A Surpreendente Confissão do Pr. Robert Habenicht

Tradução: David Souto – Revisão: Pr. Robert Habenicht

“Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.” Atos 17:11

No espírito dos Bereanos (Atos 17:11), comecei a procurar nas Sagradas Escrituras para ver, por mim mesmo, se o que foi me ensinado, e o que eu havia ensinado aos outros, de fato esquadrinhava a palavra. Não é que não estudei minha Bíblia pelos anos, mas, como professor e pastor, sentia que a quantidade de deveres justificava o uso de atalhos.

Assim, eu lia volumes de literaturas publicadas pela igreja, enquanto eu pensava que estava fazendo bem, desde que “...a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo. ...E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Romanos 10: 17, 14)

Afinal de contas, temos muitos teólogos entre nós, mais capazes do que eu, que gastaram tempo para estudar profundamente qualquer assunto e pôr os seus resultados em papel, para abençoar o resto de nós. Eu assumi que nossos líderes religiosos devotados a Deus não publicariam estes estudos para nós, se os mesmos não estivessem de acordo com a Bíblia.

Na década de oitenta, porém, elucidou gradualmente em mim o pensamento de que é necessário ser seletivo relativo aos autores que estamos acostumados a ler. Se você não for seletivo (com relação aquilo que você crê), o resultado é confusão. As escolhas têm que ser feitas, porque, durante vários anos, teólogos Adventistas haviam estado batalhando sobre que tipo de natureza Jesus havia recebido quando ele nasceu de Maria. A maioria estava insistindo que Jesus havia naquele tempo assumido uma natureza perfeita, quer dizer, igual à de Adão, antes de ele pecar.

Outros estavam dizendo, "Não! Não! Não! Isso é teologia nova. Nós como um povo nunca acreditamos nisso! A única diferença entre esta crença e o Catolicismo é que os católicos dizem que Jesus teve uma natureza perfeita, porque Maria nunca pecou. Jesus não podia ter condenado o pecado na carne se ele não tivesse uma natureza carnal (caída).” Finalmente, as publicações da igreja declaravam, que o Adventismo era suficientemente grande para permitir convicções em qualquer dos dois pontos de vista.

Como poderia ser isto? Certamente, uma posição administrativa permitindo dois pontos de vista teológicos, completamente opostos, não merecia confiança. Com certeza, algo tão importante só poderia ser resolvido através de um estudo cuidadoso da Bíblia. Um dos pontos de vista tinha que estar errado! Continuando a permitir que o erro ficasse em pé de igualdade com a verdade, praticamente garantiria que o erro iria ganhar ascendência.

 

Apostasia Ômega?

A afirmação de que não fazia nenhuma diferença qual visão da natureza humana de Cristo eu escolhesse era incrível. Parecia ser uma maneira planejada para estimular o fervor daqueles que estavam promovendo o ponto de vista de que Jesus tinha tomado a natureza de Adão antes da queda, em vez da natureza caída de Abrão, David, e o resto de nós.

Que lado estava certo? Estaria o lado errado trazendo o "Ômega da apostasia" (definido mais adiante) sobre qual nós tínhamos sido advertidos que viria, ou estava o "Ômega" já aqui, sem ser percebido? Se o "Ômega" já estava aqui, será que as pessoas que estavam erradas, no conflito relativo à natureza humana de Cristo, estariam somando, ou tentando fortalecer, a posição do "Ômega"? Certamente para este assunto tão vasto, a conclusão do curso ministerial (Emmanuel Missionary College, 1955) não havia me preparado suficientemente. Permita me regressar ao ano de 1962.

Na Associação de Michigan foi distribuído o livro Questions on Doctrines (Perguntas Sobre Doutrinas, que daqui por diante chamaremos Q & D) aos pastores que pudessem usar. Eu adquiri doze caixas, deu para encher um Volkswagen (Fusca ano 60). Era o bastante para prover um para cada família que tivesse interesse nas Igrejas de meu distrito, e sobrou o suficiente para presentear com um exemplar de capa dura a cada um de meus muitos doadores empresários daquele ano.

Este livro, que foi publicado em 1957, havia introduzido cautelosamente a natureza humana de Jesus antes da queda como o ponto de vista oficial da igreja (veja Q & D, págs. 8 e 9). Esconderam o fato, para os Adventistas, de que esta era uma posição teológica nova e que não havia sido aceita por voto.

 

Críticas

Havia duas fontes de críticas sobre o novo livro que não agradavam a todos, mas estas não tiveram nenhuma importância para mim por muitos anos. A primeira tinha sido uma menção, numa reunião de pastores, de um teólogo jubilado, diziam que ele estava em decadência e se sentia ofendido por não ter ser sido consultado na preparação do livro Q & D. Fomos informados de que ele estava enviando cartas para as igrejas, fazendo um estardalhaço de um assunto secundário do qual ele discordou dos autores.

O assunto, (a natureza humana de Jesus antes da queda - imaginem, secundário!) não foi discutido, nem o teólogo, M. L. Andreasen (talvez o pastor mais respeitado naquele tempo), foi nomeado para participar. Fomos aconselhados a ignorar o assunto, visto que era um assunto tão trivial que as pessoas de bom senso não iriam querer ser aborrecidas com aquilo.

