A Carta que o Pastor Rubens Lessa NÃO Irá Publicar na Revista Adventista em 2004

 

Ilmo. Sr.
José Barbosa
Membro da IASD do Parque Alvorada
Teresina – PI

 

Caro Irmão:

No editorial da R.A. de dezembro, “Minha igreja está crescendo...” o pastor Lessa nos chama de irmãos e pergunta: “O que você e eu poderíamos fazer para melhorar o ambiente dessa família?” e responde: “devemos sentar-nos em volta da mesa e conversar com maturidade” ... “aceitemo-nos como somos e ajudemo-nos uns aos outros em nossas necessidades”.

Já que o pastor Lessa quer que dialoguemos com maturidade, proponho uma conversa franca. Deve ser pública, já que o irmão publicou suas idéias em uma revista de circulação nacional, e estas idéias prejudicam muitas pessoas. Vamos aceitar o sábio conselho do pastor Lessa e conversar com maturidade, sem ofensas. Para facilitar o clima de confiança e fraternidade, farei uma pequena apresentação.

 

(curriculum)

Sou membro da IASD desde o nascimento, e membro regular desde o batismo, há mais de 30 anos. Nunca fui disciplinado nem dei motivos para tal (o que não quer dizer nada, mas, há quem dê valor a isto). Sempre fui muito ativo na igreja, ocupei vários cargos (às vezes vários de uma só vez) sempre fiz tudo o que me foi designado fazer, sem rejeitar nenhum trabalho. Já fiz centenas de sermões. Sempre apoiei o trabalho do pastor das igrejas nas quais fui membro, e sempre os obedeci e respeitei mesmo quando não concordava com seus métodos. Já trabalhei na organização em cargos de confiança e liderança. Fui médico-missionário em outras Uniões e no exterior.

(pedigree)

Sou neto de adventistas. Há dois anos, em uma reunião de confraternização de meus avós, um de meus tios, na época presidente de Associação, observou o fato de aquele casal ter dado à Obra mais obreiros que todos os que ele possuía então em seu campo. Eram 4 pastores na família, porém não estava nos planos de Deus que 3 deles estivessem aqui para ver as duas últimas capas da RA.

(credo):

Creio que na IASD há uma grande maioria de membros fiéis, honestos, trabalhando pela causa da verdade. Não creio que a Igreja Adventista tenha deixado de ser a igreja de Deus, e nem acho uma boa idéia sair da mesma. Por favor, ninguém leia nas minhas declarações nada além do que afirmei. Esta apresentação não está completa, mas é apresentação, não biografia.

 

Para começar o diálogo, irmão Barbosa, vou comentar seu artigo...

Foi muito bem escrito. É bem claro, suas idéias e argumentos são facilmente compreendidos. Nota-se também, e isto é importante, que o irmão acredita no que escreve.

Na mesma revista, o teólogo José Carlos Ramos, no artigo “Obras da carne: como vence-las?” Dá uma aula de grego e explica complicadamente cada “obra da carne”. O apóstolo Paulo resumiu-as em palavras, fáceis de entender. Idolatria, prostituição, discórdias... mas, fazendo jus ao conceito de que teólogos são especialistas em complicar o que é fácil, ele derrama sobre nossas cabeças um monte de  methai, methu, komoi, thymoi e “echtharai, que é da mesma raiz de echtos”, (este, sempre presente em seus escritos). Aquele grego todo era apenas pretexto para condenar à perdição os que não crêem na Trindade e chamá-los de obstinados, insensatos e infelizes.

Aliás, em seu famoso artigo “Sinagoga de Satanás”, o douto teólogo usou o mesmo expediente, uma página inteira explicando em grego o que quer dizer sinagoga, para só então, após impressionar os leitores com seu profundo conhecimento, dizer a que veio. Essa sua característica, de dar tantas informações que não levam a nada antes da informação que interessa, faz lembrar a antiga rádio relógio federal, que entre um anúncio da hora e outro, informava o tamanho do bico dos flamingos e a quantidade de sardinhas que um tubarão devora em um ano.

Mas o seu artigo, caro irmão Barbosa, tem o mérito de não dar voltas, vai logo ao que é importante.  Assim que vi um tema de capa escrito por um leigo, preocupei-me com o doutor Amin Rodor. Pois este, há poucas semanas, veio aqui em meu Estado reclamar que pessoas que não são teólogos se metem a escrever sobre religião. Disse que ninguém resolve virar médico e sai por aí operando os outros de qualquer jeito, mas que certas pessoas, sem estudar teologia, ficam escrevendo sobre religião. Gostaria muito de saber a opinião dele sobre o seu artigo.

