Os Cristãos Primitivos Tinham uma Organização Central e Dominante?

Os cristãos do primeiro século promoviam pequenas reuniões em lares e, após o Pentecoste, nunca se menciona que alguma vez tenham realizado grandes assembléias envolvendo elevado número de pessoas, atraídas de diferentes regiões. Eles, não obstante, eram todos participantes de uma comunidade, grupamento ou congregação maior em virtude de estarem todos espiritualmente reunidos sob o Filho de Deus como sua Cabeça. Esse relacionamento não se expressava por estarem ligados, ou sujeitos, a Jerusalém como centro de administração religiosa, pois eles olhavam para a fonte celestial como o centro de sua direção. 

Essa unidade se expressava em seu amor de uns para com os outros, vistos ou não, pessoalmente conhecidos ou desconhecidos, compartilhando de uma fé comum, pois esse amor é o "vínculo da perfeição" (Col. 3:12-14). Eles demonstravam seu relacionamento de união pela hospitalidade, estendendo-a àqueles anteriormente estranhos, compartilhando as boas coisas entre si, vindo em auxílio dos que estavam em necessidade, onde quer que estivessem, orando em favor desses, com empatia diante de suas provas e dificuldades - exatamente como membros de uma família naturalmente agiriam uns pelos outros (Mat. 25:34-40; Rom. 12:10, 13, 15; II Cor. 7:5-7, 13; Fil. 2:19, 25-29; Col. 4:16; I Tess. 5: 14, 15; Heb. 6:10; 10: 32-34; 13:1-3; I Ped. 4:8-10). Assim se comentou sobre Paulo:

[Ele] buscava edificar relacionamentos duradouros de caráter pessoal, antes que institucional. . . . Esses grupos cristãos espalhados não expressavam sua unidade por modelarem uma organização corporativa, mas mediante uma rede de contactos pessoais entre pessoas que se consideravam membros da mesma família cristã. - Paul's Idea of Community, p. 48.

Pelas severas declarações de Paulo em sua epístola aos gálatas torna-se claro que ele não considerava Jerusalém um centro administrativo divinamente apontado para toda atividade congregacional por sobre a terra. Se tal "corpo governante" tivesse existido então, ele certamente, logo após a conversão, teria buscado contactá-lo. Mas Cristo nada disse a Paulo quanto a ir para Jerusalém. Em vez de mandá-lo de volta à cidade de onde procedia, Jerusalém, Cristo o enviou a Damasco. Ele deu a Paulo as instruções todas que tinha para ele através de um damasceno chamado Ananias. Em Gálatas 1: 16, 17 ele diz claramente que não recorreu após sua conversão a fontes humanas de autoridade. Paulo atuava como participante de um "ministério independente" e auto-suficiente (Atos 18:3, II Cor. 11:10 e 11:7-9).

Só três anos depois é que Paulo viajou para Jerusalém e declara que apenas viu a Pedro e Tiago, nenhum outro apóstolo, em sua estada ali de quinze dias. Portanto, não estava assistindo a nenhum "concílio de obreiros" para receber treinamento e instruções. Mais tarde, fez de Antioquia a sua base de operações, e embora essa cidade fosse próxima de Jerusalém, não via razão para dirigir-se à capital da Judéia. Os relatos de suas viagens missionárias (Atos 13, 15, 20, etc. -- especialmente 15:36) não indicam que as empreendeu após voto tomado por alguma "mesa administrativa", com um roteiro e orçamento aprovados. De fato, subiu a Jerusalém só após quatorze anos acompanhado de Barnabé e Tito, e mesmo assim devido a uma "revelação" do Senhor (ver Gál. 2: 1, 2). Pela descrição feita, isso deve ter-se dado por ocasião do concílio de Jerusalém, registrado em Atos 15.

O relato de Atos 15 indica a razão de Jerusalém ter sido o lugar lógico para aquele concílio apostólico. É que Jerusalém constituía a fonte do problema vivido pelo apóstolo Paulo em Antioquia. Homens procedentes "de Jerusalém" é que foram até lá para forçar os cristãos gentios a se circuncidarem e observarem as leis mosaicas (ver Atos 15: 1, 2, 5, 24). Assim, de onde surgira o problema (entre os cristãos de Jerusalém é que prevaleciam os judaizantes) e onde havia uma concentração de apóstolos é que se discutiria a solução.

Quando os judeus se revoltaram contra o domínio imperial de Roma e Jerusalém foi destruída no ano 70 AD, onde teria passado a operar o suposto "corpo governante" cristão? Novamente, pareceria razoável que houvesse ao menos uma indicação mínima disso, se tal fosse de fato o arranjo de Deus, e se um corpo administrativo centralizado constituísse uma instrumentalidade divina de Jesus Cristo para dirigir sua igreja sobre a face da Terra.

Os únicos manuscritos bíblicos depois da queda de Jerusalém são evidentemente os do apóstolo João. Ele aparentemente escreveu suas epístolas no final do primeiro século, portanto, décadas após a desolação de Jerusalém. Nenhuma de suas epístolas, contudo, traz o menor indício de operação dum corpo administrativo centralizado sobre os cristãos de seus dias. No Apocalipse, suas visões retratam a Cristo enviando mensagens a sete igrejas da Ásia Menor (Apoc. 1 a 3). Em nenhuma dessas mensagens existe qualquer sugestão ou indicação de que tais congregações estivessem sob uma direção externa, a não ser do próprio Cristo.

Existem disponíveis escritos de autores cristãos do segundo e terceiro séculos, mas esses igualmente nada indicam quanto à existência de uma administração centralizada para supervisionar as numerosas congregações cristãs. A história do período revela, ao contrário, algo bem diferente disso--que a autoridade religiosa centralizada foi produto de um desenvolvimento pós-apostólico e pós-bíblico. -- (Adaptado de In Search of Christian Freedom, Raymond Franz [ex-membro do "Corpo Governante" das "Testemunhas de Jeová"], pp. 691 e 43-48). 

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