Capítulo 5

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O ESPÍRITO TORNA FÁCIL A SALVAÇÃO

 

1   Estai pois firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão.

 

A relação entre o capítulo quarto e cinco é tão estreita, que custa imaginar a razão que levou a se dividir o texto nesse ponto.

 

A liberdade que Cristo oferece

Quando Cristo manifestou-se em carne, o trabalho dele consistiu em “proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos” (Isa. 61:1). Os milagres que realizou foram ilustrações práticas de sua obra, e bem podemos agora considerar um dos mais interessantes.

"Ensinava Jesus no sábado numa das sinagogas. E veio ali uma mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; andava ela encurvada, sem de modo algum poder endireitar-se. Vendo-a Jesus, chamou-a e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade; e, impondo-lhe as mãos, ela imediatamente se endireitou e dava glória a Deus” (Luc. 13:10-13).

Quando o hipócrita dirigente da sinagoga reclamou porque Jesus tinha feito esse milagre no sábado, Ele lembrou-lhe como cada um deixava livre a seu boi ou asno no sábado, a fim de que bebessem, e acrescentou dizendo: "Por que motivo não se devia livrar do cativeiro, em dia de sábado, esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos?” (vers. 16).

Há dois aspectos dignos de menção: Satanás tinha amarrado a mulher, e esta estava “possessa de um espírito de enfermidade” que a incapacitava.

 

Note que esta descrição se ajusta bem à nossa condição, antes de encontrar a Cristo:

(1) Somos cativos de Satanás, estamos “cativos à vontade dele” (2 Tim. 2:26). “Todo o que comete pecado, é escravo do pecado” (João 8:34), e “o que pratica o pecado pertence ao diabo” (1 João 3:8). “Quanto ao perverso, as suas iniqüidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido” (Prov. 5:22). O pecado é a cadeia com que Satanás nos amarra.

(2) Estamos possessos “de um espírito de enfermidade”, e de nenhuma maneira possuímos a força para nos endireitar, nem para libertar-nos por nós mesmos das cadeias que nos amarram. Foi “quando ainda éramos fracos” que Cristo morreu por nós (Rom. 5:6). O termo que é traduzido por fracos em Romanos 5:6 é o mesmo que é traduzido por ”enfermidade” no relato de Lucas. A mulher estava enferma ou debilitada, e essa é também a nossa condição.

Que fez Jesus por nós? Toma nossa fraqueza, e nos dá em troca sua força. “Não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas” (Heb. 4:15). “Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e levou nossas doenças” (Mat. 8:17). Ele se fez em tudo semelhante ao que nós somos, a fim de que possamos ser feitos em tudo ao que Ele é. Nasceu “debaixo da Lei para redimir os que estavam debaixo da Lei” (Gál. 4:4 e 5). Nos libertou da maldição, fazendo-se maldição por nós, para que nos fosse possível receber a bênção. Embora não conhecesse pecado, se tornou pecado por nós, “para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Cor. 5:21).

Para que Jesus livrou essa mulher de sua enfermidade? Para fazê-la caminhar em liberdade. Não foi certamente para que continuasse fazendo, por sua própria e livre vontade, as mesmas coisas que anteriormente tinha que fazer por obrigação, quando estava em seu estado de penosa escravidão. Com que propósito nos livra do pecado? Para que possamos viver livres do pecado. Devido a debilidade de nossa carne, somos incapazes de obrar a justiça da lei. Portanto, Cristo, que veio em carne, e que tem poder sobre a carne, nos fortalece. Nos provê seu poderoso Espírito para que a justiça da lei possa cumprir-se em nós. Em Cristo não andamos na carne, mas no Espírito. Não podemos saber de que maneira ele o faz. Só Ele o sabe, já que é Ele quem possui o poder. Mas nós podemos conhecer sua realidade.

Quando a mulher estava ainda presa e sem forças para endireitar-se, Jesus lhe disse: “Mulher, estás livre da tua enfermidade”. É um tempo verbal presente. Ele também diz isso à nós hoje. Proclama liberdade a todo cativo.

A mulher “andava encurvada, sem de modo algum poder endireitar-se”, porém, ela endireitou-se imediatamente ante a palavra de Cristo. Fez o que “não podia” fazer. “O que é impossível para os homens, é possível para Deus” (Luc. 18:27). “O Eterno sustém a todos os que caem, e levanta a todos os oprimidos” (Sal. 145:14). Não é a fé que produz os atos, mas ela é que reconhece o que já é um fato. Não há sequer uma só alma encurvada debaixo do peso do pecado que Satanás encadeou, que Cristo não sustenha e endireite. A liberdade lhe pertence. Simplesmente, deve fazer uso dela. Que a mensagem ressoe em todos os lugares. Que toda alma saiba que Cristo dá liberdade ao cativo. A boa nova encherá de alegria a milhares.

Cristo veio resgatar o que se havia perdido. Nos redime da maldição. Nos redimiu. Nos tem redimido. Então, a liberdade com que nos faz livres é aquela que existia antes que viesse a maldição. Ao homem foi dado o domínio sobre a terra. Não meramente ao primeiro homem criado, mas a toda a humanidade. “No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados (Gên. 5:1 e 2). “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra“ (Gên. 1:26-28). Vemos que o domínio foi dado a todo o ser humano, macho ou fêmea.

