Reformistas Tentam Defender a Doutrina da Trindade, Mas Concluem que Precisam Estudar Mais o Assunto

 

O debate acerca da doutrina antibíblica da Trindade, que hoje sacode as fileiras da Igreja Adventista do Sétimo Dia, preocupa também a liderança do chamado Movimento de Reforma. O conhecido escritor A. Balbach até já lançou um obra de cunho preventivo em relação ao problema, intitulada Considerações Sobre a Divindade, cuja tradução em português estamos disponibilizando na íntegra, acompanhada desta análise, que procura expor a fragilidade, incoerências e indefinição da IASD-MR, sem considerar se teria havido ou não má fé na exposição de pensamentos feita pelo autor.

Inicialmente, Balbach afirma que as informações bíblicas acerca de Deus são suficientes para nossa salvação. Em seguida, amplia a fundamentação de sua pesquisa, assumindo o compromisso de apegar-se unicamente ao que está escrito sobre o assunto na Bíblia e nos livros da Sra. White.

Surpreendentemente, porém, começa imediatamente a citar livros de História, decisões de Concílios da Igreja Católica na definição da doutrina da Trindade e até idéias de Karl Barth e outros teólogos contemporâneos, além de pontos de vista católicos modernos. Esta é, pois, sua primeira grande incoerência!

Em segundo lugar, surge uma estranha argumentação que propõe um combate apenas aos "aspectos errôneos" da crença trinitariana. "Uma doutrina que não pode ser totalmente certa pode não estar totalmente errada", escreve A. Balbach. Em outras palavras, o escritor sugere que percamos tempo analisando uma doutrina que mistura verdade e erro, ainda que isto seja uma demonstração clara de que é de origem satânica. Pois, segundo a revelação, esse é um dos meios mais eficazes que o diabo utiliza para confundir e enredar o ser humano.

Para nossa maior surpresa, o livreto revela existir bom relacionamento entre a liderança do Movimento da Reforma e a liderança da IASD, a "Igreja Grande", a quem acusam por desvios doutrinários e por desatenção aos planos divinos. Ora, se a IASD está sob o desagrado divino, como ensinam e demonstram os reformistas, como pôde o ilustre escritor confiar em informações do Instituto de Pesquisa Bíblica, de Silver Spring, MD, ou mesmo acreditar no que disse o tendencioso LeRoy E. Froom? É, no mínimo, curioso que a IASD-MR se una à IASD ("Igreja Grande") para defender uma doutrina de origem católica.

Balbach se apropria da conhecida argumentação adventista em defesa da mais ecumênica de todas as doutrinas ditas "cristãs". E a partir daí, procura descredibilizar os pioneiros do movimento adventista, atribuindo a posição antritinitariana apenas a uns poucos líderes, como James White e Urias Smith, como se estes servos de Deus expressassem apenas opiniões pessoais ao redigir vários textos contra a Trindade, os quais foram divulgados em publicações oficiais da denominação.

Observe a maneira dúbia como o assunto é tratado: "Se alguns dos pioneiros escreveram artigos rejeitando a doutrina católica da Trindade, fizeram uma boa obra. Mas devemos ter em mente que seus escritos não estavam isentos de erro doutrinário. Portanto, não podemos acatar todos os seus pontos de vista como verdade evangélica." Elogia para, em seguida, rejeitar!

 

Fé dos adventistas pioneiros

James White escreveu tanto estes parágrafos reproduzidos logo abaixo, quanto o texto original de nossas crenças fundamentais (1872), mais tarde atualizado por Urias Smith e também reproduzido parcialmente a seguir. Mas Balbach trata-os como se representassem diferentes visões acerca de Deus, escritas por diferentes pessoas.

São parágrafos de artigos de James White para a Review and Herald, publicados em setembro de 1854 e em fevereiro de 1856:

Como erros fundamentais, precisamos classificar com o sábado falso outros erros que os protestantes trouxeram da Igreja Católica, tais como o batismo por aspersão, a trindade, a consciência dos mortos e a vida eterna em miséria. As massas que têm mantido esses erros fundamentais, têm-no feito sem dúvida em ignorância; mas pode-se supor que a igreja de Cristo prosseguirá com esses erros, até as cenas do juízo se revelaram perante o mundo? Julgamos que não. “Aqui estão [no período de uma mensagem dada pouco antes que o Filho do homem tome o Seu lugar sobre a nuvem branca, Apoc. 14:14] os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus”. Esta classe, que vive antes do segundo advento, não estará conservando as tradições dos homens, nem apegando-se a erros fundamentais relativos ao plano de salvação mediante Jesus Cristo.

