Parceria IBM-Hitler: Amostra da Perseguição Final?

IBM é acusada de colaboração com nazistas

Gilles Lapouge

PARIS - O livro do americano Edwin Black, lançado no mesmo dia em dez países, é terrível. Ele nos revela um segredo extraordinário. A empresa IBM, e sua filial alemã Dehomag, colaboraram com os nazistas até 1945.

E essa estreita colaboração, desejada e privilegiada pelo presidente da IBM, Thomas Watson, facilitou o planejamento, pelos assassinos nazistas, das listas de judeus em toda a Europa e sua exterminação científica nos campos de concentração. Em suma, a IBM forneceu a Hitler o instrumento de contagem, de recenseamento, de triagem que era indispensável à localização dos judeus e à sua destruição.

Primeira observação: há mais de 50 anos que essas atrocidades aconteceram. Desde então, exércitos de historiadores passaram pelo microscópio a máquina nazista. Ora, jamais o papel da IBM no Holocausto havia sido desvendado. Isso confere uma força devastadora ao livro de Black, filho de judeus poloneses sobreviventes da Shoah (extermínio do povo judeu pelos nazistas), desde que a tese seja confirmada.

Black nos leva aos bastidores do nazismo e da IBM. A partir de 1936, a IBM tem um presidente, Watson, que compreende que Hitler é um famoso cliente. Escrúpulos morais poderiam fazê-lo hesitar, mas o estilo da casa não é esse. Watson só tem uma religião: o lucro.

Mas por que o nazismo tinha necessidade da IBM? Porque o nazismo queria contar os judeus, separá-los dos arianos. Ora, os critérios religiosos eram vagos, os únicos critérios eram genealógicos. Conseqüentemente, a máquina da IBM (as fichas Hollerith) foi colocada em funcionamento para desemaranhar o labirinto das genealogias.

Watson se enche de júbilo. Encontrou um grande cliente . Ele vai à Alemanha. Foi recebido com pompas. A filial da IBM, a Dehomag, criou um novo logotipo: um olho gigante suspenso nos ares lançando raios luminosos sobre um cartão perfurado. Percebe-se, nesse desenho, um eco das profecias apocalípticas de George Orwell em seu romance intitulado 1984. Watson recebe a Cruz do Mérito da Águia, uma cruz com oito pontas de cerâmica cravadas de ouro, com uma águia alemã e emblemas nazistas .

Lucros explodem

A filial da IBM torna-se uma das engrenagens da máquina nazista. Em 1939, foi feito um novo recenseamento, graças aos sistemas IBM. Os lucros da Dehomag explodem.

Portanto, a tese de Black é irrefutável em um ponto: a cumplicidade entre a IBM de Watson e Hitler, menos por ideologia (Watson é totalmente cínico) que por interesse capitalista em lucros. É possível ir além, e acreditar, com Black, que a Shoah foi permitida pela tecnologia IBM e que, sem essas famosas máquinas Hollerith com cartões perfurados, Hitler não poderia ter colocado fogo em seu inferno?

Somente os especialistas poderão responder. Observemos agora que, na França, a tese de Black parece um pouco rígida. Anette Wieviorka (historiadora do Holocausto e parece que também judia polonesa) duvida.

Segundo ela, a demonstração de Black é incoerente, mal fundamentada cientificamente.

Black não raciocina com documentos ou provas, mas a partir de generalização, de suposições, de intuições. Ela dá um exemplo: segundo Black, se os judeus holandeses corresponderam a 73% dos mortos, enquanto os judeus franceses corresponderam a somente 25%, é porque, na Holanda, o programa do genocídio foi dirigido por um maníaco por estatística, Lentz, que domina muito bem os sistemas IBM, enquanto na França, o encarregado pela demografia, René Carmille, não era muito competente em mecanografia.

Mais perseguidos

Ora, nada, segundo Wieviorka, na pesquisa de Black, confirma essas afirmativas. Um único fato: os judeus holandeses foram mais perseguidos que os judeus franceses, nada mais. Nada permite atribuir essa diferença aos cartões perfurados.

Por trás do texto de Black, há outro acusado além da IBM: a ciência estatística sempre considerada, por algumas pessoas, demoníaca e cúmplice dos déspotas e dos tiranos em sua vontade de acabar com as liberdades individuais. Talvez, essa consideração modere um pouco as declarações do demógrafo Hervé Le Bras: ele não gosta de dizer que a técnica demográfica (recenseamento, contagens) possa ser cúmplice das ditaduras. (AE) -- Fonte: http://www.estaminas.com.br/exterior/021303.htm 

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