Teólogo Censura Trabalho Evangelístico de Bullón e Outros Pregadores Adventistas

Acaba de ser disponibilizado pela internet um novo livro do teólogo Dr. Alberto R. Treyer, especialista na doutrina do Santuário e do Apocalipse, no qual faz uma análise história e contemporânea dos métodos adventistas de evangelização. O livreto de 37 páginas está em espanhol, mas o Adventistas.Com disponibiliza a tradução em português de parte dele, nos pontos em que se refere ao pastor Alejandro Bullón. Detalhe: a tradução foi obtida de modo automático, através de software espanhol-português, por isso pode conter problemas de adequação da linguagem e "sotaque" virtual. Confira:

Enfoque Mais Espiritual que Doutrinário

Investiram-se milhões na difusão eletrônica de nossa mensagem por todo o mundo. Esses pregadores são traduzidos aos idiomas mais difundidos do planeta. Em alguns países perderam muito por não havê-los traduzido com suficiente tempo de antecipação. Na Alemanha se surpreenderam pela quantidade de gente que foi às Igrejas para escutar ao pregador Mark Finley em 1996. Dedicavam um dia inteiro para "dublar" ao alemão cada uma de seus pregações. 

Em outros países de corte religioso mais fechado tiveram problemas pela exposição franco e aberta das profecias que vinculam ao papado e ao protestantismo apóstata com as profecias do Daniel e Apocalipse. São criticados por pregar com toda a liberdade como nos EUA, sem levar em conta a situação diferente de outros países. Os pregadores norte-americanos de maior êxito nunca deixaram de incluir em seus temas as mensagens proféticas Adventistas, nem tampouco as doutrinas vitais que temos como igreja.

Outro orador internacional que se enquadra na era eletrônica no mundo hispano, é o Pr. Alejandro Bullón. Seu enfoque é mais espiritual que doutrinário, e se encaixa dentro de um marco e contexto especial que consideraremos mais adiante, já que se transformou na "vedete" exclusiva do evangelismo em todo o domínio hispânico.

A crítica que se faz a estes super-evangelistas eletrônicos é que os líderes estão pondo todos os ovos na mesma cesta, e isso é perigoso. Por isso, existe uma preocupação para que se formem evangelistas em todas as Igrejas. Em outras palavras, o evangelismo eletrônico ou televisivo não deve substituir o evangelismo local. 


Não Desmascara a Besta e a Grande Meretriz

É uma lástima que haja tantos pastores para quem os temas apocalípticos não sejam tão importantes. Mas ao contrário de outros evangelistas da segunda metade do século XX, o pastor Belvedere teve a virtude de ter a mente aberta e dar um passo significativo para frente com os temas proféticos que nos caracterizam. Japas e Visse, por exemplo, encontraram-se entre os que se opuseram a conferências sobre os temas mais diretamente apocalípticos no mundo católico.

Bullón tampouco simpatiza com o desmascaramento da besta e a meretriz no mundo católico. Em Orlando, Florida, fez graça há um mês atrás daquele que chamaram "primeiro mártir Adventista" no Peru. Um irmão adventista que se deteve numa praça pública em frente à catedral para denunciar à Igreja Católica como a prostituta do apocalipse. Como resultado, apedrejaram-no até a morte. Segundo Bullón, não morreu como mártir, mas sim como louco, desorientado.

O que Bullón não parece saber, e um bom número de pastores e evangelistas junto com ele, é que assim morreram também muitos profetas, tidos como desorientados, porque Deus os pôs a falar não só "a tempo" mas também "fora de tempo". A Jeremias, Deus ordenou parar-se em um lugar alto para denunciar em alta voz os pecados dos dirigentes da nação enquanto estes entravam no templo. Era uma denúncia pública que lhe custou sofrimento, prisão e finalmente o apedrejamento. Assim o fez Amós em Samaria. Também o fez Estevão para com os dirigentes do Judá, provocando uma fúria tal contra ele que os levou a apedrejá-lo. Isaías foi metido em um tronco oco e serrado.

