Resposta Antecipada para o Sermão a Ser Pregado em 22/01/2005 nas Igrejas da APO
(Segue-se então um sermão-engodo de 10 páginas, intitulado "DEUS É UMA TRINDADE", atribuído a Newton Brito de Oliveira. Para baixar cópia do referido sermão, refutado abaixo, você precisa do Acrobat Reader instalado em sua máquina. Clique para download.) O sermão enviado pelo presidente da APO aos anciãos está dividido em cinco seções: I – Evidências Filosóficas da
Existência de Deus
Seções Que Não Comentaremos Não comentaremos aqui as evidências filosóficas da existência de Deus expostas na primeira seção, pois o próprio autor do texto, após descrevê-las, acaba admitindo que “a importância e força desses argumentos sobre as evidências não são completamente claras”. Também não gastaremos nosso tempo para comentar a terceira seção porque entendemos que a citação de vários credos católicos romanos provenientes de vários concílios ecumênicos nada acrescenta para aqueles que mantêm a Bíblia como a única regra de fé e de prática. A citação de tais credos católicos romanos apenas reafirma nossa convicção sobre a real origem da doutrina da Trindade: os concílios da Igreja Católica Apostólica Romana.
A Seção do Mistério Vamos iniciar comentando a quarta seção: a seção do mistério! Qualquer pessoa medianamente alfabetizada não terá dificuldades para perceber a tremenda confusão estabelecida pelo autor do sermão da APO nesta seção: um festival de contradições. O autor do sermão inicia com uma declaração muito estranha: “Mistério na Bíblia”, diz ele, “é aquilo que Deus revela, aquilo que devemos nos instruir para transmitir aos outros”. Mistério é o que Deus revela? Note que quando alguém quer justificar o erro acaba caindo no ridículo. O autor foi tão infeliz que incluiu uma citação de Ellen White contradizendo exatamente o que ele acabara de afirmar: “A natureza do Espírito Santo é um mistério. Os homens não a podem explicar porque o Senhor não a revelou.” Ele iniciou dizendo que mistério é aquilo que Deus revela. Em seguida apresenta um texto de Ellen White dizendo que a natureza do Espírito Santo é um mistério porque Deus não a revelou. Ora, afinal de contas, mistério é o que Deus revela ou o que ele não revelou? O autor afirma inicialmente que devemos nos instruir nos mistérios para transmitir aos outros. Mas contradiz sua própria afirmação ao citar Ellen dizendo que os homens não podem explicar o mistério da natureza do Espírito Santo. Que infelicidade! Se realmente a natureza do Espírito Santo é um mistério, por que o autor dedicou tanto tempo na tentativa de provar que o Espírito Santo é uma pessoa? Se o “silêncio é ouro” com relação à natureza do Espírito Santo, por que o autor tenta demonstrar a natureza pessoal do Espírito Santo fazendo exatamente o que Ellen White disse que não deveríamos fazer (“reunir passagens das Escrituras e dar-lhe um significado humano”)? É por esta razão que a quarta seção, apesar de ser a menor das cinco seções, é a que traz um verdadeiro festival de contradições. Na tentativa de mostrar que a Trindade é um mistério bíblico o autor relaciona o “Mistério da Trindade” juntamente com outros três mistérios citados na Bíblia (da piedade, da iniqüidade e da sua vontade). É interessante notar que para os três mistérios bíblicos o autor cita referências bíblicas, no entanto não é capaz de citar uma referência para “o Mistério da Trindade”. Simplesmente substitui a citação da referência bíblica por uma explicação própria em favor de um Deus coletivo (Deus constituído de três pessoas) em detrimento da fé em um Deus pessoal.
