Carta: "Estou Desiludido com Essas Igrejas Mercenárias"

Prezado Robson,

É enorme o prazer em escrever para você. Afirmo isto porque, através de sua página na internet, pude entender muitas questões relacionadas a religião e me libertar, enfim, de tantas dúvidas e inquietações. Por isso, peço sua atenção e, ao final, solicito sua opinião sobre o que segue.

Robson, eu, que achava que a igreja era praticamente infalível, hoje entendo que a denominação enfrentou e enfrenta os mesmos problemas e crises que outras entidades religiosas experimentam.

Robson, meu interesse pelos grandes temas espirituais é imenso, forte, verdadeiro. Sei que amo meu Criador e desejo estar com Ele na eternidade. Confio muito em Deus e continuamente me encontro com Ele no “refugio da oração”. Entretanto, há muito que já não participo da freqüência a templos e igrejas.

Sinceramente, não consigo suportar tanta hipocrisia e ausência de piedade como as que se manifestam nessas instituições. Cada vez que vou aos templos saio dali me sentindo vazio e revoltado com o que vejo e experimento. Não consigo sentir aquela maravilhosa sensação de perceber Deus presente no culto, nas cerimônias e no altar. Tudo o que percebo, infelizmente, é uma espécie de sutil sarcasmo, cinismo e incredulidade que se estampa em olhares frios e sem amor.

Eu bem sei, caro Robson, que a igreja não é uma “galeria de santos”, que todos somos pecadores e que não devemos olhar para as faltas alheias. Entretanto, se na igreja não encontro o ambiente de alívio, paz e consagração que tanto necessito como pecador, se ali não contemplo a “conversão e santificação”, de que tanto falam os que promovem o marketing das igrejas, como crerei na palavra desses homens? Como entenderei que a igreja é melhor lugar à quietude de uma campina ou a beira de um formoso lago?

Robson, o que mais me revolta é perceber a frivolidade e o oco formalismo em que se transformou o culto e a vida religiosa dos crentes. As igrejas mais parecem clubes sociais e exóticos do que casas de oração. Nem grandes testemunhos de fé existem mais. Prevalece apenas um “mercadejar da Palavra de Deus”, e isso eu vejo em todas igrejas ditas “cristãs”.

Observe, por exemplo, no que se transformou a música cristã! Onde estão as suaves melodias dos “Arautos do Rei”, de “Feliciano Amaral”, e de tantos outros cantores sacros e suas maravilhosas canções em que falavam de “uma terra além do rio, de perene, suave estio, onde só a fé nos levará enfim” e que “à sombra da cruz há um deleite sem igual”?

Os cantores “sacros” de hoje mais parecem artistas populares. As melodias, as letras, as roupas, o palco, as apresentações, enfim, tudo remete claramente para o modelo de música profana e vazia de Deus. Lotam centros de convenções e vendem “ingressos” para suas pantomimas como se estivessem tributando grandes honras e louvores a Deus, quando tudo não passa de um teatro em meio a diversões e ao endeusamento da pessoa humana.

Eu ainda sou jovem, tenho 37 anos, mas em meu tempo de guri, música cristã destinava-se unicamente ao louvor e santa evangelização. Hoje se tornou um grande negócio para esses “artistas” ganharem dinheiro vendendo a palavra e os dons do Senhor.

Como tudo isso me entristece! Os escândalos, então, nem se diga. São de toda ordem: financeiros, morais, sociais, intelectuais, etc. Já reparou o quanto as igrejas ditas cristãs se parecem com partidos políticos? Onde está a primitiva piedade e amor ao próximo que Jesus ensinou?

Onde está a verdadeira fé, aquela que você percebe só de olhar para o rosto do crente? Isso não existe mais, Robson e, se existe, independe de corporações religiosas. É simplesmente algo que transcende os templos de massa fria, é algo que nasce e se desenvolve no coração daquele que verdadeiramente ama ao Senhor.

Olha, hoje prossigo meu caminho, desiludido sim com essas igrejas mercenárias, mas não desiludido de Deus, pois sem Ele não sei viver. A única igreja em que acredito, hoje, é naquela que trazemos em nossos corações e no altar de nossos lares. Por isso, minha pregação é no sentido de que as pessoas se amem uns aos outros como irmãos e confiem em Deus como pai.

Estou certo de que o Senhor nos guiará por Seus caminhos e, se formos humildes e receptivos, Ele se manifestará individualmente a cada um de nós. Nele, um dia, haveremos de ser um só, como Jesus nos ensinou.

Sabe Robson, uma das parábolas que mais me emocionam é a parábola da ovelha perdida, pois não foi a ovelha quem buscou o pastor; antes, foi Ele quem, tomando a iniciativa, saiu a procura da ovelhinha perdida e a resgatou. Isso me leva a refletir sobre esses líderes religiosos que, ostentando uma autoridade que não possuem, tentam exercer domínio sobre a herança do Senhor, decidindo quem entra e quem não entra no Céu.

Homens que lêem a Bíblia e partem à caça de seus irmãos de fé que não comungam de suas mesmas e tantas vezes falhas interpretações; homens que de espiritualidade só possuem um verniz e, mesmo assim, agem como juízes de seus irmãos. Homens que manipulam e exercem com tirania seu poder.

Por acaso esses homens tem procuração de Deus? O Senhor desceu entre nuvens e falou com eles? Creio que não Hoje somente creio em Deus e duvido desses que se fazem passar por procuradores do Céu, desses que, no dizer de uma canção, se apresentam como “empresários de Jesus, ditando regras e normas que a nada conduz”. Vendilhões do templo e ladrões de esperança.

Ore por mim, querido irmão, pela minha saúde e para que Deus me ilumine e me guie por seus caminhos, pois somente a Ele ouvirei.

Vosso irmão em Cristo,

S. Oliveira


Resposta:

O que posso lhe dizer é que assinaria tranqüilamente embaixo de tudo o que escreveu, porque é exatamente assim que me sinto. Ore por mim também. Bom sábado, junto ao lago com sua família, e muito mais perto de Deus do que em qualquer igreja. -- Robson Ramos

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