Natureza Pecaminosa e Tendências para o Mal: Como Diferenciá-las?

 

Em estudo anterior, dividi a vida de um ser humano em três fases.

a) Após a concepção até antes de nascer: "E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal ..." (Romanos 9:11).

b) Do nascimento até quando aprendemos a escolher o que é certo ou errado: "Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel... Na verdade, antes que este menino saiba desprezar o mal e escolher o bem, será desamparada a terra..." (Isaías 7:14 e 16).

c) Depois que aprendemos a escolher o mal e a praticar o bem: "Ele comerá manteiga e mel quando souber desprezar o mal e escolher o bem" (Isaías 7:15).

SOBRE A PRIMEIRA FASE: Afirmei que Jesus era inculpável (Hebreus 7:26 é uma prova disso), e isso o distinguia dos natimortos. Antes dizer que ele não carregava a culpa dos seus antepassados, declarei: "Os natimortos ou os que nascem com patologias congênitas não são os responsáveis pelos seus problemas. Por exemplo, a mãe pode ter usado um remédio proibido durante a gestação". Fui ambíguo, para não dizer confuso, em minha colocação. Qual é a culpa a que Paulo se refere aqui? Estou falando da culpa original do Éden, e não das culpas pelas quedas sucessivas dos descendentes de Adão. Leia o texto anexo: Em Adão, todos morrem - e você entenderá a que estou me referindo. Para que não paire nenhuma dúvida sobre o tema da culpa ou maldição original, veja como a Bíblia e o EP se pronunciam sobre a nossa presença no Éden:

"O céu encheu-se de tristeza quando se compreendeu que o homem estava perdido, e que o mundo que Deus criara deveria encher-se de mortais condenados à miséria, enfermidade e morte, e não haveria um meio de livramento para o transgressor. A família inteira de Adão deveria morrer" (Exaltai-o, Meditações Matinais/1992, página 22).

Após citar Romanos 6:23 e Deuteronômio 30:15, o EP faz uma bela declaração de nossa situação em Adão e explica a diferença entre a primeira e segunda mortes: "A morte a que se faz referência nestas passagens, não é a que foi pronunciada sobre Adão, pois a humanidade toda sofre a pena de sua transgressão. É a 'segunda morte' que se põe em contraste com a vida eterna. Em conseqüência do pecado de Adão, a morte passou a toda raça humana. Todos semelhantemente descem ao sepulcro. E, pela providência do plano da salvação, todos devem ressurgir da sepultura.... 'assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo'" (O Grande Conflito, página 549).

"A um imenso custo fomos colocados em posição altamente vantajosa, na qual podemos ser libertados da escravidão do pecado, ocasionada pela queda de Adão.... O pecado de Adão no Éden mergulhou a raça humana em desesperançada desgraça" (Cristo triunfante, Meditações Matinais/2002, página 215).

Adão não passou em seu estágio probatório. E a prova era tão fácil; não exigia sacrifícios. Depois da provação, viria a promoção. "... Se suportasse o teste de Deus e permanecesse leal e verdadeiro através da primeira prova, não ficaria assediado por tentações contínuas, mas seria exaltado à igualdade com os anjos e feito, daí por diante, imortal" (No deserto da tentação, página 12). Trocou o conhecido pelo desconhecido e como conseqüência:

  • Até hoje as serpentes rastejam (Gênesis 3:14), vítimas da maldição no Éden.

  • Ainda hoje as mulheres sofrem as dores de parto (Gênesis 3:16), vítimas da maldição no Éden.

  • da a ver com isso ainda sofre e geme esperando a redenção (Romanos 8:19-22, Gênesis 3:17).

  • Os homens também retiram o sustento da terra com muito sacrifício (Gênesis 3:17 e 19), vítimas da maldição do Éden.

Contudo, a maldição maior recaiu sobre Adão e todos os que estavam em seus lombos no Éden (Gênesis 3:19). Ainda hoje os homens que nascem em série desde Adão são "por natureza, filhos da ira" (Efésios 2:3) e já estão condenados à morte - seja no ventre da mãe, seja na inocência infantil ou em qualquer outra fase da vida - devido ao pecado de um só homem. Isto é o que significa o desabafo do salmista: "Eu nasci em pecado, e em iniquidade me concebeu a minha mãe"(Salmo 51:5). Uma mãe iníqua gerou Davi, que já nasceu em pecado. Com Cristo não poderia ser diferente. Se Ele tivesse nascido em série, como os outros descendentes de Adão, ele obrigatoriamente teria que morrer a primeira morte - que é a pena da transgressão de Adão que toda a humanidade sofre.