A outra fonte de crítica, que indicava que tudo estava mal com o livro Q & D veio de um de meus anciãos. Ele me fez casualmente algumas perguntas, sobre a natureza de Cristo, que estavam além de meus conhecimentos e experiência na Palavra. Ele rapidamente sentiu meu desconforto, percebeu que eu estava satisfeito com a minha ignorância sobre assunto, e deixou de mão. Isto foi devido à consideração exagerada que os irmãos leigos têm para com os seus pastores, até mesmo para com os pastores jovens como eu naquele tempo.

Quase quarenta anos se passaram antes que eu pudesse visitar aquele querido irmão novamente, agora um octogenário. Ele não se lembrou do incidente daquele dia, mas ele se lembrou bem daquelas "Cartas para as Igrejas do Pastor Andreasen", e as bênçãos que elas lhe trouxeram. Como eu teria gostado ter estado na lista dos que receberam aquelas cartas.

 

Tática enganosa

Eu não entendi qual era o assunto, entretanto, foi minha falta. Eu tenho olhos para ler o que “o Espírito de Cristo diz para as igrejas." (Sete vezes repetidas em Apocalipse, capítulos dois e três!) Eu simplesmente não estava buscando na Palavra por mim mesmo. Fui doutrinado no uso de atalhos eficientes, e deixei o peso dos deveres me roubar as muitas chances para aprender os assuntos que todos no Céu estão ansiosos para que nós humanos compreendamos.

Finalmente, na década de oitenta, a hierarquia adventista usou aquela tática enganosa já mencionada acima: "Realmente não faz nenhuma diferença que visão da natureza humana de Jesus a pessoa aceita", era esta a tática utilizada . Isto abriu os meus olhos para uma divisão doutrinal profunda, dentro da igreja, que tinha estado se inflamando durante anos, e da qual, para minha vergonha, eu tinha sido completamente desavisado.

Não gosto de admitir isto, mas provavelmente estaria ainda naquele estado sombrio em minha mente se alguns irmãos, com uma atitude de Bereano, corajosos, não tivessem se arriscado a serem difamados pessoalmente, para apresentar a verdade como eles viam. Se não fosse por eles, ainda poderia estar pensando que a apostasia na igreja envolvia apenas assuntos sintomáticos, como café, ou jóias.

Agora entendo que "Compromisso sério" tem raízes mais profundas do que eu tinha imaginado. Ter ensinado que a frase intencionalmente redundante, do apóstolo Paulo, "destes também ele, igualmente, participou,” em Hebreus. 2:14, significava que Jesus tinha recebido a natureza humana antes da queda, estava além das crenças. Crer que não fazia nenhuma diferença de que modo eu acreditava também era uma impossibilidade.

Não foi muito fácil igualmente admitir que durante trinta anos eu tinha sido uma parte deste problema, em vez de ser uma parte de sua solução. Eu tinha distribuído o livro Q & D, quando eu deveria ter me oposto aos erros que aquele livro continha. Admissões mais sérias eu farei mais à frente.

 

Firme Fundamento

Neste tempo nós recebíamos uma assinatura de cortesia da revista Our Firm Fundation (Nosso Firme Fundamento).Que benção era aquela revista, alimentando nossas almas. Aumentou nosso conhecimento da Palavra, e a nossa confiança numa mensagem certa. Encontrávamos nesta revista um grupo de autores que nós pensávamos que eram consistentes no uso da Bíblia, mas ultimamente eles têm defendido o grande erro de que a natureza humana de nosso salvador é apenas um aspecto.

Também apreciávamos a publicação Adventists Affirm (Adventistas Afirmam), com seu grupo de autores que tentam segurar o navio da nossa igreja contra os ventos que estão a levá-la à destruição. Pensávamos que havíamos conquistado a vantagem que nosso ancião da igreja tinha desfrutado trinta anos atrás. Estávamos, então, nas listas de endereços ministérios que nos deram uma visão mais clara do que estava acontecendo atrás das cortinas.

O documento A Igreja Adventista do Sétimo Dia e Certos Ministérios Independentes foi publicado pela liderança de igreja em 1993, numa tentativa de desacreditar aqueles que ainda estavam insistindo que Jesus tinha, de fato, herdado a natureza humana caída de Maria. Claro que, a essa altura, nós não aceitávamos mais as premissas deles, de que a natureza humana de Cristo era um assunto impossível de resolver (pág. 109). Porém, uma pergunta levantada na página 39 do documento era por demais desconcertante. "Estão os defensores modernos do que eles chamam 'Adventismo Histórico' realmente preparados a voltarem para uma posição não trinitariana?"

Desejei saber então, o que envolvia esta pergunta. Sublinhei e registrei a passagem junto com outras notas na parte de trás do livro para avivar a minha memória. Mas que Bereano relaxado eu era! Não fiz coisa alguma para solucionar a pergunta. Falhei no teste Bereano novamente.

Continuará.

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