Quando Deus fez o homem, “lhe sujeitou [sob seus pés] todas as coisas” (Heb. 2:8). É certo que agora não vemos que todas as coisas são sujeitas ao homem, “vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem” (vers. 9). Jesus redime a todo homem da maldição do domínio perdido. Uma coroa implica um Reino, e a coroa de Cristo é a mesma que foi dada ao homem, quando Deus o recomendou dominar sobre a obra de suas mãos. Como homem, estando na carne, depois de haver ressuscitado e estar a ponto de ascender, Cristo declarou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, ide” (Mat. 28:18 e 19). NEle nos é dado todo o poder que se perdeu pelo pecado.

Cristo – como homem – provou a morte para nós, e por meio da cruz nos redimiu da maldição. Se estamos crucificados com Ele, estamos igualmente ressuscitados e assentados com Ele nos lugares celestiais, com todas as coisas sob nossos pés. Se não sabemos isto, é porque não permitimos ao Espírito que nos revele. Os olhos de nosso coração têm que ser iluminados pelo Espírito, “para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos” (Efe. 1:18).

A exortação para os que morreram e ressuscitaram com Cristo, é: “Não reine o pecado em vosso corpo mortal, para obedecer a seus maus desejos” (Rom. 6:12). Em Cristo, temos autoridade sobre o pecado, de forma que não tenha qualquer domínio sobre nós.

Quando “nos libertou de nossos pecados com seu sangue ”nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai” (Apoc. 1:5 e 6). Glorioso domínio! Gloriosa liberdade! Libertação do poder da maldição, inclusive sendo rodeados dela! Libertação do presente século mau, da concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos, e da arrogância da vida! Nem “o príncipe da potestade do ar” (Efe. 2:2), nem os “dominadores deste mundo tenebroso” (6:12) podem ter domínio algum sobre nós. É a liberdade e autoridade que teve Cristo quando ordenou: “Vai-te, Satanás” (Mat. 4:10). E o diabo o deixou imediatamente.

É uma tal liberdade que nada no céu nem na terra nos pode obrigar a proceder contra nossa eleição. Deus nunca nos obrigará, pois é quem nos dá a liberdade. E nenhum outro fora dEle pode obrigar-nos. É um poder sobre os elementos, de forma que sejam postos a nosso serviço, em vez de sermos controlados por eles. Aprenderemos a reconhecer Cristo e a cruz  em todo o lugar, de forma que a maldição careça, para nós, de poder. Nossa saúde “apressadamente brotará” (Isa. 58:8), pois que a vida de Cristo se manifestará em nossa carne mortal. Uma liberdade gloriosa como nenhuma língua ou pena podem descrever.

 

"Permanecei, pois, firmes

"Pela palavra de Jeová foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito de sua boca”, “Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu” (Sal. 33:6, 9). A mesma palavra que criou o firmamento estrelado, nos fala assim: “Permanecei, pois, firmes”. Isto não é uma ordem que nos deixa no mesmo estado de impotência anterior, mas que leva em si mesma o cumprimento do fato. Os céus não se formaram por si mesmos, foram trazidos à existência pela palavra do Senhor. Permitamos-Lhe, pois, ser nosso instrutor. “Levantai vossos olhos para o alto, e vede quem criou estas coisas, quem criou seu exército de estrelas, quem a todas chama pelos seus nomes, por causa da grandeza de suas forças” (Isa. 40:26). “Ele dá energia ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor” (Isa. 40:29).

 

1   Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.

 

É necessário compreender que isso envolve muito mais que o simples rito da circuncisão. O Senhor fez com que esta epístola, que tanto fala da circuncisão, fosse preservada para nosso benefício, porque contém a mensagem do evangelho para todas as épocas, até mesmo se a circuncisão como rito não é em nossos dias objeto de nenhuma polêmica.

A questão é como obter a justiça – a salvação do pecado – e a herança que isto envolve. E pode ser obtida somente pela fé, recebendo a Cristo no coração e lhe permitindo viver sua vida em nós. Abraão teve essa justiça de Deus pela fé de Jesus Cristo, e Deus lhe deu a circuncisão como sinal disto. Teve para Abraão um significado muito especial, lembrava-lhe constantemente sua derrota quando tentou cumprir a promessa de Deus por meio da carne. O registro deste fato, tem para nós idêntico propósito. Mostra que “a carne nada aproveita”, e que portanto, não é necessário depender dela. Não é que estar circuncidado faria que Cristo ficasse sem proveito, porque mesmo Paulo estava, e em certo momento considerou oportuno que Timóteo fosse circuncidado (Atos 16:1-3). Mas Paulo não dava valor algum a sua circuncisão, nem para qualquer outro sinal externo (Fil. 3:4-7), e quando lhe propuseram a circuncisão de Tito como condição necessária para a salvação, não consentiu (Gál. 2:3-5).

O que devia ter sido apenas um sinal indicativo de uma realidade preexistente, foi considerado pelas gerações subseqüentes como o meio para estabelecer essa realidade. Portanto, a circuncisão é erguida nesta epístola como símbolo de todo tipo de “obra” que o homem possa fazer, esperando obter assim a justiça. São “as obras da carne”, postas em contraste com o Espírito.

