Pode a Mulher Ocupar Posição Administrativa na Igreja? (Parte Final)

 

INTERPRETAÇÃO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Aqui, nesta parte que estudaremos, serão analisados os versos do Texto Sagrado que dão a entender dois argumentos principais. Primeiro: a mulher pode e deve falar (pregar/ensinar) na igreja. Segundo: a mulher pode, mas não deve falar nem pregar/ensinar na igreja. Eles devem ser bem analisados em sentido literal e, não de maneira a espiritualizar o que foi dito pelo apóstolo.  No entanto, a literalidade tem um contexto que precisa ser analisado dentro dos escritos do apóstolo Paulo como um todo e não apenas em um único verso ou dois no máximo (Lembre-se! Ele é o único que dá a entender que a mulher deve ficar calada); isso é o que geralmente está sendo feito.

 

I CORÍNTIOS 11:5 e 13

Mas toda mulher que ora ou profetiza...”. “Julgai entre vós mesmos: é conveniente que uma mulher com a cabeça descoberta ore a Deus?”.

Não resta dúvida que a colocação desses versos, aponta para uma situação em que a mulher venha a apresentar-se publicamente em uma congregação e não em sua devoção particular (onde ela deve colocar ou mesmo tirar o véu). Por isso, no que diz respeito aos versos acima, não há o que explicar. Eles são explícitos. Sendo assim, a mulher não pode ser vista como uma estátua na igreja.  Para efeito de lembrança e que fique melhor para que se entenda, podemos dizer que uma pessoa ore (em língua ou não) sem pronunciar palavrasuma oração em espírito. No entanto, é impossível alguém profetizar sem que se expresse por palavras. O profeta (a profetisa) fala como enviado de YHWH. Não podemos esquecer que esses versos fazem parte do contexto do livro de 1Coríntios.

 

I CORÍNTIOS 14:26-39

Desses versos, destacaremos apenas os pontos principais. Começando por uma expressão do verso 34:

A primeira expressão a ser destacada é: “caladas nas igrejas”. Em função dos comentários que foram feitos sobre a palavra Ekklesía ou ekklesía; aqui, podemos entender perfeitamente que o apóstolo Paulo não está se referindo à EkklesíaIgreja em seu sentido absoluto; mas as congregações fundadas por ele ou por outros apóstolos e evangelistas etc. No entanto, o que merece ser melhor entendido é a palavra: caladas. Este vocábulo na Língua Grega: σιγάτωσαν – de σιγάω – “Int. guardar silêncio, ficar calado; calar-se; deixar de falar. Trans. manter em secreto”.

“σιγή – silêncio”. - (Ibidem. p. 161.)

Será que o apóstolo realmente está dizendo que as mulheres não poderiam abrir a boca? Ou será que ele estava dizendo que elas deveriam ser reverentes na congregação? Claro que ele não está se contradizendo. Porque como vimos acima (1Cor. 11:5-6), ele disse que a mulher pode orar e profetizar, desde que com a cabeça coberta. (Sobre a cabeça coberta, não falaremos aqui). Logo, portanto, a o apóstolo não está dizendo que as mulheres deveriam “entrar mudas e saírem caladas” das igrejas.

A segunda expressão diz: “não é permitido falar”. Na Língua Grega a palavra traduzida por falar, é: “λαλειν” = “λαλέω”. “Falar, dizer; pregar, proclamar; poder falar, conversar com; dirigir-se a; prometer (ref. a Deus); etc.”. – (Ibidem. p. 105.).

Nessa parte do verso, o “não”, que foi utilizado, nega positivamente a possibilidade da mulher falar na congregação. Mas qual o tipo de falar a que o apóstolo está referindo-se? É não louvar a YHWH com a voz de alguma maneira? Ou não conversar com outra mulher? Ou ainda, não se dirigir a outro homem (que não seja o seu esposo)? Perceba que o verso não trata das filhas em relação aos irmãos e pais; somente em relação ao marido (verso 35), como veremos mais à frente.

Ainda no verso 34, temos: “mas estejam submissas como também ordena a lei”. Esta submissão que a Lei ordena, não é quanto ao ficar calada; mas sim quanto ao que foi ordenado no caso de Adão e Eva após a transgressão. Porque o vocábulo Lei é uma referência ao Pentateuco e neste caso, especificamente a Gên 3:16. E sobre ele, já comentamos no primeiro artigo.

Na quarta expressão sobre a mulher o apóstolo escreveu: “querem aprender alguma coisa”. Aqui nesta expressão positiva, entendemos que o foco central do assunto em questão não é o ensinar; mas o aprender. A palavra grega é: “μαθειν”. “Aprender, averiguar, descobrir; aprender por experiência; estudar em uma escola rabínica (Jn 7:15).”. – (Ibidem. p. 109.).