Então, se Ele não foi vítima da primeira maldição, porque Cristo morreu?

Reitero que Cristo não morreu por causa da maldição no Éden, da primeira queda.

Todavia, Cristo morreu por causa de outra maldição. Em Gálatas 3:10, somos informados de que "maldito é todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da lei, para praticá-las". Quem não é obediente a toda lei de Deus se coloca debaixo da maldição da lei. A proposta de vida e de bênção tem sido menosprezada pela proposta de morte e maldição. Dentre os malditos, os imitadores de Adão, uma minoria têm escolhido um substituto. E, "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar" (Gálatas 3:13). Cristo morreu por causa da maldição das outras quedas dos seres humanos. Nossa maldição foi transferida para Ele. Ele é que foi pendurado num madeiro (Deuteronômio 21:23; Atos, 5:30; I Pedro 2:24). A segunda morte é o pagamento ou salário que receberemos por imitar a Adão, atendendo aos apelos da serpente. "Se a raça humana parasse de cair quando Adão foi expulso do Éden, estaríamos hoje numa condição muito mais elevada física, mental e moralmente. ... Oxalá o homem tivesse parado de cair como Adão! Mas tem sido uma sucessão de quedas" (No deserto da tentação, página 88 e 89). A morte que Cristo padeceu em meu lugar é a segunda morte; a primeira, todos terão que enfrentar. A primeira morte Cristo não encarou, mas Ele se fez maldição em nosso lugar e morreu a segunda morte por nós.

Surge uma nova pergunta: Praticamos atos pecaminosos ou pecados porque somos pecadores? Ou somos pecadores porque praticamos atos pecaminosos? Nós, os humanos, somos peritos em remover fachadas. Nossa aparição diante dos outros muitas vezes não passa de uma versão editada das boas qualidades que temos. No caso da igreja, até excluímos aqueles que não se adequam ao código de boa conduta. Nosso problema, porém, é mais profundo do que aquilo fazemos; o que somos é o que está na raiz de tudo. Sou pecador, por isso faço atos pecaminosos. Falando sobre o homem, nascido de mulher, Jó pergunta: "Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém" (Jó 14:1 e 4)! Jeremias diz que o problema do homem é um coração enganoso e corrupto (Jeremias 17:9). Jesus lembrou aos fariseus que a qualidade do fruto depende do tipo de árvore (Mateus 12:33-35). Três capítulos adiante, Ele diz que o pecador possui uma doença transmissível, contagiosa, que contamina e que se exterioriza por vários sintomas: "maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias (Mateus 15:18 e 19). Tentar resolver o problema humano apenas cuidando dos sintomas é como dar analgésico e antitérmico para tratar meningite. Trinta gotas de dipirona até diminui a febre e o mal estar [sinal e sintoma], mas não trata a causa [uma infecção]. Sem o antibiótico, seis horas depois, ou até mesmo antes, a febre volta alertando o corpo da presença da infecção. Para tratar o problema do pecador, o Pai administra a medicação sintomática: "o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (I João 1:7 - ver também I João 1:9; 2:1). Todavia, o Pai não se esquece de tratar a causa da infecção espiritual - aquela natureza errada dentro de mim e que me leva a pecar. É preciso crucificar o velho homem. É preciso fechar a fábrica de pecado: "Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos (Romanos 6:6). O sangue de Cristo trata aquilo que fazemos; a cruz de Cristo trata aquilo que somos. Lembremos-nos de que Jesus Cristo nunca possui o velho homem.

 

SOBRE A SEGUNDA FASE: Mais do que inculpável, a criança já nasceu santa (Lucas 1:35), separada dos pecadores (Hebreus 7:26) e sem defeito (I Pedro 1:19) - afinal, o sacrifício foi perfeito (Hebreus 7:28). O próprio Cristo se refere a essas etapas de sua vida com as seguintes palavras: "Contudo, tu és quem me fez nascer; e me preservaste, estando eu ainda ao seio da minha mãe. A ti me entreguei desde o meu nascimento; desde o ventre de minha mãe tu és meu Deus" (Salmo 22: 9 e 10). Isto me lembra muito a consagração de nazireus (Números 6:1,5 e 8), especialmente daquele consagrado a Deus desde o ventre materno (Juízes 13:5 e 7). E digo mais, Jesus só escapou das estatísticas de mortalidade infantil porque o Filho varão recebeu proteção especial na sua guerra contra o dragão (Apocalipse 12:4). Basta ver a atuação dos anjos (Mateus 1:20; 2:12, 13,19, 20 e 22), e o maior ato terrorista ocorrido nos dias de Cristo: a matança dos bebês de dois anos para baixo em Belém e arredores (Mateus 2:16). Medite nos textos abaixo que nos falam da perfeição da segunda fase da vida de Cristo.

