Mistura
bizarra
Cientistas juntam cabra com aranha para tentar produzir
teia em escala industrial
Sean O'Neill
Peter e Webster: cabritos com gene de aranha no DNA
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Você consegue apontar qualquer semelhança entre uma cabra
e uma aranha? Bem, pelo menos nos laboratórios de uma empresa de
biotecnologia canadense as duas espécies têm, sim, algo em comum: a
produção de teia. Isso mesmo, a mesmíssima teia, com graus de
qualidade e resistência semelhantes. Parece imaginação, mas o
serviço noticioso da televisão britânica BBC anunciou que cientistas
daquele país conseguiram isolar o gene da aranha responsável pela
síntese da proteína usada na fabricação dos fios das teias e
implantá-lo no DNA da cabra. O resultado foi a criação de um animal
que terá a função de fabricar teias de aranha em larga escala, por
mais exótico que isso possa parecer. Com a alteração genética, a
empresa de biotecnologia Nexia pretende que as cabras produzam um
leite rico em proteínas de aranha que possam ser processadas e
transformadas em fibras semelhantes às produzidas pelos aracnídeos,
material reconhecido como extremamente forte e flexível.
Infografia Alex Akermann com fotos
Divulgação/Luigi Mamprin/Jorge Butsuem
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Animais transgênicos e clonados não são novidade. Em
1998, a própria Nexia produziu sua primeira cabra geneticamente
modificada para sintetizar uma proteína humana. Um ano depois foi a
vez de os cientistas partirem para a clonagem e criarem em
laboratório três cabritinhos. Agora, com Webster e Peter, as
recém-criadas matrizes com genes de aranha, associaram os dois
processos e esperam os resultados da experiência. Em breve deverão
nascer os primeiros filhotes com a nova característica incorporada
biologicamente. Os cientistas poderão conferir se o leite produzido
pelas cabras apresenta as qualidades já comprovadas em testes de
laboratório, quando células mamárias isoladas in vitro produziram as
proteínas do fio da teia de aranha.
A dupla
Webster e Peter representa o primeiro passo na direção de se
produzirem as fibras em dimensões industriais, de acordo com a
Nexia. É inviável cultivar aranhas como se faz com o bicho-da-seda
por seu comportamento naturalmente agressivo. Já se tentaram
experimentos com bactérias e outros seres vivos para produzir
artificialmente as teias, sem resultado. Mas, afinal, para que serve
tanta teia de aranha? Essa fibra é apontada como um dos mais fortes,
leves e flexíveis materiais conhecidos na natureza. Tanto que a
Nexia batizou o produto a ser obtido do leite das cabras como
BioSteel, ou aço biológico. Para a empresa pode ser uma verdadeira
mina de ouro, pois seus dirigentes acreditam que o produto, além de
ser usado em situações que exigem força, leveza e resistência, como
construção de aeronaves, pode ter aplicações médicas. Por ser um
composto de proteínas compatível com o corpo humano, a fibra poderia
ser usada, por exemplo, na fabricação de tecidos artificiais como
tendões. As promessas são muitas, mas os cientistas da Nexia ainda
têm um grande desafio pela frente. Eles ainda não sabem direito como
vão conseguir tirar as proteínas que estão no leite e transformá-las
em fibras. É uma situação semelhante à de dezenas de outros
laboratórios que produzem porcos, ovelhas e bezerros como potenciais
fábricas vivas de medicamentos ou de órgãos para transplantes, mas
engatinham nas técnicas de produção. Leia também:
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