Teólogo Brasileiro Discorda de Triunfalismo da Organização e Publica Análise Realista da IASD

Há algum tempo aguardávamos por uma análise desapaixonada da atual condição da Igreja Adventista, no Brasil e no mundo. Por isso, foi com satisfação que, ao receber a primeira edição deste ano (2000) da Revista Adventista, deparamo-nos com a corajosa entrevista que reproduzimos a seguir. Nela, um dos principais teólogos adventistas brasileiros expõe sua preocupação com aspectos do cotidiano adventista nunca antes questionados publicamente. 

Alberto R. Timm fala do secularismo absorvido por nosso sistema de educação e até por nossa liturgia. Comenta a necessidade de reeducação de obreiros e membros para que não percam de vista a missão evangelística da igreja. Ressalta a importância apenas funcional da organização. E embora não cite nomes, responsabiliza o estilo de pregação do pastor Bullón e seus clones pela formação de "uma geração de adventistas sem raízes e sem identidade". O www.adventistas.com recomenda a leitura atenta desta matéria. 

ENTREVISTA: PR. ALBERTO R. TIMM
Desafios da lgreja Para o Terceiro Milênio

Precisamos, como comunidade e como indivíduos, de uma experiência mais genuína com Cristo.

O secularismo sempre exerceu, através dos tempos, forte influência sobre o povo de Deus. E a igreja, atualmente, não está livre dessa onda avassaladora. Mas, além do secularismo, a igreja enfrenta duas outras ameaças: o institucionalismo e o congregacionalismo.

Para falar sobre estes e outros desafios, a Revista Adventista ouviu o Dr. Alberto R. Timm. Ph.D. pela Universidade Andrews, é especialista em Estudos Adventistas e Teologia Sistemática. Nascido em São Lourenço do Sul, ES, é professor de Teologia no IAE-Campus 2. Além de orientar dissertações e teses, coordena também o Centro do Pesquisas Ellen G. White do Brasil e o Centro Nacional da Memória Adventista. Artigos de sua autoria têm sido publicados em português, inglês e espanhol. Sua tese doutoral foi traduzida e publicada em português sob o título O Santuário e as Três Mensagens Angélicas: Fatores Integrativos no Desenvolvimento das Doutrinas Adventistas (Engenheiro Coelho, SP, Imprensa Universitária Adventista, 1998).

O Dr. Timm é casado com Mary L. Timm, professora de Orientação Educacional e Psicologia da Aprendizagem na Faculdade Adventista de Educação do IAE-Campus2, onde também coordena o Centro de Aconselhamento Universitário. O casal possui três filhos: SueIlen Elise (12 anos), William Edward (6 anos) e Shelley Wilaine (3 anos).

Nesta entrevista, concedida a a Rubens Lessa, o Dr. Timm encarece a necessidade de "um retorno incondicional às grandess verdades da mensagem adventista".

Revista Adventista: Há indícios de que o secularismo já esteja afetando a Igreja Adventista no Brasil?

Dr. Timm: Estudos demonstram que os movimentos religiosos surgem normalmente com o propósito de reformar a cultura na qual existem. Mas no segundo século de sua existência, depois que faleceram os pioneiros e aqueles que conheceram os pioneiros, esses mesmos movimentos acabam sendo reabsorvidos pela própria cultura que originalmente tencionavam reformar. A Igreja Adventista penetrou no Brasil há mais de cem anos, e já enfrenta os desafios da secularização.(Leia: Organização Admite Uso da Religião para Manipulação e Controle de Funcionários.)

Em âmbito institucional, preocupa-me o número de professores não-adventistas que lecionam em nossas escolas. Até mesmo entre os professores adventistas, existem aqueles que nem ao menos conseguem discernir entre a verdadeira filosofia de educação integral ensinada por Ellen White e o falso paradigma de educação holística proposto pela Nova Era. Já na esfera da igreja local, pode-se observar que grande parte dos nossos cultos está-se secularizando pela atual avalanche de músicas completamente acomodadas à cultura em que vivemos e ao espírito ecumênico-pluralista contemporâneo.

RA: Qual deve ser a postura dos membros e das instituições adventistas?

Dr. Timm: Só existe uma saída: identificar, com clareza e equilíbrio, os princípios bíblicos e do Espírito de Profecia que devem controlar os conceitos e o comportamento cristãos, para então educar e mesmo reeducar a postura dos obreiros e membros da igreja com base nesses princípios.

A igreja carece de pessoas equilibradas, que vivam por princípios e que tenham coragem suficiente para romper com os extremos do fanatismo e do liberalismo.

RA: Ao analisarmos a história do povo de Deus através dos tempos, notamos que a igreja sempre foi peregrina no mundo. Qual a relação eutre uma igreja instalada e o institucionalismo?

Dr. Timm: A igreja é o "corpo de Cristo" (1 Cor. 12:12-27) e ela precisa de uma organização eficiente, em nível mundial, para manter a "unidade da fé" (Efés. 4:13) e facilitar o cumprimento de sua missão global (Mat. 28:18-20). Isto significa que a organização existe não como um fim em si mesma mas apenas como um meio para atingir esses objetivos. Setores organizacionais e instituições acabam se institucionalizando quando se tornam tão inchados e voltados para si mesmos que perdem de vista, em grande parte, a sua missão evangelizadora.(Veja neste site: Organização Adventista Admite Mudanças Estruturais entre 2010 e 2025.)

RA: E quanto à pregação adventista: não estaria ela tendo um enfoque mais existencialista do que doutrinário? 