E segundo a luz brilhe sobre estes assuntos, e é rejeitado pela massa, então a condenação virá sobre eles. Quando o verdadeiro sábado é apresentado aos homens, e as reivindicações do quarto mandamento lhes forem instadas, e rejeitarem esta santa instituição do Deus do céu, e escolherem em seu lugar uma instituição da besta, pode então ser dito, no sentido mais pleno, que esses adoram a besta. A mensagem de advertência do terceiro anjo é dada em referência a esse período, quando a marca da besta será recebida, em lugar do selo do Deus vivo. Solene e terrivelmente se aproxima rápido essa hora! -- Fonte: James White, Review and Herald, 12 de setembro de 1854.

O “mistério da iniqüidade” começou a operar na Igreja nos dias de Paulo. Finalmente suplantou a simplicidade do evangelho, e corrompeu a doutrina de Cristo, e a Igreja foi para o deserto. Martinho Lutero, e outros Reformadores, levantaram-se na força de Deus, e com a Palavra e Espírito, lograram poderosos avanços na Reforma. A maior falta que podemos encontrar na Reforma é que os Reformadores pararam de reformar. Tivessem ele prosseguido e avançado, até terem deixado todo vestígio do papado para trás, como a imortalidade natural, a aspersão, a trindade, e a guarda do domingo, a Igreja agora estaria livre de seus erros antibíblicos. -- Fonte: James White, Review and Herald, 7 fevereiro de 1856.

Pois bem, esse mesmo James White, em 1872, ao serem formulados os chamados Princípios Fundamentais dos ASD, assim se expressou sobre aquilo em que nós adventistas cremos (ou críamos!) acerca de Deus:

1. Que há somente um Deus, um ser pessoal, espiritual, o criador de todas as coisas, onipotente, onisciente e eterno, infinito em sabedoria, santidade, justiça, bondade, verdade, e misericórdia, imutável, e em toda parte apresentado por seu representante, o Espírito Santo. Sal. 139:7.

2. Que há um Senhor Jesus Cristo, o Filho do Eterno Pai, aquele por quem Deus criou todas as coisas, e por quem elas subsistem; que Ele assumiu a natureza da semente de Abraão para a redenção de nossa raça caída; que habitou entre os homens cheio de graça e verdade, viveu nosso exemplo, morreu nosso sacrifício, foi ressuscitado para nossa justificação, ascendeu ao alto para ser nosso único mediador no santuário celestial, onde, com seu próprio sangue, faz expiação por nossos pecados, cuja expiação, longe de ter sido feita na cruz, onde se deu somente a oferta do sacrifício, é a última porção de sua obra como sacerdote segundo o exemplo do sacerdócio levítico, que prenunciava e prefigurava o ministério do Senhor no céu. Ver Lev. 16; Heb. 8:4, 5; 9:6, 7: &c.

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16. Que o Espírito de Deus foi prometido para manifestar-se na Igreja mediante certos dons, enumerados especialmente em 1 Cor. 12 e Efé. 4; que esses dons não têm desígnio de superar, ou tomar o lugar, da Bíblia, que é suficiente para fazer-nos sábios para a salvação, mais do que a Bíblia pode tomar o lugar do Espírito Santo; que, ao especificar os vários canais de sua operação, o Espírito tem simplesmente feito provisão para sua própria existência e presença com o povo de Deus até o fim do tempo, para conduzir a um entendimento dessa palavra que inspirou, para convencer do pecado, e operar uma transformação no coração e vida; e que aqueles que negam ao Espírito o seu lugar e operação, negam de fato plenamente essa parte da Bíblia que lhe atribui esta obra e posição.

Crê você, leitor, que o consagrado pastor James White pensaria pessoalmente de um determinado modo, mas teria descrito oficialmente a fé adventista de outro ao lidar com esse assunto da Divindade, apenas como se fosse um bom redator profissional, que não exprime suas opiniões, mas escreve o que lhe encomendam? De maneira alguma! O posicionamento dos adventistas pioneiros, como igreja, é muito claro: Eles NÃO criam na Trindade, tanto é que apenas Deus, descrito como o "Eterno Pai", e o Filho de Deus são citados inicialmente, nos dois primeiros tópicos. Mas o Espírito Santo, citado de passagem como "representante" volta a ser mencionado, assim mesmo identificado apenas como "Espírito de Deus" (não diz DEUS ESPÍRITO!), somente no tópico 16, que se refere aos dons espirituais.

