Sobre Mateus 28:19 -- "Ide, portanto, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo"
--, parece-nos razoável acreditar que:
1. Quando Cristo supostamente disse o que está registrado em
Mateus 28:19, havia discípulos presentes. E obviamente, o que Ele disse foi
ouvido e entendido por eles.
2. Portanto, um discípulo como Pedro, por exemplo, poderia nos
dizer exatamente como foi que entendeu a ordem do Salvador.
3. Deveriam eles, a partir de então, batizar em nome de uma
trindade, composta por três pessoas divinas que misteriosamente formam um único
Deus? Em Atos 2:38, vemos Pedro conclamando seus ouvintes a se arrependerem para
serem batizados em nome de Jesus e não em três nomes, ou no nome dos três. Pedro explicou ainda que
os batizados em nome de Jesus receberiam Espírito Santo como presente.
4. Suponhamos, porém, que Pedro nessa ocasião houvesse
esquecido a ordem de Mateus 28:19 e deixado de batizar em nome da trindade...
Teria a Bíblia uma outra evidência de como Pedro entendera a última ordem de
Jesus? Atos 10:48 afirma que ele ordenou que Cornélio e os seus que deveriam ser
batizados em nome de Jesus.
5. Assim, vemos que, como bem argumenta o irmão David do site
www.present-truth.net,
"Pedro deve ter entendido o imperativo de Jesus diferentemente do que a maioria
dos trinitarianos compreendem hoje."
6. Será que Pedro estava sozinho em seu entendimento? Não. Em
Atos 8:16, ele e João foram a Samaria encontraram um grupo que havia sido
batizado em nome de Jesus por Felipe. Faltava-lhes apenas receber o divino
presente de batismo, que era o Espírito Santo. Por isso, Pedro e João lhes
impuseram as mãos e oraram por eles.
7. E o apóstolo Paulo, que dizia não ter recebido o Evangelho
de nenhum homem, mas do próprio Cristo (Gálatas 1:12), batizava ele em nome da
trindade? Quando visitou Éfeso, Paulo encontrou irmãos que conheciam apenas o
batismo de João. Pois bem, Paulo, depois de instruí-los, batizou-os somente no
nome do Senhor Jesus. Depois, colocou a mão sobre eles para que recebessem
Espírito Santo. E eles falaram em línguas conhecidas e profetizaram!
8. O que estamos dizendo é que não existe na Bíblia qualquer
registro de batismo realizado em nome de uma trindade. Diante disso, como
ressalta o irmão David do Ministério Verdade Presente (já citado), restam-nos
três opções apenas: (a) os discípulos se rebelaram contra Jesus e desobedeceram
Sua ordem de batizar em nome da trindade; (b) os discípulos entenderam a ordem
de um jeito diferente do proposto pelos trinitarianos; (c) Jesus nunca ordenou
que batizassem em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
9. Nos sete primeiros itens deste pequeno esboço, demonstramos
que a ordem de Mateus 28:19 foi entendida pelos discípulos de modo diferente do
que hoje defendem os trinitarianos, pois batizavam apenas em nome de Jesus.
Poderia a terceira opção ser também verdadeira, ou seja, poderiam os discípulos
ter entendido a ordem de maneira diferente porque, de fato, foi dada de modo
diferente?
10. Estudiosos não comprometidos com a Igreja Católica e seus
dogmas e mistérios, afirmam que Mateus 28:19 pode ser fruto de um acréscimo posterior ao
texto bíblico.
Uma das evidências citadas por esses
estudiosos são os escritos de Eusébio de Cesaréia, do quarto século.
Dezessete vezes nos textos que escreveu antes do Concílio de Nicéia,
Eusébio cita Mateus 28:19 como: "Portanto, ide e fazei discípulos em Meu
nome", sem mencionar a fórmula trinitariana. Nos escritos pós-Nicéia
de Eusébio, a
fórmula trinitariana é encontrada cinco vezes apenas!
11. O contexto imediato de Mateus 28:19 adequa-se muito
melhor a essa construção repetida tantas vezes por Eusébio de Cesaréia.