PUREZA INFANTIL IMACULADA: "A imaculada pureza da infância, juventude e vida adulta de Cristo, que Satanás não podia manchar, o aborrecia excessivamente" (No deserto da tentação, página 34).

IMAGEM DIVINA NA INFÂNCIA: "A vida de Jesus estava em harmonia com Deus. Enquanto criança, pensava e falava como criança; mas nenhum traço de pecado desfigurava nele a imagem divina" (O Desejado de todas as nações, página 60).

SUAS TENTAÇÕES QUANDO CRIANÇA: "Talvez alguém pense que Cristo, em virtude de ser o Filho de Deus, não tinha tentações como as crianças têm agora. As Escrituras dizem que Ele foi tentado em todos os pontos como nós somos tentados." (Mensagens Escolhidas, volume III, página 134).

DEFORMIDADE FÍSICA: "As ofertas apresentadas ao Senhor deviam ser sem mancha. Representavam a Cristo, de onde se conclui evidentemente que Jesus era isento de deformidade física. Era o 'cordeiro imaculado e sem contaminação'. Sua estrutura física não era maculada por qualquer defeito; o corpo era robusto e sadio. E, durante toda a vida, viveu em conformidade com as leis da natureza. Física assim como espiritualmente, Jesus foi um exemplo do que Deus designava que fosse toda a humanidade, mediante a obediência a Suas leis" (O Desejado de todas as nações, página 42).

JESUS NEM GRIPE TEVE: "Ele nunca teve alguma doença em Sua própria carne, mas levou as enfermidades dos outros" (Mensagens Escolhidas, volume III, página 133).

Jesus não se encaixa no mesmo time de bebês que "nascem e já se desencaminham proferindo mentiras" (Salmos 58:3). E, ao contrário do bebê que "até na terra da retidão ele comete iniquidade" (Isaías 26:10), Jesus foi criado no ambiente pervetido de Nazaré (João 1:46), por uma mãe pecadora e ainda assim reteve a perfeição.

Porque, então, Jesus nem em pensamentos imitava o João Eduardo e a Luísa? Alguém pode argumentar que meus lindos bebês não deixaram de ser perfeitos ao pronunciarem aqueles desaforos. Estavam em um outro estágio de aprendizado. Eles ainda não sabiam do conflito entre vontade da serpente, a minha vontade e a vontade de Deus. Egoístas, eles queriam o meu brinquedo, a minha casa, o meu espaço. O egoísmo é marca registrada de bebês portadores de natureza pecaminosa. Por mais inocentes que fossem, todos sabemos que eles estavam errados. Não vou discutir se aquilo era pecado ou não. Só sei que não eram perfeitos. Pecado ou desaforo, certos ou errados eles reagiram diferente de Cristo porque quem nasce apenas uma vez - é portador apenas de natureza pecaminosa - se denuncia errando ou pecando. As coisas erradas que um bebê faz apenas denuncia o tamanho da infecção espiritual que existe dentro dele. Eles fazem coisas erradas, porque eles são errados. Ninguém precisa ensinar um portador de natureza pecaminosa a fazer coisas erradas (Salmos 58:3); elas brotam espontaneamente, naturalmente. Nesta fase, a criança inocente é capaz de muitas asneiras:

a) Ele brinca com um arame e o introduz na tomada da rede elétrica. Ele está errado. Se é pecado não sei. E pode até morrer em conseqüência da besteira que fez.

b) Ele come terra, introduz corpos estranhos - agulhas - goela abaixo. Só não brinca com brasas, porque nossos fogões são movidos a gás. Precisamos esconder as facas, as tesouras e todos instrumentos pérfuro-cortantes em nossos lares.

c) Ele é capaz de correr alegremente para os braços de um seqüestrador, caso este lhe ofereça algumas balinhas.

d) Eles brigam com os outros bebês por causa do mesmo brinquedo.

e) Eles ficam doentes, e Cristo nem gripe teve.

E isto só acontece porque são portadores apenas de natureza pecaminosa. Só nasceram uma vez. Os atos errados só podem proceder de um coração infectado pelo pecado. Os bebês inocentes erram, porque têm um coração imundo e corrupto dentro deles.