 

O que dirá o Rodor?

Confirmará sua opinião de que os leigos não devem escrever sobre religião e fará uma carta censurando a RA? Ou concordará com seu artigo? Se concordar, teríamos o caso, então, de que escrever pode, desde que seja a favor deles? Leigos podem pensar, sim, desde que só pensem o que os teólogos já pensaram antes?...

Estive vendo no site da faculdade de Teologia onde o doutor Rodor trabalha, que o ataque aos “dissidentes” virou tema de semana de oração. Este termo “dissidente”, até onde sei, foi trazido à tona pelo Rodor. Parece que o ilustre reitor se crê divinamente comissionado para perseguir os hereges. Sim, estudantes de história sabem que isso não termina bem...

Para os menos informados, esta movimentação contra o movimento leigo e “em defesa da Terceira Pessoa da Trindade” pode parecer uma romântica cruzada de nobres cavaleiros, viajando em cavalos brancos empunhando bandeiras tingidas com o sangue de Cristo.

Mas, senhor Barbosa, o que há de nefasto, vergonhoso, até ridículo, nisto tudo, é que os chamados “dissidentes”, não são dissidentes. São excluídos!

A igreja oficial, esta que eu e você amamos, foi lá em Poá, e os humilhou. A nossa igreja mentiu, e mentiu de forma oficial, registrada em cartório. O que os nossos representantes fizeram lá foi uma lambança só. Ali não havia discordância doutrinária, era apenas uma disputa de poder. Foi só ali que a igreja errou? Não. Tenho minuciosamente documentadas outras ocasiões onde a igreja destruiu pessoas, arruinou famílias, causou terrível sofrimento. E as instâncias superiores foram comunicadas, o pedido de socorro foi feito, mas todos se calaram com medo.

 

E o que os nossos irmãos fazem?

Prestam solidariedade. Dizem que estão orando. “Estou orando pelo irmão, mas não posso fazer nada, sabe, tenho um parente que trabalha na obra...” Enfrentar o crime organizado, a corrupção administrativa, ninguém ousa. “No devido tempo, Deus há de intervir”, dizem eles. Mas quando são chamados para disciplinar a filha do zelador da igreja, aí sim, dizem, “não devemos fazer vista grossa a pecados positivados”. Filho de pobre tem julgamento sumário. Filho de “rico” (conceito laodiceano), tem advogados, não sofrem disciplina, e ainda escrevem para o adventistas.com criticando o site.

Voltando a Poá, origem do mais conhecido movimento leigo.

Embora muitos de nossos irmãos discordassem do que acontecia, ficaram calados, com medo de represálias. Quantos artigos, notas, ou mesmo cartas, foram publicadas na Revista Adventista a respeito do assunto? Nada! Claro, eles não mereciam atenção, são uns pés-rapados. Mas, como sobreviveram, como seus rapazes não foram roubar, as moças não foram se prostituir, e sim permaneceram adorando a Deus com reverência, tome artigos e mais artigos contra eles!

Valentes, firmes em “defesa da fé”, nossos heróis teólogos escrevem artigos contra os “dissidentes”. À frente do exército, empunhando suas espadas, o teólogo exterminador de dissidentes e o teólogo rádio-relógio conclamam os crentes para abominar e desprezar os hereges. “Todos em compasso com o tambor da revelação!”, grita um. “Salvação, só dentro do barco, os que saem são a palha, a escória!” Empolgado pelo grito de guerra, o outro complementa: “cês vão morrer, seus ignorantes e infelizes...” e então, explica, que o vocábulo morrer vem do grego, “baterasbotas”, ou, no latim, “foiprascucuias”.

E a multidão os seguirá com prazer! Nada de abandonar o barco, só o barco salva. Quem está dentro, está seguro. O importante é ficar dentro da peneira, conclui meu amigo Barbosa, que parece não ver que estão jogando pessoas para fora “na marra”. Perseguem, ofendem, e depois, excluem. Em seguida, os santos de dentro da peneira vêem os que se esborracharam no chão e dizem com ar piedoso, “Vocês não deveriam ter saído, só a peneira (ou o barco, ou a igreja) é que salva”.

É o máximo da hipocrisia institucional, farisaísmo e pouca-vergonha teológica.  Tanto repetem e repetem e repetem a mesma mentira que ela acaba parecendo verdade. Dizem todos, (isso o inclui, irmão Barbosa?), que não se pode criticar, que não se pode tentar mudar o que está errado na igreja, que segundo a profecia o joio deve crescer junto com o trigo, etc. Mas são exatamente estes mesmos que perseguem, maltratam e excluem os outros!

