Uma Pessoa Maravilhosa Chamada Espírito Santo

Por: Pr. José Carlos Ramos – Revista Adventista/Agosto 2001

A personalidade do Espírito Santo é claramente inferida do testemunho bíblico.

Dos membros da Santíssima Trindade, o terceiro é Aquele de quem há menos informações objetivas, precisas, que definam o Seu próprio Ser.

O Filho Se tornou um de nós. Sua manifestação foi visível, material, em nosso nível. O Pai foi por Ele revelado. Mas o Espírito permanece um tanto imperceptível, à parte, despretensioso, operando sem auto-projeção, não Se impondo, não falando “De Si mesmo” (João 16:13). E no próprio ato do desprendimento, Ele cumpre a divina obra que O faz conhecido. É parte de Sua glória exaltar e glorificar o Filho, e através do Filho, o Pai, fazendo com que a revelação de ambos se efetive na consciência humana. Que exemplo de abnegação!

No quarto evangelho, o Espírito executa sete atividades, todas em exaltação a Jesus:

1)     Ensinar, e

2)     Fazer lembrar tudo o que Jesus disse – João 14:26

3)     Dar testemunho de Jesus – João 15:26

4)     Convencer do pecado, porque o mundo não crê em Jesus; da justiça, porque Ele foi para o Pai; e do juízo, porque satanás foi julgado e derrotado – João 16:8

5)     Guiar a toda a verdade, e Jesus é a verdade (14:6) – João 16:13

6)     Declarar, ou anunciar, o que Jesus, da parte do Pai, Lhe entrega – João 16:13,14 e 15

7)     Glorificar a Jesus – João 16:14

O Apocalipse refere-se a Ele como os sete Espíritos de Deus (Apoc. 1:4,5 e 4:5). Sete é o número da plenitude. O Espírito alcança a plenitude nesta atividade cristocêntrica sétupla.

Isso é tão fundamental para o plano da redenção, que, sem a atuação do Espírito, seria como se Jesus nunca tivesse encarnado e Deus nunca tivesse Se manifestado. Ele habilita o homem a entender a salvação e responder positivamente a ela. Sem Ele, a Igreja não poderia cumprir Sua missão, e estaríamos fadados a permanecer neste mundo indefinidamente.

Objeto de especulação: Talvez o fato de existir pouca informação sobre o Espírito Santo faz com que uma conceituação sobre Ele se torne mais susceptível de especulação. Nos dias de Ellen G. White, havia aqueles que afirmavam que o Espírito era uma “luz derramada” e “uma chuva caída”. Ela condenou esse tipo de comparação por rebaixar a Deus (Evangelismo, pág. 614)

Mais afrontoso ainda é tomá-Lo por uma criatura. Há os que acreditam que Ele e Gabriel se eqüivalem. A inspiração nega isso fazendo clara distinção entre ambos no registo das palavras deste anjo a Maria:

“Descerá sobre ti o Espírito Santo... “ (Luc. 1:35)

Gabriel não poderia estar falando de si mesmo. E Ellen G. White assegura que o seguidor de Jesus pode sentir-se confiante e seguro no conflito “contra as hostes espirituais da maldade, porque “mais que anjos estão nas fileiras. O Espírito Santo, o representante do Capitão do exército do Senhor, desce para dirigir a batalha”- O Desejado de Todas as Nações, pág. 352.

Rebaixar o Espírito Santo à categoria de anjo e, na realidade, minimizar o poder de Deus, algo muito a gosto de satanás.

Outra forma especulativa no tratamento de tão sublime tema, é despojar o Espírito de Sua personalidade. As chamadas Testemunhas  de Jeová afirmam que Ele é apenas uma influência ou energia – o poder de Deus.

Esta idéia é tão antiga quanto o século III, quando Paulo de Samosata a difundiu. No tempo da reforma, Lécio Socino e seu sobrinho Fausto propagaram a teoria.

Não há como negar que este conceito rebaixa o valor do Espírito Santo para a Igreja.

L. E. Froom a isto se refere quando afirma que negar a personalidade do Espírito não é “mera questão técnica, acadêmica ou simplesmente teórica. É de suprema importância e do mais elevado valor prático. Se Ele é uma Pessoa divina e O consideramos como influência impessoal, estamos roubando desta Pessoa divina a deferência, honra e amor que Lhe são devidos. E mais: Se o Espírito é mera influência ou poder, podemos então procurar apropriar-nos Dele e usá-Lo”- A Vinda do Consolador, pág. 40.

À página 36 da edição castelhana acrescenta-se ao final deste parágrafo:  “Mas se O reconhecermos como Pessoa, estudaremos como nos submeter a Ele de modo que nos use segundo Sua vontade”.