É estabelecida esta verdade: se uma pessoa faz algo com a esperança de ser salvo por ela, quer dizer, de obter a salvação por suas próprias obras, “de nada lhe aproveitará Cristo”. Se não se aceita a Cristo como um Redentor pleno, não o aceitamos em nada. Quer dizer, ou aceita a Cristo tal qual é, ou o rejeita. Não pode ser de outro modo. Cristo não está dividido, e não compartilha com nenhuma outra pessoa ou coisa a honra de ser Salvador. Então é fácil ver que se alguém fosse circuncidado com a intenção de ser salvo deste modo, estaria manifestando falta de fé em Cristo como o pleno e único Salvador do homem.

Deus deu a circuncisão como um sinal da fé em Cristo. Os judeus a perverteram transformando-a em um substituto da fé. Quando um judeu se gloriava em sua circuncisão, ele estava gloriando-se de sua própria justiça. Assim mostra o versículo quatro: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei: da graça tendes caído”. Paulo não estava de modo algum depreciando a lei, mas a capacidade do homem para obedecê-la. Tão santa e gloriosa é a lei, e tão grande suas exigências que nenhum homem pode alcançar a sua perfeição. Somente em Cristo se faz a nossa justiça da lei. A verdadeira circuncisão é adorar a Deus em Espírito, alegrar-se em Jesus Cristo, e não pôr a confiança na carne (Fil. 3:3).

 

2   E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei.

3   Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei: da graça tendes caído.

 

‘Aí está!’, exclamará alguém, ‘isso demonstra que a lei é algo a evitar, já que Paulo afirma que os que são circuncidados estão obrigados a cumprir toda a lei, ao mesmo tempo que admoesta que ninguém se circuncide'.

Não tão depressa, amigo. Vejamos mais atentamente o texto. Observe o que Paulo diz, no original grego (vers. 3): “devedor é toda a lei a cumprir”. Você pode notar que o mal não é a lei, nem cumprir a lei, mas sim o estar em dívida com a lei. É importante apreciar a diferença. Ter comida e roupa é bom. Endividar-se para poder comer e vestir, é muito triste. E mais triste ainda é ter a dívida, e além disso faltar o necessário para comer e vestir.

Um devedor é aquele que deve algo. O que está em dívida com a lei, deve à justiça que a lei demanda. Então, todo aquele que está em dívida com a lei, está debaixo da maldição, “porque está escrito: 'Maldito todo aquele que não permanece em tudo o que está escrito no livro da Lei'“ (Gál. 3:10). Portanto, tentar obter justiça de qualquer outro modo que não seja pela fé em Cristo significa estar sob a maldição da dívida eterna. Está endividado pela eternidade, uma vez que não tem nada com que pagar. Porém, o fato de que seja devedor à lei – “devedor é toda a lei a cumprir” –, demonstra que deveria cumpri-la em sua totalidade. Como?: “Esta é a obra de Deus, que creiais nAquele a quem ele enviou” (João 6:29). Deixará de confiar em si mesmo e receberá e confessará a Cristo em sua carne, e então a justiça da lei se cumprirá nele, porque não andará de acordo com a carne, mas com o Espírito.

 

4   Porque nós pelo espírito da fé aguardamos a esperança da justiça.

 

Leia vários vezes este texto, mas leia-o detidamente. Não esqueça o que já estudamos a respeito da promessa do Espírito. Caso contrário, você corre o risco de equivocar seu significado.

Não suponhas que o texto significa que, tendo o Espírito, temos que esperar para obter a justiça. Não diz isso. O Espírito traz a justiça. “O espírito vive por causa da justiça” (Rom. 8:10). “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8). Todo o que recebe o Espírito, tem a convicção do pecado, e da justiça que o Espírito lhe fez ver que carece, e que somente o Espírito pode trazer-lhe.

Qual é a justiça que traz o Espírito? É a justiça da lei (Rom. 8:4). “Porque sabemos que a lei é espiritual” (Rom. 7:14).

O que há, então, sobre “a esperança da justiça” que aguardamos pelo Espírito? Note que não diz que por meio do Espírito aguardamos a justiça. O que diz é que “aguardamos a esperança da justiça que vem pela fé”, quer dizer, aguardamos a esperança que é dada ao possuirmos essa justiça. Refresquemos brevemente a memória a esse respeito:

 

(1) O Espírito de Deus é “o Espírito Santo da promessa”. A possessão do Espírito é o penhor ou garantia da promessa de Deus.

(2) O que Deus nos prometeu, como filhos de Abraão, foi uma herança. O Espírito Santo é a garantia daquela herança até que a possessão adquirida esteja redimida e nos seja entregue (Efe. 1:13 e 14).

(3) Essa herança prometida consiste nos novos céus e nova terra, nos quais mora a justiça (2 Ped. 3:13).

(4) O Espírito traz a justiça. É o representante de Cristo, a forma na qual Cristo, que é nossa justiça, vem morar em nossos corações (João 14:16-18).

(5) Portanto, a esperança que o Espírito traz é a esperança de uma herança no Reino de Deus, na nova terra.

(6) A justiça que o Espírito traz é a justiça da lei de Deus (Rom. 8:4; 7:14). O Espírito não a escreve em tábuas de pedra, mas em nossos corações (2 Cor. 3:3).

