Clipping: SINAIS DOS TEMPOS


Segunda, 9 de fevereiro de 2004, 14h34 
Gripe aviária pode dizimar população, dizem russos

A Academia de Ciências Médicas da Rússia advertiu hoje para o perigo extremo que a gripe do frango representa, afirmando que se o vírus que a produz sofrer uma mutação poderá criar a pandemia mais mortífera que o planeta já viu. Os especialistas russos em virologia não quiseram pôr panos quentes ao avaliar a progressão mortal da epizootia e por isso fizeram hoje um apelo à comunidade internacional para que encontre o mais rápido possível uma vacina contra essa infecção.

Quem fez o estridente alerta foi o diretor do Instituto de Virologia da Academia Russa de Ciências Médicas, Dmitri Lvov, que afirmou que a gripe do frango pôs o mundo "à beira de uma catástrofe sanitária". Segundo Lvov, existem todas as condições para que a população mundial enfrente em pouco tempo uma pandemia originada pela doença.

Nesse caso, as conseqüências não poderiam ser piores. Segundo Lvov, a gripe do frango transmissível entre seres humanos por uma mutação do vírus e estendida a todo o mundo "poderia acabar com 80% da população humana". Lvov explicou que, segundo os últimos relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de vinte pessoas foram infectadas pela doença, sendo que 16 morreram.

Isso significa, disse, que o índice de mortandade é de 80%, "muito maior que a da peste negra" na Europa medieval. Estas considerações coincidiram com as análises de outros especialistas, como o doutor David Hui da Universidade Chinesa de Hong Kong, que estabeleceu que o índice de mortandade ronda os 70%.

Segundo Hui, este surto da gripe do frango é pelo menos duas vezes mais mortífero que o declarado em 1997. Lvov foi além: "Este vírus é mil vezes mais perigoso que o que produz a chamada Síndrome Respiratória Aguda Severa (Sars)", que se originou na província chinesa de Cantão em novembro de 2002 e causou o pânico no mundo todo. Segundo o cientista russo, caso se declare uma pandemia de gripe do frango em nível mundial, poderiam morrer 4 bilhões de pessoas.

Lvov explicou que "a única esperança da espécie humana, à beira de uma catástrofe epidemiológica, é que até o momento o vírus da doença não sofreu a mutação para um híbrido de vírus animal e humano". Lembrou que, até o momento, "é somente gripe do frango. As pessoas doentes dela foram contaminadas diretamente das aves e não de outras pessoas". O especialista russo descartou que haja um contágio por consumo de carne de frango, pois a infecção (do vírus H5N1) se propaga através das fezes das aves.

A epizootia já afeta a China, Vietnã, Tailândia, Indonésia, Japão, Laos, Taiwan, Camboja, Coréia do Sul e Paquistão. Segundo os últimos dados oficiais, a epidemia pode ter causado 14 vítimas humanas no Vietnã e outras 5 na Tailândia.

Lvov, um dos principais especialistas russos em doenças virais, insistiu em que todos os esforços deveriam concentrar-se na descoberta de uma vacina capaz de erradicar a "gripe do frango". No entanto, reconheceu, "existem inúmeros problemas para criar uma vacina desse tipo, sobretudo problemas tecnológicos. No momento atual, só nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha poderia preparar-se uma vacina assim ".

O cientista explicou que na Rússia estão sendo realizados muitos experimentos no Instituto que dirige, mas com dificuldades, por não poder trabalhar com o vírus mortal. "Até o momento, trabalhamos com cepas inócuas do vírus, já que fazê-lo com as cepas patógenas poderia abrir uma porta à epidemia. Se pudermos desenvolver essas cepas inócuas nas condições adequadas, uma vacina obtida das mesmas poderia servir para deter o vírus mortal", disse.

Segundo Lvov, "conseguiu-se um sistema de teste para trabalhar com os materiais genéticos do vírus", passo importante para conseguir a vacina adequada. No entanto, recomendou ao Ministério da Saúde russo que comece a organizar pavilhões de camas de reserva nos hospitais de todo o país para enfrentat um possível surto da doença dentro das fronteiras russas. --
EFE.


