Os Adventistas na Alemanha Nazista (Tradução)

A Igreja Silenciosa, os Direitos humanos e a Ética Social Adventista

Zdravko Plantak

St. Martins's Press, Inc., New York, N.Y., 1998. [Texto extraído das págs. 17-21]

 

Os Adventistas na Alemanha

Os Adventistas alemães parecem ter sido incoerentes com sua proclamação de liberdade religiosa por ocasião da I Guerra Mundial, entre as duas guerras, e durante a II Guerra Mundial. Na Alemanha imperial, a maioria dos Adventistas adotaram um nacionalismo extremado e a colaboração militar ativa. Um autor Adventista argumentava em dezembro de 1915 que 'a Bíblia ensina, primeiro, que participar da guerra não se opõe ao sexto mandamento; e segundo, que combater no sábado não transgride o quarto mandamento.' Entretanto, depois da guerra, em uma reunião da Divisão Européia em Gland, Suíça, em 2 de janeiro de 1923, os dirigentes da igreja na Alemanha reconheceram o equívoco de sua política, e confessaram sua lealdade à comunidade Adventista mundial.

Esta declaração, no entanto, foi enfraquecida por um pronunciamento adicional que reconhecia que cada membro possuía 'absoluta liberdade para servir a seu país, em todo momento e em todo lugar, de acordo com os ditames de sua convicção e consciência pessoal.' Essa declaração permitiu aos adventistas alemães repetir o engano da I Guerra mundial durante o regime de Hitler sob o Terceiro Reich.

Como observou corretamente Erwin Sicher em 'As Publicações Adventistas do Sétimo Dia e a Tentação Nazista,' os Adventistas falharam em numerosas maneiras em relação ao regime nazista. Já em 1928, antes de que Hitler chegasse ao poder, os adventistas estavam pedindo um Führer forte. Artigo após artigo tratava desse ideal do Führer em escritos alemães e em publicações Adventistas.

Mais tarde, os escritores Adventistas deram as boas-vindas, em suas publicações e também com seu voto, ao aparente renascimento da Alemanha. No povoado adventista de Friedensau, 99,9% tinham votado pelo estado parlamentar nazista. Quando alguns adventistas recusaram-se a saudar a bandeira com a suástica e fazer a saudação hitleriana, o Presidente da Associação da Alemanha Oriental, W. Mueller, argumentou que isso era mau para a imagem da igreja. Terminou dizendo que 'sob nenhuma circunstância têm os adventistas direito a resistir ao governo, ainda que o governo os impeça de exercer sua fé. A resistência poderia ser inoportuna porque marcaria os Adventistas como opositores ao novo estado, uma situação que se deveria evitar.

Outro proeminente escritor adventista e editor de várias publicações religiosas Adventistas, Kurt Sinz, via o forte comando de Hitler no começo do regime nacional-socialista como designado por Deus. Otto Bronzio foi um passo mais à frente, pois disse no periódico oficial adventista, Der Adventbote, que 'a Revolução Nacional Socialista era a maior de todos os tempos, porque fazia da preservação de uma herança pura a base de sua vida étnica.' Alguns sugerem que o que ele quis dizer possivelmente foi tirado de uma citação destacada dee Hitler - sobre a questão do sangue - que aparecia na mesma página.

Esta idéia de uma 'herança pura,' instigada por Hitler e proclamada através da nação alemã, também afligia os adventistas alemães. Embora o racismo explícito raramente aparecesse em publicações adventistas, os adventistas imprimiam com freqüência comentários negativos com relação aos judeus, apoiavam tacitamente a esterilização dos mentalmente incapazes, e muitos foram apanhados pelo estimulado orgulho do nacionalismo alemão.

A mesma doutrina da superioridade da Alemanha sobre outras nações foi transferida à educação Adventista na Alemanha, onde se estimulava os estudantes a aprender a ter vontade e a pensar em Alemão. Ter vontade em alemão era um conceito místico nazista; porque, no pensamento do Partido, os alemães 'tinham vontade' de diferente maneira que quaisquer outros cidadãos. O educador W. Eberhardt insistia, além disso, que as escolas Adventistas alimentavam 'o Espírito Nacional Socialista' entre períodos de classes, quando revisavam as notícias, estudavam os ideais nazistas, e cantavam canções nacionais alemãs.

Com uma crescente pressão para uma maior colaboração, muitos adventistas de todos os grupos de idades ingressaram em organizações nazistas, como a Juventude Hitleriana, a BDM (Associação de Moças Alemãs), o Serviço Trabalhista, e a Cruz Vermelha alemã. Todos estes clubes estavam desenhados para fins de doutrinação nazista, e embora os Adventistas soubessem que um percentual significativo dos participantes no Serviço Trabalhista eram membros da SA, SS, e Stanhelm, os grupos mais fanáticos que doutrinavam e militarizavam aos jovens, aprovavam a participação nos clubes.