(7) Resumindo, podemos dizer que se em vez de crermos o suficiente para poder obedecer a lei, permitirmos que o Espírito faça morada em nosso coração e nos encha assim da justiça da lei, teremos a esperança viva em nosso interior. A esperança do Espírito – a esperança da justiça pela fé –, não contém elemento algum de incerteza. É algo positivamente seguro. Em nenhuma outra coisa há esperança. Quem não possui “a justiça que vem de Deus pela fé” (Fil. 3:9; Rom. 3:23), está privado de toda esperança. Somente Cristo em nós é “a esperança da glória” (Col. 1:27).

 

1   Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem virtude alguma; mas sim a fé que opera por caridade.

 

A palavra traduzida aqui como ”valor”, é a mesma traduzido por “poderão”, “podido” ou “puderam”, em Lucas 13:24; Atos 15:10 e 6:10, respectivamente. Em Filipenses 4:13, é traduzida a mesma palavra: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece". Então, é necessário entender o texto deste modo: 'A circuncisão não pode operar nada, nem a incircuncisão. Somente a fé que – obrando pelo amor –, pode fazê-lo'. E essa fé que obra pelo amor, se encontra somente em Jesus.

Mas o que nem a circuncisão ou a incircuncisão não podem cumprir? Nem mais, nem menos que a lei de Deus. Não está ao alcance de qualquer homem, seja qual seja o seu estado ou condição. O incircunciso carece de poder para guardar a lei, e a circuncisão em nada lhe pode ajudar a fazê-lo. Uma pessoa pode vangloriar-se de sua circuncisão, e outro de sua incircuncisão, mas ambos em vão. Pelo princípio da fé, “é eliminada” (Rom. 3:27). Posto que somente a fé de Jesus pode cumprir a justiça da lei, não sobra nenhum resquício para que possamos nos jactar pelo que temos “feito”. Cristo é o tudo em todos.

 

2   Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade?

3   Esta persuasão não vem daquele que vos chamou.

4   Um pouco de fermento leveda toda a massa.

5   Confio de vós, no Senhor, que nenhuma outra coisa sentireis; mas aquele que vos inquieta, seja ele quem for, sofrerá a condenação.

6   Eu, porém, irmãos, se prego ainda a circuncisão, por que sou pois perseguido? Logo, o escândalo da cruz está aniquilado.

7   Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando.

 

A lei de Deus é a verdade (Sal. 119:142), e os irmãos de Galácia tinham começado a obedecê-la. No princípio com êxito, mas posteriormente haviam detido seu progresso. “Por que? Porque não a seguiram pela fé, mas pelas obras. Por isso tropeçaram “na pedra de tropeço” (Rom. 9:32). Cristo é o caminho, a verdade e a vida, e nEle não há tropeço. NEle se encontra a perfeição da lei, posto que sua vida é a lei.

A cruz é, e sempre foi, um símbolo da desgraça. Ser crucificado era ser submetido à morte mais ignominiosa de todas as que se conheciam. O apóstolo afirmou que se houvesse sido pregado a circuncisão (quer dizer, a justiça pelas obras), se haveria eliminado “o escândalo da cruz” (Gál. 5:11). O escândalo da cruz consiste em que a cruz é uma confissão da fraqueza e pecado do homem, e de sua absoluta incapacidade para obrar o bem. Tomar a cruz de Cristo, depender somente dEle para todas as coisas, é o que leva ao abatimento de todo o orgulho humano. O homem gosta de sentir-se independente e autônomo. Mas pregando-se a cruz, fica manifesto que no homem não mora o bem e que tudo deve ser recebido como um dom, e imediatamente haverá alguém que se sinta ofendido.

 

8   Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; não useis então da liberdade para dar ocasião à carne; mas servi-vos uns aos outros pela caridade;

9   Porque toda a lei se cumpre numa só palavra:  Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.

 

Os dois capítulos precedentes se referem à escravidão, ao encarceramento. Antes de vir a fé estávamos “encarcerados” debaixo do pecado, éramos devedores à lei. A fé de Cristo nos fez livres, mas ao sermos postos em liberdade recebemos esta advertência: “Vai-te, e não peques mais” (João 8:11). Fomos colocados em liberdade do pecado, não em liberdade de pecar. Quantos se confundem com isto!

Muitas pessoas sinceras imaginam que em Cristo estamos em liberdade para ignorar e desafiar a lei, esquecendo que a transgressão da lei é pecado (1 João 3:4). Satisfazer a carne é cometer pecado, “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à Lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Rom. 8:7). O apóstolo nos adverte a não usarmos mal a liberdade que Cristo nos dá, caindo novamente na escravidão pela transgressão da lei. Em vez disto, deveríamos servir cada um ao nosso próximo, porque o amor é o cumprimento da lei.

Cristo nos dá a liberdade do primeiro domínio. Mas lembre-se que Deus deu o domínio ao gênero humano, e que em Cristo todos vem a ser reis. Isso significa que o único ser humano no qual um Cristão pode ter domínio é sobre si mesmo. O que é grande no Reino de Cristo é o que domina sobre seu próprio espírito.

Como reis, encontramos nossos súditos nas ordens inferiores dos seres criados, nos elementos e em nossa própria carne, mas jamais em nossos semelhantes. A, estes, temos que servir. Em nós deve haver a mente que havia em Cristo, inclusive quando ainda estava nas reais cortes celestiais, em forma de Deus”, e que o levou a tomar forma de servo (Fil. 2:5-7). Demonstrou deste modo também isto quando lavando os pés dos discípulos, em plena consciência de ser seu Senhor e Mestre, tendo vindo de Deus, e indo para Deus (João 13:3-13), mais ainda, quando todos os santos redimidos se manifestem em glória, Cristo mesmo se cingirá, os convidará a se sentar à mesa, e os servirá (Luc. 12:37).   