Folha OnLine Ciência: 08/02/2004 - 03h03

Artigo: Clima apocalíptico

MARCELO GLEISER
Especial para a Folha de S.Paulo

Há décadas cientistas vêm falando sobre os perigos do efeito estufa, o aquecimento da superfície terrestre causado pelo acúmulo de certos gases na atmosfera. A política ambiental americana, como se sabe, é desastrosa. Especialmente no presente governo, controlado por grupos de interesse ligados à indústria do petróleo. Até o presente, as previsões feitas por cientistas com relação a mudanças climáticas enfatizaram que elas são graduais, que os efeitos levariam décadas para serem percebidos.

Como existe um imediatismo na determinação de políticas ambientais (e todas as outras), é sempre mais fácil empurrar essas previsões futuras para o lado, fazendo vista grossa para os sinais já existentes das mudanças que estão por vir. "Temos problemas muito sérios agora. Não dá para ficar pensando no que pode ocorrer no futuro", diria um político sem conhecimento da ameaça climática.

As previsões de que as mudanças serão graduais estão sendo modificadas. Segundo novas pesquisas, podem ocorrer bem mais abruptamente do que o previsto. Em 2002, a Academia Nacional de Ciências dos EUA publicou relatório atestando que o clima pode mudar rapidamente. No Fórum Econômico Mundial do ano passado em Davos, Suíça, Robert Gagosian, diretor do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (EUA), fez palestra alertando as autoridades mundiais sobre a possibilidade de que mudanças climáticas radicais ocorram em duas décadas, caso nada seja feito para controlar a emissão de gases-estufa.

Os indicadores incluem o derretimento acelerado das calotas polares e das geleiras alpinas e primaveras prematuras nas latitudes ao norte do planeta. A influência mais dramática do aquecimento global é na chamada corrente do Golfo, que circula dos trópicos ao Atlântico Norte e afeta o clima da Europa e o leste da América do Norte.

Na medida em que a corrente flui para o norte, ela libera calor, tornando-se mais densa. Um líquido mais denso sempre afunda quando em contato com outro menos denso, como mel em água. A corrente, mais densa, afunda na região do Atlântico Norte, circulando de volta aos trópicos, onde ela é reaquecida antes de fluir outra vez para o norte.

Quando a temperatura global aumenta, esse processo é modificado: com o degelo das calotas polares e geleiras, mais água doce entra no oceano, diminuindo a salinidade e a tendência de afundar. Isso pode interromper o circuito da corrente, provocando mudanças climáticas no hemisfério Norte similares às que ocorreram nos períodos glaciais.

Claro, não foi a poluição causada pelo homem que provocou a glaciação que ocorreu entre 78 mil e 13 mil anos atrás. Na verdade, não se sabe ainda exatamente o que a causou. Até bem recentemente, acreditava-se que o resfriamento teria ocorrido no planeta inteiro. Mas o estudo de certas camadas rochosas da Nova Zelândia mostrou que o hemisfério Sul não sofreu resfriamento comparável ao Norte, cujas temperaturas médias caíram mais de 7C. Parece pouco, mas não é. Durante a Idade do Gelo, a maior parte da América do Norte e da Europa foi coberta por uma espessa camada de gelo.

A indústria cinematográfica americana, como não poderia deixar de ser, já está preparando o superfilme-desastre, para julho de 2004. Nele, o ator Dennis Quaid faz o papel de um cientista que tenta salvar o mundo de uma catástrofe climática de dimensões apocalípticas, causada justamente por uma nova Idade do Gelo desencadeada pelo efeito estufa.

Segundo estimativas ainda bem preliminares, se a corrente parar de esquentar os países do Atlântico Norte, icebergs poderão ser vistos em Portugal. (E os portugueses vão querer voltar para cá.) Se o aquecimento não for tão extremo, poderá causar uma Mini-Idade do Gelo, como a que ocorreu entre 1300 e 1850, com invernos rigorosos, tempestades devastadoras e grandes secas.