Johannes Langholf apoiava fortemente ao Serviço Trabalhista. Ele escreveu no Aller Diener, "Esperamos que cada membro obedeça o mandamento divino, 'orar e trabalhar'. Seria absolutamente contrário à nossa compreensão se nos recusássemos a participar do Serviço Trabalhista." Patt sugeria que a razão principal para que os Adventistas ingressassem na Frente Trabalhista Nazista era o desemprego e as dificuldades econômicas, e que "a maioria dos operários adventistas sucumbia à pressão e se convertiam em membros do serviço trabalhista para salvar a suas famílias." Entretanto, ingressar em uma organização partidária não era obrigatório, e alguns ingressavam no Partido também.

Na Alemanha, os adventistas apoiaram a política externa nazista e, finalmente, a guerra. A possível falta de acesso a informação confiável e, como resultado, um conceito errôneo da verdadeira situação, levou-lhes a acreditar que o Führer era "um homem de paz". Quando a Áustria foi incorporada ao Reich, os adventistas alemães "compartilharam a felicidade da volta dos austríacos de volta à mãe pátria". Acreditavam que com a ajuda de Deus e "através da assistência divina ao nosso capaz Führer, Adolf Hitler se tornou o libertador da Áustria." Mesmo depois da liquidação da Checoslováquia em 16 de março de 1939, os Adventistas ainda não fizeram objeção. E até para esse ato de crueldade e opressão, encontraram alguma justificação.

Então veio o ataque contra Polônia, que toda a Europa reconheceu como um ato de agressão. Entretanto, em um editorial, Sinz pôde escrever que, em vista das "desumanas torturas que nossos camaradas do povo sofreram entre este povo estrangeiro," o ataque alemão foi provavelmente justificado. Os Adventistas continuaram apoiando ao Hitler, e celebraram seu qüinquagésimo aniversário 11 dias depois de que a guerra tinha avançado para o Oeste com a invasão da Dinamarca e Noruega pela Alemanha em 9 de abril de 1940. O periódico Adventista Morning Watch Calendar, embora impresso quatro meses antes, dizia:

"A confiança em seu povo deu ao Führer a força necessária para levar adiante a luta pela liberdade e a honra na Alemanha. A inabalável fé de Adolf Hitler lhe permitiu fazer grandes proezas, que lhe adornam hoje diante de todo mundo. Desinteressada e fielmente, lutou por seu povo; valorosa e orgulhosamente, defendeu a honra de sua nação. Com humildade cristã, em momentos importantes quando podia celebrar com seu povo, deu honra a Deus no céu e reconheceu sua dependência das bênçãos de Deus. Esta humildade o tem feito grande, e esta grandeza foi a fonte de sua bênção, da qual sempre deu para seu povo. Só uns poucos estadistas brilham tanto ao sol de uma vida abençoada, e são tão elogiados por seu próprio povo como o Führer. Ele sacrificou muito nos anos de seus esforços, e pensou pouco em si mesmo durante a difícil obra em favor de seu povo. Comparamos as inumeráveis palavras que ele disse ao povo como vindas de um coração cálido, como sementes que amadureceram e agora produzem frutos maravilhosos".

É irônico que, embora os adventistas insistam sobre a liberdade religiosa, não levantaram suas vozes contra a perseguição de incontáveis judeus. Em vez disso, até excluíram de suas igrejas os que tinham antecedentes judeus. No período em que os adventistas alemães publicavam a revista sobre liberdade religiosa Kirche und Staat (um observador de fora notou que seu propósito principal era a oposição às leis dominicais), guardaram silêncio a respeito das purgações (eliminações) de 1933 quando centenas foram assassinadas, e não disseram nada contra a perseguição dos judeus ou a respeito dos territórios ocupados.

Embora alguns adventistas individuais aparentemente resistiram à tentação nazista, Sicher mostrou, a partir de publicações contemporâneas, que 'não parece ter existido nenhuma oposição oficial ativa ao desumano regime nazista, e nem sequer parece ter existido entre os próprios adventistas.' O comentário do Sicher é uma apresentação desafortunada, mas honesta do Adventismo alemão na primeira metade do século vinte.

Fonte: http://www.libertymagazine.org/html/lngerman.html em 06/03/2001.
Em espanhol: http://www.geocities.com/alfil2_1999/ASDs_en_Alemania_Nazi.html.

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