Uma confrontação equivalente se esteve repetindo aqui e ali no mundo católico por muitos outros evangelistas combativos e agressivos, que não vacilaram em dar ao pecado de Babilônia o nome que se merece. E esse tipo de mensagem valente e confrontadora darão finalmente todos os que aconteçam a crise final. Será que Deus esteve levantando alguns deles, segundo alguns antes de tempo, para que nos mostrem e ilustrem o caminho pelo que logo todos teremos que acontecer? Uma espécie de microcosmos do que será logo o grande macrocosmos do conflito final?

Destes evangelistas combativos quero falar no seguinte ponto. Mas antes me permitam comentar algo com respeito a certos líderes e evangelistas de nossa igreja que abordam a ofensiva evangélica não da perspectiva apocalíptica. Acredito que o que eles fazem está bem. Equivocam-se, entretanto, quando procuram opor-se a aqueles a quem Deus chamou com uma missão diferente na maneira de abordar o tema diante de um mundo católico. Um dirigente multilíngüe da Divisão Norte-americana pregou não faz muito exortando a preparar-se para a vinda do Senhor, argüindo que já estávamos muito próximos do fim. Quando pouco depois alguém lhe perguntou sobre as mensagens apocalípticas, disse, entretanto: "Não irmão, ainda não é o tempo".


XVIII
Aquecedores de Corações?

Anos atrás, o grande pregador Batista, Billy Graham, juntava multidões em forma espetacular e se fez tão popular que foi convidado cinco vezes para orar na cerimônia de posse de cinco presidentes. Centenas de pecadores respondiam ao chamado em suas enormes concentrações. Dentro dos evangélicos, era um dos mais conservadores, mas cometeu um grande engano. Quando as Igrejas evangélicas se opunham ao carismatismo e pentecostalismo, hoje também celebracionismo, ele insistiu, como líder evangélico, a que lhes abrissem as portas. 

Como resultado, os pregadores eletrônicos milagreiros abundam e dominaram a TV norte-americana, já que conseguiram contaminar as Igrejas evangélicas com sua busca do sobrenatural e os sentimentos volúveis do coração. Billy Graham insistia sobre a necessidade de guardar os mandamentos, mas advogava que não se impusesse nem o domingo nem o sábado, já que o importante, para ele, é que se guardasse um dia.

De todos os pregadores evangélicos que escutei alguma vez, Billy Graham foi o que mais gostei. Dava conteúdo prático, e revelava conhecer grandemente a natureza humana. Falava ao coração da gente, mas não se comprometia, é obvio, com o quarto mandamento nem com nada que pudesse lhe tirar público. Com razão, diziam os pregadores Adventistas nessa época, que a única coisa que Billy Graham fazia era esquentar os corações.

Certa vez, um garoto de 14 anos foi escutá-lo em uma grande concentração batista que se deu no Peru. Seu nome era Alejandro Bullón. Lamentava que nós, os Adventistas, não podíamos juntar tanta gente com a mensagem que tínhamos. Anos depois lhe copiou o método, mas por ser Adventista, são menos os que hoje o acusam de só esquentar os corações. "Veio em um momento oportuno", dizia um coordenador hispânico na América do Norte. "Não é polemizador, as Igrejas não se dividem, e muitos tomam a decisão de seguir a Cristo".

Em Daytona Beach, Florida, contou a um grupo de pastores hispânicos que os batistas telefonaram um dia aos "Adventistas renovados" e perguntaram por ele. Respondeu-lhes que pertencia à Igreja Adventista. "Mas você não pertence à igreja Adventista tradicional", insistiram. "Sim", respondeu, "é a mesma, a Igreja Adventista de sempre".

Bullón contou isso com uma alegria sincera, pensando que estava dando uma imagem de nossa igreja que devia ter sido dada sempre. E embora possamos admitir que tivemos pregadores no passado com uma tendência legalista que deixaram uma imagem negativa que devemos corrigir, não neguemos que detrás desse testemunho que se deu por telefone entre Bullón e os batistas se esconde outro problema.