Quando se trata dos pecados deles, dos grandões, o joio deve permanecer junto com o trigo. Quando é pecado dos contribuintes pequenos, fora com eles. Disciplina neles.

 

Digam-me, teólogos de meia tigela:

Se o joio deve permanecer junto com o trigo, por que vocês excluíram a igreja de Poá? Se o joio deve permanecer junto com o trigo, porque excluem os que são sinceros (e corajosos) o suficiente para admitir que não crêem na Trindade?

Vejam, estou usando os critérios de vocês, e considerando os que querem adorar a Deus de joelhos e/ou os que não crêem na Trindade como joio. Pois mesmo usando seus próprios critérios, vocês continuam errados. Hipócritas! Vamos, respondam!

Se os que querem “consertar” a igreja estão errados, pois o trigo deve ficar junto com o joio, por que vocês têm o direito de excluir? Quem os autorizou a julgar o que é joio, e quem os autorizou a arrancá-lo? Pois é o que fazem, julgam, sem dar direito à defesa, arrancam, depois saem contando vantagem.

Segundo você diz, caro irmão do Piauí, “a liderança da congregação local não deve fazer ouvidos moucos ou vista grossa a casos de pecados positivados”. Quer dizer, a liderança, os de cima, devem punir os de baixo quando em pecados positivados. Mas e os pecados positivados dos de cima? Pecados positivados, filmados, gravados, escritos... Para os de cima não há punição! Nem ser criticados eles podem!

Perdão, irmão José Barbosa, me empolguei no discurso. Mas não dá para tratar deste tema sem emoção ou sentimentos. Estou dentro do barco, como você. Estou bem confortável, em um camarote, tomando champagne “allegra”, da Superbom (sem álcool, mas 7 reais a garrafa!)...

Embora o irmão escreva de modo fácil de ser entendido, parece que o editor da RA e seus assessores não leram bem seu artigo antes de publicá-lo.

 

Ora, para que servem os editores?

Veja o que fizeram. Embora o irmão não tenha obrigação de entender teologia, eles têm. E deixaram, novamente, o irmão cair no mesmo buraco que o Rodor.

Primeiro, chamar de dissidentes os que não são dissidentes, mas sim, excluídos à força e com maldade. Como é praxe da imprensa oficial atacar a oposição sem nomeá-la, (o que é um jornalismo sem ética, mas serve para “fazer a cabeça” dos membros), seu artigo será lido neste contexto, os irmãos do interior do Piauí, que não têm internet, vão pensar que realmente as pessoas estão saindo porque querem.

Depois, interpretar as profecias do Apocalipse com uma rigidez tal que parece estar lendo receita de bolo. Veja, caro irmão, segundo os teólogos de verdade que fizeram o Comentario Biblico Adventista del Séptimo Día, baseado em Testemunhos para a Igreja  pág. 77, é de que “El mensaje de Laodicea se aplica a todos los que afirman que son cristianos”.

As sete igrejas são sete períodos do cristianismo; obviamente, não dá para sairmos deste período e ir para um outro sem uma máquina do tempo bem equipada. Mas daí a dizer que só os que estão dentro da igreja é que serão salvos, ou que Deus é obrigado a engolir a igreja do Lessa não importa o que ela faça, é forçar demais uma interpretação da linguagem simbólica do Apocalipse.

E, minha nossa senhora do Apocalipse, pelas barbas do profeta e pelos bigodes do Rodor, veja o que os revisores deixaram escapar! Sua interpretação de Amós 3:7 foi além da mania do pastor Lessa de ser Jesus e do doutor Amin de controlar Deus. Agora, Deus só poderá fazer algo diferente da interpretação oficial da igreja se primeiro comunicar a Ellen White?

 

O que é isso, Barbosa!? Maktub!

E, conforme observado por outro colaborador deste site comentando seu artigo, meu caro amigo, o que você fez com Ellen White? Começou bonito, dizendo que seus escritos devem ser olhados em seu contexto, respeitando o tempo, o lugar e as circunstâncias. Parabéns. Mas este contexto só serviu para relativizar as reprovações à igreja! Na hora de garantir à igreja imunidade, que mesmo que continue morna não poderá ser vomitada, nesta hora vale EGW ao pé da letra, mas só os textos que interessam. José, meu irmão, e a prova definitiva de que não haverá outra igreja remanescente? Onde está o “assim diz o Senhor”? No item sete de seu artigo, “Não surgirá outra igreja remanescente”, a prova não é um “assim diz o Senhor”, mas um “assim disse o William à Sra. Scott que ouviu a mamãe dizer que...”