A. Balbach está correto quando afirma que, "nesses Princípios Fundamentais, nem o arianismo nem o trinitarianismo são mencionados entre as crenças adventistas fundamentais". Mas se equivoca quando diz que "o que concerne ao entendimento da Divindade, o Movimento ASD de Reforma herdou a posição histórica da IASD (1872)", uma vez que, com referência à Divindade, os Princípios de Fé (1925) da IASD-MR acrescentaram um terceiro tópico à fé adventista original, referente ao Espírito Santo, como se este fosse um terceiro ser divino ao lado de Deus, o Pai, e de Seu Filho. É o que você pode confirmar abaixo:

a) Deus - Cremos que há somente um Deus, que mediante a Sua infinita sabedoria e poder todo-poderoso criou o céu e a Terra (Êxo. 20:2,3; Isa. 45:5,6,18): Deus é um ser espiritual (João 4:24), eterno, sem princípio e sem fim (Apo. 21:6), presente em toda parte (Sal. 139: 1, 2), entronizado nos céus, e não pode ser visto pelo homem em seu presente estado pecaminoso (1 Tim. 6:16; Isa. 59:2; João 1:18; Êxo. 33:20). Somente mediante fé podemos ir a Deus (Heb. 11:6).

b) Jesus Cristo - Cremos que Jesus Cristo é o Filho de Deus vivo e que Ele é um em natureza com o Pai (Heb. 1:1-3, 5). Desde a eternidade todas as coisas no céu e na Terra foram criadas mediante Ele (Col. 1:15-17). Portanto, somente Ele pode ser Mediador entre Deus e o homem (1 Tim. 2:5). Em harmonia com o testemunho dos profetas Ele foi nascido como um ser humano sobre a Terra em Belém da Judéia, da virgem Maria, concebido pelo Espírito de Deus (Mat. 1:18-23). Somente mediante Sua morte e pela fé em Sua graça livremente concedida podemos ser salvos (Lucas 1:77-79; Atos 4:12; João 14:15; 1 João 2:3-6.

c) O Espírito Santo - Cremos que o Espírito Santo é o representante de Cristo sobre a Terra (João 14:16). Sem Ele é impossível compreender e viver segundo a vontade de Deus. Também, é impossível interpretar corretamente a Palavra divina sem a ajuda do Espírito Santo (João 14:26; 1 Cor. 2:11). O Seu poder deriva do Pai e do Filho, e é ativo também mediante os seres humanos (2 Ped. 1:21; 1 Ped. 1:11). O Espírito Santo é um com o Pai e o Filho, portanto, os crentes são batizados não somente nesses nomes, mas também no nome do Espírito Santo após tornarem-se relacionados com o mesmo (Mat. 28:19; 1 João 5:7; 2 Cor. 13:14). [Negrito acrescentado para destaque.]

Observe, porém, que apenas o Pai é identificado como Deus; que Jesus é descrito como "o Filho de Deus vivo"; e que, embora o terceiro tópico (letra c) afirme que "o Espírito Santo é um com o Pai e o Filho", não diz que este seja um ser divino idêntico ao Pai e ao Filho e explica-se que "o Seu poder deriva do Pai e do Filho", situando-o em um plano hierárquico inferior, de subordinação. Outro detalhe importante é que o mesmo Salmo 139 citado pelos adventistas pioneiros em referência ao Espírito de Deus é mencionado no credo reformista para referir-se à onipresença do Pai.

E veja a conclusão de A. Balbach acerca disto: "À luz de nossos Princípios de Fé (1925), como pode ser visto, não ensinamos a doutrina católica da Trindade. Em 1925 herdamos a crença de que a IASD incorporou em seus Princípios Fundamentais (1872), ou seja, que o Espírito Santo é o “representante” de Deus. Com referência à Divindade, devemos repetir, a posição adotada pelos Reformadores ASD (1925) não difere da posição definida pelos pioneiros adventistas (1872)." [Negrito acrescentado para destaque.]

E diz mais: "É verdade que os pioneiros ASD rejeitaram a doutrina católica da Trindade, e assim se dá com o Movimento ASD de Reforma. Nem nas Escrituras nem nos Testemunhos encontramos apoio para esse dogma."