As mensagens do Bullón não estão comprometidas com todas as verdades fundamentais do movimento Adventista, não porque as rechace, mas sim porque em um mundo sofisticado como o que vivemos, está obcecado pela simplicidade para poder chegar a maior quantidade possível de gente. Dali que suas pregações servem para fazer bons batistas, bons metodistas, bons pentecostais, ainda às vezes bons católicos, e por que não, também bons Adventistas se é que outros se dão o trabalho de encher o vazio doutrinal que deixa.

Contou Bullón, sempre na Daytona Beach, que teve recentemente por companheiro de viagem a um casal que viajava a Austrália, e lia a Bíblia muito entusiasmada. Falaram sobre a fé na Palavra de Deus e a necessidade de aceitar a Cristo. Perguntaram-lhe várias vezes a que igreja pertencia, mas ele lhes respondia: "Para que querem saber a que igreja pertenço? Isso não é importante. O que conta é saber que sou cristão e amo ao Senhor". O homem terminou lhe deixando seu cartão, mas o perdeu depois, em Miami, quando lhe roubaram o que tinha no automóvel. Até meu filho de 15 anos me disse à saída: "Eu pensei que ia dizer lhe que era Adventista antes de despedir-se". Não lhe custou muito ao diabo lhe arrebatar depois a única oportunidade que ficava de levá-lo a um conhecimento maior tão necessário para estes tempos.

Me entendam bem. Não estou negando nem sequer o valor de um ministério como o do Billy Graham. Ele enchia o vazio de muita gente respondendo a seus questionamentos e dúvidas presentes. O extremo oposto no que podemos cair nós hoje é o de nos preocupar tanto pelo fim do mundo que nos esqueçamos de nossas necessidades espirituais presentes. Lembro-me de quando o velho Berchín, veterano pregador Adventista, procurava animar a uma velhinha como ele em seu leito de morte: "Temos que nos preparar para quando vierem as perseguições finais". De que perseguições falava, se ele também já estava abrindo a tampa de seu ataúde!

É preciso reconhecer que Deus deu ao Pr. Bullón um dom extraordinário de chegar ao coração da gente. É o primeiro grande orador de nossa igreja que conheço que pode deleitar às pessoas, comovê-la e derramar lágrimas sem que ele mesmo se comova e derrame lágrimas, mas que depois que terminou a pregação a gente não sabe realmente do que falou. Quando não pude escutar suas conferências via satélites me esforcei mais de uma vez em vão porque algum irmão me diga o tema. Muito lindo, dizem-me, mas se angustiam tratando de me explicar a mensagem. O mais que fazem é me contar uma história que lhes impactou.

De fato, suas conferências são as primeiras que se vendem em vídeos e fitas cassetes em uma magnitude jamais alcançada antes por outro pregador no mundo hispano e, excetuando contadas exceções, sem que levem título. Normalmente, os que editam seus pregações lhes põem um título geral para toda a campanha, e logo põem o número, o dia e o lugar onde pregou. Isto se deve a que é monotemático. Não importa o texto bíblico que escolha, terminará desembocando no mesmo.

Um irmão me dizia: "Eu não sei como pode saber ele qual é meu problema. Porque cada vez que o escuto, fala do que me está passando e a todo mundo". Uma de suas perguntas clássicas é: "Estarei falando em esta noite a alguém que tem problemas em seu trabalho, em seu lar? Estarei falando com alguém que ..." Quem não tem problemas nesta vida? Não escapa ninguém em sua lista de problemas gerais. Qual é a solução que oferece? Não é complicada. Não há coisa mais singela. É vir ao Jesus, aceitá-lo como Salvador pessoal. É obvio que ele não pode solucionar os problemas de ninguém, mas os remete a Alguém superior que pode fazê-lo, e leva às pessoas a confiar nele. Isto é algo que todos os pregadores devessem fazer de uma ou outra maneira sempre, já que Cristo é a solução.

Mas, o que a respeito das definições que a Bíblia dá a respeito do que significa seguir ao Jesus? Neste ponto terá que lhe reconhecer ao Bullón também que é capaz de transformar em verdades axiomáticas (sem necessidade de demonstração), algumas verdades da Palavra de Deus como, por exemplo, a necessidade de guardar a lei de Deus e que a fé não anula a lei de Deus. Em palavras singelas pode dizer algo que ninguém vai discutir, e sem necessidade de recorrer a uma leitura das passagens bíblicas que outros procuram para fundamentar o que dizem.

