Robson Ramos: 
“Não Posso Falar Mal do Bullón”

Como é que eu posso falar mal de Alejandro Bullón se não o conheço pessoalmente? Somente quem desfruta de sua intimidade pode avaliá-lo como pessoa.

É muito provável que seja um esposo exemplar, pai atencioso, avô carinhoso, amigo leal, obreiro dedicado, crente sincero... Pode ser também que ainda não seja nada disso, ou o seja apenas em parte. Afinal de contas, somos todos filhos de Deus em crescimento.

Posso discordar, porém, do pregador Alejandro Bullón. Posso e discordo. Discordo nesse sentido, do que ele faz e do que fazem com ele.

Erros da Administração

1. A Administração adventista fez do Pr. Bullón uma espécie de semideus, que estaria acima dos demais pregadores e pastores e, obviamente, em nível espiritual superior ao dos demais membros. Essa “divinização” do homem Bullón torna-o personagem intocável, de quem não se pode discordar e a quem se deve reverenciar e acatar sempre como autoridade inquestionável.

2. A Administração adventista transformou o Pr. Bullón em garoto-propaganda e personagem-símbolo da igreja na América do Sul, a ponto de já haver uma imediata identificação ou associação entre sua imagem e a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Bullón é a cara da Iasd e vice-versa.

Aliás, o próprio Bullón se confunde com a Iasd e entende as críticas que lhe são feitas (e a outros líderes) como se estivessem sendo feitas indiretamente a Cristo. Ele raciocina que, se a igreja é “o corpo de Cristo” e eu (Bullón) represento a igreja, toda crítica contra mim (ou meus colegas de ministério) são contra Cristo!

Na chamada Era do Rádio, isso associação pregador/denominação acontecia com a voz de Roberto Rabelo. E a Administração concluiu que bastaria substituí-lo por alguém de nome e jeito de falar semelhantes. O resultado nem todos conhecem, mas esse não é o tema deste artigo. A falha principal foi da Administração que permitiu essa identificação associativa orador-igreja.

Permitam-me aqui sugerir que nossos programas de rádio e tevê não deveriam ter apresentadores fixos, mas rostos diferentes a cada dia para que a mensagem seja mais valorizada que o mensageiro e a primeira não corra o risco de cair em descrédito por tropeços espirituais deste último.

Em menor proporção, acontece o mesmo com os nossos cantores e músicos. Por que não produzirmos simplesmente Cds (ou eventos) que reunam músicas de louvor e adoração, música para consumo cotidiano ou música para evangelismo, com cantores e grupos diversos? Assim, a mensagem estaria sempre acima das performances e deslizes individuais.

3. A Administração adventista supervaloriza o trabalho de Bullón (e de outros evangelistas).

Você folheia a Revista Adventista e percebe no noticiário que o crédito pela conversão de centenas de almas numa campanha evangelística é dado quase exclusivamente ao pregador, sua técnica, seu estilo e carisma pessoal. Nenhuma linha ou pouquíssima ênfase sobre o trabalho dos pastores distritais (ordenados e aspirantes), teologandos, obreiros bíblicos e, sobretudo, dos esforços voluntários dos membros leigos.

Convém lembrar também que no processo do convencimento, estímulo à decisão e conversão, o papel principal cabe ao Espírito Santo. Assim, Deus é que, de fato, deveria protagonizar toda cobertura jornalística de reuniões de cunho evangelístico.

4. A Administração adventista é responsável pela espetacularização das pregações de Bullón (e de outros evangelistas).

Perdoem-me a franqueza, mas vejo todos esses chamados “grandes eventos” por nossa Administração como uma falsificação do Pentecostes.

Potente aparelhagem digital substitui o som que deveria vir do céu, como um vento impetuoso. Em lugar das línguas de fogo, o facho luminoso dos holofotes. Linguagem de surdos-mudos ou sofisticados sistemas de tradução simultânea substituem o dom de línguas. Prodígios e sinais dão lugar a teatralizações, relatos e depoimentos duvidosos.

Em vez de pregações poderosas, ouvem-se discursos emocionantes tecnicamente elaborados, em que a mensagem adequada (pelo Espírito) a cada um dos presentes dá lugar a um recado genérico que acaricia o ego e os pecados de todos.

5. A Administração adventista é culpada pela padronização, amenização e manipulação da mensagem bíblica (adventista), através de Bullón e de seus imitadores.

Bullón é evangelista. Fala a não-adventistas em processo de conversão. Entre eles, pode haver não-religiosos, adeptos de religiões não-cristãs, católicos, protestantes e até ex-adventistas. Sua mensagem e abordagem destina-se a esse público de embriões ou recém-nascidos espirituais.

O envolvimento dos irmãos da igreja em suas campanhas evangelísticas, a divulgação desse material em fitas de vídeo e a confusão mental do próprio Pr. Bullón, que prega como evangelista mesmo quando fala à igreja, somados aos quatro itens anteriores, fizeram com que se disseminasse a errônea compreensão de que sua mensagem e estilo de pregação sejam o modelo (ou padrão) para todos os pregadores, sejam evangelistas ou pastores.

Nós nos acostumamos às mamadeiras açucaradas servidas pelas babás do púlpito e agora nos recusamos a aceitar alimento sólido de outros pregadores. Pior. Nós os rejeitamos e condenamos por não serem como o Pr. Bullón!

Às vezes, ocorre também de o próprio Pr. Bullón ser usado pela administração para condenar os que não o têm como modelo de pregador. Nessas ocasiões, ele atende a interesses da Organização, que, obviamente, prefere a quantidade de dízimos e ofertas doados por uma multidão de anões espirituais dela dependentes. Assusta-se com a qualidade de uma igreja pouco numerosa, mas composta de gigantes espirituais, bem alimentados e dispostos a trabalhar até por conta própria.

Erros de Bullón

Sobre erros doutrinários e distorções da mensagem bíblica promovidas pelo Pr. Bullón, já tratamos em outros artigos. Mas, sob a ótica deste artigo, se até aqui a culpa pareceu ser toda da Administração, convém complementar e mostrar que nada disso ocorreria sem a permissão do próprio Pr. Bullón. É porque ele concorda, aprecia e incentiva que a Administração fez dele esse semideus, garoto-propaganda e personagem símbolo da Igreja. 

Se não aceitasse a supervalorização de seu trabalho, não permitisse a espetacularização de suas pregações e a padronização da mensagem adventista através de seu ministério, o Pr. Bullón, com certeza, não seria o pregador famoso que é, mas poderia dormir tranqüilo, consciente de estar fazendo a vontade de Deus e recebendo Sua aprovação sobre seu trabalho. Talvez encontrassem um outro para explorar em seu lugar, mas ao menos ele não estaria sendo conivente e cúmplice com essa Administração mercenária e mundanizada. -- Robson Ramos.

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