Dondocas da Obra Querem Casa de Esquina, Com Sauna e Piscina, no Reino dos Céus
(Confissões de um Ex-Pastor - XIII) Após a conversa com o diretor, o pastor da escola me procurou. Estávamos em dois ali. Eu era o professor de religião. Ele, atuando na cidade há mais tempo, era o capelão. Um colega do teológico, cujo nome vou omitir por uma questão de ética. — K, fiquei sabendo da tua conversa com o Lourisnei. Por que disse aquelas coisas para ele? — W, ele me chamou só para falar de frivolidades, e não do importante trabalho espiritual que temos que desenvolver aqui. — K, te conheço do teológico! Mas você não está no IAE. Aqui não se pode falar o que se pensa! Você sabe de que família o diretor é? — Da família Reis, e daí? — Daí, é que a família Reis pertence as oligarquias que dominam a obra. Você pode se queimar com ele... — Foi ele que te contou sobre nossa conversa? — Foi, e reclamou que você não está indo nos cultos matutinos da escola. Era verdade. Fazia semanas que eu ia direto para as salas de aula, sem participar do culto com os professores e direção escolar. Acontece, que esses cultos, haviam se tornado uma reunião de blasfemos. Professoras, que pertenciam a nata do adventismo local, pois eram casadas com homens ricos, empresários, que eram apenas cristãos nominais. Elas se aproveitavam da hora do culto para simplesmente zombarem das verdades sagradas de Deus. Um dia, quando o capelão falava das casas do Reino, que Cristo foi preparar para Seus filhos, uma delas virou-se para mim e disse: — AH! Pastor...Eu só vou para lá, se Jesus me der uma casa de esquina, com sauna e piscina! Todos caíram na gargalhada, com exceção do capelão e eu. Foram tantas as blasfêmias, que eu decidi não participar mais dos cultos. A Raquel, esposa do diretor, era a principal. Uma vez disse, durante a meditação matinal: — Jesus também, fazia cada coisa estranha...Andar no meio daquele povinho pobre. Credo! Todos riam a valer. — Você sabe, W, porque não vou mais. Eles zombam de coisas sagradas! — Eu sei, K, mas precisamos manter nossos empregos. Veja a tua situação. Com um filhinho de dois anos e a esposa grávida do segundo! — Então W, mais um motivo para eu estar magoado com o diretor. Como o Lourisnei quer que eu compre um carro e ternos novos, ganhando 50% do teto da obra e com uma família para alimentar? No meu tempo, 50% do teto salarial da obra, não era nada. Não conhecia as ajudas a que tinha direito, pois o livro de praxes era um mistério. Poucos sabiam o seu conteúdo, e quando sabiam, não passavam as informações para os colegas que estavam iniciando. Assim, era normal para mim, pedir fiado na padaria, quitanda, açougue, etc, e só pagar quando recebia, para começar a pedir fiado novamente. Se eu comprasse um sapato novo, certamente minha família iria passar necessidades. Quantas vezes, não encostava o pé, na parede, na hora da oração de joelhos na Igreja, para que os irmãos não vissem meu sapato furado... Já pessoas como o sr. Lourisnei, que além de conhecer muito bem os benefícios que o livro de praxes concedia aos obreiros, vinha de família que dominava o dinheiro da obra de Deus, e que certamente não deixaria faltar nada a sua cria, inclusive mordomias, como ter um carro do ano e roupas de grife. Percebem a injustiça que a obra comete, meus irmãos? Que hipocrisia! Que farsa! Quantas mentiras! Que triste realidade de homens e mulheres que se entregaram a Satanás! — W, não tenho mais tempo a perder. Esta escola é um antro de apostatados, mas tenho um grupo de jovens, que está se preparando para o batismo. — K, que eu digo para o diretor? Você não vai pedir desculpas a ele, pelo que disse? Não vai voltar a freqüentar os cultos? — W, vi que você permanece em silêncio, quando as professoras zombam de Jesus. Cuidado para não perder a vida eterna. Se afaste destas pessoas. Me ajude com as classes batismais. Me ajude nas visitas. Esqueça esta elite satânica. — K, perderei meu emprego! — W, o Senhor proverá! Assim terminou a conversa. Decidi, firmemente, salvar as almas que Deus havia me confiado, custasse o que custasse. Sabia que o preço era alto, mas estava disposto a pagar. Leia outros textos do Ex-Pastor K (em ordem cronológica crescente):
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