A maior das liberdades se encontra no serviço, no serviço prestado ao nosso próximo, no nome de Jesus. O maior é o que presta maior serviço (não o maior serviço de acordo com o mundo, mas sim o que este tem por mais baixo). Deste modo aprendemos de Jesus, que é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, por fazer-se  servo de todos, rendendo um serviço que ninguém poderia e nem queria fazer. Todos os servos de Deus são reis.

 

O amor é o cumprimento da lei

O amor não é um substituto do cumprimento da lei, mas é a perfeição deste. “O amor não faz mal ao próximo; assim, o amor é o cumprimento da lei” (Rom. 13:10). Se alguém diz: 'Eu amo a Deus', e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama a seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê” (1 João 4:20). Quando um homem ama seu próximo, tem que ser porque ama a Deus. “O amor vem de Deus”, “porque Deus é amor” (1 João 4:7 e 8). Portanto, o amor é a vida de Deus. Se essa vida está em nós e lhe damos livre curso, a lei necessariamente estará em nós, porque a vida de Deus é a lei para toda a criação. “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1 João 3:16).

 

Amor é ausência de egoísmo

Sendo que amor significa serviço – fazer algo para os outros –, é evidente que o amor não enfoca a atenção em si mesmo. Tudo o que pensa aquele que ama, é em como pode ser uma benção a outros. Lemos que: “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal” (1 Cor. 13:4 e 5).

É precisamente neste ponto vital que muitos se equivocam. Felizes os que reconhecem seu erro, e voltam à compreensão e prática do verdadeiro amor. O amor “não procura os seus interesses”. Logo, o amor a si mesmo não é amor, de maneira nenhuma. Não é mais que uma falsificação vil. Porém, muito do que o mundo chama de amor, não é de fato amor aos demais, mas amor a si próprio.

Até mesmo a que deveria ser a forma mais elevada de amor conhecida na terra, o tipo de amor que o Senhor usou para representar seu amor por seu povo, o amor entre marido e mulher, é freqüentemente mais egoísmo do que amor verdadeiro. Deixando de lado os casamentos que são forjados com o objetivo claro de obter riqueza ou posição na sociedade, em muitos casos, os candidatos ao casamento pensam mais na própria felicidade que na felicidade do outro. O amor autêntico desprovido de egoísmo existe na mesma proporção que a felicidade autêntica. Esta é uma lição que o mundo tarda em aprender. A felicidade autêntica se encontra somente quando a pessoa deixa de andar em sua busca, e se dedica em procurá-la para os demais.

 

O amor nunca deixa de ser

Uma vez mais nos encontramos ante um indicador de que muito do que se conhece como amor, na realidade não é. O amor nunca deixa de ser amor. É uma declaração categórica: nunca. Não há nenhuma exceção, e as circunstâncias não podem mudar isso. Freqüentemente ouvimos falar de amores que se esfriam, mas isso é algo que nunca pode acontecer ao verdadeiro amor. O verdadeiro amor é sempre cálido, ativo; nada pode congelar suas fontes. É invariável e inalterável, pela simples razão simples de que é a vida de Deus. Não há outro verdadeiro amor, fora do divino. Portanto, a única possibilidade de que o verdadeiro amor se manifeste entre os homens, é que seja derramado em seus corações pelo Espírito Santo (Rom. 5:5).

Quando alguém manifesta seu amor por outro, recebe normalmente a pergunta: 'Por que você me ama?' Como se alguém pudesse oferecer razões para amar! O amor é sua própria razão. Se o que ama é capaz de dar uma razão, demonstra com isso que não ama realmente. Seja lá o que for apontado como razão, com o passar do tempo, este suposto amor desaparecerá. Mas “o amor nunca deixa de ser”. Portanto, não pode depender das circunstâncias. A única resposta que se pode dar para o motivo de amar, é: por amor. O amor ama, simplesmente, porque é amor. Amor é a qualidade daquele que ama; ama porque tem amor, independentemente do caráter objeto amado.

Apreciamos a verdade do que foi dito, ao irmos a Deus, a Fonte do amor. Ele é amor. Sua vida é amor. Mas não é possível dar explicação alguma sobre sua existência. A maior concepção humana do amor consiste em amar porque somos amados, ou porque o objeto amado nos inspira amor. Mas Deus ama aquilo que é detestável. Ele ama a quem o odeia. “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros. Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tito 3:3-5). “Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo?... Sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mat. 5:46, 48).

"O amor não faz o mau contra o próximo” (Rom. 13:10). Próximo significa todo o que está perto, logo, o amor estende-se a todo aquele com quem entramos em contato. Só ama aquele que ama a todos.

Desde que o amor não faz mal ao próximo, o amor cristão (que, como temos visto, é o único amor que existe) não admite guerras e lutas. Quando os soldados perguntaram a João Batista que teriam de fazer para serem seguidores do Cordeiro de Deus, respondeu: “A ninguém maltrateis” (Luc. 3:14). Quantas guerras poderiam ser evitadas com isso. Se um exército estivesse composto de cristãos, de verdadeiros seguidores de Cristo, ao estabelecer contato com o inimigo, em vez do atirar, veriam em que poderiam ajudar-se. “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rom. 12:20 e 21).