A palavra grega para querer é: “θέλουσιν”. “Desejar, querer, estar disposto (a), gostar; etc.”. – (Ibidem. p. 110.).

Então, percebe-se aqui (verso 35) que a mulher não poderia questionar para tirar dúvidas e aprender alguma coisa que viesse chamar a sua atenção. Porque não tem sentido uma mulher ir a sinagoga ou congregação para não aprender nada. E sabemos também que não era proibida a entrada de mulheres a sinagoga e muito menos nas igrejas.

A grande questão é: por que perguntar apenas aos maridos? Por que o apóstolo não citou os pais ou irmãos ou mesmo filhos? Será que Paulo não estava querendo evitar um mal maior? (Por exemplo: adultério). Referindo-se por isso, apenas as mulheres casadas. Sendo assim, quer dizer que as mulheres solteiras podem falar à vontade, e até pregar? E as que não tem marido não poderiam nem podem aprender?

A quinta expressão é: “porque é indecoroso para a mulher o falar na igreja”. Embora já tenha sido comentado acima sobre a mulher falar ou não na igreja; aqui, quero chamar atenção para o homem. Foi dito que: “é indecoroso para a mulher o falar na igreja”. Será que o apóstolo está dizendo que o homem pode falar, porque para ele não é indecoroso falar na igreja, seria isso? Claro que não! Aqui o assunto está mais voltado para ordem e reverência na congregação. E principalmente ao aspecto da submissão da mulher ao seu esposo (Gen. 3:16).

No verso 36, a sexta expressão é: “Porventura foi de vós que partiu a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós?”. Aqui o apóstolo Paulo está apresentado a primazia dos judeus, o direito que eles têm em questão de liturgia e ordens no que diz respeito aos oráculos de Deus e ao que a eles estão envolvidos. (Leia Rom. 9:1-5; 2:9-11).

Para entendermos os versos 37-38, do capítulo 14, precisamos retomar os versos 26 a 33.   O que o apóstolo quis dizer nestes versos? A quem ele realmente está se referindo? Às mulheres e as congregações em geral, ou apenas a uma ou duas classes específicas? Leia o que ele escreveu:

Se alguém se considera profeta, ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo. E, se alguém o ignorar, será ignorado”. – (1Cor. 14:37-38 – ARA).

Percebam, que estes versos (37-38) estão diretamente ligados em seu contexto, aos versos (26-33). Portanto, o apóstolo declara que o mandamento do Senhor estava diretamente voltado aos profetas e as pessoas espirituais - aos que estavam profetizando na igreja de Coríntios e aos que estavam falando língua. Porque o problema apresentado no capítulo catorze envolve diretamente estas duas classes. E nelas estavam as mulheres que oravam e profetizavam. E como foi visto, o apóstolo não proibiu as mulheres de orarem nem de profetizarem nas igrejas (1Cor. 11:5-6).

Diante disso, se estudarmos esses dois versos (37-38) dentro do contexto arbitrário ou unilateral, pra não dizer de um ponto de vista extremista, encontraremos sérios problemas quanto ao ministério de Ellen G. White como profetisa, conselheira e pregadora/oradora na IASD. Tentando amenizar a situação, algumas pessoas querem vincular o ministério profético dela a ajuda que teve do esposo; mas isso, não é de todo verdade dizer que ela só foi chamada para liderar o movimento adventista daquela época, como conselheira da igreja, somente porque tinha um esposo. Esquecem eles que ela foi chamada para o ministério profético quando ainda era solteira. Além do mais, a Escritura Sagrada cita a profetiza Ana (Luc. 2:36-38) que era viúva. Filipe "tinha quatro filhas donzelas que profetizavam" (Atos 21:9). E depois que Thiago White morreu, por que ela continuou o ministério profético?

Portanto, o ministério dela não estava agregado à pessoa do esposo. Contudo, sabemos que dois são mais fortes que um Quanto mais se forem três.? Refiro-me ao casal e com a bênção Divina (Eclesiastes 4:12).

Neste último período, percebemos claramente a conclusão do apóstolo ao assunto abordado. O destaque é conclusivo: “Portanto, irmãos, procurai com zelo o profetizar, e não proibais o falar em línguas”. – (1Cor. 14:39 – AVR).

 

I TIMÓTEO 2:1-15 A 3:1-13

Nestes últimos parágrafos, quando estudaremos o que o apóstolo escreveu a Timóteo, precisamos ter bastante atenção com a coerência do apóstolo a todos os seus escritos.

Nesse verso, o primeiro período que merece destaque é: “A mulher aprenda em silêncio com toda a submissão”.  Aqui apresentaremos apenas a palavra “silêncio”. Na Língua Grega é: “ήσυχία”. “Tranqüilidade; guardar silêncio”. – (Ibidem. p. 81.).

