Maria Madalena: “Mulher Adúltera”?

 

Por uma questão de respeito à veracidade histórica dos relatos bíblicos, necessário se faz que se revise a difundida versão de que Maria Madalena e a personagem conhecida como “mulher adúltera” sejam a mesma pessoa. Nos evangelhos e nos escritos da Sra. White, nada há que dê substância a essa teoria.

Algumas citações à guisa de introdução:

“O significado literal de uma palavra ou expressão somente pode ser determinado por um exame da cultura do povo que a empregou. ... A revelação divina está inserida num contexto histórico...  Temos que recorrer à História... Todas as interpretações que não se harmonizarem com este critério devem ser rejeitadas ou, pelo menos, olhadas com suspeita.” (Protestant Biblical Interpretations).

“...o objetivo da interpretação é obter o sentido exato dado pela pessoa que escreveu o documento. Para esta essa pessoa, suas palavras não são ambíguas; pois ela atribuiu um significado definido a tais palavras, e a tarefa daquele que interpreta é descobrir qual é esse significado.” (Wigmone on Evidence)

“... todos os teólogos honestos, quer liberais, quer ortodoxos, devem tratar cada palavra com toda a seriedade, se é que desejam considerar as Escrituras de maneira justa.” (Revelation of the Bible)

“No momento em que o estudante consegue captar mentalmente aquilo que o autor ou autores dos livros bíblicos tinham em mente, ele terá interpretado o pensamento das Escrituras. Se ele acrescentar qualquer coisa de seu próprio raciocínio, deixará de ser exegese”. (International Standard Bible Encyclopedia)

“Na lei das evidências, uma inferência é um fato racionalmente deduzido de outro fato. É uma conseqüência lógica. É um processo de raciocínio. É tirar uma conclusão de um fato ou premissa estabelecidos. É a dedução de uma proposição, a partir de outra. É uma conclusão retirada de evidências. Um fato, ou proposição, embora não tenha sido apresentada expressamente, é suficiente para ter força de lei. Este princípio é adotado pelas cortes de justiça”. (Encyclopedia Britannica e Back’s Law Dictionary) [Citações coligidas do livreto “Divórcio e Novo Casamento”, de Guy Duty, Editora Betânia].

Partamos da premissa de que toda e qualquer tese, para merecer credibilidade, necessariamente precisa ter base exclusivamente no que está revelado. O que ultrapassa a isto são ilações, fantasias, romances, ficções, sem nenhum apoio na revelação. E o que se encontra revelado é que Maria Madalena e a assim chamada “mulher adúltera” são duas pessoas com identidades distintas, com histórias similares, mas não iguais.

Um fato relevante a ser considerado é que nenhuma concordância bíblica relaciona os textos referentes a cada uma delas, identificando-as como sendo uma mesma pessoa! A rigor, é preciso registrar-se que os estudiosos bíblicos, em geral, identificam três personagens distintas: a “mulher adúltera”, “Maria Madalena” e “Maria de Betânia”.

Nós, adventistas, acolhemos a versão de que Maria Madalena fosse irmã de Lázaro e Marta através dos escritos da Sra. White. No livro denominacional Bible Biographies – New Testament, de E.G.White, compilado por Walter T. Rea (Editora Leaves-Of-Autumn Books Incorporated, P.O.Box 440, Payson, Ariz. 85547 -USA) vol. 2, págs. 23-30, o autor admite que nada há registrado, na Bíblia e nos escritos de Ellen G. White, que possa relacionar a “mulher adúltera” com Maria Madalena, mas que de igual modo, em sua opinião, não há nada que possa contradizer claramente essa tese. O SDABC (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia) assume igual posição indefinida.

Atenhamo-nos exclusiva e criteriosamente ao que está escrito:

O evangelista João e a Sra. White mencionam Lázaro, Maria e Marta como sendo três irmãos que viviam juntos em Betânia, em cuja casa Jesus gostava de Se hospedar. Todas as evidências apontam para o fato de que os três fossem solteiros, pois em nenhum momento se registra a presença de alguma esposa ou marido, mesmo nos dramáticos acontecimentos envolvendo a doença, morte e ressurreição de Lázaro. (João capítulo 11 – O Desejado de Todas as Nações, capítulo “Lázaro, Sai Para Fora”), ou no jantar em casa de seu tio Simão, quando Marta preparou os alimentos e serviu aos convidados, Maria ungiu a Jesus e Lázaro estava presente, após ser ressuscitado, o que atraiu a curiosidade de muitos, que foram a Betânia não para ver a Jesus, mas para ver a Lázaro (João capítulo 12 – O Desejado de Todas as Nações, capítulo “O Banquete em Casa de Simão”).

