Conheça a Versão Oficial e Saiba Como O Desejado de Todas as Nações Foi Criado

 

(Texto extraído do livro Mensageira do Senhor, de Herbert E. Douglas, publicado pela Casa Publicadora Brasileira em 2001, págs. 450-453.)

Com exceção da Bíblia e talvez do Caminho a Cristo, este volume [O Desejado de Todas Nações] tornou-se a fonte favorita de nutrição espiritual para centenas de milhares, talvez milhões de pessoas. Grande número de pessoas tem descoberto neste livro uma autenticidade que as levou a ler outros escritos de Ellen White. Muitos milhares têm testificado que foram levados a um relacionamento salvador com Jesus Cristo enquanto liam este livro. Por essas razões, este livro tem sido amplamente usado na proclamação das boas novas de Jesus a jovens e pessoas sem igreja.

O interesse de Ellen White em escrever a vida de Cristo começou formalmente após a visão que ela teve em Lovett's Grove, Ohio, em 1858.50 [Não deixe de ler as referências!] Essa "Visão do Grande Conflito" foi primeiramente escrita por extenso em Spiritual Gifts, volume 1, com mais de cinqüenta páginas dedicadas à vida de Cristo.

Entre 1876 e 1877, publicou-se uma narrativa ampliada dessa visão básica como parte da série em quatro volumes, The Spirit of Prophecy. Mais de 640 páginas foram dedicadas à vida de Cristo nos volumes 2 e 3.

Na década de 1890, esse material foi expandido em três livros: O Desejado de Todas as Nações, O Maior Discurso de Cristo e Parábolas de Jesus.

Necessidade de ajuda editorial. Conforme discutimos na página 109, Ellen White se valeu da ajuda editorial por diversas razões: (1) os assistentes a ajudavam a conservar um rigoroso ministério oratório e literário; (2) os assistentes funcionavam como seus editores de texto;51 (3) uns poucos escolhidos, como Marian Davis, foram encarregados da confecção dos livros: o desafio de reunir o que Ellen White havia escrito anteriormente sobre todos os aspectos da vida de Cristo.52

Necessidade de enriquecimento das percepções divinas. Ellen White era uma "grande leitora",53 hábito que lhe foi útil no preenchimento da ampla estrutura conceitual sobre o amor de Deus e o seu plano para a salvação de homens e mulheres. Esse enriquecimento adicionou força descritiva ao Desejado de Todas as Nações.

Em sua introdução ao Grande Conflito (publicado dez anos antes de O Desejado de Todas as Nações), ela escreveu que empregara pensamentos e, algumas vezes, palavras de outros porque as declarações deles forneciam "uma apresentação pronta e positiva do assunto". Confessou com franqueza que muitas vezes não mencionou o nome do "autor" porque não estava citando "aquele escritor como autoridade". Em outras palavras, ela empregou escritos de outros não para salientar esses escritos como autorizados, para provar um argumento. Empregou-os para comunicar melhor seu principal objetivo ao escrever: para "esboçar o desdobramento das grandes verdades decisivas", do passado e do presente, e lançar luz sobre "o conflito perante nós", tudo dentro do contexto do "grande conflito" entre Cristo e Satanás.54

Esse tipo de apreço pelos melhores pensamentos alheios para comunicar a clara intenção da mente do profeta motivou os escritores bíblicos.55 João o Revelador, por exemplo, tomou emprestada declarações convincentes de escritores não canônicos porque se ajustavam a seus propósitos gerais. Ele os empregou não como autoridades, mas porque sua clareza lhe apoiava as idéias melhor do que as próprias palavras. Quando entendemos o propósito geral de Ellen White em seus escritos, conseguimos ver como o uso que ela fez de outros livros serviu àquele propósito.