Quando esteve faz quatro meses atrás em Atlanta, convidou-me para almoçar em um restaurante. Queria que lhe explicasse o tema do santuário, porque sabia que se tratava de um tema fundamental em nossa igreja, e queria preparar uma série sobre o mesmo. "A correta compreensão do ministério do santuário celestial é o fundamento de nossa fé", Evangelismo, pásg. 165). "Vou fazer", disse-me, "as perguntas mais singelas possíveis e você tem que recebê-las como de alguém que não sabe nada do santuário." Conste que acredito que foi sincero e genuíno em suas perguntas e desejo de aprender, o que fala bem de um grande homem que sabe que ninguém nasceu sabendo. Tratarei de reproduzir as idéias básicas da conversação. Costa Júnior, melhor fundamentado teologicamente que Bullón, e sua esposa Sonette, estiveram presentes.

"A primeira", continuou: "por que tenho que pregar do santuário? Não atinjo as pessoas, pregando sobre a cruz?" Respondi-lhe que toda a obra que ele estava fazendo com a concentração de multidões em suas conferências o diabo iria varrer com extrema facilidade, a menos que fosse um pouco além do evangelho da cruz. Se Deus deu tanto o Êxodo (a história da libertação, seu evangelho), Levítico e Números (a doutrina da libertação) como as Epístolas do NT; e se deu Daniel, Hebreus e Apocalipse, como roteiro profético para conhecer os tempos e as maturações do Senhor, é porque o evangelho não consiste apenas em João 3:16.

Nossa mensagem Adventista é um todo estrutural. As doutrinas são seus elos. Se se descuidar alguma, perde-se a consistência e fortaleza de todas as demais. E é no evangelho do santuário (Heb 4:1-2), entendido em suas sombras e visto em seu cumprimento profético, doutrinal e espiritual, que se encontra a estrutura da mensagem Adventista que necessita nosso povo hoje para redescobrir sua missão.

Segunda pergunta: "Se a doutrina do santuário era tão importante, 'o fundamento de nossa fé', por que Deus a fez tão difícil de compreender? Por que terei que aprender diferentes classes de animais e sacrifícios e rituais de sangue, em uma época em que a maioria não é nem beduíno nem boiadeiro? Novamente, não chego ao mesmo resultado aceitando o sacrifício do Jesus?" Respondi-lhe: "Não, não alcança. Se ficar a metade de caminho, ao começo da rota, jamais vai chegar ao destino. Nossa mensagem não é puramente existencialista com sentido unicamente presente. Se ficar sem futuro e deixa de explicar o que vai ocorrer com este mundo, e não pronta atenção à obra de engano que Deus antecipou e que hoje tem diferentes nomes e sobrenomes, toda sua obra tão espetacular como evangelista não servirá para nada".

"Escute o papa falar hoje da cruz de Cristo", continuei, "e ficará impressionado. O papa não tem nada que lhe pedir emprestado, porque são palavras maravilhosas também as que dá. A igreja católica não é a mesma do passado ao falar dessa obra maravilhosa do Senhor ao morrer por nós. O problema é o que ela tem de menos e demais. A Igreja Católica Romana quer apagar a obra de Jesus como supremo sacerdote no santuário celestial (carência), para que todos olhem a seu pretenso vigário e supremo pontífice na terra, e a tantos Santos e virgens supostamente também intermediários entre Deus, ele, sua mãe e nós" (excesso).

"Não somos um movimento a mais que descobriu alguma verdade, mas, sim, o povo adventista a quem o Senhor levantou em uma época definida, em forma direta e para uma missão especial que não deu a nenhum outro povo. Todos os que vivenciarem a crise final terão que saber no que consistirá essa crise, distinguir e desmascarar as instituições religioso-políticas que as causem, assim como as motivações e propósitos do espectro espiritual que se escondem detrás dessas lindas palavras".

