Teólogos Trinitarianos Reconhecem que I João 5:7-8 é Apócrifo e Não Prova a Trindade

 

Se a doutrina da Trindade fosse realmente bíblica, que necessidade haveria de acrescentarem esse texto não-inspirado às Escrituras Sagradas? Ellen White esclarece:

Vi que Deus havia de uma maneira especial guardado a Bíblia, ainda quando da mesma existiam poucos exemplares; e homens doutos nalguns casos mudaram as palavras, achando que a estavam tornando mais compreensível, quando na realidade estavam mistificando aquilo que era claro, fazendo-a apoiar suas estabelecidas opiniões, que eram determinadas pela tradição.” – (Primeiros Escritos. 5ª ed. 1995. pp. 220-221.)

O texto abaixo reúne a opinião de vários teólogos trinitarianos que reconhecem a fraude praticada contra o texto bíblico, através da inclusão da frase, que aparece entre colchetes em versões mais antigas:"no céu o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra".


As Três Testemunhas de I João 5:7-8 (Comma Joanina)

 

I. Definição

Os comentaristas católicos, apreciadores da terminologia latina, denominaram de Comma Johanneum o inciso ou interpolação, que aparece em 1 João 5:7-8, mas que a Crítica Textual, através de notáveis comentaristas e insignes exegetas têm provado que não são de autoria da apóstolo João.

Estas palavras acrescidas ao texto sagrado são também denominadas de – "as três testemunhas celestiais."

 

II. O Texto

I João 5:7 e 8 aparece assim no original:

7. oti treis eisin oi martirountes
8. to pneuma kai to udwr kai to`` aima kai`` oi`` treis eis en eisin

"Hoti treis eisin hoi martirountes,
"to pneuma kái to hidor kaito haima, kai hoi treis eis heneisin."

Sua tradução literal seria:

"Porque três são os que testificam: o espírito, a água e o sangue e os três para um são."

Algumas traduções da Bíblia trazem um acréscimo a este texto, que tem sido denominado – "as três testemunhas celestiais", por aparecer da seguinte maneira: "no céu: o Pai, a Palavra e Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra."

Por isso a Almeida antiga rezava assim: "Porque três são os que testificam [no céu o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra] – o espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam num".

Traduções modernas fiéis ao original não consignam as palavras, que aparecem entre parênteses na citação acima.

"Pois há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue, e os três são unânimes num só propósito." – Almeida Edição Revista e Atualizada no Brasil.

"Há três testemunhas: o Espírito, a água e o sangue. E os três estão de pleno acordo." – A Bíblia na Linguagem de Hoje.

A Bíblia de Jerusalém assim traduz:

"Porque três são os que testemunham: o Espírito, a água e o sangue e os três tendem ao mesmo fim." Com as seguintes notas explicativas:

O texto dos vv. 7-8 está acrescido na Vulgata de um inciso ausente nos antigos manuscritos gregos, nas antigas versões e nos melhores manuscritos da Vulgata, e que parece ser uma glosa marginal introduzida posteriormente no texto.

Os três testemunhos convergem. O sangue e a água se unem ao Espírito (I João 2:20, 27; João 3:5; 4:1) para testemunhar (conf. João 3: 11) em favor da missão do Filho que dá a vida (I João 5:11; João 3:15).

 

III. O Problema

Embora a passagem tenha suscitado polêmicas e sugerido longas discussões, aqui se encontra o essencial para nossa orientação.

O SDABC, Vol. 7, pág. 675 tem o seguinte comentário sobre este problema:

"A evidência textual atesta a omissão da passagem 'no céu, o Pai, o Verbo, e o Espírito Santo: e estes três são um. E três são os que dão testemunhos na terra. . .' A passagem tal como aparece na KJV não se encontra em nenhum manuscrito grego anterior aos séculos XV e XVI, As palavras controvertidas acharam seu caminho para a KJV através do texto grego de Erasmo. Diz-se que Erasmo se ofereceu para incluir as palavras duvidosas em seu Testamento Grego se lhe mostrassem um manuscrito que as contivesse. Uma biblioteca em Dublin produziu tal manuscrito (conhecido como 34) e Erasmo incluiu a passagem em seu texto. Crê-se agora que as edições posteriores da Vulgata adquiriram a passagem por erro de um copista, que inseriu um comentário exegético marginal, no texto bíblico que estava copiando. As palavras em questão têm sido amplamente usadas em defesa da doutrina da Trindade, mas em virtude de tal evidência esmagadora contra sua autenticidade, elas não devem ser usadas com este objetivo."