Quando O Desejado de Todas as Nações passou pela inspeção final da escritora como seu melhor esforço para revelar o propósito e o caráter do ministério terrestre de Cristo, a editora recebeu um documento que era "não uma réplica da obra de outra pessoa, mas uma composição literária personalizada que reflete a fé pessoal e a esperança cristã que ela [Ellen White] foi chamada a compartilhar com seus irmãos adventistas e com a comunidade cristã como um todo".56

Uma obra original. O Desejado de Todas as Nações é produto da criatividade e da seletividade, primitiva e derivada. Muitos escritores escreveram seus livros em páginas em branco, iniciando com o capítulo um e continuando até o fim. Conforme observamos ao passarmos em revista a maneira como o Caminho a Cristo foi escrito,57 Ellen White e seus assistentes de redação usaram um método raramente disponível a outros autores: compilaram dos escritos anteriores da profetisa (diários, manuscrttos, artigos) materiais que preencheriam o propósito do próximo livro. Nesse sentido, O Desejado de Todas as Nações foi um livro "derivado" ou produzido a partir de material previamente escrito.

Também foi derivado quando se leva em conta que Ellen White, como profetisa, recebeu instrução de Deus. Sua amada Bíblia, especificamente os quatro Evangelhos, tornou-se rica fonte de informação de sua estrutura do pensamento. E às vezes de outros autores favoritos ela obteve novas concepções que a ajudaram a fornecer detalhes descritivos no cumprimento de seus propósitos teológicos.58

 

Não um Álbum de Recortes

O Desejado de Todas as Nações não é, porém, "um álbum de recortes" de pensamentos devocionais seletos. A Sra. White ficou no controle do produto final. Ela não apenas aprovou todos os ajustes editoriais, como também forneceu o esquema geral e os tópicos específicos que desdobraram esse esquema. Conservou sua independência e, deste modo, as "fontes foram escravas dela, e não sua mestra".59

Como alguém no controle, Ellen White imprimiu a marca da originalidade sobre O Desejado de Todas as Nações.60 Uma de suas principais aptidões, uma de suas "impressões digitais" literárias, foi sua extraordinária capacidade de ser seletiva." Por exemplo, sempre que suas fontes empregavam hipérboles e extravagâncias literárias, sempre que descambavam para especulações ou digressões, ela evitava o desvio, embora permanecesse no mesmo propósito de utilizar aquela fonte.62

Além disso, usar as palavras de outra pessoa não implica que o pensamento da pessoa também seja adotado. Talvez se tenha escrito mais biografias sobre Jesus do que qualquer outra personalidade histórica. Os biógrafos empregam em geral a mesma linguagem bíblica. Mas um estudo comparativo dessas biografias revela rapidamente que se exprimem significados vastamente diferentes, usando-se essencialmente as mesmas palavras. O inverso também é verdade: os mesmos significados podem ser comunicados por meio de diferentes expressões verbais.63

Ainda mais importante que a seletividade estilística era a capacidade de Ellen White de evitar os erros doutrinários que ela detectava em suas fontes de informação. Não importava: independentemente de suas necessidades do momento (fossem teológicas, devocionais, narrativas, etc.), ela empregava seus apontamentos para salientar seu pensamento teológico, não com o objetivo de reunir matéria para formular seu pensamento teológico.64

Outra "impressão digital" que identifica o estilo de Ellen White se encontra na proporção de comentário dado a lições ou apelos devocionais, morais ou cristãos que geralmente aparecem no fim de cada capítulo.65 A razão primordial para a Sra. White escrever era levar seus leitores a Jesus, especialmente por tornar mais claro como é Deus. Enquanto trabalhava em O Desejado de Todas as Nações, ela escreveu ao filho W. C. White sobre os assuntos que "me absorvem a mente: ... os assuntos da vida de Cristo, Seu caráter representando o Pai, as parábolas essenciais para todos nós compreendermos e praticarmos as lições nelas contidas".66

Referências:

50. Ver Biography, vol. 1, pág. 366.

51. "Meu coração sente-se muito triste. ... Não sou uma pessoa erudita. ... Não sou especialista em gramática." - Mensagens Escolhidas, livro 3, págs. 74 e 90. "A rica corrente de pensamento se apodera de todo o meu ser, e deponho minha pena e exclamo: Ó Senhor, sou finita, sou fraca, simples e ignorante; nunca poderei encontrar palavras para expressar Tuas grandiosas e santas revelações!" - Ibidem, pág. 118.

52. Ver pág. 110. Depois que os trechos do original estavam prontos para revisão, Ellen White pedia, de vez em quando, que outras pessoas fora de seu circulo editorial tecessem comentários sobre eles. Em 1876, em carta endereçada ao marido, ela escreveu: "Que tal ler o meu manuscrito para os pastores [J. H.] Waggoner e [J. N.] Loughborough? Se a enunciação de algum ponto doutrinário não estiver tão clara como devia estar, ele poderá discerni-lo (refiro-me a W.)." - Mensagens Escolhidas, livro 3, pág. 104.