Terá que recordar que toda a economia judaica do santuário era "uma profecia compacta do evangelho", O Desejado de Todas as Nações, pág. 182. "O santuário que está no céu é o próprio centro da obra de Cristo a favor do homem. Concerne a toda alma vivente sobre a terra. Abre diante da vista o plano de redenção, nos projetando até o mesmo fim do tempo, e revelando o resultado triunfal do conflito entre a justiça e o pecado. É da maior importância que todos investiguem cuidadosamente estes temas, e estejam capacitados para dar resposta a todos os que demandem razão da esperança que há neles", Cristo em seu Santuário, pág. 52.

"Terceira pergunta: por que não escreve mais singelo?" Respondi-lhe que já tinha escrito dois seminários sobre o santuário, com histórias e ilustrações, fazendo mais singelo o material. "Não", respondeu-me. "É ainda muito complicado. Alguém deve traduzir o que escreve". Repliquei: "Recebo testemunho de muitos irmãos que me dizem que o entendem, e o comentam. Mas se quer fazê-lo mais singelo ainda, será uma obra sua". Insistiu: "Em lugar de escrever um livro com dez lições, faz um panfleto com cada lição, assim o pode digerir pouco a pouco e mais fácil". Voltei a replicar: "Levantaram-se muitas vozes para desacreditar nossa mensagem do santuário. Muitos pastores e leigos educados estão acovardados porque não têm resposta a muitas perguntas. Se ficarmos em algo muito simples, não estaremos atendendo suas necessidades. Meus seminários respondem a todas essas interrogações e você não é o primeiro a me dizer que prepare folhetos. Logo chegará o dia..."

No dia seguinte me aproximei de lhe falar. "Pastor", disse-lhe, "estive pensando que seu estilo não é temático. O que pode fazer para pregar sobre o santuário é tomar uma história bíblica relacionada com o santuário, e dali ir para onde você quer". "Há histórias que se emprestam para isso?", Perguntou-me. "É obvio, eu lhe vou escolher algumas", respondi-lhe. Uma semana mais tarde, tirei tempo para pensar em algumas histórias, mas logo depois de esboçar algo disse a mim mesmo: "Para quê? Irá ele entendê-las ou dar-se conta de sua relação com o santuário? Se não conhecer a doutrina do santuário, perderei o tempo."

Quando o vi três meses depois na Daytona Beach contou que tinham tirado de um evangelista australiano uma série de lições sobre o santuário que ele adaptou para o público sul-americano. Esse seminário, conforme me disse fora, usa a capa do santuário para apresentar, em realidade, todas as doutrinas da igreja. "Fica somente com o esboço geral do santuário, e a explicação de seus móveis como tantos outros até aqui?" Perguntei-lhe. Sorriu e me disse: "Penso que sim". "Então", disse-lhe, "seguimos no caminho de sempre. Por que não avançar mais? Por que ficar sempre com os rudimentos, com o leite do evangelho, em lugar de ir mais longe com a mensagem específica que Deus tem para hoje?" (Heb 5:11-14).

Com isto não estou rebaixando ao Bullón. Ao contrário, felicito-o por sua sinceridade e genuinidade ao me consultar. Se algum pensar que minhas respostas são uma crítica a seu ministério, é-o também à maioria do pastorado Adventista que não entende nem ainda hoje como devesse, um tema tão valioso como o santuário. Se o Pr. Bullón, e junto com ele tantos pastores mais, sabem tão pouco e nada sobre o "fundamento de nossa fé", não se deve imputar-lhes esse mal, mas, sim, aos professores de nossos colégios que por tantos anos nada ensinaram sobre esses temas. Copiavam os programas dos seminários teológicos evangélicos e protestantes com matérias importantes e necessárias, mas onde pouco e nada tinha que esses temas supostamente "tão difíceis" de entender. Como vai ser fácil para eles hoje, se não lhes ensinou nada, e a maioria dos pastores não se renova a si mesmo, por estudo e disciplina intelectual pessoal, depois de graduar-se?