Veja:
"Seguiram os onze discípulos para a Galiléia, para o
monte que Jesus lhes designara. E quando O viram, O adoraram; mas
alguns duvidaram. Jesus, aproximando-Se, falou-lhes, dizendo toda
autoridade Me foi dada no céu e na terra. Portanto, ide a todas as
nações e fazei discípulos em Meu nome,
ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado. E
eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século."
Mateus 28:16-20.
a) Parte dos onze se ajoelhou perante Cristo, enquanto
outros tiveram dúvida se deveriam fazê-lo, pois sabiam que só deveriam se
ajoelhar diante de Deus.
b) Diante da dúvida, Jesus lhes explica que havia recebido de
Deus toda a autoridade no céu e na terra e que, portanto, poderia ser adorado de
joelhos.
c) A concessão da autoridade divina a Cristo, possibilitou-Lhe
ainda ordenar aos discípulos que fossem a todas as nações, fizessem discípulos
e os batizassem em Seu nome, ensinando-os a guardar tudo que lhes dissera. (Veja Lucas
24:45-47.)
d) O Filho de Deus, com a autoridade e poder que recebera do
Pai, promete então que estaria espiritualmente com eles todos os dias até o fim
do mundo. (O Evangelho de Marcos confirma que Ele cumpriu essa promessa: "De
fato o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e
assentou-Se à destra de Deus. E eles, tendo partido, pregaram em toda parte,
cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra por meio de sinais que
se seguiam." Marcos 16:19-20.
Portanto, fica demonstrado, segundo o raciocínio dos leigos
adventistas, que acrescentar outros personagens à última declaração de Cristo
registrada por Mateus fere o contexto, tornando o texto confuso, pois lhe
desvirtua o sentido.
12. Para encerrar, uma declaração da Sra. White que nossos
teólogos prefeririam que não existisse, porque coloca em dúvida Mateus 28:19 e
outras passagens que parecem favorecer o dogma da trindade:
"Vi que Deus havia de maneira especial guardado a Bíblia,
ainda quando dela existiam poucos exemplares; e homens doutos nalguns casos
mudaram as palavras, achando que a estavam tornando mais compreensível quando,
na realidade, estavam mistificando aquilo que era claro, fazendo-a apoiar suas
estabelecidas opiniões, que eram determinadas pela tradição. Vi, porém, que
a Palavra de Deus, como um todo, é uma cadeia perfeita, prendendo-se uma parte à
outra, e explicando-se mutuamente." Primeiros Escritos, págs. 220-221.
Ora, um dos únicos textos da Bíblia do qual até os teólogos trinitarianos têm plena certeza de que se trata de um inegável acréscimo é
aquele que se encontra entre colchetes em I João 5:7-8 e favorece a trindade:
"Pois há três que dão testemunho [no céu: o Pai, a Palavra,
e o Espírito; e estes três são um. E três são os que testificam na terra]: o
Espírito, a água e o sangue, e os três são unânimes num só propósito."
Diante disso, se neste caso favoreceu-se a trindade e o
Espírito de Profecia, através da irmã White, fala "nalguns casos", é muito
provável, lógico até mesmo para os "leigos", que outros trechos que favorecem a
trindade, como Mateus 28:19 e a chamada "bênção apostólica", sejam também
apócrifos.
13. A mais recente edição da Bíblia de Jerusalém,
Nova Edição, Revista e Ampliada, lançada em agosto de 2002 pela Igreja
Católica, em nota de rodapé a Mateus 28:19, admite que a frase "batizando-os em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, tenha sido acrescentada
posteriormente ao Livro de Mateus:
"É possível que, em sua forma precisa, essa fórmula reflita
influência do uso litúrgico posteriormente fixado na comunidade
primitiva. Sabe-se que o livro dos Atos fala em batizar "no nome de Jesus" (cf
At 1,5+;2,38+). Mais tarde deve ter-se estabelecido a associação do
batizado às três pessoas da Trindade..."