 

10    E vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos outros.

11    Digo, porém: andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne.

12    Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro: para que não façais o que quereis.

13    Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.

 

Seguindo um mau conselho e tendo abandonado a simplicidade da fé, os gálatas estava se colocando debaixo da maldição, e estavam em perigo de condenarem-se ao fogo eterno. “A língua é fogo; é mundo de iniqüidade; a língua está situada entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno” (Tg. 3:6). Se tem feito mais estragos pela língua do que pela espada, pois esta última não se desembainha sem que haja uma língua turbulenta por detrás. “Nenhum homem pode domar a língua”, mas Deus sim. Havia feito isso com os gálatas quando suas bocas pronunciavam bençãos e louvor, mas agora, que surpreendente mudança! Como resultado do ensino que recentemente estavam recebendo, eles tinham descido das bênçãos para as contendas. Em vez de edificarem-se mutuamente, estavam a ponto de devorarem-se.

Quando há disputas na igreja, podemos estar seguros que o evangelho está ali tristemente pervertido. Que ninguém se jacte de sua ortodoxia  ou de sua firmeza na fé enquanto abriga uma disposição para a disputa, ou quando se tem o desejo de provocá-la. As disputas e discordâncias são os indicadores de haver-se afastado da fé, se é que a teve em algum momento. Tendo estado justificado pela fé, estamos em paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rom. 5:1). Não estaremos somente em paz com Deus, mas teremos a sua paz. Assim, essa nova “persuasão” que havia levado à contenda, em que devoravam-se uns aos outros com línguas ascendidas no fogo iníquo, não provinha de Deus que os havia chamado ao evangelho. Um único passo errado pode terminar em uma grande divergência. Duas linhas de trem podem parecer, no inicio, paralelas, mas logo começam a divergir insensivelmente até levar, finalmente, a direções opostas. “Um pouco de levedura fermenta toda a massa”. Um pequeno erro, por insignificante que possa parecer, contém o gérmen de toda a maldade. “O que guarda a Lei inteira, e tropeça num único ponto, é culpado de toda ela” (Tg. 2:10). Um único princípio falso acariciado, produzirá a ruína de toda a vida e caráter. As pequenas raposas estão perdendo-se na vinha.

 

19   Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia,

20   Idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, pelejas, dissensões, heresias,

21   Invejas, homicidios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais eu vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.

 

Não é uma lista que dê prazer ouvir, e mesmo assim, está longe de ser exaustiva, já que o apóstolo acrescenta: “e coisas semelhantes”. Algo que vale a pena relacionar com a declaração de que “os que praticam tais coisas não herdarão o Reino de Deus”. Compare esta lista com a que o Senhor apresenta em Marcos 7:21 até 23, a respeito das coisas que procedem do interior do homem, do coração. Pertencem ao homem por natureza. Compare agora ambas as listas com a de Romanos 1:28 a 32, referida aos atos dos pagãos que não quiseram reconhecer a Deus. De fato, são as coisas que fazem os que não conhecem ao Senhor.

Examine agora essas listas de pecados comparando com a que Paulo apresenta em II Timóteo 3:1 a 5, enumerando desta vez as obras daqueles que, nos últimos dias, terão somente “aparência de piedade”. É conveniente observar que essas quatro listas são em essência a mesma. Quando os homens se desviam da verdade do evangelho, que é poder de Deus para salvação de todos aqueles que crêem, caem inevitavelmente debaixo do poder desses pecados.

 

“Não há diferença”

Todos os homens compartilham a mesma carne (1 Cor. 15:39), pois cada habitante da terra é descendente do mesmo casal: Adão e Eva. “O pecado entrou no mundo por um homem” (Rom. 5:12), portanto, seja qual for o pecado que exista no mundo, é comum a toda carne. No plano da salvação “não há diferença entre judeu e grego; já que um mesmo é Senhor de todos, e é generoso com todos os que o invocam” (Rom. 10:12; 3:21-24). Ninguém na terra pode jactar-se ante outro, nem tem o menor direito de depreciá-lo por sua condição pecaminosa e degradada. A confirmação ou o conhecimento do vício aberto em qualquer um, longe de nos fazer sentir-se bem (por nossa moralidade superior), deveria encher-nos de pesar e vergonha. Não é mais que uma lembrança da realidade de nossa natureza humana. Os obras que se mostram naquele assassino, bêbado ou libertino, são simplesmente as obras de nossa própria carne. A carne que o gênero humano compartilha não contêm outra inclinação que não seja a das más obras antes descritas.

Algumas das obras da carne recebem a consideração geral de muito más, ou pelo menos, inapresentáveis; por outro lado, outras se consideram comumente por pecados veniais, quando não declaradas virtudes. Lembre-se da expressão: “e coisas semelhantes” que indicam que todas as coisas enumeradas são essencialmente idênticas. A Escritura declara que o ódio é assassinato. “Todo o que odeia seu irmão é homicida” (1 João 3:15). Até mesmo a raiva é igualmente assassinato, como mostram as palavras do Salvador em Mateus 5:21 e 22. A inveja, que é tão comum, contém igualmente o assassinato. Mas quem considera a inveja como algo pecaminoso? Longe de considerá-la como extremamente pecaminosa, nossa sociedade a fomenta. Mas a Palavra de Deus nos assegura que é algo da mesma classe que o adultério, fornicação, assassinato e embriaguez, e que os que fazem tais coisas não herdarão o Reino de Deus. Acaso não é algo terrível?

