Comentário da Lição 6 à Luz da Mensagem de 1844

 

O assunto da lição desta semana é uma das maiores parábolas vivas que traduzem os conceitos da Justificação pela Fé conforme foram apresentados em 1888.

O autor da lição introduziu muito bem o tema na parte de sábado à tarde com a frase: “Jesus decidiu fazer do homem um exemplo sabático de Seu incrível poder de trazer vida aos que são tão bons quanto os mortos” (pág.63 Ed.professor).

Esta é a essência do puro Evangelho da Graça de Cristo defendido pelo apóstolo Paulo em sua carta aos Gálatas.

Efésios 2:1 apresenta esta maravilhosa Boa Notícia: “Ele nos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”.

Esta é a verdadeira condição em que nos encontramos por causa do pecado: “mortos”.

O que pode fazer um morto para merecer algo?

A nossa condição de morte espiritual nos torna incapazes de responder e agir ao apelo de Deus, sem o auxílio da Graça Divina.

A mais maravilhosa e grandiosa verdade é que Deus primeiro nos salva (nos vivifica) para que então possamos ter condições de aceitá-lO ou recusá-lO.

Se chegarmos ao lado de alguém que está morto e lhe perguntarmos se ele quer voltar a viver, certamente não obteremos nenhuma resposta. A pessoa que está morta não tem consciência de sua condição.

Da mesma forma nós mortos em pecado não temos condições por nós mesmos de ouvir a voz de Deus, quanto mais ir em busca de Deus. Primeiro o Senhor nos vivifica (nos salva) dando-nos condições de entender Seu plano de salvação e assim dando-nos a oportunidade de continuar permitindo Sua ação em nossa vida ou impedí-lO de continuar, rejeitando-O.

Muitos insistem em colocar a nossa decisão de aceitá-lO como o ponto vital e mais importante da salvação: “EU aceitei a Jesus como meu Salvador!”; ou seja: “Se a salvação é para mim hoje uma realidade, é porque EU aceitei”. Devido a ênfase que dão na decisão em aceitar, fazem do EU um co-salvador na sua salvação, e o que é pior, dando margem para vangloriar-se: “EU sou melhor do que ele, porque EU aceitei”.

“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo” Gál. 6:14.

“Para que ninguém se glorie perante Ele ... para que como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” I Cor. 1:29 e 31.

 

Paralítico de Betesda

Na história do paralítico vemos este princípio em ação: “Jesus curou o homem arbitrariamente. Ele escolheu alguém na multidão – um homem que não procurou Jesus, não O conhecia, não demonstrou fé nEle antes de ser curado.” (pág.67 Ed.professor).

Quando Jesus perguntou ao paralítico se ele queria ser curado, vemos por sua resposta que sua condição era tão terrível que ele ao menos podia perceber em Jesus a solução para seu problema. Ele estava preso a teologia equivocada do “Esforça-te e então Eu te ajudarei”. Ele estava com sua visão fixa na crendice popular para a solução de seu problema. Não sabia quem Jesus era, não cria nEle, não tinha condições de aceitar a solução que Ele tinha para lhe oferecer. Jesus primeiro realizou o milagre de curá-lo, e só depois disto aquele homem teve condições de entender seu amor e poder.

A situação desesperadora deste enfermo é um exemplo dos seres humanos pecadores buscando supersticiosamente a solução para seu problema. Se o Senhor não tomar a iniciativa em nos salvar não temos a menor chance.

 

Infeliz Comentário

É uma pena que o comentário de nossa lição em português tenha confundido um pouco esta questão.

Na pág.66 sob o título “A suficiência de Cristo” aparece o seguinte comentário: “Todo o poder de Deus é inoperante na ausência de uma pessoa disposta. Devemos ir a Ele de boa vontade, ouvir Sua pergunta e aceitar Sua resposta ... Quando o homem de Betesda decidiu colocar Sua confiança em Cristo, experimentou a suficiência divina que supre todas as franquezas humanas”.

Percebemos aqui a confusão que surge devido à incompreensão dos conceitos básicos da Justificação pela Fé conforme foi apresentada em 1888.

Da maneira como o comentarista aqui coloca na lição, passa a idéia que a salvação só passa a ser uma realidade depois que tomamos a iniciativa em aceitá-la. Se assim fosse, a palavra escolhida pelo apóstolo Paulo para descrever nossa condição como pecadores: “mortos”, foi equivocada, pois se pudéssemos ter a iniciativa de fazer algo para então permitir que Deus aja em nosso favor, não estaríamos mortos de verdade, mas só desmaiados.

A Bíblia deixa bem claro: “Não há quem busque a Deus” (Rom.3:11). Não podemos por nós mesmos “ir a Ele de boa vontade” para “ouvir Sua pergunta e aceitar Sua resposta”, se primeiro Sua Graça não realizar o milagre de nos vivificar (salvar, curar).

Somente temos condições de por nossa vontade do lado de Cristo após Ele ter nos vivificado mediante Sua Graça Salvadora e Sua Palavra de poder.