Para Adão obedecer era tão fácil quanto respirar. Todavia, "a queda de nossos primeiros pais quebrou a cadeia dourada de implícita obediência da vontade humana à divina" (Refletindo a Cristo, Meditações Matinais/1986, página 48). Para os meus filhos não foi bem assim. Saliento que a marca registrada de um bebê inocente, porém portador de defeitos naturais - natureza pecaminosa propriamente dita - é o egoísmo. São aqueles cinco "eu" que aparecem em Isaías 14:13 e 14 e que configuram a semelhança com satanás. Somente pelo novo nascimento os meus filhos poderão vencer estes defeitos naturais. "Onde existe esta unidade, é evidente que a imagem de Deus está sendo restaurada na humanidade, que foi implantada nova vida. Mostra que há na natureza divina poder para deter os sobrenaturais agentes do mal, e que a graça de Deus subjuga o egoísmo inerente ao coração natural" (O Desejado de todas as nações, página 653). Por natureza, já nascemos "filhos da ira" (Efésios 2:3), egoístas, mas Deus opera o milagre dos milagres: "Mais admirável do que milagres de cura física é o milagre operado no filho de Deus ao lutar com defeitos naturais e vencê-los" (Exaltai-o, Meditações Matinais/1992, página 151).

Se Cristo passou por esta fase com imperfeição, como meus filhos, Ele não poderia ser um sacrifício perfeito. Por isso, a Bíblia diz que o nascimento de Cristo foi especial. Ele foi gerado pelo Espírito Santo (Mateus 1:20; Lucas 1:35), o mesmo Espírito que nos recria à imagem e semelhança de Deus (João 3:5-7). Então, Cristo já nasceu com natureza espiritual e não precisou passar pela experiência do novo nascimento; nunca precisou crucificar o velho homem. A Bíblia diz que quem nasce apenas uma vez é carne (João 3:6), mesmo que seja uma boa pessoa. O EP se refere à quem nasce apenas uma vez como alma que têm a semelhança de satanás. "Homens e mulheres têm rompido as cadeias de hábitos pecaminosos, no poder da Palavra. Os profanos têm-se tornado reverentes, os ébrios sóbrios, os devassos puros. Almas que tinham a semelhança de Satanás, transformaram-se na imagem de Deus. Esta mudança é em si mesma o milagre dos milagres. Uma mudança operada pela Palavra é um dos mais profundos mistérios desta Palavra" (Educação, página 172). Eu não creio que Cristo, que nunca teve a imagem divina desfigurada, tenha nascido com a semelhança de Satanás.

 

SOBRE A TERCEIRA FASE: Mesmo sendo o Filho de Deus, nos dias de sua carne, "aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu" (Hebreus 5:7 e 8). Chegou um momento na vida de Cristo - não sei com que idade, mas com certeza deve ser aquela em que os erros dos seres humanos se transformam em pecado - em que a sua vontade passou a escolher a vontade de Deus (Mateus 26:39 e 42). Cristo também foi perfeito nesta fase, mesmo tendo sido "tentado em todas as coisas à nossa semelhança, mas sem pecado" (Hebreus 4:15). O Filho de Deus se encarnou "em semelhança de carne pecaminosa" (Romanos 8:3), mas não conheceu o pecado (I Coríntios 5:21). Como entender a afirmação seguinte: "convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos" (Hebreus 2:17)? Quer dizer que Jesus tinha natureza pecaminosa? Sigamos os seguintes passos:

a) Ele participou da carne e do sangue humanos (Hebreus 2:14). Esteve ligado por meio de um cordão umbilical à placenta no útero de Maria. Entretanto, Ele nasceu não "da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (João 1:13). Maria até lembrou a Gabriel da sua virgindade (Lucas 1:34). José quando viu a aparência do mal decidiu romper o noivado (Mateus1:18 e 19). Quando o relógio de Deus assinalou a chegada da "plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher" (Gálatas 4:4). "Sua natureza humana foi criada; ela nem sequer possuía os poderes angélicos. Era humana, idêntica à nossa" (III ME, 129). Lembremo-nos de que Deus criou seres humanos de pelo menos quatro formas:

  • A criação especial de Adão.

  • A criação especial de Eva, a partir somente de Adão.

  • A criação natural de Caim, Abel e dos demais seres humanos a partir de um óvulo mais espermatozóides.

  • A criação especial de Jesus Cristo, a partir somente de Maria.