É bom ressaltar que este jantar provavelmente ocorreu na própria semana da crucifixão de Jesus ou na anterior, pois foi Lázaro quem conduziu o jumentinho no domingo, na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, segundo E. White revela no livro O Desejado de Todas as Nações.

Maria, portanto, também devia ser solteira. Ela, particularmente, teria um forte motivo para não ter se casado: violentada por seu tio Simão, desonrada, abandonou sua casa, indo morar em Magdala, onde teria se tornado prostituta, pois nenhum homem da época se casaria com uma moça não-virgem.

A esta altura, convém destacar que, pela cultura judaica, além de se permitir que um homem tivesse várias mulheres, ele poderia, ainda, relacionar-se com prostitutas livremente. Judá teve relações sexuais com sua nora Tamar, que se disfarçara de prostituta, e ao saber que ela estava grávida, ordenou que fosse apedrejada: confrontado, porém, com a revelação de que ele era o pai da criança, assumiu-a como esposa, embora nunca mais tenha tido relacionamento sexual com ela. (Gênesis 38:11-26). Pelas leis judaicas, o “correto” era que ambos fossem apedrejados... (Maravilhosa graça perdoadora divina! Jesus é descendente de Judá, através desse relacionamento ilegítimo!)

Confirmando a mentalidade da época, Salomão declara: “Por uma prostituta o máximo que se paga é um pedaço de pão; mas a adúltera (casada!) anda à caça de vida, e vida preciosa”. (Prov. 6:26). [Leia ainda Ezequiel 16:30-33]. Não encontramos nenhum texto bíblico que ordene o apedrejamento de prostitutas. Por incrível que possa parecer, os israelitas chegaram ao cúmulo de acolher até “prostitutos-cultuais” em seus cultos de adoração a Deus! (I Reis 14:24). O apóstolo Paulo “pôs ordem na casa”, ao proibir os cristãos de manterem relações com meretrizes (I Cor. 6:15-20).

O único registro bíblico sobre a “mulher adúltera”, encontra-se no sucinto relato de João 8:3-11. Depreende-se que ela fosse casada, pelo fato de que, legalmente, essa era a condição civil para que ela fosse considera adúltera, sendo que o homem com quem se relacionara também devia ser apedrejado (Lev. 20:10; Deut. 22:22).

No livro O Desejado de Todas as Nações, capítulo “Entre Laços”, a Sra. White ressalta: “Com toda a sua professada reverência pela lei, esses rabis, ao trazerem acusação contra a mulher, estavam desatendendo às exigências da mesma. Era dever do marido mover ação contra ela, e as partes culpadas deviam ser igualmente punidas. A ação dos julgadores era de todo carecida de autorização”.

Por que o evangelista, inspirado pelo Espírito Santo, preferiu manter anônima sua identidade, não sabemos. O certo é que nem a Sra. White recebeu esta revelação. Pode até ser que ela fosse “a outra Maria” (Mateus 27:61; 28:1) ou alguma dentre tantas ‘Marias’ que surgem no cenário da crucifixão, sepultamento e ressurreição de Jesus (Luc. 24:10; Mc. 16:1), mas isso não passa de mera especulação. Quem sabe até seu nome não fosse Maria!

Ao resumir a biografia de Maria Madalena, a Sra. White não a identifica, em momento algum, como sendo a “mulher adúltera”, como seria de se esperar, caso ela o fosse.

“Aquela que caíra, e cuja mente fora habitação de demônios, chegara bem perto do Salvador em associação e serviço. Foi Maria que se assentou aos pés de Jesus e dEle aprendeu. Foi ela que Lhe derramou na cabeça o precioso ungüento, e Lhe banhou os pés com as próprias lágrimas. Achou-se aos pés da cruz e O seguiu ao sepulcro. Foi a primeira junto ao sepulcro, depois da ressurreição. A primeira a proclamar o Salvador ressuscitado”. (O Desejado de Todas as Nações, 416, 423) [ Luc. 10:42; 10:39; João 12:3; 19:25; 20:1, 11, 16-18; Mc. 16:9].

O saudoso e querido pastor Roberto Rabello compartilhava desta conclusão, bem como o pastor Roberto Conrad Filho, dentre tantos outros estudiosos a respeito desta tese. Assim também o creio! -- Francisco Gonçalves, Volta Redonda-RJ.

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