Quer dizer, as reprovações à igreja, quando a situação mudou, deixaram de ter validade. Ponto para o condicionalismo. Mas depois, as garantias à igreja, os elogios à igreja, estes não podem mais ser mudados respeitando o tempo, o lugar, as circunstâncias. Depois da morte de EGW, nada mais acontece na igreja. Tudo permanecerá congelado até o final dos tempos, inclusive, nenhum dom profético, Joel que vá se entender com Amós. Sei que estou repetindo os argumentos de outro colaborador deste site, mas, talvez seja necessário, afinal, vocês, do lado de lá, fizeram o mesmo, dois artigos de capa repetindo a mesma coisa.

Em resumo, seu argumento foi que, a situação estava ruim, EGW reprovou. Melhorou, ela tirou a reprovação. É tão claro, tão cristalinamente óbvio, então, que se a igreja voltar a piorar, ou piorar mais que no início, receberá repreensão e reprovação novamente, inclusive rejeição dependendo de sua conduta.

Você cometeu um erro de raciocínio terrível, meu caro Barbosa.

 

Agora, por que os editores não lhe ajudaram?

Outro dia, escrevi algo que não parecia muito lógico, e o editor deste site educadamente me alertou, caso eu quisesse fazer alguma modificação antes de publicá-lo. Pois aí, não tiveram esta consideração com você. Publicaram um erro monumental! Você compara uma época antiga, onde havia necessidade de reprovação, com outra, onde já não havia, e, dando um chute na razão e na lógica, conclui que, desde a morte de EGW, a situação não mudou mais...

É mesmo? Acho que sim. Hoje há muito menos risco de que a igreja se corrompa que nos dias de Ellen White. Nosso mundo está muito melhor que no tempo dela. Naquela época, as pessoas vestiam-se a caráter para ir ouvir Mozart, e isto era pecado. Hoje assistem João Kleber e Gugu, coisa muito melhor!  Naquela época, as moças se vestiam com saias que limpavam o chão, uma pouca-vergonha. Hoje, em Guarapari... (acho que isso pode criar a polêmica errada), na televisão, na internet, mal se vêem os tornozelos das virgens. A política também melhorou muito. Naquela época, tínhamos Rui Barbosa. Hoje, temos Jader Barbalho. Quase não há corrupção, crimes, roubos...

Pois bem, e os líderes religiosos de hoje? Claro, acompanhando os tempos, têm muito mais chance de serem honestos e sinceros que nos tempos de Tiago White e José Bates. Pois é, naquela época, houve ocasião que a igreja precisou ser repreendida. Hoje, com certeza, não há. Nossos líderes são muito melhores que os de antigamente.

 

Caro irmão, há muitas outras coisas para conversar...

Mas talvez seja hora de esperar uma resposta. Diálogo é assim! Não sei se é isso mesmo que o pastor Lessa propôs, pois em seu feudo, o diálogo é só um falando e os outros ouvindo, quem discorda é eliminado. Mas talvez ele tenha proposto mesmo que conversemos.

Sei que será difícil o irmão escrever para este site, ainda mais que um certo Sarli escreveu para cá chamando todos de palhaços. Segundo ele, de vez em quando acessa o site para rir um pouco, o que nos deixa a todos muito felizes. Aliás, ele ri três vezes; uma, quando lê, outra, quando explicam para ele, e outra, quando finalmente entende.

Voltando ao nosso assunto, eu sinceramente concordo com você, de que não é “sensato formar uma nova organização ou sair em busca de uma que estivesse sob o favor divino”. Creio firmemente que nenhuma outra organização, nem mesmo uma nova, formada só por gente honesta, poderia me salvar. Mas também não creio que a IASD possa me salvar, e também não creio, como afirma enfaticamente o doutor rádio-relógio, que preciso crer na personalidade pessoal do Espírito Santo para ser salvo, e nem que preciso descrer.

Aliás, homens religiosos em geral, eu não preciso crer em nenhum de vocês para ser salvo, nem em qualquer ordem religiosa que porventura exista ou venham a criar.  Se eu for ser salvo, embora não mereça, serei por Alguém que deu a vida para salvar a todos, inclusive os palhaços, os dissidentes, e até mesmo os teólogos inquisidores, se eles aceitarem o convite e abrirem a porta. -- Tales Fonseca

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