamente naquele que poderá ser melhor "para mim e para minha familia". Votam pensando nos seus interesses pessoais. Outros, analisam as qualificações dos candidatos, e votam conscientemente naquele que poderá administrar melhor; e assim trazer um bem maior à comunidade. É verdade que não se pode garantir de antemão que aquele que parece ser o melhor; fará um bom governo. Ou que aquele que, do ponto de vista humano, parece não ter a mínima condição, fará um mau governo. Temos tido surpresas, tanto na política como na história do povo de Deus. No caso da escolha de Davi, a história bíblica revela que nem o próprio pai apostava nele. Fez desfilar diante do profeta Samuel todos os filhos que pareciam ter condições de reinar sobre Israel, menos Davi. Até o profeta Samuel se enganou, quando viu Eliabe, o filho mais velho de Jessé, e pensou estar diante do ungido do Senhor. "Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior; porém o Senhor; o coração." 1 Samuel 16:7. Nossa incapacidade de ver o coração, deveria ser motivo suficiente para invocarmos o auxilio divino na escolha de nossos líderes. A amarga experiência de Mário Andreazza não deveria se repetir em nossas trienais. Vamos deixar que o Espírito Santo opere livremente em nossos delegados, indicando o "homem certo para o lugar certo". E aceitar com abnegação o resultado. Então não haverá mais nem traidores nem traídos. Porque a vontade de Deus terá prevalecido. -- Rubem M. Scheffel, editor de livros da Casa, na Revista Adventista de fevereiro de 1998, pág. 38. |
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