“Não – continua Froom - , o Espírito Santo não é uma tênue, nebulosa influência imanente do Pai. Não é algo impessoal, vagamente reconhecido, apenas um invisível princípio de vida... Jesus foi a personalidade mais influente e marcante neste velho mundo, e o Espírito Santo foi designado para preencher Sua vaga. Nada a não ser uma Pessoa poderia substituir aquela maravilhosa Pessoa. Nenhuma simples influência seria suficiente.” - Ibidem, págs. 41 e 42.

Para substituir uma pessoa maravilhosa, só outra pessoa maravilhosa. Alguns se valem do fato de a Bíblia identificá-Lo como Espírito de Deus ou de Cristo (I João 4:2, I Cor. 3:16, Gál. 4:6, I Pedro 1:11, entre outros textos), para afirmar que o Espírito Santo é algo inerente a Deus, tal como a Sua energia ou virtude. Todavia, a fórmula indica procedência e não inerência (cf João 14:26, 15:26), Pode também indicar que Sua obra é executada em subordinação ao Pai e ao Filho. Parte desta obra é a representação Vicária de ambos neste mundo. De fato, Jesus prometeu aos discípulos que retornaria para eles na pessoa do Espírito Santo (João 14:16-18 e 23).

Outro expediente utilizado pelos que rejeitam a personalidade Espírito Santo tem a ver com o gênero neutro do grego pneuma, espírito. “A Bíblia não empregaria uma palavra neutra para identificar uma personalidade”, dizem. Contra esta hipótese se verifica que o termo é usado em referência a entidades reconhecidamente pessoais. “São todos ele espíritos ministradores...”afirma o escritor sagrado acerca dos anjos (Heb. 1:14).

Além disso, o Novo Testamento emprega fartamente pronomes pessoais gregos em referência ao Espírito Santo. Apenas em João 14:16 isso ocorre 24 vezes, e Ele próprio faz referência a Si com o pronome pessoal:

“Disse-lhe o Espírito (a Pedro): Estão aí dois homens que te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles, nada duvidando; porque Eu os enviei” (Atos 10:19,20). Deve-se notar, finalmente, que o título Parákletos, aplicado ao Espírito Santo e vertido Consolador em nossas Bíblias, subentende a Sua personalidade. Etimologicamente significa alguém chamado para estar ao lado de, “advogado” e “conselheiro”, sendo apropriados equivalentes em português.

Condenando as especulações, o Espírito de Profecia adverte: “A natureza do Espírito Santo é um mistério. Os homens não a podem explicar, porque o Senhor não lho revelou. Com fantasiosos pontos de vista, podem-se reunir passagens da Escritura e dar-lhes um significado humano; mas a aceitação desses pontos de vista não fortalecerá a Igreja. Com relação a tais mistérios - demasiado profundos para o entendimento humano – o silêncio é ouro” – Atos dos Apóstolos, pág. 52.

Um Ser pessoal: Quando Ellen G. White afirma que “a natureza do Espírito Santo é um mistério“, não quer dizer que nada podemos saber sobre Ele. Aquilo que a revelação nos transmite não é especulação; é a realidade, e é nosso dever aceitar pela fé.

Dois pontos sobre o Espírito Santo estão devidamente assentados nas páginas sagradas. Ele é uma pessoa, e é Deus. “O Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com nosso espírito que somos filhos de Deus. Deve ser também uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os segredos que jazem ocultos na mente de Deus” - Evangelismo, pág.617.

A personalidade do Espírito Santo é claramente inferida do testemunho bíblico.

As seguintes referência não deixam dúvida a respeito:

1) Ele é citado entre as pessoas: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo”(Atos 15:28) Além disso, Ele aparece na fórmula batismal junto ao Pai e ao Filho (Mat. 28:19); seria redundância Jesus mencionar o Espírito Santo, tendo já mencionado o Pai, fosse Ele a mera energia dEste; também não faria sentido Jesus ordenar o batismo em nome de uma Pessoa, o Pai, de outra Pessoa, o Filho, e agora em nome de uma energia, o Espírito.

2) Ele é Senhor (II Cor. 3:17,18). Este termo define a personalidade e divindade quando aplicado ao Pai e ao Filho; porque não quando aplicado ao Espírito ?

3) Ele possui mente (Rom.8:27). O termo grego traduzido “mente” neste texto em algumas versões é phrónema (alguma coisa que se tem em mente, que passa pela mente, o pensamento), em contraste com nous (a mente como sede da consciência, da reflexão, da percepção, do entendimento, do julgamento crítico e da determinação). O importante é que phrónema pressupõe a existência de nous. Apenas um ser pessoal é dotado de nous, e pode exercer phrónema.