Não obstante, há também uma pequena desculpa para os professores de teologia do passado e de hoje, no caso dos que seguem na mesma condição. Terá que reconhecer uma realidade que considerarei no seguinte ponto.


XX
Os "Revive"

Contou Bullón na Daytona Beach que em uma equipe de futebol, todo o estádio aclama ao que coloca o gol. Outros jogadores, por mais que participaram dando bons passes e Armando a jogada, apesar de não conhecer cristo, tomam ao goleador em alto e o honram com o público. Nenhum de outros se queixa porque nem o público nem outros jogadores os festejam a eles. Assim também é para com os evangelistas, adicionou. São chamados para colocar o gol mas, em lugar de alegrar-se e apoiá-los, muitos se queixam porque consideram que não os tem em conta. Ainda assim, pergunto-me: será que realmente somos os evangelistas os que colocamos o gol?

Antes havia evangelistas que exigiam aos pastores locais não batizar a ninguém para que se acumulasse gente como a água em um dique, até que foram dar uma campanha e assim aparecer como heróis com uma cifra espetacular. Hoje já nem isso. Por todos lados estão dizendo que na campanha de cinco dias do Pr. Bullón em Atlanta, batizaram-se mais de 200 pessoas. Mentira! O Pr. Bullón não permite que se batizem mais de duas pessoas por noite, para não fazer pesada a reunião de cada noite. Veio em setembro, e essas mais de 200 pessoas são as que batizaram os pastores ao longo de todo o ano, nas conferências que eles e outros pastores convidados deram em toda Atlanta. Se Bullón não tivesse vindo, batizar-se-ia a mesma quantidade de gente, de maneira que não se pode atribuir-lhe a autoria de tão grande "golaço". Seria mais, se os cerca de 70.000 dólares que se investiram para essa campanha fossem distribuídos nas Igrejas e grupos (parte disso se fez). O bom de sua vinda, deve admitir-se, é a decisão daqueles que estiveram na balança para um futuro batismo. Isso já não é tão mensurável em termos quantitativos.

Foi o Pr. Bullón quem começou uma nova era evangelística com os "revive". Consiste em uma semana de temas espirituais, de decisão, sem implicações necessariamente doutrinárias. Vamos negar seu valor? Absolutamente. A todos faz bem. Quando se dá em uma concentração em determinada cidade com várias Igrejas, dá-se uma solidariedade maior na irmandade. Produz coesão e dá gosto trabalhar por um projeto comum.

Não obstante, todos os pastores que participam de tais eventos, inclusive o Pr. Bullón, reconhecem que devem estar precedidos por um trabalho dedicado e paciente da irmandade em contatos e estudos bíblicos levados a cabo, freqüentemente, pelos pequenos grupos. Sem o trabalho esmerado de tais grupos, as grandes concentrações tampouco teriam êxito. E sem o trabalho conseqüente de tais grupos, semeia-a maior que se dá pelos meios de difusão (rádio e TV), tampouco poderia colher-se. Por essa razão disse Ellen G. White, quando os pregadores dão a mensagem em público, não têm feito a não ser começar. Seu trabalho se perderá sem o trabalho pessoal.

Muitas vezes se fazem uns gastos impressionantes nos Revive, quando se todo o dinheiro que se investiu neles fosse destinado a fortalecer os grupos pequenos, obteria-se mais. Não estou dizendo que uma coisa elimina a outra. Mas na hora de fazer cálculos, convém em muitos casos pesar bem a decisão a tomar. Tampouco pode-se nos Revive repassar todas as doutrinas. Mas convirá que nos vários Revive que se tenham durante o ano, vá abrangendo toda nossa mensagem. Assim como o estudo pessoal com o interessado, de todas nossas doutrinas, não suplanta a pregação, tampouco a pregação deve dar-se sem conexão doutrinária com o estudo bíblico pessoal.