O homem no tanque de Betesda foi curado antes que tivesse condições de colocar sua confiança em Cristo.

O Senhor não exige que primeiro tomemos a iniciativa de crer para então nos salvar (vivificar); Ele nos salva (vivifica) sem nos exigir nada.

Isto é o Puro Evangelho da Graça de nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Relação entre Fé e Obras

No verso 14 de capítulo 5 do Evangelho de João, Jesus fala: “Olha, agora já estás curado. Não peques mais, para que não te suceda coisa pior”.

Aqui estão apresentados os princípios que explicam a relação entre Graça e Obras:

  • Primeiro a Graça que trouxe a Cura (“Já estais curado”).
  • Só depois é que lhe é ampliado o horizonte da graça levando-o a perceber a dimensão da obediência (“Não peques mais”).

Primeiro o Senhor Jesus nos salva, liberta, cura, habilitando-nos por sua Graça transformadora a vivermos em harmonia com a Sua Lei.

A salvação (libertação, cura) que vem até o pecador mediante a Graça de Cristo compreende a Graça transformadora que habilita o pecador a andar em novidade de vida, resultando como conseqüência natural deste processo os frutos de uma nova vida em Cristo (Obras).

“Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim, e Eu nele, esse dá muito fruto; sem Mim nada podeis fazer” João 15:5.

Verificamos esta mesma relação entre salvação, libertação (Graça) e harmonia com a Lei de Deus (obras) em Êxodo.20:1-17:

Primeiro vem a Graça que liberta da escravidão do pecado contida na promessa: “Eu Sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” Êxo.20:2.

Depois da Graça operar através do milagre da libertação (salvação), a Graça continua operando na conformação de nossas vidas com a Lei de Deus, cumprindo assim a promessa compreendida no fato do Senhor tomar a iniciativa de ser o nosso Deus, e completando o processo de salvação já iniciado mediante a Graça.

“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra (salvação, libertação, cura) a aperfeiçoará (Obras) até ao dia de Cristo Jesus” Fil. 1:6.

Esta relação entre Graça e Obras também pode ser verificada nos versos que a pergunta 5 da lição apresenta:

  • João 8:10-11 (Mulher Adúltera): Primeiro Jesus revelou Graça através do perdão (“Não Te condeno”); depois pediu para que ela permitisse que esta Graça continuasse a agir em sua vida (“Não peques mais”).
  • Romanos 6:1-6: A Graça salvadora demonstra-se na transformação de nossa natureza pecaminosa.
  • Gálatas 2:16-17: A justificação mediante a Fé nas Promessas de Cristo inclui obediência à Lei.

Esta relação entre Graça e Obras é a essência da Terceira Mensagem Angélica que tem como objetivo preparar um povo para ser trasladado ao Cristo retornar: “Aqui está a perseverança dos Santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus, e a fé em Jesus” Apoc. 14:12.

 

Frase perigosa

 

Logo abaixo da pergunta 5 a lição tem uma frase que ao meu ver pode ser perigosa, por dar margens a interpretações equivocadas: “Embora a cura do corpo do homem fosse totalmente um ato de graça da parte de Jesus, havia também, uma parte para ele fazer em sua recuperação”.

Esta frase pode ser interpretada erroneamente da seguinte forma: Cristo faz Sua parte em nos curar (salvar) e então temos que fazer a nossa parte em não pecar.

“Muitos acham que devem fazer sozinhos parte do trabalho. Confiaram em Cristo para o perdão dos pecados, mas agora procuram por seus próprios esforços viver retamente. Qualquer esforço deste tipo irá fracassar. ‘Sem Mim nada podeis fazer’ João 15:5. Nosso crescimento na graça, nossa alegria, nossa utilidade – tudo depende da união que tivermos com Cristo. A comunhão com Ele, todo dia, toda hora – permanecendo nEle – é o que nos faz crescer na graça.” Caminho a Cristo, pág. 69.

Se nesta história do paralítico de Betesda compararmos a sua doença de paralisia com o nosso pecado, e a sua cura pela Graça com a salvação que Cristo inicia em nossa vida (justificação), concluiremos que o levantar e andar que veio logo em seguida em sua experiência representa a Graça que nos habilita a continuarmos em Cristo no processo chamado de santificação.

“Pois é pela graça que sois salvos, por meio da fé – e isto não vem de vós, é dom de Deus – não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” Efe. 2:8-10.

“Pois Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade.” Fil. 2:13.

“E seja achado nEle, não tendo justiça própria, que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé.” Fil. 3:9

“A justiça de Deus se acha concretizada em Cristo. Recebemos a justiça, recebendo-O.” O Maior Discurso de Cristo, pág. 18.

“O homem pecaminoso só pode encontrar justiça em Deus, e nenhum ser humano é justo por tempo superior àquele em que tem fé em Deus e com Ele mantém vital ligação.” Testemunho para Ministros, pág. 367.

“O Senhor, nossa justiça.” Jeremias 23:6

 Irmão CH

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