O Espírito Santo é um ser pensante, o que implica inteligência. Ele não pode ser menos que uma pessoa.

4) Ele tem sentimentos:

- pode ser contristado – Efé. 4:30

- expressa anseio – Tia. 4:5

- possui alegria – I Tess. 1:6

- ama – Rom. 15:30

- expressa vontade – I Cor. 12:11

5) Pode, e deve, ser mantida comunhão com Ele (Fil. 2:1, II Cor.13:13). Não se mantém comunhão com uma energia.

6) Não é mero poder, mas tem poder (Rom.15:19). Seria outra redundância a Bíblia falar do poder do Espírito Santo, fosse Ele mero poder; seria “o poder do poder”!

7) Pode-se mentir a Ele (Atos 5:3). Mente-se a uma pessoa e não a uma energia.

8) Pode-se Lhe resistir (Atos 7:51). É possível cumprir o papel de um resistor (componente que impede, ou atenua, o fluxo da corrente elétrica) para com o Espírito Santo? Sim, e isso o pecador faz quando, diante do apelo divino, prefere permanecer no erro. Mas isso não significa que o Espírito Santo não seja uma pessoa, pois não é apenas a uma energia que se resiste. Pessoas também podem ser resistidas, incluindo Deus (11:17). O texto fala de se resistir às claras evidências da verdade, apresentadas pelo Espírito Santo.

9) Pode-se guerrear conta Ele (Gál.5:17). O que é uma intensificação de resistência ao Espírito Santo.

10) Pode-se ultrajá-Lo (Heb.10:29). Como é possível ultrajar uma energia? Ultrajar se liga naturalmente ao sentido de afrontar, insultar, difamar, injuriar, ofender, deprimir, vilipendiar, desacatar, vituperar, envergonhar. Como se pode fazer tudo isso a uma energia?

11) Pode-se blasfemar contra Ele como se blasfema contra o Filho. (Mat. 12:31). É possível blasfemar contra uma energia? Blasfema-se contra uma pessoa, como é o caso de Jesus aqui.

12) Ele executa específicas funções próprias, não de uma energia, mas de um pessoa:

- sonda, perscruta a Deus – I Cor. 2:10

- concede dons para a edificação da Igreja – I Cor. 12:8,12

- manifesta-se nesses dons – I Cor: 12:7 (em outras palavras ao conceder dons à Igreja o Espírito se dá a ela

- contende com pecadores – Gên. 6:3

- ordena sobre itens relevantes para a obra e o povo de Deus – Atos 8:39;10:19,20

- envia pessoas no processo do cumprimento de alguma missão – Atos 10:19,20

- ensina o que uma vez ouviu – João 16:13 (ouvir não é próprio de uma energia) ver também 14:26, I Cor.2:13

- revela, especialmente pelo exercício profético – Atos 1:16, II Pedro 1:21, I Tim. 4:1

- testifica através da intuição na consciência, bem como com o testemunho da Igreja – Rom.8:16; Atos 5:32; Ap. 22:17

- move o agente humano na capitação da revelação divina – I Pedro 1:21

- incute novas realidades ainda não percebidas – Heb. 9:8

- indica a correta compreensão do que é revelado – I Pedro 1:11

- guia os filhos de Deus – Rom.8:14, inclusive na busca de “toda a verdade” - João 16:13

- assiste nas fraquezas – Rom. 8:26

- intercede corrigindo nossas orações – Rom. 8:26

- produz frutos na vida dos que se submetem a Ele – Gál. 5:22,23

- lava e renova, o que resulta em salvação – Tito 3:5. Em João 3:5,6 este ato é referido por Jesus em termos do novo nascimento.

- escreve a lei de Deus nas tábuas do coração – II Cor. 3:3

- santifica – II Tes. 2:13, I Pedro 1:2

- sela os que são de Deus – Ef. 1:13

Conclusão: Que pessoa maravilhosa é o Espírito Santo! Que humildade, que interesse, que desvelo! Ele nos ama a ponto de instar conosco a que sejamos salvos. Ele está disposto a aplicar em nossa vida a obra redentora da cruz em toda a sua extensão. A exemplo do Pai e do Filho, Ele anseia por nossa presença no reino de Deus. Já Lhe agradecemos por isso?

De fato, Ele é um precioso Amigo. Se O resistirmos, magoá-Lo-emos, e Ele poderá se afastar triste e pesaroso por nossa indelicadeza e apego àquilo que resultará em nossa infelicidade permanente. Mas se O acolhermos, Ele tomará posse do nosso ser, far-nos-à crescer até a semelhança com Jesus e até colocar os nosso pés na cidade celestial.

“Hoje se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração.”- Hebreus 4:7.

Para entrar em contato conosco, utilize este e-mail: adventistas@adventistas.com