Por que se levantam, de tanto em tanto, reações radicais e fanáticas em nossa igreja em relação aos temas proféticos que nos caracterizam? O que está acostumado a fazer-se é condenar-lhe como se não se soubesse que essa condenação recai sobre os que deixaram o caminho livre para tais aparições espúrias. Os pregadores sensacionalistas e extremistas aparecem as mais das vezes porque a gente está ávida pelos temas distintivos de nossa fé que não se pregam. Dali que terminem caindo fácil presa do engano quando este se apresenta revestido com um fogo estranho mas com sabor aparentemene genuíno. Se a igreja se conformar com revive emocionais, tais extremismos seguirão aparecendo e conseguindo causar maiores estragos, deixando logo um gosto amargo ainda em quem administrativamente prefere permanecer fiéis a nossa organização.

O Pr. Bullón, embora não pregue sobre os temas apocalípticos, preparou em vídeo uma série sobre o Daniel e Apocalipse, singela, e ao parecer fará o mesmo sobre o santuário, segundo já mencionei. Requer-se repassar, em seguida do batismo, as verdades distintivas de nossa fé, para que os conversos possam transformar-se em verdadeiros Adventistas. Há irmãos em minha igreja que continuam os estudos bíblicos com as pessoas mais capazes que se batizam, mais definidamente relativos ao santuário e o Apocalipse. Que triste seria que nos transformemos em concessionários que, logo depois de vender um automóvel, trocam de cara para com o cliente!


Conclusão

A autocrítica é necessária para poder ser criativos e crescer. Com esse fim procuramos evitar transformar em vacas sagradas (intocáveis), ainda aos servos que Deus usou e segue usando grandemente nestes tempos modernos. O propósito não é destruir a ninguém, mas sim pôr sob relevo as diferentes tendências com seus méritos e perigos. Se, logo depois de uma série tal despertam inquietações, levantam-se reações, dão-se observações, e se oferecem testemunhos dos êxitos e fracassos obtidos em diferentes países, aprenderemos muito e ampliaremos mais nossa compreensão do lhe abranjam e extraordinário que é a obra de pregar o evangelho.

Talvez será bom tentar destacar alguns pontos relevantes a maneira de conclusão. Acredito cada vez mais que, em lugar de números de batismos, devêssemos nos preocupar em números de lugares novos abertos, com gente bem estabelecida e fundada na fé. Ao pôr a ênfase nos números e exercer pressão para obtê-los, descuida-se seu avanço para novos lugares que, ao final e embora demore mais ao princípio, trará mais números também. Neste nosso ponto deveríamos aprender mais de nossos pioneiros e do espírito com que levaram a cabo essa tarefa.

A qualidade na preparação dos candidatos está intimamente ligada ao incremento dos dízimos e número de pastores. Resulta estranho que milhares se batizem e não aumente virtualmente o número de pastores para atender a tantas ovelhas malnutridas.
Sou pastor em uma Associação que pela segunda vez consecutiva está ao batente em dízimos em toda a União. O presidente acaba de escrever uma carta dizendo que essa é a prova maior da saúde espiritual da membresia. Mas as conversões maciças que se dão em tantos lugares não suportam um incremento proporcional em dízimos. E não se deve isso a que são pobres, já que os pobres são freqüentemente, conforme o pude verificar com os anos, os que por regra general terminam dando mais. A diferença dos ricos, revistam investir mais em quão espiritual no material.

A Divisão Interamericana não tem as tremendas instituições alimentícias, médicas e educacionais da Divisão Sul-americana. Duas exceções são Montemorelos e Mayaguez. Mais de uma vez me disseram que não querem complicações administrativas. Não é sempre fácil dar com o administrador adequado. Talvez o índice tão elevado de apostasia na Interamérica tenha algo que ver com a carência de instituições sólidas e seu conseguinte falta de solidez.

Para resolver os problemas que se levantam às vezes com administradores ineptos ou imprudentes, os White convidaram, ao começo, aos irmãos mais capazes e ricos para que se estabelecessem perto das grandes instituições que tinham construído no Battle Creek. Várias vezes estiveram ao bordo da quebra até que a ingerência desses irmãos experimentados e ricos contribuiu a obter um respaldo e estabilidade econômica conseqüentes. Tais leigos capazes formavam parte das decisões que se deviam tomar, com voz e voto. Um princípio semelhante segue em pé no respaldo que recebe nossa igreja a nível mundial das associações de industriais Adventistas conhecida como ASI.