Os homens já descobriram como fazer os bebês de proveta, especula-se a possibilidade da clonagem e um Deus sábio pode ter recursos variados. Apesar da origem variada não deixam de serem humanos.

b) Jesus tinha necessidades fisiológicas e limitações humanas: fome(Marcos 11:12), sede (João 19:28), sono (Marcos 4:38), cansaço (João 4:6).

c) Jesus possuía as mesmas emoções por nós demonstrada: agonia (Lucas 22:44), angústia (Lucas 12:50; João 12:27), tristeza (Mateus 26:37), alegria (Lucas 10:21), ira (Marcos 3:5).

d) Jesus tinha a aparência e o sotaque de um judeu (João 4:9).

e) Com respeito à sua vida espiritual, Ele já nasceu gerado pelo Espírito Santo (Mateus 1:20; Lucas 1:35); portanto, já nasceu com natureza espiritual - não precisou passar pelo novo nascimento.

f) Na teologia da tentações, aprendemos que "Deus não pode ser tentado pelo mal" (Tiago 1:13); o ser humano é "tentado pela sua própria cobiça" (Tiago 1:14). Além disso, "Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças" (I Coríntios 10:13). Ou seja, para cada homem ou mulher existe um nível diferente de tentação. No caso do João Ferreira Marques, minha vida pode ser dividida de várias maneiras; uma delas é esta: antes dos 14 anos não havia sinal da televisão em minha cidade; após os 14 anos passei a ter o palco do teatro, a tela do cinema e o estádio de futebol dentro de minha casa. As tentações se tornaram mais intensas e freqüentes. No caso do homem Jesus, Ele passou por provas que os homens não seriam capazes de suportar. "É impossível ao homem conhecer a força das tentações de Satanás sobre o Filho de Deus. Cada tentação que parece tão aflitiva ao homem na sua vida cotidiana, tão difícil de ser resistida e dominada, foi trazida sobre o Filho de Deus em tão alto grau quanto a Sua excelência de caráter era superior à do homem caído" (No deserto da tentação, página 37). Pelo menos não conheço nenhum homem que tenha suado gotas de sangue para fazer a vontade de Deus. Com isto em mente, responda: Quem sofre mais durante uma tentação? Os pecadores sem Deus? Ou os pecadores em processo de santificação? Ou os homens perfeitos? "A natureza humana de Cristo era semelhante à nossa. E o sofrimento, na verdade, era sentido mais agudamente por Ele, pois Sua natureza espiritual estava isenta de qualquer nódoa de pecado. A aversão ao sofrimento era proporcional a sua intensidade. Seu desejo de evita o sofrimento era tão forte quanto o experimentam os seres humanos..." (Cristo Triunfante, Meditações Matinais/2002, página 268).

g) Como Ele lutou no conflito contra satanás? Como Ele pode suportar provações mais severas que os homens? Jesus Cristo, o homem, veio à terra para provar pelo menos uma coisa: que o homem tal como Deus criou, unido ao Pai e ao Filho, é capaz de vencer. "Cristo veio à terra, tomando sobre Si a humanidade e constituindo-Se representante do homem, para mostrar, no conflito com Satanás, que o homem, tal como Deus o criou, unido ao Pai e ao Filho, poderia obedecer a todo reclamo divino" (I ME, 253). O Filho de Deus veio à terra assim: um homem unido ao Pai, desde o ventre de sua mãe (Salmos 22:9 e 10). Deus não criou o homem Adão separado de Deus. Deus não criou a natureza humana de Cristo separada dEle. "Mediante a providência tomada quando Deus e o Filho de Deus fizeram um concerto para libertar o homem da escravidão de Satanás, foram providos todos os meios para que a natureza humana se unisse com Sua natureza divina. Nessa natureza é que nosso Senhor foi tentado. Ele poderia ter cedido às enganosas sugestões de Satanás, como Adão o fez, mas devemos adorar e glorificar o Cordeiro de Deus por não haver cedido um i ou um til em nenhum ponto" (III ME, 130 e 131).

h) Uma natureza humana sem pecado pode sofrer tentações e, ademais, cair? Adão é um exemplo disto; separado do Pai e do Filho ele caiu (Gênesis 3). Cristo também não poderia vencer sem a união com o Pai. "Unicamente a natureza humana de Cristo nunca poderia ter suportado este teste, mas seu poder divino combinado com a natureza humana ganhou a vitória infinita em favor do homem" (No deserto da tentação, página 80). Existia a possibilidade de queda, mas Cristo nunca abriu mão da comunhão com o Pai.

i) Como entender então que "foi Ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado" (Hebreus 4:16)?

Ele é um irmão de carne e sangue (Hebreus 2:14), mas não é maculado pela maldição original. Ele não é um doente espiritual, que exterioriza sua patologia com os sintomas ou atos pecaminosos. Dentro dele tudo está bem. Nada possui de corrupto e imundo. Está, sim, debilitado pelos quatro mil anos pecados e suas conseqüências, mas não infectado pelo pecado. "Nosso Salvador identifica-Se com nossas necessidades e fraquezas no fato de haver-Se tornado um suplicante, um pedinte de todas as noites, buscando do Pai novas provisões de força a fim de sair revigorado e refrigerado, fortalecido para o dever e a provação. Ele é nosso exemplo em tudo. É um irmão em nossas fraquezas [Hebreus 2:17], mas não em possuir idênticas paixões. Sendo sem pecado, Sua natureza recuava do mal" (I TS, 220). Ressalto que sua natureza espiritual recuava do mal.