Longe de mim querer ser alarmista bem antes do Carnaval. Mas a questão climática não pode ser deixada de lado. Não é este o mundo que queremos deixar para as futuras gerações.

Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "O Fim da Terra e do Céu"

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u11047.shtml


SALGADO ATÉ DEMAIS: Aumento da salinidade no oceano Atlântico compromete equilíbrio climático da Terra

Quem quiser testar se a água do mar é realmente salgada pode se surpreender: talvez ela já não tenha o mesmo sabor de pelo menos 40 anos atrás. Na zona tropical, ela está muito mais salgada. É isso que confirmam três pesquisadores que analisaram o oceano Atlântico entre as décadas de 1950 e 1990. Em artigo publicado na revista Nature em 18 de dezembro de 2003, eles apontam o motivo desse fenômeno.

Segundo a autora principal do estudo, a geóloga Ruth Curry, do Instituto Oceanográfico Woods Hole (EUA), o aquecimento global é sem dúvidas um dos principais responsáveis pela maior concentração de sal no Atlântico. "O aumento da temperatura do mar nos trópicos desregula o ciclo das águas, o que pode alterar a distribuição, a severidade e a freqüência de secas, inundações e tempestades, entre outras conseqüências ambientais", diz o artigo.

O desequilíbrio no ciclo hidrológico da Terra ocorre porque as águas superficiais são aquecidas com rapidez, o que acelera a evaporação. No entanto, como o sal não é trocado com a atmosfera nesse processo, ele não apenas se conserva nos oceanos, mas se expande por algumas regiões do Atlântico de água predominantemente mais doce, como o mar Mediterrâneo, o que pode causar problemas aos ecossistemas marinhos.

Em situação ideal, esse ciclo se completa quando a água evaporada nos trópicos é naturalmente transportada para as zonas polares, onde se precipita sob forma de neve ou chuva, e migra novamente para a região equatorial. Entretanto, em função do aumento da evaporação nas últimas quatro décadas -- entre 5 e 10%, segundo a equipe de Curry --, as precipitações no Ártico e na Antártida têm se tornado mais intensas, o que ameaça a regulação térmica em várias partes do mundo.

A corrente do Golfo, por exemplo -- que se origina no golfo do México, passa pela costa leste da América do Norte e chega ao norte da Europa --, só consegue levar águas quentes para zonas muito frias porque na região ártica grandes massas de água congelam e submergem o bastante para não atrapalhar a passagem da corrente. Se, no entanto, a zona polar receber mais água doce (das precipitações), esses blocos salgados deixarão de afundar e impedirão a chegada das águas mornas capazes de amenizar o frio no Atlântico Norte -- situação que tem sido registrada com cada vez mais intensidade.

 


As regiões vermelhas, nos trópicos, indicam uma maior
salinidade do oceano Atlântico (reprodução/Nature)

A equipe de Curry coletou e analisou água em diferentes épocas, profundidades e regiões do Atlântico. Em seguida, foram construídas representações tridimensionais das propriedades do oceano com base nessas amostras e, então, as informações foram comparadas. Assim, Curry pôde não só interpretar os dados, mas fazer previsões sobre a quantidade de água evaporada a cada ano e, com isso, avaliar o aumento na salinidade do oceano.

Segundo Curry, ainda que as providências sejam urgentes, será possível qualificar as mudanças climáticas com maior precisão quando estudos semelhantes nos oceanos Pacífico e Índico e no mar Mediterrâneo forem concluídos. Em entrevista à CH On-line, ela alerta: "a emissão de gases que provocam o efeito estufa precisa ser reduzida imediatamente, ou ao menos estabilizada. Mas infelizmente não creio que isso aconteça num futuro próximo".

Andreia Fanzeres
Ciência Hoje On-line
03/02/04

Fonte: http://www2.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n994.htm

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