Necessita-se um olhar mais amplo e aberto para com as grandes instituições de nossa igreja. Não há como elas para consolidar a obra de nossos pregadores. Anos atrás, quando as instituições médicas Adventistas na Argentina estavam funcionando bem, a União Austral tomou um voto para lhes tirar (acredito que) cinco por cento para evangelismo. Havia quem dizia que agora entendiam como tais instituições poderiam transformar-se no braço direito da mensagem Adventista. Depois escutei dizer que o problema de nossos hospitais é que as equipes médicas são hoje muita sofisticadas e não há recursos para comprá-los e competir com outras instituições de fora que podem comprá-los. Terá que amputar o braço direito, então, do corpo da igreja?

Tanto nossas grandes instituições como os profissionais Adventistas que não são pastores, são freqüentemente mal compreendidos por líderes administrativos que descuidam uma obra em seu favor porque não tiveram as vivencias que eles tiveram. Porque a obra de sedimentar a boa semente e cultivá-la em chãos mais fundos e propícios leva mais tempo, alguns administradores de uniões e associações se impacientam e ficam a espancar a nossas instituições como se dessa forma poderiam lhes tirar mais frutos. Ameaçam as fechando, expulsam líderes quase insubstituíveis, e revelam um zelo sem ciência que danifica se não destruir irreparavelmente o que com tanto esmero e esforço se construiu ao longo dos anos. Posso entender que o sonho de muitos dirigentes em nossa igreja seja velar por um nível espiritual adequado em nossas instituições. Mas, devia tal preocupação e zelo nos voltar foragidos para com o que Deus ordenou cuidar e fortalecer?

As estatísticas de anos atrás provavam que quão jovens assistem a nossas escolas e colégios são mais estáveis na fé. Enquanto que 75% dos que freqüentaram as salas-de-aula Adventistas se mantinham na fé, 75% de quão jovens não assistia a nossas escolas e colégios abandonava a igreja. Não é estranho que sejam os pastores que vivem obcecados com o número de batismos e que se apressam a batizá-los sem a devida preparação, os que, ao ser postos como líderes, enfurecem-se contra nossas instituições que paciente e lentamente estão sedimentando a obra de pregação.

As verdades distintivas de nossa fé, seus fundamentos e pilares, devem ser o objetivo ineludible ao qual dirigir todo esforço e estratégia evangelística. Já seja à frente, ao médio ou ao final, todo esforço deve guiar a afirmar as estacas para que a grande carpa da igreja não nos venha abaixo, ou que a gente se vá perceber suas gretas. Se alguns não virem luz nisso como estratégia evangelística, é porque não se deram à tarefa de estudar. Requer-se esforço para ser criativo e fazer entrar e expandir uma mensagem impopular como o que temos. Mais que inteligência se requer sabedoria, já que o que prende almas é sábia.

Queira Deus dotar a sua Igreja de todo dom, sem menosprezar nenhum deles. Quando anos atrás, a instâncias do Dr. Mario Veloso e outro fiel servidor dele, queriam os administradores da Divisão Sul-americana exigir aos professores de teologia ser 100% pastores para que saiam da torre de marfim em que se encontram e não percam o sentido de missão, disse a um presidente de União, "por que não se dedica você a colportar também 100%, e assim não perde o sentido de missão e sai da torre de marfim em que está como administrador?"

Reconhecimento e respeito dos diferentes dons que Deus dá é o que se requer daqueles que dirigem sua Igreja. Atirar as rédeas casais e cuidar que nada se perca deve ser a tarefa de todos nós. Nos gozar com os dons que Deus deu a outros e desfrutar de do gozo que outros têm com os que nos deu , é também essencial para um crescimento estável e seguro. Que estas reflexões salpicadas e entesouradas do que vi e vivi em nossa igreja sirvam para uma discussão sã mais lhe abranjam que anime a todos a melhorar e apressar a vinda do Senhor. Um pouquinho mais, apesar de nossos defeitos, e estaremos no lar. -- Alberto R. Treyer.

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