Recordemos que antes de tudo o seu sacrifício foi perfeito, perfeita obediência. "Cristo não possuía a mesma deslealdade pecaminosa, corrupta e decaída que nós possuímos, pois então Ele não poderia ser um sacrifício perfeito" (III ME, 131). Paulo diz que o homem têm duas alternativas para viver: Ou vive pela fé (Gálatas 1:11), ou vive pela obediência perfeita ao mandamentos de Deus (Gálatas 3:12). O único homem perfeito em toda sua vida, e que, portanto, tinha direito à salvação pelas obras, foi Jesus Cristo. Para os demais, resta alternativa da fé.

A natureza humana de Cristo foi afetada pelo pecado dos seus ancestrais, mas não participou no seu pecado: "Tomando sobre Si a natureza humana em seu estado decaído, Cristo não participou, no mínimo que fosse, do seu pecado. Era sujeito às debilidades e fraquezas que atribulam o homem... Ele foi tocado com a sensação de nossas fraquezas, e em tudo foi tentado como nós. E, todavia, não conheceu pecado. Era o Cordeiro ‘imaculado e incontaminado’. I S. Ped. 1:19" (I ME, 256).

j) Qual é então o significado dos textos abaixo? Será que há contradição nos textos do EP?

"Cristo herdou os pecados e enfermidades da raça humana como existiam quando Ele veio a terra para ajudar o homem. Em favor da raça humana, com as fraquezas do homem caído sobre Si, enfrentou as tentações de Satanás em todos os pontos em que o homem podia ser assaltado" (No deserto da tentação, página 39).

"Que contraste o segundo Adão apresentava quando Ele entrou no sombrio deserto para sozinho enfrentar a Satanás! Desde a queda, a raça humana havia diminuído em estatura e força física e decaído cada vez mais na escala do valor moral, até ao período do primeiro advento de Cristo à terra. A fim de elevar o homem caído, Cristo deveria alcançá-lo onde ele estava. Tomou a natureza humana e carregou as enfermidades e degenerescências da raça humana." (No deserto da tentação, página 39 e 40).

"Teria sido uma quase infinita humilhação para o Filho de Deus, revestir-Se da natureza humana mesmo quando Adão permanecia em seu estado de inocência, no Éden. Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado. Como qualquer filho de Adão, aceitou os resultados da operação da grande lei da hereditariedade. O que estes resultados foram, manifesta-se na história de Seus ancestrais terrestres. Veio com essa hereditariedade para partilhar de nossas dores e tentações, e dar-nos o exemplo de uma vida impecável. ... Permitiu que enfrentasse os perigos da vida em comum com toda a alma humana, combatesse o combate como qualquer filho da humanidade o tem de fazer, com risco de fracasso e ruína" O Desejado de todas as nações, página 41).

Cabe aqui fazer diferença entre natureza pecaminosa e as inclinações ou tendências ou debilidades ou fraquezas humanas que Jesus se sujeitou.

Natureza pecaminosa é a doença espiritual congênita que nos torna pecadores (o que somos = pecadores) por termos nascido em série com Adão e que se exterioriza na forma de atos pecaminosos (o que fazemos = cometemos pecados). Enquanto estivermos preocupados apenas com o que fazemos, deixaremos de tratar a causa dos nossos erros: o que eu sou.

as tendências são os combustíveis que adicionamos para pecar. As tendências, assim como a tentação, não é pecado.

Releia Tiago 1:14 e 15:

  • Primeiro, vem a nossa cobiça.

  • Esta cobiça nos atrai e seduz.

  • Depois a cobiça concebe e dá luz ao pecado. Só no último estágio nasceu o pecado.

Releia a história da queda inicial (Gênesis 3):

Primeiro, "Eva passeava perto da árvore proibida, e foi despertando a curiosidade para descobrir como a morte poderia ocultar-se no fruto dessa agradável árvore" (No deserto da tentação, página 16).

Depois, Eva "ficou surpresa ao ouvir que suas interrogações foram apanhadas e repetidas por uma estranha voz. 'É assim que Deus disse: não comerás de toda árvore do jardim?' Eva não percebeu que tinha revelado seus pensamentos audivelmente" (No deserto da tentação, página 16).