Uma outra expressão é: “Pois não permito que a mulher ensine”. Aqui nesta expressão temos duas palavras importantes: “permito” e “ensine”. A primeira, na Língua Grega (επιτρέπω) tem os seguintes significados: “Permitir; conceder, desejar”. A segunda (διδάσκειν) tem este significado: “Ensinar”. – (Ibidem. p. 45.).

Percebemos que estes versos estão de acordo com 1Cor. 14:34, quanto ao silêncio e a submissão; mas não está de acordo com 1Cor. 11:5-6, quanto a orar e profetizar. Porque quem ora não ora sempre em silêncio (1Cor. 14:13-17). Por outro lado, quando a mulher está profetizando, ela está: “edificando, exortando, e consolando”, “edificando a igreja”. (1Cor. 14:3-4).

Além do mais, em função desta palavra: “permito”, percebemos que era poderia ser muito bem um desejo do apóstolo e não uma ordem. “Não permito que a mulher ensine”. E para entendermos melhor o que ele estava querendo dizer, precisamos ligar os versos do capítulo 3 de Timóteo ao contexto do 2:11-15. Porque é no capítulo três que ele conclui o assunto de ensinar e/ou dirigir a igreja/congregação.

Por isso, de acordo com o apóstolo Paulo, as pessoas que deveriam realmente ensinar, no verdadeiro sentido da palavra (excetuando-se as mulheres profetisas) seriam os presbíteros com o auxílio dos diáconos (1Tim. 3:1-10). Depois ele escreveu: “Os anciãos” (Literalmente: pρεσβύτεροι “presbíteros”) “que governam bem sejam tidos por dignos de duplicada honra, especialmente os que labutam na pregação e no ensino”. – (1Tim. 5:17 – AVR).

 

Por último o destaque é: “nem tenha domínio sobre o homem”. A palavra grega traduzida por domínio é: “αυθεντειν”. “Autoridade, dominar, exercer autoridade de”. – (Ibidem. p. 28.).

Por isso, o apóstolo conclui a sua argumentação e exposição, sobre o que seria para ele “autoridade de homem”, citando os versos de 1Tim. 3:1-10. (leia também Tito 1:4-12).

Em resumo, entendemos que, no que diz respeito às Epístolas de 1Coríntios 11:5 e 13; e 14:26-39; e 1Timóteo 2:11 e 12, o problema não é o simples ensinar; mas a maneira e o local de se aprender.

Então, segundo o apóstolo Paulo, a “autoridade de homemque ele não desejava que a mulher exercesse, como bem especificou nos Textos de 1Timóteo e de Tito, é o de pρεσβύτεροιPresbíteros” ou seja, ter cargo de Anciã em uma igreja local/congregação.

Importante de se destacar é o fato ocorrido no primeiro Concílio (Atos 15:6-35) entre os apóstolos e os presbíteros, que compareceram a Jerusalém para resolver algumas questões que estavam preocupando a Igreja. Não foi mencionada nenhuma mulher como estando pelo menos presente na assembléia quando discutiam os assuntos apresentados.

 

CONCLUSÃO

De acordo com os Textos apresentados, fica patente aos nossos olhos que a mulher jamais foi proibida de falar à igreja; contudo, o falar (irreverente) não era e não é permitido nem às mulheres e muito menos aos homens. A mulher podia orar em voz alta, podia cantar e podia profetizar (1Cor. 11:5-6; 14:13-17 e 3-4).

A preocupação do apóstolo Paulo não era com a pregação da Palavra e sim com a função de autoridade que, possivelmente, alguma mulher ou algumas mulheres estivessem pleiteando na igreja de Corinto.

A posição de liderança, os cargos administrativos, nas igrejas judaicas e gregas e da Ásia Menor, eram ocupadas por homens. Pois este é o Texto bíblico: “Gên 3:16: O teu desejo será para o teu marido, e ele te governará”.

O apóstolo Paulo também escreveu: “Quero porém, que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de Cristo”. – (1Cor. 11:3 – AVR).

No entanto, convém lembrar que estas afirmativas acima serão plenamente válidas somente quando ambos estão sujeitos ao Messias. Portanto, já entregaram a Ele os seus desejos e suas vontades.

Estes dois versos da AVR: “A mulher aprenda em silêncio com toda a submissão. Pois não permito que a mulher ensine, nem tenha domínio sobre o homem, mas que esteja em silêncio". (AVR). Deveriam ser traduzidos assim:

A mulher aprenda em silêncio com toda a submissão. Pois não desejo que a mulher ensine, nem tenha autoridade de homem, mas que esteja em silêncio”. – josielteli@hotmail.com

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