A Seção dos Pioneiros A quinta seção começa de forma magnífica, declarando que a Bíblia é o único credo dos Adventistas do Sétimo Dia. Isso seria fantástico se fosse verdade. No entanto, de forma contrária à declaração inicial da seção, ele apresenta uma lista de declarações sem qualquer referência bíblica. Ironicamente, a única referência bíblica citada nesta seção é João 8:42 que, segundo o próprio autor, foi um texto usado por Waggoner em 1888 quando este argumentava de forma contrária à visão trinitariana. A declaração inicial da seção que afirmava que a Bíblia é o único credo dos Adventistas, após levar os golpes da carência de referências bíblicas nas citações, finalmente levou o golpe mortal. O autor do sermão explica como: Após discorrer sobre a crença anti-trinitariana mantida pelos pioneiros durante várias décadas e sobre a mudança por volta da virada do século XIX para o século XX, o autor pergunta: “(7) O que produziu a mudança?”. Considerando que a Bíblia é a única regra de fé e de prática dos Adventistas, poderíamos supor que a mudança de uma visão anti-trinitariana para uma visão trinitariana ocorreu em função de um profundo estudo bíblico como aqueles realizados nos primórdios da igreja, realizados em comunhão, oração. No entanto, não é essa a resposta. Surpreendentemente, imediatamente após perguntar “O que produziu a mudança?” o autor apresenta a resposta: “Sem dúvida, as declarações de Ellen White.” Segundo o autor do sermão foram as declarações de Ellen White e não o estudo da Bíblia que mudou a visão da igreja! Fica claro que se a Igreja Adventista do Sétimo Dia fosse depender unicamente da Bíblia para o estabelecimento de suas doutrinas (como dependia nos primórdios de sua existência – século XIX), ainda hoje os Adventistas seriam como eram no princípio: Não-Trinitarianos. A mudança total de doutrina ocorreu no século XX em função não da Bíblia, mas de declarações tardias (e algumas até de origem questionável) atribuídas a Ellen White. A falta de fundamento bíblico para a doutrina da trindade ficará mais clara quando analisarmos a seção mais importante: a segunda seção que trata da suposta base bíblica para a doutrina da trindade.
Segunda Seção: Tentativas Frustradas de Provar a Trindade na Bíblia Os argumentos pró-Trindade apresentados na segunda seção não trazem nenhuma novidade. Basicamente se resumem em três categorias: a) Citação do que se convencionou chamar de “fórmulas trinitarianas”, ou seja, versos bíblicos que citam Deus Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo. b) Versos do Velho Testamento que contém termos sugerindo a existência de um “Deus Plural” c) Supostas evidências bíblicas de que o Espírito Santo é uma pessoa. No livreto “Eu e o Pai Somos Um”, pudemos demonstrar com mais detalhes a falácia destes argumentos. Aqui, vamos discorrer de forma mais resumida recomendando a leitura do livro cuja versão digital pode ser obtida gratuitamente neste site https://www.adventistas.com/downloads/Eu_e_o_Pai_Somos_Um.doc. (Clique neste link para download.). E se houver interesse pela versão impressa a preço de custo, entre em contato comigo por e-mail: nicotra@uol.com.br. Vamos analisar resumidamente cada um destes argumentos: a) Fórmulas Trinitarianas – Para o trinitariano, encontrar a palavra “Espírito” no mesmo verso onde encontramos as palavras “Deus” e “Jesus Cristo ou Filho” é um motivo de grande comemoração. Eles denominam ocorrências desta natureza de “Fórmulas Trinitarianas”, apesar de não haver fórmula nenhuma pois os elementos constituintes da fórmula, via de regra, aparecem em ordem diferente. Exemplo: Mateus 28:19 cita Pai, Filho e Espírito Santo. II Cor. 13:13 cita Jesus, Deus o Pai, Espírito. I Pedro 1:2 cita Deus Pai, Espírito e Jesus Cristo. Estes são os três versos clássicos que contém a denominada “fórmula trinitariana”. Perceba que quando tais versos foram escritos não havia o conceito moderno de primeira, segunda ou terceira pessoa da trindade. Para os escritores bíblicos Deus não era um conjunto de três pessoas, mas sim o Pai. Basta ler com atenção os evangelhos, os escritos de Paulo e o Apocalipse. Ainda com relação à fragilidade da compreensão de tais versos como “fórmulas trinitárias” podemos mencionar versos que citam Deus Pai, Jesus Cristo e os Anjos. (Mat. 16:27; 24:36; I Timóteo 5:21; Marcos 8:38; Marcos 13:32; Lucas 9:26). Porventura estes versos que citam Deus, Jesus e os Anjos estão fazendo referência a um outro tipo de trindade