E após um rápido namoro com o tentador foi seduzida. "Eva creu realmente nas palavras de Satanás... Descreu das palavras de Deus e isto foi o que a levou à queda". (Patriarcas e profetas, página 48).

Por último, o pecado do coração se transformou em ação. Eva tomou o fruto e o comeu.

Quem nasceu após a queda, tem muitos catalisadores ou agentes aceleradores do pecado.

 

TENDÊNCIAS CULTIVADAS: Comer não é pecado. Comer bem não é pecado. Costumam dizer por aí que os obesos têm tendência para engordar, e eu afirmo que os gordos têm tendência para comer muito. E os glutões não entrarão no reino de Deus (Gálatas 5:19-21). Trabalhar não é pecado, mas os workaholics desenvolvem ou cultivam essa atitude destruidora dos laços familiares. Para memorizar: "As ações repetidas formam os hábitos, e os hábitos repetidos formam o caráter" (Fundamentos da Educação Cristã, página 194). E depois que está automatizada no caráter uma ação é muito poderosa sobre nossas vidas.

TENDÊNCIAS HEREDITÁRIAS: Gostei muito do que li: "que o homem não é apenas produto do meio, mas também produto dos seus genes.... Exemplificando: O filho de uma linhagem de bêbados se tornará facilmente em um alcoólatra, mas enquanto ele não puser a primeira gota na boca essa paixão não despertará". Essa tendência não o torna um alcoólatra. Um adendo: as famílias não compartilham apenas as mesmas características genéticas, elas compartilham também ambientes parecidos. Por exemplo: Eu recebi os genes da hipertensão arterial, o que não me condena inexoravelmente a ser um hipertenso (minha mãe e dois irmãos já são hipertensos); todavia, aprendi os mesmos hábitos no ambiente da família Ferreira Marques (o tempero da infância me fez um apreciador de comida mais salgada, de comer demais e, daí, obesidade = fatores ambientais que ajudam no aparecimento da hipertensão). Tive que emagrecer, parar de comer carne vermelha, aprender a apreciar o regime vegetariano e não o "massariano" e etc, tudo para melhorar a qualidade de vida. Natanael reconheceu que o pântano chamado Nazaré não era um dos melhores ambientes para crescer o Lírio do Vale (João 1:46). Jesus não esteve isento das leis hereditárias e ambientais. A samaritana sabia que Jesus era judeu (João 4:9) - pela aparência física, pela sotaque, pela indumentária, e assim por diante. Mas Jesus falava até com mulher, samaritana e que possuía múltiplos parceiros - Aqui a lei da hereditariedade e ambiental não funcionou. Jesus soube escolher ser diferente, não cultivando as mesmas intrigas de seus conterrâneos. O que deve ficar claro neste ponto: Não é a lei da hereditariedade que me obriga a ser pecador. Não é o ambiente que me obriga a ser pecador. Sou pecador porque nasci de Adão; logo após o nascimento, manifesto que não sou perfeito e quando dono de meu nariz escolho pecar como Adão.

TENDÊNCIA NATURAL: Esta era a única tendência presente no Éden. Exemplo claro é a curiosidade de Eva acerca da árvore proibida. Se Eva não tivesse prosseguido em suas investigações, a cobiça não teria gerado o pecado. Sobre Cristo é dito que "Ele sabe quão fortes são as inclinações do coração natural" (Testemunhos Para a Igreja, vol. 5, pág. 177).

Com este diagnóstico em mãos, é bom saber que existe um remédio eficaz no combate ao mal.

"A mudança que deve ocorrer com as tendências naturais, herdadas e cultivadas do coração humano é aquela da qual Jesus falou quando disse a Nicodemos: 'Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus'. João 3:3." (Cristo triunfante, Meditações Matinais/2002, página 233).

"Mais admirável do que milagres de cura física é o milagre operado no filho de Deus ao lutar com defeitos naturais e vencê-los" (Exaltai-o, Meditações Matinais/1992, página 151).

"Cristo deu Seu Espírito como um poder divino para vencer toda a tendência hereditária e cultivada para o mal" (O Desejado de todas as nações, página 646).

"Em nossa própria força, é-nos impossível escapar aos clamores de nossa natureza caída. Satanás trar-nos-á tentações por esse lado. Cristo sabia que o inimigo viria a toda criatura humana, para se aproveitar da fraqueza hereditária e, por suas falsas insinuações, enredar todos cuja confiança não se firma em Deus. E passando pelo terreno que devemos atravessar, nosso Senhor nos preparou o caminho para a vitória" (O Desejado de todas as nações, página 108).

A seguir, respondo a três questões formuladas no site Adventistas.com.