Bruce Metzger em seu livro – The Text of the New Testament, págs. 101 e 102 nos esclarece mais:

"Erasmo ao publicar o Novo Testamento Grego, em 1516, foi criticado pelos defensores do Cardeal Ximenes, por não haver colocado estas palavras no seu trabalho. Erasmo replicou que não tinha achado qualquer manuscrito grego contendo estas palavras, E descuidadamente prometeu que inseriria a Comma Joanina, como era chamada, em futuras edições se um único manuscrito grego pudesse ser achado que a contivesse. Esta cópia lhe foi apresentada. Segundo os estudiosos, parece que este manuscrito grego foi escrito, em 1520, por um frade franciscano chamado Froy, que tirou estas palavras da Vulgata Latina. Erasmo cumpriu a promessa e colocou estas palavras em sua terceira edição (1522), mas em longa nota ao pé da página explicou sua suspeita de que o manuscrito tinha sido preparado para o confundir".

 

Como Sabemos Que Estas Palavras Não Foram Escritas por João?

Além dos pensamentos já apresentados pode-se acrescentar:

 

1º) A passagem não se encontra em nenhum manuscrito grego dos primeiros séculos.

Apenas aparece em 4 manuscritos gregos posteriores e da seguinte maneira:

a)  O manuscrito 61, que hoje se encontra na biblioteca de Dublin, o mesmo apresentado a Erasmo e que tem causado tantos dissabores aos estudiosos do Texto Bíblico.

b) Um manuscrito do século XII, Nº 88, está em Nápoles, com a passagem escrita na margem.

c) O de número 629, dos séculos XV ou XVI, pertencente à biblioteca do Vaticano.

d) Um manuscrito do século XI de número 635, cuja passagem se encontra registrada na margem.

A passagem também não aparece em Manuscritos da Vulgata Latina antes do ano 800 A.D.

 

2º) Ela não foi traduzida para as versões antigas da Bíblia, como nos atestam a siríaca, a armênia, capta, árabe, etíope e outras.

 

3º) Não foi citada pelos Pais da Igreja.

Esta é uma prova concludente de que não se achava nas Escrituras. Se eles a conhecessem, sem dúvida, a teriam usado profusamente para condenar o arianismo vicejante naqueles idos.

 

4º) Pelo princípio da Crítica textual, denominado – Probabilidade Intrínseca – conclui-se que foi uma introdução indevida, por quebrar o fluxo do pensamento do apóstolo João.

 

5º) Consultando o Índex dos escritos de Ellen G, White não encontramos nenhum lugar em que tenha citado esta passagem.

 

Conclusão

Embora esta declaração sobre as "três testemunhas celestiais" esteja em plena harmonia cem a teologia bíblica sobre a Trindade, ela não deve ser usada para prová-la, pelas razões que acabam de ser expostas.

Os comentaristas são unânimes em afirmar que João não escreveu a passagem em apreço, mas que teve sua origem na anotação ou nota marginal que um copista fizera no texto que estava copiando. Um outro copista achando-as inspiradoras e oportunas ele as introduziu num manuscrito posterior.

Nada melhor para condenar [o uso dessa passagem em defesa da Trindade] e concluir este estudo do que as sintéticos palavras de Vincent ao comentar I João 5:7-8:

"Estas palavras são rejeitadas pelo veredito geral de autoridade da Crítica Textual".

 

Nota

O periódico "O Pregador Adventista", Janeiro-Fevereiro de 1949, pág. 22, trouxe a seguinte informação sobre a Comma Joanina:

"Cipriano – Bispo de Cartago (que morreu em 258) escreveu as palavras na margem do versículo, como simples anotação sua. Mais tarde foram acrescentadas aos manuscritos posteriores da Vulgata de S. Jerônimo". -- Pedro Apolinário, então Professor de Grego e Crítica Textual no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, em sua apostila EXPLICAÇÃO DE TEXTOS DIFÍCEIS DA BÍBLIA, 4ª EDIÇÃO (Corrigida) 1990, EDITORA UNIVERSITÁRIA ADVENTISTA (INSTITUTO ADVENTISTA DE ENSINO), Tel. (011) 511-4011, Estrada de Itapecerica (Km 23) 22-901, Santo Amaro – São Paulo, págs. 253-257.

 

Leia também:

Retornar

Para entrar em contato conosco, utilize este e-mail: adventistas@adventistas.com