Dr. Timm: Com certeza. No passado já fomos conhecidos como o povo da Bíblia, mas essa não me parece ser mais a nossa característica predominante. É uma vergonha que em muitos de nossos cultos os adoradores são distraídos com histórias pessoais e aplicações retóricas, sem que o poder transformador da Palavra de Deus seja sentido. "Leite com água" tem sido servido constantemente nos púlpitos de muitas de nossas igrejas, privando assim os adoradores da oportunidade de se nutrirem do "alimento sólido" das Escrituras (Heb. 5:11-14). (Sobre esse assunto, leia neste site o artigo: Alejandro Abre o Jogo e Conta os Segredos dos Famosos "Sermões com Sabor Bullón".)

RA: Que prejuízos isso pode causar à igreja?

Dr. Timm: Precisamos falar às necessidades reais das pessoas, mas esse tipo de ênfase unilateral está formando uma geração de "adventistas" sem raízes e sem identidade. Essa geração existencialista navega de acordo com a maré de seus gostos e preferências pessoais, sem uma âncora que os segure em meio às tempestades da vida. São altamente vulneráveis a distorções doutrinárias, tendem a contestar o estilo de vida adventista, e são fortes candidatos à apostasia. Este é, sem dúvida, um dos maiores estratagemas satânicos para minimizar o nosso conhecimento doutrinário, tão necessário para enfrentarmos os grandes enganos dos últimos dias (ver Mat. 24:24).

RA: Qual a relação entre a mensagem de Romanos 12:2 e o estilo de vida do cristão? Quais as implicações éticas? 

Dr. Timm: Um dos maiores problemas do cristão é o seu relacionamento com a cultura. Você encontra, de um lado, pessoas antagônicas à cultura, que vivem hoje no Brasil como se ainda estivessem na Europa da Idade Média; e você observa, no outro extremo, pessoas vítimas da cultura, que fazem uma releitura brasileira comprometedora do evangelho, com base no contexto sócio-cultural em que vivem. Como habitante deste mundo e cidadão da pátria celestial, o cristão adventista não pode ser nem anticultura (fanático) e nem vítima da cultura (liberal), mas um agente poderoso de tranformação da cultura (equilibrado).

O cristão adventista precisa conhecer bem os princípios universais da Palavra de Deus (contidos em João 17:15; Rom. 12:2; Filip. 4:8; etc.), de modo a ter parâmetros para analisar criticamente os componentes da cultura em que vive. Ele pode incorporar em seu estilo de vida os elementos da cultura que estão em harmonia com esses princípios, mas deve rejeitar todos aqueles que são antagônicos aos ensinamentos biblicos.

RA: Dentre os desafios que a igreja está enfrentando nesta virada de milênio, há a ameaça velada do congregacionalismo. À luz da Bíblia e do Espírito de Profecia, como devemos encarar essa onda divisionista?

Dr. Timm: O congregacionalismo é deveras tentador pelo fato de prometer mais autonomia administrativa e financeira para a igreja local. Não resta a menor dúvida de que algumas denominações pentecostais têm crescido vertiginosamente com esse modelo estrutural. Mas não podemos nos esquecer de que o crescimento de tais denominações está diretamente relacionado também ao fato de oferecerem uma atrativa religião popular de consumo, com um corpo doutrinário diluído e com forte ênfase na teologia da prosperidade.(Embora até o momento não tenhamos defendido o congregacionalismo neste site, neste ponto perguntaríamos ao Dr. Timm: Não estariam essa diluição e ênfase ocorrendo também na Igreja Adventista?)

Por contraste, a Igreja Adventista do Sétimo Dia possui a desafiadora missão de proclamar ao mundo verdades importantes que foram deitadas por terra pela grande apostasia pós-apostólica e que continuam sendo menosprezadas pelo próprio cristianismo (ver Dan. 8:9-14; II Tess. 2:1-12; II Tim. 3:1-5; 4:1-5; Apoc. 14:6-12). O modelo congregacionalista, que pode ser eficaz para outras denominações, jamais o seria para a Igreja Adventista, pois acabaria rompendo a unidade doutrinária universal da igreja e bloqueando o fluxo de recursos para os lugares mais necessitados do campo mundial.

Ellen White nos adverte:

"Oh, como se regozijaria Satanás, se pudesse ter êxito em seus esforços de se insinuar entre este povo, e desorganizar o trabalho, num tempo em que é essencial uma completa organização, e será este o maior poder para manter afastados os movimentos espúrios e para refutar declarações não endossadas pela Palavra de Deus!... Alguns têm apresentado o pensamento de que ao nos aproximarmos do fim do tempo, todo filho de Deus agirá independentemente de qualquer organização religiosa. Mas fui instruída pelo Senhor de que nesta obra não há coisa que se assemelhe a cada homem ser independente." - Testemunhos Para Ministros, pág. 489.

RA: Trace o perfil que Deus gostaria de ver em Sua igreja neste novo milênio.

Dr. Timm: Por mais de 150 anos temos pregado, como movimento adventista, que "Jesus em breve voltará", e ainda continuamos neste mundo! Nenhum dos pioneiros deste movimento jamais imaginaria que adentraríamos o ano 2000 sem havermos concluído a missão que nos foi confiada! Isso nos deve levar a uma solene reflexão e a uma séria tomada de posição. Precisamos, como comunidade e como indivíduos, de uma experiência mais genuína e profunda com Cristo, de um retomo incondicional às grandes verdades da mensagem adventista, e de uma maior dedicação à pregação da tríplice mensagem angélica "a cada nação, e tribo, e língua e povo" (Apoc. 14:6). 

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