celeste? Certamente não! O fato de citar os três no mesmo verso não significa que todos tenham a mesma natureza, ou que sejam uma unidade espiritual. b) A tarefa mais árdua e frustrante para um trinitariano é tentar provar a Trindade através do Velho Testamento. Se existe uma tarefa inglória que os administradores da Igreja atribuem aos doutores em divindade, esta é a tarefa de provar a Trindade baseando-se nos escritos de Moisés e nos Profetas. Em contrapartida, refutar tais “provas” torna-se tarefa fácil e cômoda. A “prova” mais sofrível da existência da Trindade no Velho Testamento é aquela que lança mão de adjetivos ou expressões tríplices na intenção de atribuir cada uma das qualidades a uma pessoa da trindade. O autor do sermão da APO inicia a segunda seção citando 6 versos dentre os quais Isaías 6:3 no qual lemos “Santo, Santo, Santo”. Ora, tenhamos bom senso. Isso é prova ou evidência da Trindade? No livro “Eu e o Pai Somos Um” coloquei alguns exemplos de versos que usam expressões tríplices, nem sempre relacionadas com Deus, mas com o objetivo de enfatizar um determinado conceito. A repetição tríplice era uma figura de estilo na literatura hebraica. Outra tentativa frustrada de provar a trindade no Velho Testamento é através de termos hebraicos que podem significar uma “unidade-plural” ou “unidade-composta”. Os teólogos podem se esforçar na argumentação em favor de uma unidade-plural através da análise do significado das palavras echad ou Elohim, mas nunca conseguirão provar que se trata de um plural de três. Por que não só Deus, o Pai, e Seu Filho, dupla que aparece constantemente lado a lado no Novo Testamento, em especial nos escritos de Paulo e no Apocalipse? c) Talvez a parte mais interessante desta matéria esteja na análise dos argumentos que buscam provar que o Espírito Santo é uma pessoa. O bom senso diz que antes de afirmar que o Espírito Santo é uma pessoa, temos que definir o que é pessoa. O autor do sermão da APO tem o bom senso de definir o conceito de “pessoa”, mas a tragédia está na forma como ele o faz. O autor do sermão simplesmente lança fora o conceito bíblico intuitivo de pessoa que consiste em corpo mais espírito (o conceito de "alma vivente"). Em substituição do conceito bíblico, o autor do sermão busca a definição de pessoa (ou personalidade) no filósofo Emmanuel Kant. Segundo ele se a entidade tiver vontade, inteligência e emoção, então é uma pessoa. Logicamente, o autor escolheu uma definição de pessoa bastante abrangente de modo a enquadrar o Espírito Santo como uma pessoa, atendendo os requisitos da definição kantiana. Só que existe um efeito colateral muito desagradável ao se escolher uma definição abrangente: segundo a definição de Kant o espírito do ser-humano pode também ser considerado uma pessoa. Meu espírito tem inteligência, meu espírito tem vontade e também emoções que são sensações essencialmente espirituais. O seu espírito, prezado leitor, também tem estas características. Logo, se o Espírito de Deus é uma pessoa segundo a definição de Kant, então, usando a mesma definição, o espírito de um homem também é uma pessoa distinta dele. Logo, eu não sou mais uma pessoa, mas sim duas pessoas: eu e o meu espírito. Novamente recomendo a leitura do livro “Eu e o Pai Somos Um” - 1ª Edição, em arquivo *.doc do Word (2ª edição, disponível no site em formato pdf), principalmente a seção que mostra uma tabela com os atributos pessoais do espírito de um ser humano. Tal análise tem como objetivo mostrar que quando a Bíblia apresenta um espírito entristecendo-se, ela não está indicando com isso que tal espírito seja uma pessoa. Vale a pena conferir estes exemplos.
Conclusão Fica claro que as tentativas de defesa da doutrina da Trindade, por ferirem a lógica e acima de tudo a revelação divina, acabam caindo no ridículo. Pela quantidade de contradições num texto relativamente pequeno (10 páginas) é possível, no mínimo, suspeitar que se trata de um engodo com ar de intelectualismo para enganar os incautos. A Verdade expressa na Palavra de Deus é simples. A “Doutrina Mistério” é a marca de Babilônia. Deus se revelou aos seus filhos através do Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo e graças a Ele podemos ter o conhecimento que nos leva à vida eterna. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” - João 17:3. Que Deus abençoe a todos em 2005 e derrame sobre nós o Seu Espírito. -- Ricardo Nicotra Leia também: |
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