53. Tiago White, Review and Herald, 21 de junho de 1881. Ver pág. 111.

54. O Grande Conflito, págs. 13 e 14.

55. Ver págs. 378-380.

56. Fred Veltman, "The E. G. White Research Project", pág. 948. 

57. Ver págs.444 e 445.

58. A avaliação atual das fontes literárias empregadas por Ellen White em O Desejado de Todos as Nações sugere que pelo menos vinte e três obras foram consultadas. Ibidem, pág. 934. Para uma lista dessas obras e a maneira como foram usadas em quinze capítulos selecionados aleatoriamente, ver "Project" de Veltman.

59. Fred Veltman, "The Desire of Ages Project: the Conclusions", Ministry, dezembro de 1990, pág. 13.

60. "Ellen White sabia escrever. E óbvio que ela possuía aptidão para expressar seus pensamentos com clareza. Não dependia servilmente de suas fontes, e a maneira como incorporou o conteúdo dessas fontes mostra claramente que ela sabia identificar as melhores construções literárias. Sabia separar o trigo da palha." - Ibidem, pág. 12.

61. Ver pág. 112 para um exame sobre o dom de seletividade de um profeta no emprego de matéria proveniente de fontes informativas.

62. Ao concluir esta pesquisa sobre O Grande Conflito, Donald R. McAdams escreveu: "Um ponto permanece. O reconhecimento desses empréstimos nega a originalidade de Ellen White? De maneira nenhuma. ... Qualquer crítico honesto deve sair da leitura de O Grande Conflito impressionado com o poder de sua mensagem. Não procuro mostrar neste estudo a criativa originalidade de O Grande Conflito porque não é um ponto que precise ser provado e porque meu propósito era outro bastante diferente. Mas, na qualidade de alguém que estudou cuidadosamenre O Grande Conflito, posso testificar da originalidade do livro. ... Ellen White, guiada pelo Espírito Santo, produziu um livro que em sua totalidade não pode ser entendido de outro modo a não ser como uma obra de poder excepcional. ... Tudo quanto O Grande Conflito fez pelos primeiros crentes adventistas continua a fazer por nós. Devemos lê-lo de acordo com o propósito para o qual foi escrito e não prejudicar sua eficácia reivindicando para ele aquilo que pode apenas acabar destruindo a fé de muitos que de outro modo poderiam reagir favoravelmente à sua mensagem." -McAdams, "E. G. White and the Protestant Historians", págs. 231-234.

63. Veltman, "Project", pág. 907.

64. "As seções da narrativa onde a obra de Deus, dos anjos ou de Satanás e seus anjos são descritas, onde o motivo do grande conflito é discutido e onde ocorrem passagens de apelos morais ou devocionais são mais suceptíveis de conter comentários independentes de Ellen White do que as porções textuais de caráter narrativo, histórico ou bíblico." - Veltman, "Project", pág. 931. "As fontes de informação pareciam ser empregadas com mais freqüência para fornecer ambiente e comentário descritivo do que para conteúdo devocional e evangélico. ... A maior tendência é encontrar a observação independente de Ellen White no comentário de caráter mitral ou teológico." Ibidem, pág. 900. O Dr. J. H. Kellogg, no prefácio que escreveu para o livro da Sra. White, Christian Temperance and Bible Hygiene (1890), observou: "A orientação da sabedoria infinita é tão necessária no discernimento entre a verdade e o erro como na evolução de novas verdades." - Pág. iv.

65. Veltman, "The Desire of Ages Project", pág. 13. "É entre seus comentários devocionais e por toda a sua apresentação daquilo que ela chamava de 'realidades espirituais' que e mais provável encontrarmos sua mão independente na obra." Veltman advertiu que sua "pesquisa não escrutina" todas as fontes possíveis do século dezenove, de modo que não pode "estabelecer se sua suposta independência se deve à originalidade dela ou aos limites de nossa investigação." - Ibidem.

66. Mensagens Escolhidas, livro 3, pág. 116.

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