O amor a si próprio, o desejo de supremacia, são a fonte de todos os outros pecados que foram mencionados. Neles se tem originado incontáveis crimes. As obras abomináveis da carne estão onde menos se poderia suspeitar. Se encontram onde há carne humana, e se manifestam de uma ou outra maneira sempre que essa carne não esteja crucificada. “O pecado está à porta” (Gên. 4:7).

 

O conflito entre a carne e o Espírito

A carne não tem nada em comum com o Espírito de Deus. “Se opõem entre si”; quer dizer, agem com o antagonismo próprio de dois inimigos. Cada um deles procura a oportunidade de vencer ao outro. A carne é corrupção. Não pode herdar o Reino de Deus, desde que a corrupção não herda o incorrupção (1 Cor. 15:50). É impossível que a carne se converta. Deve ser crucificada. “a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à Lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Assim, os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus” (Rom. 8:7 e 8).

Aqui está a explicação do retrocesso dos gálatas e do problema que aflige a tantas vidas cristãs. Os gálatas haviam começado no Espírito, mas agora procuravam alcançar a perfeição pela carne (Gál. 3:3). Algo tão impossível quanto chegar às estrelas cavando galerias no solo. Deste mesmo modo, muitos tentam fazer o bem; mas porque ainda não se renderam decidida e plenamente ao Espírito, não podem operar como gostariam. O Espírito combate com eles, e obtém um controle relativo. Até mesmo em algumas ocasiões  se rendem plenamente ao Espírito, o que lhes trás uma rica experiência. Mas então enfrentam ao Espírito, é a carne tomando o controle, e parecem ser outras pessoas. As vezes se rendem à mente do Espírito, e às vezes à da carne (Rom. 8:6); e deste modo, sendo de ânimo fraco, são inconstantes em todos os seus caminhos (Tg. 1:8). Esta é uma situação por demais insatisfatória.

 

O Espírito e a lei

"Pois se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gál. 5:18). Sabemos que a lei é espiritual, mas eu sou carnal, vendido ao poder do pecado” (Rom. 7:14). A carne e o Espírito mantém antagonismo; mas contra os frutos do Espírito, “não há lei” (Gál. 5:22 e 23). Então, a lei está contra as obras da carne. A mente carnal “não se sujeita à Lei de Deus”, então, os que estão na carne não podem agradar a Deus, pois estão debaixo da lei”. Isso demonstra claramente que estar “debaixo da lei” é ser um transgressor dela. “A Lei é espiritual”; portanto, os que são guiados pelo Espírito estão em plena harmonia com a lei, de forma que não estão debaixo dela.

Vemos uma vez mais que a controvérsia não consistiu em se era necessário guardar ou não a lei, mas em como se devia guardá-la. Os gálatas estavam deixando se levar pelo ensino lisonjeiro de que teriam o poder para alcançar por eles mesmos, enquanto o apóstolo divinamente nomeado enfatizava energicamente que a podemos guardar somente por meio do Espírito. Mostrou pelas Escrituras a história de Abraão, e também a partir da própria experiência dos gálatas. Haviam começado no Espírito, e enquanto continuavam nele, corriam bem. Mas quando substituíram o Espírito por eles mesmos, imediatamente começaram a manifestar obras contrárias a lei.

O Espírito Santo é a vida de Deus; Deus é amor; o amor é o cumprimento da lei; a lei é espiritual. Então, todo aquele que é espiritual, há de submeter-se a justiça de Deus. Se trata de justiça “testificada pela lei” (Rom. 3:21), mas só obtida pela fé de Jesus Cristo fé. O que é guiado pelo Espírito guardará a lei, não como uma condição para receber o Espírito, mas como um resultado de havê-lo recebido.

Conhecemos algumas pessoas que professam serem espirituais. Se sentem tão plenamente guiadas pelo Espírito, que acreditam não precisar guardar a lei. Admitem não guardá-la, mas acreditam que seja o Espírito que conduz a isto. Então – dizem –, não pode tratar-se de pecado, embora esteja em oposição com a lei. O tais cometem o erro fatal de substituir a mente do Espírito por sua própria mente carnal. Confundem a carne com o Espírito e se colocam no lugar de Deus. Falar contra a lei de Deus é falar contra o Espírito. Sua cegueira  é enorme, e bem podem orar: “Abre meus olhos, para que possa ver as maravilhas de sua Lei” (Sal. 119:18).

 

22    Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.

23  Contra estas coisas não há lei.

 

A primeiro fruto do Espírito é o amor, e o amor é o cumprimento da Lei” (Rom. 13:10). Seguem o gozo e a paz, posto que “havendo sido justificados pela fé, estamos em paz com Deus”. “E não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rom. 5:1, 11). Cristo recebeu a unção do Espírito Santo (Atos 10:38), ou, como lemos em outro lugar, “com óleo de felicidade” (Heb. 1:9). O serviço para Deus é um serviço alegre. O Reino de Deus é “justiça, paz e alegria pelo Espírito Santo” (Rom. 14:17). Aquele que não se alegra na adversidade, como fazia na prosperidade, é porque ainda não conhece ao Senhor como deveria. As palavras de Cristo levam à alegria completa (João 15:11).