1) Se Jesus não tinha inclinação para o mal, como pode ser o meu exemplo?

Sobre Cristo é dito que "Ele sabe quão fortes são as inclinações do coração natural" (Testemunhos Para a Igreja, vol. 5, pág. 177). Essa é mesma inclinação que serviu de combustível para Adão e Eva - que só possuíam natureza espiritual - pecarem no Éden. Não está de acordo com a Bíblia é afirmar que Jesus também se incluía, por natureza, entre os "filhos da ira" (Efésios 2:3). No Getsemâni, ele alertou para a fraqueza da carne (Mateus 26:41) dos discípulos. Mas a sua carne também era fraca. "Ao sentir Cristo interrompida Sua unidade com o Pai, temia que, em Sua natureza humana, não fosse capaz de resistir ao vindouro conflito com os poderes das trevas" (O Desejado de Todas as Nações, página 659).

2) Se eu posso obter vitória apesar de minha natureza caída, está vitória tem mais valor que a de Cristo com uma natureza sem inclinação para o mal?

O exemplo de Daniel 1:8: "O caráter de Daniel é apresentado ao mundo como um admirável exemplo do que a graça de Deus pode fazer de homens caídos por natureza e corrompidos pelo pecado" (Fundamentos da Educação Cristã, página 79).

O exemplo de Abraão (Gênesis 22:12 e 16-18): "Seres celestiais foram testemunhas daquela cena em que a fé de Abraão e a submissão de Isaque foram provadas. A prova foi muito mais severa do que aquela que Adão havia sido submetido. A conformação com a proibição imposta a nossos primeiros pais não envolvia sofrimentos; mas a ordem dada a Abraão exigia o mais angustioso sacrifício. O Céu inteiro contemplava com espanto e admiração a estrita obediência de Abraão. O Céu todo aplaudiu sua fidelidade" (Patriarcas e profetas, página 152).

O exemplo de Enoque e dos 144000: "Por meio da trasladação de Enoque, o Senhor tencionava ensinar uma importante lição. Havia perigo que os homens se entregassem ao desânimo, por causa dos terríveis resultados do pecado de Adão.... Em meio de um mundo condenado à destruição por sua iniqüidade, viveu Enoque uma vida de tão íntima comunhão com Deus que não lhe foi permitido cair sob o poder da morte. O caráter piedoso deste profeta representa o estado de santidade que deve ser alcançado por aqueles que hão de ser comprados da terra (Apocalipse 14:3) por ocasião do segundo advento de Cristo" (Patriarcas e profetas, página 85).

Ou seja, Abraão - com natureza pecaminosa mais natureza espiritual - fez obra mais esplêndida do que Adão - apenas com natureza espiritual. Se você comparar o martírio de Cristo com o sacrifício dos mártires, terá impressão que os mártires merecem maior louvor. Digo-lhes que fazer uma obra sobrenatural muitos conseguem; todavia, o que importa é o conjunto das obras. O conjunto da obra de Cristo é perfeito. Houve um tempo em que Abraão era um profeta mentiroso; os 144.000 serão perfeitos (ISO 9000) durante o último estágio da vida. Somente Cristo foi perfeito durante toda a vida.

3) Se não posso obter vitória por causa da minha natureza caída, é justo que Deus me castigue por não poder fazê-lo?

Nós não temos desculpas: "O homem, embora a mais impotente criatura de Deus ao vir ao mundo, e a de natureza mais perversa, é não obstante capaz de constante progresso. Pode ser esclarecido pela ciência, enobrecido pela virtude, e progredir em dignidade mental e moral até que chegue a perfeição de inteligência e uma pureza de caráter apenas um pouco inferior às dos anjos" (Testemunhos seletos, volume II, página 479).

Nós não temos desculpas: "Aos seres humanos que lutam por conformidade com a imagem divina será concedida um suprimento do tesouro celeste, uma excelência de poder que os colocarão acima dos próprios anjos que jamais caíram" (Parábolas de Jesus, página 163).

Segundo Paulo, o pecado pode ser um rei em nosso corpo mortal (Romanos 6:12). Eu posso oferecer os membros do meu corpo para escravidão da impureza e da maldade (Romanos 6:13 e 19). Eu posso escolher servir outro rei: servos de Deus (Romanos 6:13 e 22). Os servos de Deus oferecem os seus membros como instrumentos de justiça e santificação (Romanos 6:13; 19). Entre a vontade da serpente e a vontade de Deus, a minha vontade é que escolhe a quem servir: se escravos do pecado ou se servos de Deus. O voto minerva é do homem. Quanto a Deus, "justiça e juízo são a base do seu trono" (Salmo 97:2). -- João Marques.

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