Pena que, logo depois, Balbach parece mudar de idéia e, voltando a defender a doutrina da Trindade, acrescenta: "No que concerne à verdade doutrinária, não temos dúvida de que precisamos ficar do lado dos pioneiros--mas somente na medida em que estiveram firmados na verdade. Nem tudo em que criam era correto."

Momentos de imparcialidade em sua argumentação voltam a acontecer apenas em pontos isolados dos capítulos seguintes, quando diz, por exemplo:

"A relação entre o Pai e o Filho não está dentro do domínio de nosso conhecimento especulativo. Devemos nos abster de pressuposição e nunca reivindicar conhecer mais do que o que está escrito e nunca forçar a Bíblia ou o Espírito de Profecia a dizer o que não dizem."

"Em vista das repetidas advertências de Deus, permaneçamos firmados no fundamento sobre o qual ele colocou o Movimento ASD de Reforma--a infalível Palavra de Deus--e sejamos cuidadosos para não irmos além de um repetido 'Está escrito'."

Acertadamente também, deixa em aberto para estudo posterior a questão da subordinação hierárquica do Filho de Deus a Seu Pai, o que é negado pelos trinitaristas absolutos:

"Jesus disse: “Meu Pai é maior do que Eu”. João 14:28. E a Irmã White escreveu: 'O Filho de Deus era o próximo em autoridade ao grande Legislador'. RH 17 de dezembro de 1872. Paulo declarou que Jesus 'não julgou ser usurpação ser igual a Deus' (Filipenses 2:6). E, novamente, a serva do Senhor escreveu: 'O Filho... fosse tão grande como o Pai sobre o trono do Céu...' (3ME 128).  Não obstante, o Filho é subordinado ao Pai: João 5:19, 30; 8:29 (cf 13:16); João 14:28 (cf. Mateus 11:27); 1 Coríntios 3:23; 8:6; 11:3; 15:27, 28; Efésios 4:6. Este é um dos pontos que devem ser deixados em aberto para estudo posterior." [Negrito acrescentado para destaque.]

 

Conclusões honestas

Embora afirmações contraditórias atribuídas a Ellen G. White pareçam atrapalhar o raciocínio de A. Balbach ao longo do livreto, em suas conclusões finais, o autor reformista demonstra grande honestidade em suas afirmações. Confira você mesmo:

Como o leitor deve ter notado, nossas considerações a respeito da Divindade [não diz Trindade!] baseiam-se no que está escrito. Muitos textos, alguns dos quais parecem conflitar-se com outros, desafiam nossa limitada compreensão humana. Por exemplo, como pode o Espírito Santo ser descrito como um poder do Pai e do Filho, e ao mesmo tempo ser representado como uma pessoa viva, um Ser santo, uma personalidade distinta? Como poderia Ele tomar parte nos conselhos da Divindade e na elaboração do plano da redenção? Como pode ser onisciente [onipresente?] e exercer ações inteligentes?

A mente finita insatisfeita pode prosseguir indagando: O que é o Espírito Santo? Uma pessoa? Um poder? Ou ambos? Em outras palavras, é Ele uma personalidade espiritual, sem um corpo físico, mas investido com inteligência e poder? Se você, meu querido estudante da Bíblia, não tem a resposta, estamos ambos no mesmo barco, porque tampouco contamos com todas as respostas. E se aceita o que está escrito, e recusa a ir além de um  “Assim diz o Senhor”, não deve haver discordância entre você e eu. ...

...Juntos com a Irmã White ressaltamos que a Divindade, o relacionamento entre o Pai e o Filho, e a natureza do Espírito Santo, estão envolvidos em mistérios que não deviam tornar-se uma matéria de especulação e discussão entre o povo remanescente de Deus. Atentemos à advertência da mensageira escolhida do Senhor:

Advertir o povo adventista contra a introdução da doutrina católica da Trindade é necessário; mas sejamos cuidadosos para não ir de um extremo a outro. É definitivamente errado colher dos escritos do Espírito de Profecia o que não concorde com nossas idéias ou que esteja além de nossa compreensão. ...

...Em conclusão, precisamos dizer que, a despeito de toda evidência que uma pessoa possa ter para o seu ponto de vista a respeito da Divindade, a posição mais segura é deixar a porta aberta para maior investigação e luz adicional. Que o Senhor abençoe todos os sérios estudantes da Bíblia! [Negrito e frases entre colchetes acrescentados para destaque.]

Para ler a íntegra do documento reformista acerca da Divindade, clique aqui. -- Robson Ramos

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