O amor, a alegria, a paz, tolerância, paciência, generosidade, fidelidade, cortesia, domínio próprio, brotarão espontaneamente do coração do verdadeiro seguidor de Cristo. Ninguém poderá obtê-los pela força. Mas não moram em nós de forma natural. Ante uma situação exasperante, o que nos é natural é a ira e a irritação, não a amabilidade e a resignação. Note o contraste entre os obras da carne e o fruto do Espírito: as primeiras vêm de forma natural, porém, para que se produza o bom fruto, devemos estar convertidos inteiramente em novas criaturas: “homem bom, do bom tesouro do coração tira o bem” (Luc. 6:45). A bondade não procede de homem algum, mas do Espírito de Cristo ao habitar permanentemente no homem.

 

24    E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.

Nosso velho homem foi crucificado junto com ele, de forma que o corpo do pecado seja destruído, afim de que não sejamos mais escravos do pecado. Porque o que está morto, está livre do pecado (Rom. 6:6 e 7). “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gál. 2:20). Essa é a experiência de todo verdadeiro filho de Deus. “Se alguém está em Cristo, é nova criatura” (2 Cor. 5:17). Vive porém em carne de acordo com a aparência externa, mas não vive mais de acordo com a carne mas sim de acordo com o Espírito (Rom. 8:9). Vive em carne uma vida que não é carnal, e a carne não tem poder sobre ele. Com relação às obras da carne, está morto: “Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça” (Rom. 8:10).

   

 25  Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.

 26  Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns dos outros.

 

Há aqui alguma dúvida de que Paulo acreditava que o cristão vive no Espírito? Não. Não há nenhuma sombra de dúvida. Considerando que vivemos no Espírito, deveríamos submeter-nos ao Espírito. É somente pelo poder do Espírito – o mesmo Espírito que no principio se movia sobre a face do abismo e estabeleceu a ordem a partir dos caos – que toda a pessoa pode viver. “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida.” (Jó 33:4). O mesmo Espírito fez os céus (Sal. 33:6). O Espírito de Deus é a vida do universo. É a eterna presença de Deus, na qual “vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17:28). Dependemos do Espírito para a vida; portanto, deveríamos andar nEle, e ser guiados por Ele. Tal é nosso “culto racional” (Rom. 12:1).

Que maravilhosa vida é colocada ao nosso alcance! Viver em carne, como se a carne fosse espírito. “Se há corpo natural, há também corpo espiritual”. “Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual” (1 Cor. 15:44, 46). O corpo natural é o que temos agora. O espiritual receberão todos os verdadeiros seguidores de Cristo na ressurreição (1 Cor. 15:42-44; 50-53). Não obstante, nesta vida, no corpo natural, o homem deve ser espiritual: têm que viver igual ao seu corpo espiritual futuro. “Vós não viveis de acordo com a carne, mas de acordo com o Espírito, se é que o Espírito do Senhor habita em vós” (Rom. 8:9).

“O que nasce da carne, é carne; e o que nasce do Espírito, é espírito” (João 3:6). Para o nascimento natural herdamos todos os males enumerados neste quinto capítulo de Gálatas, “e coisas semelhantes”. Somos carnais. Em nós governa a corrupção. Por meio do novo nascimento herdamos a plenitude de Deus, vindo “a ser participantes da natureza divina, depois de ter escapado da corrupção que há no mundo por causa da concupiscência” (2 Ped. 1:4). O “homem velho, corrompido por seus enganosos desejos” (Efe. 4:22), é crucificado “para que o corpo do pecado seja destruído, de forma que não sejamos mais escravos do pecado” (Rom. 6:6).

Permanecendo no Espírito, andando no Espírito, a carne com suas concupiscências não tem mais poder sobre nós do que teria se realmente estivéssemos mortos e enterrados. É só o Espírito de Deus quem dá vida ao corpo. O Espírito usa a carne como um instrumento de justiça. A carne continua sendo corruptível, continua estando cheia de maus desejos, sempre disposta a rebelar-se contra o Espírito; mas por tanto tempo quanto submetamos a vontade a Dios, o Espírito mantem a carne em sujeição. Se vacilamos, se em nosso coração voltamos ao Egito, ou se pusermos a confiança em nós mesmos, solapando assim nossa dependência do Espírito, então reedificamos aquilo que tínhamos destruído e nos fazemos transgressores (Gál. 2:18). Mas isso não precisa acontecer. Cristo tem “poder sobre toda a carne” (João 17:2), e demonstrou seu poder para viver uma vida espiritual em carne humana.

Trata-se do Verbo feito carne, Deus manifesto em carne, a revelação “desse amor que supera todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Efe. 3:19). Estando sob o controle desse Espírito de amor e mansidão, nunca ambicionaremos a vanglória, provocando e invejando uns aos outros. Tudo virá de Deus, e assim se reconhecerá, de forma que ninguém terá a mínima disposição de jactar-se sobre outro.

O Espírito de vida em Cristo – a vida de Cristo –, é dada gratuitamente a todos. “E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida” (Apoc. 22:17). “Porque a vida que estava com o Pai, se manifestou, e nós a vimos, e vos anunciamos a vida eterna” (1 João 1:2). “Graças a Deus pelo seu dom inefável!”  (2 Cor. 9:15).


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